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domingo, 10 de setembro de 2017

Espiritismo 'Sui-Generis'


Espiritismo “Sui-Generis” Parte 1
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho 1944

            A maior tarefa do Espiritismo, hoje mais do que em outros tempos, está na evangelização dos lares, sem o que progresso espiritual dos homens se irá processando com grande lentidão, pela dificuldade de se expurgir dos corações a poluição do pecado. Com a evangelização dos lares, proporcionar-se-á o encaminhamento moral da criança nos moldes da orientação verdadeiramente cristã, fortalecendo-lhe o espírito, tornando-a menos vulnerável às paixões, preparando-a, enfim, para participar com real eficiência da obra de renovação do homem.

O maior e mais importante setor da atividade espírita é, pois, o lar. Através dele o Espiritismo poderá alcançar o seu grande e nobre objetivo, que é a cristianização das massas. Espiritas, verdadeiramente, não os temos muitos, porque podem, talvez, ser contados aqueles que trazem o Evangelho nos lábios e no coração simultaneamente. Crer na fenomenologia espiritista, frequentar sessões práticas e de estudo, renunciar a outras religiões sem seguir os preceitos da moral espírita, convenhamos, não basta ao Espiritismo. Temos "espíritas" que se combatem, que procuram destruir o próximo e sua obra, em nome não sabemos de que princípios. Haja vista quanto se passa por aí acerca de Roustaing, tão malsinado por incompreendido, tão enxovalhado por tão pouco lido... Entretanto, que nos deu Roustaing? Que fez ele pelo Espiritismo? Qual sua ação a respeito de Allan Kardec? Sua obra é um monumento de sabedoria, representa um serviço notável à causa espírita, prestigia e reforça a doutrina codificada por Kardec. E esses pseudo-espíritas investem aqueles que não querem ficar no meio do caminho, acusam-nos, atacam-nos, esquecidos de que não há sentimento espírita onde não houver sentimento cristão.

Não é espírita quem não ratifica pelo exemplo a doutrina que prega ou ouve pregar. O espírita não alimenta sentimentos subalternos, não busca envaidecer-se, não procura a evidência, satisfazendo-se com o realizar bem os deveres que lhe cabem.
             
Infelizmente, a vaidade tomou conta dos supostos espiritas. Uma de suas piores manifestações é de caráter literário, porque há quem faça questão de parecer emérito vernaculista, escritor primoroso, estilista impecável, ainda que tripudiando sobre a ética cristã. Essa preocupação tola e anti-espírita tem induzido muitos adeptos da doutrina a lastimável situação espiritual. A vaidade tomou conta de os pretensos espíritas a que nos referimos. Domina-os, conduz-os a práticas que se contradizem, que ferem os princípios doutrinários, o código moral do Espiritismo.             

São esses falsos seguidores da doutrina que maior mal causam ao Espiritismo, levando a desilusão e a descrença a simpatizantes, muitas vezes egressos decepcionados de outras religiões...

Eles nos fazem recordar estas palavras de Jesus:

"Nem todo aquele que me diz: Senhor! Senhor! entrará no reino dos céus; aquele, porém, que fizer a vontade de meu pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus. Muitos me dirão nesse dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, não expulsamos em teu nome os demônios e não fizemos em teu nome muitos prodígios? Então lhes direi: Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Aquele que escuta as minhas palavras e as pratica é comparável ao homem ajuizado que construiu sua casa sobre a rocha. Veio a chuva, transbordaram os rios, os ventos sopraram e se arremessaram sobre essa casa e ela não caiu por estar edificada sobre a rocha. Aquele, porém, que ouve as minhas palavras e não as pratica se assemelha ao insensato que construiu sua casa na areia. Veio a chuva, os rios transbordaram, sopraram os ventos, precipitaram-se sobre essa casa e ela desabou e grande foi a sua
ruína. Ora, terminando Jesus esses discursos, a multidão se admirava da sua doutrina, porque ele a instruía como tendo autoridade e não como os escribas e os fariseus" (Mateus, VII, 21-29).

*

Falsos espíritas são os que aborrecem a humildade e se embriagam com aplausos fáceis; são os que trazem o Cristo nos lábios, mas o coração deserto de sentimentos fraternos. Escravos do orgulho, servos da vaidade, presumem servir a Deus, quando, na realidade, servem a Mamon. Que adiantam livros cheios de lições evangélicas, artigos magníficos de doutrinação, discursos empolgantes de catequese, se o objetivo maior não é servir a Jesus, mas atender a exigências dum personalismo sorrateiro e debilitante?

Até para os que a esses ouvem ou leem Jesus deixou no Evangelho outra advertência que não perde o sentido de oportunidade:

"Observai e fazei, pois, o que eles vos disserem, porém, não os imiteis nas suas obras, porquanto dizem, mas não fazem. Atam pesados e insuportáveis fardos e os colocam sobre os ombros dos homens e no entanto nem ao menos com o dedo os querem tocar. Todas as suas ações eles as praticam para, serem vistos pelos homens; daí o alargarem seus filactérios (caixa, geralmente de couro, que contém pergaminho com textos bíblicos judaicos, transportada no ritual judaico junto à testa e ao braço esquerdo) e alongarem suas franjas. Querem os primeiros lugares nos banquetes e os primeiros assentos nas sinagogas. Gostam de que os saúdem nas praças públicas e de que os homens os chamem de mestres". (Mateus, XXlll, 3-7).

Esses pseudo-cultores do Espiritismo são como crianças educadas com excesso de mimos pois, quando contrariados, põem de lado a doutrina e mergulham de olhos fechados no abismo trevoso da intolerância, esquecidos de que somos todos imperfeitos, todos temos defeitos e qualidades, mas, para melhor progredirmos, precisamos de serem benevolentes com as faltas alheias e severos com os próprios erros, Faz-se o contrário, entretanto. Depois, abrem o Evangelho, estudam-lhe os versículos, fazem preleções e, como sucede em outras religiões, consideram-se absolvidos de todos os pecados".

Espiritismo “Sui-Generis” Parte 2
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho 1944

Não se pode compreender Espiritismo sem tolerância, sem fraternidade, sem propósitos conciliadores. E, diante do que ora se observa nos meios espíritas, valha-nos o velho rifão:

"Deus escreve direito por linhas tortas". De fato, assim o é.

O "caso Humberto de Campos" veio a talhe de foice. Fazia-se mister separar o joio do trigo, apartar a boa da má ovelha, de modo que a questão suscitada pelas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier tem servido de "teste" a muitos dos que trombetearam a segurança de sua crença espírita, sem, contudo, saberem cumprir os postulados mais simples da doutrina.

É claro que o joio tem também sua utilidade, como a má ovelha não deve ser deixada ao abandono. Torna-se necessário, no entanto, fazer a distinção entre uns e outros para que o bom não seja corrompido pelo mau e este possa ser assistido para se tornar como aquele.

O Espiritismo não foi obra do homem, mas dos Espíritos, através dos médiuns que facilitaram a codificação dos ensinamentos por Allan Kardec. Entretanto, há Espiritismo e ... espiritismo. Tem-se visto mais adeptos do espiritismo do que seguidores do Espiritismo... Se assim não fora, a união de espíritas e "espíritas" seria completa nesta conjuntura e os pseudo-profitentes da Terceira Revelação não estariam auxiliando o esforço dos tradicionais inimigos do Espiritismo, aproveitando-se de todos os motivos, por mais fúteis, para, ostensiva ou dissimuladamente, investirem a Federação Espirita
Brasileira, instituição por todos os títulos respeitável.       

Esse espiritismo "sui-generis" desmascarou-se desta feita. Os "quislings" da doutrina, no afã de dar expansão a sentimentos inamistosos e, por conseguinte, anti- espíritas, se esqueceram de que é chegado o momento crítico dos testemunhos indeclináveis.

A divisa de Kardec – “trabalho, solidariedade, tolerância” - somente é lembrada nas discurseiras pomposas, nos escritos frequentes, em jornais e revistas, porque, na vida de relação, principalmente quando se oferece uma oportunidade de aplicá-la com espírito sincero e humildade, parece que o seu sentido se altera.

O Espiritismo tem mais a temer daqueles que se mascaram de espíritas, para melhor feri-lo - lobos entre ovelhas... - do que de seus inimigos declarados. Estes são conhecidos, fáceis de neutralizar; aqueles se confundem com os crentes sinceros e só de quando em quando pelas suas atitudes contrárias ao que Kardec determina em suas obras fundamentais.       

Dessa maneira, devemos elevar o pensamento ao Alto, agradecendo a dádiva preciosa que, para o Espiritismo, representa a conduta hostil à Federação, tomada por elementos que dizem comungar com a mesma doutrina que professamos, doutrina de paz, amor e caridade. E, chegada que foi a hora decisiva, instilemos em nossos corações o sentimento de tolerância que nos ensinam os nossos maiores, em obediência que às lições desse Allan Kardec tão citado, tão “defendido” e, desgraçadamente, tão esquecido nos momentos em que mais deveria ser lembrado.

A obra grandiosa da Federação Espírita Brasileira não será jamais destruída pelos que se deixam sugestionar pela Treva. Obra sã, amparada pelo refulgente Espírito Ismael, cumpre o seu destino fecundo, indiferente aos apodos, às injúrias, às injustiças, porque, afinal, tudo isto é do mundo. Quantos, depois de haverem-na apedrejado, não acabaram reconhecendo o erro praticado e nela vieram buscar o conforto espiritual de que precisavam!    

Não se atiram pedras em árvores sem frutos ... E a cada pedrada recebida, a Federação deixar cair opimo (excelente, rico, fértil, de grande valor) fruto da sua semeadura evangélica.


quinta-feira, 7 de setembro de 2017

O Diabo melhorou muito


O Diabo melhorou muito
por Carlos Imbassahy
Reformador (FEB) Junho 1944

Há tempos, jocoso adversário da doutrina espírita, entre outras coisas muito engraçadas, disse que o Espírito dos espiritistas era um sujeito barbado, com ar de bode, um rabo e dois chifres.

A definição não é propriamente de Espírito, senão de falta de espírito. Mas vá lá.

O que ele queria dizer, na sua linguagem metafórica e hilariante, é que o Espírito que aparece em nossas sessões é o de Satã, é o demônio em pessoa, e, para disfarçar o ousio (ousadia) da afirmativa, misturou-a com um pouco de graça, visto que o diabo, hoje em dia, já não é levado muito a sério. Sem sal não vai.

Não há negar que ele anda um tanto ou quanto desmoralizado. A começar pela literatura, e esta é vasta. Basta lembrar o Fausto, de muito êxito nas letras e na música. Aí procura Mefisto perder almas e levá-las para seu nefando domínio. Fez um pacto, que cumpriu - justiça se lhe faça. Deu ao velho Fausto mocidade, riquezas, mulheres... Gastou com essa perdição precioso tempo e trabalho, mas quando veio buscar o gozador, quando chegou a vez de cumprirem os outros o que prometeram, fugiram à palavra empenhada: arranjaram uns pistolões divinos, muniram-se de cruzes e outros petrechos salvadores e deixaram o pobre diabo de boca aberta.

Embaucado (seduzido), não há dúvida nenhuma! Embrulhado, mistificado, gorado (malogrado), ele, o pai da mistificação! ...

Veja-se o que se passa na hora da morte. Há um tratante que leva a vida inteira a fazer iniquidades, falcatruas, imoralidades de todo o gênero, senão crimes de toda a sorte. E o demônio, satisfeito, a esfregar as mãos de contente! Deve ser ele o causador de tudo aquilo, com suas tentações infernais. Que trabalheira lhe não custou fazer com que se perdesse aquela alma!

Nisto, chega a Parca (morte) com a sua foice fatal. É agora! O homem tem que render a alma ao demônio. Uma vida em pecado mortal, uma vida de crimes horrentes pede as moradas do fogo eterno. Mas o sujeito treme. Não é pra menos. Aos suores frios da morte juntam-se os suores gelados do pavor. Medo, remorso, tudo se confunde. Mas... pede um rosário, pede um padre, confessa-se... E salva-se. Eis Satã mais uma vez ludibriado.

Entretanto, o pior, se há pior, é que o tal está ficando caduco. Caducíssimo! Como se lhe não bastasse tanto mal sobre a Terra, como se fosse pouca a desventura que pesa sobre nós.

"No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida.
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida."

Já dizia o Camões.

Como se tudo fora pouco, como se não sobrassem motivos para que vivêssemos em constante engodo, ainda ficou com a sobrecarga do Espiritismo! É demais!

Não resta dúvida que ele tem costas largas e sempre foi o causador de nossos contratempos, de nossas desgraças. Haja vista que, quando tem alguém uma contrariedade, logo diz: - Isto é o diabo!

Ele mete o nariz em tudo, entra onde não é chamado, conspurca as coisas mais santas, induz ao pecado, diverte-se com a divindade, a quem ludibria, desrespeita e desmoraliza; e não tendo mais que inventar, nem sabendo como contrariar ainda mais o Eviterno (eterno), deu para fingir, deu para bancar a alma do outro mundo. E olhem, aqui baixinho para que ninguém nos ouça, aqui à puridade para que o escândalo não retumbe: - finge, mesmo, de santo. Aparece-nos a dar avisos salutares e mensagens na figura de Santo Agostinho, S. Francisco de Assis, S. Vicente de Paulo, S. Marcos, S. Lucas, S. Mateus, S. João...
           
Uma velhacaria daquelas!..

E sabem o método que emprega? Esta só lembrava ao diabo! Levar-nos ao mal pelo bem. Ele agora encaminha as almas ao Averno (inferno), obrigando os sujeitos à vida de virtudes, a uma existência exemplar. Seria inacreditável se não se tratasse do demônio.

Sabem o que é que ele faz para danar os seres? A apostar que não sabem. Pois já o digo:

Prega a existência de Deus, a sua bondade, a sua onisciência, a sua onipotência, a sua onipresença, a sua eternidade. Proclama-o senhor e criador dos mundos. Manda que o amem acima de todas as coisas.

Prega o Evangelho e ordena que o levem a toda parte a toda criatura.

Prega a imortalidade da alma e declara que os bons e os justos serão recompensados, enquanto os maus, os ímprobos, os pecadores sofrerão pelos seus pecados, por sua improbidade, por sua maldade.

Prega a paz universal, a fraternidade, a solidariedade, o amor do próximo. Afirma que só pelo amor e pelo bem se podem chegar a Deus.

Cura os doentes, consola os tristes, promete aos deserdados, expulsa os colegas, aconselha os transviados, encaminha as criaturas, e declara, e afirma, e assegura que a salvação está na Caridade. "Fora da Caridade não há salvação" é este o seu lema.
O sofrimento de um lado, o altruísmo, do outro, eis as asas potentes da redenção.

Obriga, enfim, o homem à prática das boas ações. Leva-o pela mão dos carreiros do bem, desvia-o dos maus atos, das más palavras, dos maus pensamentos. Torna-o simples, bom, caritativo, honesto. Purifica-lhe a alma, adorna-o de virtudes,
regenera-o visceralmente, retoma-o à inocência primitiva.

E depois?.. E depois?..

Depois manda-o para o inferno, está claro!

É com essa doutrina lógica que os nossos adversários nos acaçapam.


Como sofres?


Como sofres?
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Março 1944

Mas se padece como cristão, não se envergonhe, 
antes glorifique a Deus nesta parte.” (l Pedro, 4:16)

Não basta sofrer simplesmente para ascender à glória espiritual. É indispensável saber sofrer, extraindo as bênçãos de luz que a dor oferece ao coração sequioso de paz.

            Muita gente padece, mas quantas criaturas se complicam angustiadamente por não saberem aproveitar as provas retificadoras e santificantes?

Há os, que recebem a calúnia, transmitindo-a aos vizinhos, os que são atormentados por acusações, arrastando companheiros às perturbações que os assaltam, os que pretendem eliminar enfermidades reparadoras com a desesperação.

Quantos corações se transformam em poços envenenados de ódio e amargura, porque pequenos sofrimentos lhes invadiram o círculo pessoal? E não são poucos os que batem à porta da desilusão, da descrença, da desconfiança ou da revolta injustificáveis, em razão de alguns caprichos desatendidos.

Seria útil sofrer com a volúpia de estender o sofrimento aos outros? Não será agravar a dívida, o ato de agressão ao credor, somente porque resolveu ele nos chamar às contas?

Raros homens aprendem a encontrar o proveito das tribulações. A maioria menospreza a oportunidade de edificação e, sobretudo, agrava os próprios débitos, confundindo o próximo e precipitando companheiros em zonas perturbadas do caminho evolutivo.

Todas as criaturas sofrem no cadinho das experiências necessárias, mas poucas almas sabem padecer como cristãs, glorificando a Deus.



A Influência do Mundo Espiritual


A Influência do Mundo Espiritual
Luiz Gomes da Silva
Reformador (FEB) Abril 1944


"Ai de vós escribas e fariseus hipócritas! Pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis porém fazer estas coisas e não omitir aquelas. - Condutores de cegos! Coais o mosquito e engolis o camelo". - Mateus – Cap. 23 e vs. 23 e 24.

Aos que, nos Centros Espíritas, dirigem sessões práticas, não lhes escapa da mente os fenômenos de que foram testemunhas. Já nos foi dado observar que os espíritos desencarnados, envoltos na sua maldade, quando encontram ambiente propício, são capazes de desarmonizar famílias, dissolver lares e sociedades, levando os homens à prática do crime, do roubo e do suicídio, assim como a fazer ou dizer coisas que, momentos depois, se envergonham de haver dito ou praticado.

Allan Kardec, no "Livro dos Médiuns", página 292, narra-nos o seguinte fato bastante interessante: "um homem, nem moço, nem bonito, sob o império de uma obsessão era constrangido por força irresistível a pôr-se de joelhos diante de u'a moça por quem ele não tinha nenhuma inclinação, e pedi-la em casamento. Outras vezes, sentia-nos, ombros e nas pernas uma pressão enérgica que o obrigava, apesar de todos os esforços, a pôr-se de joelhos e a beijar o chão nos lugares públicos e à vista da multidão. Tinha plena consciência do ridículo que praticava contra vontade e sofria horrivelmente com isso".

Foi sob essa má influência que Pedro negou Jesus. O mesmo se passou com Judas, que não pode resistir à tentação dos espíritos das trevas, traindo o Mestre, depois do que caiu em si e, ao refletir sobre o ato abominável que havia praticado, dominado pelo remorso, enforcou-se.

Quantos médiuns lamentam não ter atendido aos nossos conselhos e aos rogos dos espíritos superiores que, a exemplo de Jesus, não cessam de recomendar o "orai e vigiai para não cairdes em tentação"...

Quem não está sujeito à tentação dos maus espíritos?

Quem pode vangloriar-se de lhes resistir, se eles vêm em nós as partes mais fracas sobre as quais podem agir seguros de alcançar êxito?

Num mundo como o nosso, em que campeia desenfreadamente o orgulho, o egoísmo, o sexuaIismo e a vaidade; em que predomina a hipocrisia e onde a lisonja se personifica em elogios, invadindo os nossos meios espíritas, quem poderá dizer que não caíra na armadilha que os espíritos das trevas nos armam? Trabalhamos durante muitos anos com uma senhora médium por intermédio da qual se manifestavam espíritos que haviam sido padres. Estes deram-nos provas de que no espaço estavam formados em grupos para atacar os adeptos da Terceira Revelação, movendo-lhes uma guerra sem tréguas.

O chefe de um grupo procurou por todos os meios lançar a discórdia em nosso  meio não fosse o auxílio dos espíritos superiores e do médium vidente, que desmascaravam as artimanhas do espírito ao mistificar-nos nós o tomaríamos por um santo, tal era a sua astúcia. Depois de nove meses de luta, esse espírito com muitos do seu grupo, rendeu-se perante a grandeza de Deus e tornou-se um dos nossos amigos.

A luta foi árdua. Ainda estávamos no meio da tormenta, quando perguntamos ao espírito porque os irmãos do espaço nos moviam aquela guerra. Porque não iam combater o chamado baixo Espiritismo, ou sejam as sessões de macumba, que tanto mal causam a humanidade? Respondeu-nos o espírito, numa gargalhada sarcástica: "és bem trouxa, pois, não sabes que eles nos ajudam em nosso trabalho, fazendo que seja lançado o descrédito sobre o Espiritismo? Eles trabalham a nosso favor. A nossa missão é outra, é a de lançar a discórdia entre os espíritas. Conhecemos os seus pontos fracos e isto nos basta". - A médium era analfabeta e não podia improvisar tal resposta. A
rapidez com que o espírito se expressava não dava tempo de o médium ajuizar uma resposta repentina e com tanta lógica. Quais serão os nossos pontos fracos a que o espírito se referia, senão esses que dão margem a discórdias entre nós? Todos nós somos médiuns. Uns de incorporação e outros inspirados,

As manifestações recebidas pelos primeiros são atribuídas aos espíritos, porém com os inspirados já não sucede o mesmo, pois assumem a responsabilidade de tudo quanto dizem em suas conferências e palestras. Se erram, ninguém lhes perdoa. Em outubro do ano passado, no Centro Espírita Santa Isabel, comemorava-se a data natalícia de AlIan Kardec, quando o orador oficial, que até então tantos aplausos havia recebido, foi infeliz no referir-se ao codificador de nossa doutrina. - Note-se que ele não conhecia as obras de Roustaing.

Em vista do ocorrido, o presidente do Centro chamou-o em particular e fez-lhe ver que havia errado. A influência dos espíritos patenteia-se perante os que estudam o Espiritismo, sem que, entretanto, tudo o que nos sucede lhes deva ser atribuído. Um dos nossos confrades, criatura bastante inteligente, é inimigo número um de Roustaing, sem que tenha lido suas obras, porém, em uma festa realizada no Centro Espírita de que é presidente, fez uma palestra e no decorrer desta percebia-se que mudava de opinião, sustentando ser fluídico o corpo de Jesus. Até hoje persiste ele na ideia de que o corpo do Mestre era de carne e osso. Felizmente todos os espíritas presentes eram tolerantes e sabiam que os ataques contra as obras de Kardec ou de Roustaing, quer partam dos espíritos desencarnados ou encarnados, nada valem contra o valor das mesmas, por serem elas fruto dos superiores do além e não dos homens. Os que estudam o Espiritismo sabem que os bons ou maus pensamentos dos assistentes exercem grande influência sobre os oradores, de tal forma que, se estes perderem o fio da conferência, podem dar margem à interferência dos espíritos das trevas e dai dizermos que o conferencista não foi feliz nos pontos que abordou. Oremos pelos que erram e em segredo façamos-lhes ver a verdade.

Sejamos tolerantes e não imitemos os que se regozijam com os que não se cansam de ridicularizar Roustaing e exasperam-se quando alguém, inconscientemente, desmerece a grandiosa missão de Allan Kardec. Já é tempo de darmos provas da nossa compreensão.


Deixemos os grandes vultos do Espiritismo, no além, em paz, para deles só nos lembrarmos, do que tenham feito de bom e, assim, nos ocuparmos com coisas mais nobres do que menosprezar Kardec e Roustaing, só porque não podemos compreender nem assimilar os ensinos belíssimos contidos em suas obras. Saibamos resistir à tentação dos espíritos das trevas, que insuflam nosso orgulho com objetivo de nos arrastar para polêmicas desagregadoras da família espírita e, desse modo, verem a sua obra destruidora coroada de êxito. É nosso dever trabalhar pela união de todos os espíritas. Jamais consintamos que sob falso pretexto de pontos de vista secundários, nos separem do Amor Fraterno.

A Verdade Libertadora


A Verdade Libertadora
Marcílio Gonzaga
Reformador(FEB) Maio 1944

Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres.” 
                                                                     - João, VIII:32.


O homem era escravo do pecado.

Iludido pela aparência de vida material, confundindo o efeito com a causa, supunha que a vida era esse agregado de matéria em vibração no seu corpo e que, uma vez desagregada essa matéria, viria o não-ser, o eterno nada.

Essa ilusão dava-lhe o anseio de viver, de conservar a vida por todos os meios e a qualquer preço, mesmo em sacrifício de outras vidas, da vida de outros seres. A morte era o supremo pavor, a mais temível de todas as calamidades.

Afim de conservar a vida, a qualquer custo, o homem desenvolveu em si o mais violento egoísmo. A propriedade, a liberdade, a vida de seus semelhantes, passaram a ser por ele sacrificadas, desde que isso lhe proporcionasse possibilidade de viver mais e viver melhor.

A guerra de conquista, para adquirir terras e rebanhos e fazer escravos com os vencidos, tornou-se instituição legítima, porque a lei era ditada pelo vencedor, pelo mais forte.

Depois de despojado de todos os seus bens, o vencido era vendido no mercado pelo vencedor, como sua propriedade legítima e indiscutível.

O pecado era o grande escravizador: escravizava imediatamente o vencido e mais remotamente o vencedor, pela lei inexorável de causa e efeito que o forçava a viver as mesmas dores que impusera a outros filhos de Deus.

Assim correram milênios. O progresso se fazia penosamente por entre terríveis lutas e dores; porque, na verdade, todos eram escravos: uns pertenciam aos seus senhores e outros às suas paixões e temores. Era assim pela inferioridade moral dos habitantes da Terra.

Quando o homem alcançou um grau de progresso suficiente para compreender melhor seu destino e iniciar esforços conscientes no sentido de sua libertação, Jesus desceu à Terra e ensinou-lhe o mistério da vida eterna e do eterno crescimento. Disse-lhe pela primeira vez: "Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres". E esclareceu mais ainda: "Quem comete pecado é escravo do pecado", isto é, ensinou-lhe a lei de causa e efeito que os Espíritos hoje comentam em todos os seus pormenores, apresentando exemplos vivos e palpitantes de sofrimentos ou gozos, de angústias ou júbilos, de esperança ou desespero, de paz ou fúria, em consequência de seus atos anteriores, bons ou maus...

Ficou reservado ao Espiritismo, 19 séculos mais tarde, explicar minuciosamente a todos os homens o sentido completo daquelas duas frases do Messias.

Cada crime prepara para o culpado a correspondente cadeia que o virá maniatar na mesma ou em futura encarnação. Pela sucessão dos crimes, o homem toma-se um prisioneiro das consequências de seus atos. Seus sofrimentos são infernais, pelo desconhecimento do futuro e o terror do não-ser. Apega-se desesperadamente ao corpo, supondo-o a própria vida. É escravo do mais tirano dos senhores, ao qual se acha algemado. Esse tirano é o pavor que o acompanha com sua própria sombra, por toda parte, noite e dia.

Porém conhecerá a verdade, saberá que a vida é eterna e o mal tem fim; que está em suas próprias mãos conquistar um futuro feliz e livre, pela prática do altruísmo abnegado; verá suas cadeias dissolverem como neve ao Sol, a medida que rompe ele o círculo de aço do egoísmo e se projeta amorosamente para o exterior de seu cárcere de trevas, em busca de seus irmãos. As trevas se desfazem sob a luz do amor universal, e os gemidos se transformam em hinos de gratidão ao Criador do Universo, cuja paternal bondade se manifesta ao coração aberto ao amor a todas as suas criaturas...

Os fantasmas obsidiantes do orgulho, da vaidade, do amor-próprio ferido, do temor, da sede de vida e de gozos, da angústia de justificar-se e ser compreendido, de impor suas ideias e convicções, de apresentar-se como padrão; o medo do futuro, dos juízos alheios, da desonra, da condenação, da dor, da morte, toda essa tenebrosa multidão de fantasmas, que o escravo do pecado criou para seu tormento, tornam-se infantis razões que desaparecem a luz da verdade, como as sombras da noite se desfazem ao sol da manhã.

"Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres". De posse da verdade, com a certeza de que a morte não existe e a vida é eterna, o homem adquire a fé onipotente que transporta montanhas, porque ele se incorpora à caudal infinita da vida que é Deus. Desfaz-se seu infantil personalismo que era isolamento e fraqueza, e, sentindo-se uno com todos e com Deus, sente palpitar em si a onipotência de Deus que tudo conduzirá a bom termo dentro da eternidade e do infinito. A verdade o fará livre!


Trabalho!


Trabalho!
Ernani Cabral
Reformador (FEB) Maio 1944

Se o trabalho foi considerado, outrora, como um ato vil, imposto aos "homens inferiores" hoje ele é tido, justa e exatamente, como função nobre da atividade humana, em busca da perfeição, que só por seu intermédio poderá ser atingida, no porvir.

Qualquer labor honesto é digno de encômios, porque todos cooperam para a grandeza coletiva, cada um no setor que lhe é próprio, seja no exercício de ações manuais ou físicas, seja no campo das atividades mentais, incluindo-se nestas as artísticas, científicas e as morais ou religiosas.

O Universo é um todo coordenado, de planos diferentes, desde os mundos primitivos aos celestiais, dirigidos, em seu conjunto, pela vontade de Deus, que é onisciente e absoluta, repleta de misericórdia.

Até os planetas de expiação, como o nosso, embora prenhes de maldades e de injustiças, cooperam para a grandeza da obra divina, que é perfeita no seu todo, e servem de estágios ou de vastas escolas de regeneração, onde as almas grosseiras se rustem, para burilar o diamante divino da sua essência.

Se a vontade é livre, como formoso atributo do Espírito; se a criatura abusa de seu arbítrio e fere as leis morais que regem o Universo, com desequilíbrio de sua felicidade ou da marcha evolutiva que lhe foi, naturalmente, traçada; se “a cada um segundo as suas obras", como o Divino Mestre frisou, é justo que o Espírito se humanize e venha a sofrer em mundos inferiores, para que afinal compreenda que "só o amor constrói para a eternidade".

Aqui o ser expia, tem provações, retempera-se e poderá ascender, se quiser, às regiões mais elevadas, porque cada um trabalha no tecido de sua própria túnica e cria, pelos seus atos, a densidade do perispírito, pois a bondade o vai desmaterializando, enquanto que a maldade o tornará grosseiro e compacto, chumbando-o à Terra, com suas paixões e pecados.

Jesus mesmo proclamou:' "eu e meu Pai obramos incessantemente." (João, 5:17).

Até o Divino Mestre peleja no bom trabalho de nos orientar e de nos redimir, ensinando-nos o caminho da salvação e dirigindo a marcha evolutiva dos Espíritos jungidos à Terra, até libertá-los do pecado. E Deus, que é estático em suas leis eternas e imutáveis, mas dinâmico em sua criação, que é contínua e que sempre se transforma, dentro daquelas leis preestabelecidas, nos dá o exemplo do trabalho constante, útil e fecundo, em prol da sua e da nossa humanidade e de toda a criação!

Também Kardec, o codificador do Espiritismo - a terceira revelação do Senhor - deixou-nos o lema de "trabalho, solidariedade e tolerância".

Devemos cooperar para a obra divina, cônscios de nossas responsabilidades! Precisamos compreender que somos artífices desse labor esplendoroso, cujo supremo diretor é Deus e cujo Mestre é o seu Cristo - expressão de pureza e de amor para a Terra.

Toda a vez que persistimos no pecado, teimando em quebrar o ritmo evolutivo ambiente, somos comparados a maus operários que desbaratam energias, solapando a grande obra e fugindo ao cumprimento dos deveres. Esse gesto de insânia, ou de imperfeições, não chega a macular a perfeição do conjunto mas volta-se contra nós mesmos, imprimindo no perispírito do pecador o estigma de sua rebeldia.

Felizes dos que, sentindo-se falíveis tem a humildade de pedir ao Divino Mestre constantemente, forças para ascenderem como operários destemerosos dessa bela, obra, que é infinita e perfeita, como expressão da bondade e da magnificência do Criador!

Trabalhando, pelejando pela nobre causa da implantação do "reino da fraternidade", servindo a Jesus com paciência, abnegação e fé seremos dignos dele, por havermos acreditado em suas palavras, que são eternas e verdadeiras porque provêm de Deus! 


sábado, 2 de setembro de 2017

Decepções


Decepções  
Ismael Gomes Braga
Reformador (FEB) Março 1956


Em outro artiguete já nos referimos ao novo livro de Francisco Cândido Xavier, “Instruções Psicofônicas”, no qual temos muito que aprender. Hoje vamos mencionar apenas as decepções que nos revelam alguns comunicantes e dentre eles não poucos espíritas que não colheram nos conhecimentos doutrinários os pomos de felicidade que esperavam.

Ao contrário das religiões ortodoxas que ensinam suas verdades como caminho único para a salvação, e marcam seus profitentes como os únicos que se salvarão, o Espiritismo nos demonstra que a salvação depende das práticas internas, da transformação da vida íntima e não de dogmas e fórmulas.

São muitos os nossos irmãos espíritas que nos vêm confessar suas decepções muito tristes ao reentrarem no mundo espiritual, com as mesmas falhas que os infelicitavam antes da encarnação recente, e até agravadas pelas responsabilidades maiores que assumiram ao contato com o Espiritismo. Confessam com singeleza suas falhas e seu sofrimento.

Nessa mesma ordem de ideias, o livro nos traz depoimentos igualmente de católicos e até de um bispo em pavoroso sofrimento no mundo espiritual. Este fato nos vem recordar a “Divina Comédia”, o Arcebispo Rugério e outros famosos eclesiásticos que Dante Alighieri foi encontrar nos tormentos do Inferno.

Infelizmente são muitos os crentes das diversas escolas religiosas que encontram amargas decepções depois da morte, e os espiritistas não formam nenhuma exceção a essa regra.

O que o livro delicadamente silencia, ao tratar de sofredores, é o inferno em que se precipitam os fanáticos religiosos. Os organizadores do livro não tiveram permissão de mencionar uma série apavorante de mensagens de grandes sofredores, as quais se acham arquivadas em fitas, na sede do Grupo. Seria impiedosa crueldade descobrir tais chagas ao público; mas podemos adiantar que as comunicações de antigos inquisidores dariam um dos mais impressionantes volumes de todos os tempos.

Nosso dever hoje é ajudar e não estudar apenas as almas em situação infernal através de séculos. O Grupo “Meimei” é um posto de salvação, não apenas uma escola.

Dentre os nossos irmãos espíritas que se revelam em sofrimento, quase todos confessam que tiveram mediunidade e não souberam aplica-la com o espírito de sacrifício e abnegação necessária, daí as falhas em que vieram a cair. Foram missionários falidos em suas tarefas. Alguns deles foram nossos conhecidos em vida.

São muitos os conhecidos que nos aparecem nas páginas do livro.

Revelação da Revelação


Revelação da Revelação
J.-B. Roustaing
Reformador (FEB) Janeiro 1943

Com o superior critério que sempre em tudo revelou e com o intuito louvabilíssimo, comprobativo desse critério, de afastar muitas das causas de controvérsias capazes de embaraçar a marcha inicial da Doutrina Espírita, o seu preclaro codificador, Allan Kardec, ao encarar, no desenvolvimento da sua obra de missionário, a Doutrina Cristã, para erguer, tendo-a por base, esse monumento que é o Evangelho segundo o Espiritismo, e para, por meio dele, firmar a identidade de princípios do Cristianismo e da Nova Revelação, se ateve, exclusivamente, como era natural, às máximas morais do Cristo.

Os Espíritos elevadíssimos dos Apóstolos e dos Evangelistas, porém, prepostos do Divino Mestre ao cumprimento da sua promessa relativa ao Consolador, claro viram da altitude em que pairam, numa percepção ampla dos desígnios providenciais, que nada de temer seria o aparecimento de tais controvérsias, que elas de nenhum modo poderiam contravir à execução plena daqueles desígnios. Assim, agindo sob a direção suprema do único Mestre e Senhor e considerando que, publicados os três primeiros volumes das obras fundamentais do Espiritismo, já fora outorgada ao mundo a luz necessária à compreensão, em espírito e verdade, dos Evangelhos e à ampliação dos ensinos que eles encerram, empreenderam e levaram a cabo essa obra não menos monumental do que aquela, à que J. B. Roustaing deu publicidade sob o título de - Os Quatro Evangelhos explicados em espírito e verdade, e o subtítulo, acertado e próprio, de Revelação da Revelação, isto é, da Revelação Cristã.

Sendo, porventura, a mais notável e portentosa obra mediúnica existente, confirmada em muitos dos seus pontos capitais, em nossos dias, pela Grande Síntese, também mediúnica e igualmente admirável, a simples enumeração de algumas das revelações que contém, afora a da natureza extra-humana de Jesus, basta para indicá-la como opulento repositório de matérias a cujo respeito não pode conservar-se alheio ou indiferente aquele que deseje aprofundar-se na ciência espírita e obter a prova provada de que o Espiritismo é não só religião, ciência, filosofia, como ainda, realmente, o Consolador que o Cristo de Deus prometeu à humanidade e que viria lembrar-lhe o que Ele pregara e exemplificara e, mais, ensinar-lhe todas as coisas e ficar eternamente com ela.

Al, com efeito, se deparam, entre vários outros, ao estudioso que, sem ideias preconcebidas, nem preconceitos de qualquer gênero, a perlustre, esta série de temas e questões sabiamente elucidados:

"Origem do Espírito, como essência espiritual ou princípio de inteligência"; - "Sua evolução através dos diferentes reinos da natureza e das espécies intermediárias"; - "Individualização da essência espiritual, sua investidura na posse de inteligência capaz de raciocínio e na do livre arbítrio"; - "Evolução do Espírito formado através de esferas fluídicas, quando não incorre em falência"; - "Causas determinantes desta e suas consequências" - "Significado real da encarnação e da reencarnação para os que faliram"; - "Transmigração do Espírito de um mundo para outro"; - "O magnetismo como agente universal, como fonte de origem de todos os fluidos"; - "As diversas espécies destes, suas combinações e apropriações a todos os efeitos de ordem espiritual e material"; - “A matéria e sua constituição fIuídica"; - "Identidade do princípio espiritual e do princípio material, atestando a unidade absoluta da obra divina"; - "Existência, natureza e função do fluido cósmico universal; seu papel, como
laboratório divino na formação e na economia do universo"; etc.

É, pois, repetimos, uma obra cuja leitura e meditação não pode deixar de atrair a quantos se não considerem fartos bastante de conhecimento das grandes verdades reveladas; a quantos, ao contrário, anseiam constantemente por saber mais e melhor, por avançar cada vez mais pela senda desse conhecimento, que enleva a alma e, por assim dizer, a força a colocar-se um pouco acima das míseras e corriqueiras contingências da vida material, que passa a apresentar-se-lhe sob aspecto mais consentâneo com os grandiosos e sublimes objetivos de Deus.


Alimentar contra semelhante obra, sem a conhecer, quaisquer prevenções é atirar para debaixo do alqueire potentíssimo foco de luz, capaz de banir da mente e do coração humanos, senão toda, uma larga parcela da treva que a uma e outro obscurece. 

Galhos ladrões


Galhos Ladrões
Cornélio Pires
Reformador (FEB) Abril 1942

Vede uma árvore frutífera, uma laranjeira, por exemplo. Na pujança do seu desenvolvimento, aparecem-lhe nos galhos frutíferos uns lindos brotinhos, verdes ao repontar e que depois como que se abrem quais enfeites dourados. Com incrível rapidez se desenvolvem esquinados e já providos de espinhos, moles e belos, e sobem, sobem, sugando ao tronco o melhor da seiva. Agora, já nada tem de tenros e delicados, seus espinhos já ferem. Os galhos tomaram corpo e subiram, altaneiros, repontando soberbos sobre a copa da árvore, acima dos bons galhos que produzem frutos.

O pomicultor se descuidou; mas, ao perceber o descuido, empunhará o serrote e a tesoura, se souber corrigir sua falta, e amputará cerce os galhos ladrões. Cortados estes, alguma seiva, alguma vitalidade perderá a arvore e se tornará triste. Quando, porém, cicatrizarem os cortes, mais vida sentirá ela e muitos e melhores frutos produzirá. Desafogada da exuberância de galhos e folhas inúteis, será penetrada de luz, de sol e gozará, pela manhã, a suavidade do orvalho e, à noite, o sereno calmante.

Despida de galhos ladrões, a árvore chamará menos a atenção do viandante; mas, em troca, na época própria, lhe dará ótimos frutos com que lhe sacie a sede e alimente o corpo.
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A árvore frutífera é o Homem, o pomicultor a Consciência e os galhos ladrões os Erros.

Se o pomicultor, atento, trusquiar, desbastar os brotos ao repontarem, nada terá sofrido a arvore.

Quando Deus, Nosso Senhor, desperta a nossa Consciência e ela nos amputa os galhos ladrões, quanto sofremos é para o nosso bem e para o bem da humanidade.

O ébrio, que deixa de beber, sofre, se entristece e não mais acha prazer nas festas e passeios; o libertino, ao ser arredado dos lupanares e orgias e das bancas de jogo, clama: "que farei das minhas noites?.."

Nos primeiros tempos, ficará desorientado, perturbado; mas, assim que se reponha, sentirá a ventura de viver, de ser útil a si e aos seus semelhantes e a sua ressurreição para o Bem lhe trará a melhor das alegrias.


O Homem racional


O homem racional
por Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Abril 1941

O homem racional não pode viver sem religião, disse Tolstoi. O que entenderia o filósofo russo por homem racional? Acaso, todos os homens não são racionais?

Segundo o ponto de vista em que se coloca aquele grande pensador, não é pela inteligência, nem pela vontade, nem pelo sentimento que os homens se distinguem dos seres inferiores, chamados irracionais, por isso que estes possuem aquelas faculdades.

A diferença entre a inteligência e o sentimento dos homens e os dos animais procede do grau evolutivo em que uns e outros se encontram. Aliás, esta circunstância verifica-se também entre as raças e os indivíduos que compõem a humanidade. Portanto, a racionalidade a que se reporta Tolstoi prende-se a certa particularidade própria e inerente ao homem e que não se encontra nos animais.

Que particularidade será essa? Não é preciso dar muitos tratos à bola para descobri-la. Trata-se das cogitações que preocupam o homem com relação ao futuro, à sua origem e a tudo o que se relaciona com os acontecimentos que com ele se dão.

O homem pensa na morte e nas consequências que sobre ele trará esse sucedimento inevitável e certo. O homem alimenta aspirações que não podem consumar-se nesta existência e que levam a pensar nos problemas do seu destino. A dor constitui, a seu turno, objeto de sua preocupação. Em suma, o animal vive, o homem sabe que vive.

Levado por essas e outras considerações semelhantes, o homem descobre em si mesmo, nas profundezas de sua alma imortal, uma certa ligação com a fonte eterna da Vida e do amor: Deus!

Tal é, em síntese, a religião, ou melhor, o sentimento religioso em sua lídima e pura expressão.

Os animais, vivendo do presente e para o presente, naturalmente não se interessam pelo dia de amanhã. Vivem a vida do momento, tal qual ela se lhe apresenta, Não existe neles aspirações que se prendam ao porvir. O "porquê da vida", as questões relativas ao destino, ao "ser ou não ser", à dor e à morte são privativas do homem, constituindo o roteiro que o conduzirá ao reino de Deus, após o conhecimento de Sua justiça.

Eis ai a razão das sábias palavras do renomado romancista russo: O homem racional não pode viver sem religião. Isto é: o homem racional não pode prescindir de todas as cogitações que digam respeito à sua origem e ao futuro que o espera. Do contrário, resvalará para o terreno da irracionalidade!