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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Da atitude mental do Espírita - parte I

    


Da atitude mental do Espírita - parte I
por Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Março 1961

            Nada é mais prejudicial à personalidade do indivíduo do que o conformismo sistemático. Ele esteriliza a capacidade criadora do homem, tornando a criatura um ser apático, incapaz de dinamizar-se na vida cotidiana.
           Devemos considerar o Espiritismo pelo que ele efetivamente é: uma religião construtiva, de realização no presente e de confiança no futuro. Não estando escravizado a dogmas irracionais, pode o Espiritismo permanecer fiel aos princípios da evolução, seguindo os passos da Ciência, sem jamais perder o contato com a Filosofia, justamente porque é, simultaneamente, Religião, Ciência e Filosofia. 
           Em se tratando de Doutrina liberal, dinâmica, positiva e absolutamente clara, não se amesquinha em ridículo sectarismo. Olha para as outras religiões como um irmão para outros irmãos, embora tenha que precatar-se contra a ação nociva daquelas que, alarmadas com o seu progresso e em desespero de causa, busquem coartar-lhe (reprimir) os passos, valendo-se para esse fim de inverdades e de recursos outros contrários aos princípios evangélicos.
           O espírita não deve ser pessimista, conformista nem mofino (infeliz). E é incompreensível possa alguém tornar-se indiferente aos seus dias terrenos, renunciando às aspirações naturais da criatura humana e aparentando a disposição de viver comtemplativamente com o pensamento preso ao Além, esquecido da Terra. Nada disso. O que o Espiritismo ensina é que tudo quanto vive está subordinado às leis da evolução e que, nesse sentido, temos que fazer sempre o melhor que pudermos na vida terrena, participando corajosamente de suas lutas e procurando dar à nossa personalidade o vigor necessário à melhoria das nossas condições morais, espirituais e físicas. Renunciar aos bens naturais da Terra, que podem ser honesta e comedidamente fruídos, para aguardar as alegrias do Além, através de uma existência voluntariamente levada à tristeza, significa incompreensão doutrinária, porque aqueles e estas não são incompatíveis, mas se completam.
           Recordemos este trecho de "O Livro dos Espíritos" (Introdução), que mostra claramente o caminho doutrinário que todos devemos seguir:

           "A moral dos Espíritos superiores se resume, como a do Cristo, nesta máxima evangélica: fazer aos outros o que quereríamos que os outros nos fizessem, isto é, fazer o bem e não o mal. Neste princípio encontra o homem uma regra universal de proceder, mesmo para as suas menores ações." 

           O Espiritismo não manda ninguém enclausurar-se na melancolia ou escravizar-se à tristeza, fugindo à alegria de viver. Não mata a capacidade de reação que todos temos em maior ou menor grau, nem nos induz a nos conduzirmos servilmente, renunciando sistematicamente aos nossos direitos legítimos, inerentes à vida humana. Ensina-nos a ser tolerantes, caridosos e pacientes. Aconselha-nos  a uma humildade digna, nunca ao servilismo que rebaixa ou anula a personalidade do homem. Revela-nos a necessidade de bem cumprirmos os nossos deveres, sem que, entretanto, nos obrigue a nos tornarmos apáticos ou abúlicos (sem vontade), indiferentes à defesa de interesses dignos, reconhecidos e assegurados pelas leis morais. Há muita gente que confunde todas as coisas, porque não penetrou suficientemente o espírito da Doutrina. Quando o Espiritismo fala em renúncia e humildade, não está querendo que o homem abandone aquilo que lhe é necessário ou justo na vida terrena, aquilo que lhe é necessário ou justo na vida terrena, aquilo que lhe é indispensável para se conservar num nível de respeitosa existência, sem o sacrifício de sua família e de seus semelhantes.
           Ele adverte-nos que as relações do mundo dos chamados vivos com o mundo dos chamados mortos devem ser cultivados sem nos engolfar nos no abismo da morbidez, como se estivéssemos em eterno luto, envoltos para sempre no sudário funéreo. Não! Os ditos mortos são para nós, espíritas, tão vivos quanto os encarnados. Porque a força que anima o corpo é a alma, que é o espírito, em última análise.
           Compreendendo o alcance da Reencarnação, podemos viver com alegria, desde que saibamos seguir o itinerário que a Doutrina nos traça, seguro e conducente à felicidade. Pautando nossas ações pelo bem  em todas as suas formas, evitando também o mal multiforme, estaremos melhorando as nossas condições atuais, construindo um futuro em bases mais sólidas, pois, na realidade, a grandeza ou a ruína do nosso amanhã dependerá exclusivamente de nós, do que fizermos hoje, do modo pelo qual estivermos saldando os nossos débitos de ontem, criados pela ambição perniciosa ou tangidos pelo egoísmo maléfico.
           Para demonstrarmos nossa condição de espírita, temos de agir  sempre bem, em qualquer circunstância, evitando o mal e procurando reduzi-lo pela prática de ações enobrecedoras.
           Mostrar a fisionomia apagada, de quem está em velório de defunto, ou esconder-se em estudada e excessiva timidez, nada disso define o espírita; pelo contrário, indica, muitas vezes, um espírito fraco, que não entende a vida terrena em face do Espiritismo. 

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