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sexta-feira, 25 de junho de 2021

Teosofia e Espiritismo - Parte 1

 


Teosofia e Espiritismo - Parte 1

por Pedro Richard
Reformador (FEB) Janeiro 1916

Ao bom amigo Rodrigues,

          Agradeço muito a fineza de teres mandado para mim alguns livros e folhetos de Teosofia, na louvável atitude de orientares o meu pobre espírito e me provares que os pontos de contato que, dizem os teósofos; há entre a Teosofia e a Revelação dada pelos Espíritos a Allan Kardec e a Roustaing são tais e tantos, que bem se pode considerar a Teosofia como sendo o Espiritismo evolvido.
            Pelo muito que te quero e pela pureza de tua intenção, pretendendo melhor nortear o meu espírito ávido de luz e de verdade, fiz meditada leitura de semelhantes livros com o fito de conhecer a verdade e até onde a verdade estava com o meu Rodrigues.
           Cheguei à conclusão de que estás elaborando em erro. E sabes porque andas em erro? Simplesmente pelo pouco conhecimento que tens das obras de Allan Kardec e do Evangelho em espírito e verdade. 
           Sendo o Espiritismo, como é, uma revelação dada pelos Espíritos, é óbvio que não consiste ele tão somente na crença no Deus uno, na manifestação dos espíritos ou, mesmo, nas reencarnações, pois, como sabes, tudo isso há de muito é conhecido e sustentado por escolas e seitas que já eram cultivadas antes do Cristo, inclusive o velho Testamento; nem mesmo é a "fraternidade" o seu alicerce, pois que a fraternidade é também apregoada e pregada por escolas que não cogitam de Deus nem de espíritos, como por exemplo a positivista, a evolucionista, etc.. Tudo isto já estava desde muito revelado.
           O Espiritismo, meu bom Rodrigues, é certo que sanciona todas estas verdades, mas ele não para onde as outras religiões estacionam. Não, ele trás para a arena da discussão todos os fatos, e estuda com profundeza e à luz da razão e da ciência as leis que os regem, as causas que os determinam. Ele nos fornece os meios seguros para as investigações de ordem moral ou científica.
          O Espiritismo, meu amigo, nos veio proporcionar as provas provadas de que as boas condições morais são indispensáveis a toda ordem de trabalhos que visam a regeneração dos espíritos encarnados ou desencarnados, o que o cultivo das virtudes lhes é sobretudo imprescindível. E isso porque só a nossa relativa pureza dalma e as virtudes podem atrair para junto de nós os espíritos de luz, os únicos capazes de ensinar-nos a verdade, (que é representada pelo Evangelho), isto é, a palavra santa de Jesus compreendida em espírito e vida. É nisso querido irmão, que consiste a nova revelação trazida à Terra pelos Espíritos, prepostos de Jesus para o desempenho dessa alta e santa missão; porque ele é o Consolador prometido por Jesus, que nos ensinará as coisas (João, Cap. XIV, núm. 26).
           Assim sendo, o Espiritismo é a chave que abre à nossa inteligência a compreensão progressiva do Evangelho, a fim de acelerar o nosso progresso nos tempos que são chegados, tornando-os destarte felizes e libertos do erro e da mentira. Ao mesmo tempo, ele destrói a imagem desse deus mau e rancoroso que só existe no cérebro daqueles entre nossos irmãos que o criaram para fins inconfessáveis.     
           O Espiritismo, enfim, nos veio fazer compreender o verdadeiro Deus - o Deus de amor e caridade - e provar-nos que só se vai ao Pai pelo cultivo da fé, do amor, da humildade e da caridade, notadamente pelo destas duas últimas virtudes, que limpam os nossos espíritos da lepra peçonhenta do egoísmo e do orgulho.
           Caro Rodrigues: a humildade, que é o nosso remédio máximo, só a encontramos no Evangelho de N. S. Jesus Cristo.
           Ah! meu Rodrigues, como se nos apresenta grandioso o Presépio de Belém! Aquelas palhas, que serviram de cama ao gado, como as vemos agora transformadas em leito de arminho para receber e nele repousar o Menino Jesus, o maior dos Espíritos baixados à Terra, o Enviado de Deus, o Seu Ministro, em suma! E, no entanto, Ele não teve uma casa, um casebre mesmo, para nascer! Como é nobre esse exemplo de humildade da família do simples e pobre carpinteiro que se chama José! Como é grandioso e sublime ver-se o Rabi da Galiléia recrutar seus discípulos entre os humildes pescadores e até mesmo entre os cobradores de impostos, os mal quistos e desprezados do povo! É que eles eram pobres de bens materiais e ricos de virtudes. Que sublimidade e que grandeza, meu amigo, vê-lo entre os publicanos e gente de má vida e repartir com eles a caridade e afastando esses espíritos do erro para os acomodar no seio bendito de Deus! É que eles eram pobres de bens materiais e ricos de virtudes. Que sublimidade e que grandeza, meu amigo, vê-lo entre os publicanos e gente de má vida a repartir com eles a caridade e afastando  esses espíritos do erro para os acomodar no seio bendito de Deus! Como é majestoso ver-se este Jesus sentado à mesa com os seus discípulos, associando-se a eles na ceia pascoal e com eles repartindo o vinho que simbolizava o Seu sangue, que deveria derramar em holocausto à humanidade escravizada ao erro, aos vícios e paixões! Que magnitude, caro Rodrigues, ver-se este Homem quase Deus tomar de uma bacia e toalha e lavar os pés aos Seus discípulos, inclusive do próprio Judas - o espírito fraco e desgraçado que, dali há pouco, teria de cometer o maior, o mais ignóbil dos crimes, a traição! Mas é que ninguém, absolutamente ninguém, estava excluído do seio amoroso de Jesus, nem mesmo os Seus mais encarniçados inimigos!
           E Jesus, o Mestre divino, assim procedendo disse aos seus discípulos, que representavam a humanidade: "Vós me chamais Mestre e Senhor, vos laveis os pés, deveis o mesmo fazer uns aos outros.(João, Cap. XIII, vs. 1 a 15).
           Ouviste, Rodrigues, o que disse o Mestre?
           Pois lava os pés dos teus inimigos, mas lava-os com tuas lágrimas e as enxuga ao calor de teu seio amoroso, porquanto, bem sabes que é preciso que faças do teu inimigo um amigo teu, e nem basta que fique sendo um amigo somente, senão que seja também amigo de Jesus, o Pastor bendito que recebe de braços abertos a ovelha tresmalhada que queira voltar ao aprisco.
           Meu caro Rodrigues, faze-te humilde e será discípulo de Jesus, o nosso divino Mestre e Senhor.
           Por caridade eu te peço: não me tires das mãos o Evangelho em espírito e verdade. Ele tem feito a minha felicidade de homem e, certo, far-me-á do espírito. Nele, somente nele, tenho encontrado o único remédio que cura a enfermidade geratriz de todos os males da alma: o orgulho que, semelhante ao cancro, me corrói o espírito.
           Se tu não sofres desse hediondo mal, que me chumba à Terra  me faz escravo do erro e das paixões; se pela educação primorosa da tua vontade tudo concedes e com tudo condescendes - feliz que és! - infelizmente eu não posso fazer o mesmo. Eu sou coxo e estropiado e só mantenho-me de pé amparado e defendido por meio anjo de guarda e protetores espirituais.
           Segue a tua Teosofia e com ela caminha. Sê feliz mas deixa-me agarrado ao meu Jesus, ao meu divino Mestre e Senhor, a meu Salvador, haurindo de Seu santo e divino seio a humildade de que tanto preciso para curar-me.
           Não me arranques do coração a imagem incomparável e santa de Maria,a Mãe santíssima, Espírito sublime a quem tanto devo e que é o enlevo de minha crença e o carinho dos meus afetos.
           Não posso seguir a tua Teosofia porque não posso servir a dois senhores.
           A tua Teosofia - perdoa-me, releva-me a franqueza - é anti espírita e não está de acordo com os ensinamentos do Evangelho; é o Falso Profeta. Não te molestes comigo. Não sou eu quem o diz, é o Evangelho, é o próprio Espiritismo codificado por Alan Kardec, como te provarei no meu próximo escrito.

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