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quarta-feira, 30 de junho de 2021

Da atitude mental do Espírita - Parte III

 

Da atitude mental do Espírita - parte III
por Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Março 1961

             Já dissemos algo sobre a necessidade de mostrar-se a nocividade do conformismo sistemático, que engendra o servilismo e anula as qualidades nobres da personalidade humana.

           Temos de nos esforçar para que a Terra não continue sendo um vale de lágrimas, mas uma senda de esperanças, escorados na ação dinâmica.Em vez de irradiarmos tristeza, devemos suscitar bem-estar, tranquilidade, confiança no presente e no futuro, valorizando a existência terrena, encorajando os fracos e os infelizes, para que eles, contagiados por essa confiança, reajam salutarmente, vencendo primeiro o desânimo que os abate, para, passo a passo, poderem recuperar-se e formar conosco o grupo que quer e já vai transformando a Humanidade para melhor.

           A maior luta do espírita, além da sua própria reforma, consiste em levar a seus semelhantes a esperança em dias felizes, a confiança no futuro, porque, para quem conhece a Doutrina e tem a certeza do que os espera, o dia de amanhã poderá ser menos áspero que o de hoje.

           Ninguém tem o direito de intoxicar a vida alheia com os seus queixumes e lamentações.

           Todos nós sofremos, todos temos dias mais felizes e menos felizes. Não é por isso, no entanto, que devemos viver chorando e pontilhando de lágrimas as mais tristes lamentações, multiplicando aflições. Ninguém vem a este mundo para divertir-se. Há deveres a cumprir e esses deveres serão cabalmente executados, hoje ou amanhã, nesta ou em outra vida. Ninguém se iluda a tal respeito. Entretanto, isso não importa em abandonar as boas e corretas alegrias que podemos e devemos gozar. O mal não está em tirarmos honestamente proveito do que a vida terrena nos ofereça de útil e vantajoso, desde que não esqueçamos dos deveres morais que nos apontam os verdadeiros rumos. O perigo não está no uso, mas no abuso.

           Se cumprirmos as obrigações que a Doutrina Espírita nos assinala, jugulando o egoísmo maldoso, pondo freios `vaidade, anulando o orgulho, e se ao mesmo tempo nos tornarmos altruístas, procurando ajudar os nossos semelhantes naquilo que nos for possível, orientando-os, assistindo-os, renunciando a benefícios, vantagens e conveniências, sempre que essa renúncia puder constituir ajuda para alguém, estaremos com a consciência tranquila.

           Não nos devemos entregar a alegrias adiáveis, ou inoportunas, quando o dever nos aponta a necessidade de socorrer alguém que precisa da nossa palavra amiga ou da nossa ajuda material, para mitigar-lhe as desditas e os sofrimentos.

           Nós, espíritas, devemos provar cada vez mais que a nossa Doutrina é um doutrina de ação, um doutrina de confiança, uma doutrina de trabalho permanente em prol do bem ao próximo, de auta-evolução e, sobretudo, de integraçãoabsoluta nos princípios da sincera fraternidade.

           Quando vemos, em determinadas reuniões, um ambiente excessivamente sombrio, que mais parece um velório do que verdadeiramente uma sessão espírita, compreendemos o imenso trabalho de doutrinação que o Espiritismo tem de realizar pelos anos afora. Isto porque seu objetivo é fazer cada criatura humana alcançar o ideal do aperfeiçoamento ético, baseado na experiência moral, mais precisamente, baseado na conduta diária do homem, na exemplificação permanente dos deveres doutrinários à luz do Evangelho do Cristo.

           Não devemos, por mal compreendida tolerância, permitir que a Doutrina seja deturpada ou corrompida, com a introdução de hábitos e práticas estranhos a seus princípios. É o que se vê com facilidade. Elementos egressos de outros credos, que não se desvencilharam de costumes lá adquiridos, vão insensivelmente implantando, em centros espíritas mal orientados, "novidades"  perfeitamente dispensáveis.

           O Espiritismo não tem ritos, não admite liturgias, dispensa imagens, não realiza "batizados" e "casamentos", não participa de solenidades mundanas, não benze armas destinadas a homicídios nem casas comerciais para que façam bons negócios. Tudo quanto se faça a esse respeito colide inteiramente com  a Doutrina Espírita. Daí não há fugir.

           Anteriormente, referimo-nos à conveniência de se evitar o conformismo sistemático. Aquele que se curva passivamente a tudo, sem reação digna, acaba por se anular, destruindo a própria personalidade, tornando-se, em vez de elemento útil, participante da vida ativa e fecunda de seus semelhantes, um estorvo para o progresso da sociedade. Lemos algures: "Mais vale ser livre no inferno que um sem vontade na glória."

           O conformismo doentio é fruto, às vezes, de má compreensão da humildade. Temos o dever de ser humildes, mas também temos o dever de não ser servis. Quando a humildade perde o sentido de si mesma, o servilismo toma seu lugar. Ninguém foi mais humilde que o Cristo, mas também ninguém foi mais claro, positivo e enérgico do que ele, sempre que se fazia mister agir mais dinamicamente. Ninguém teve uma personalidade tão forte. A humildade verdadeira não é incompatível com a energia e a franqueza, não nos deve levara uma passividade total. Temos de aprender todas essas coisas na vida de todos os dias. Disse Ituarte que "a vida é uma escola em que aprendemos lições, e, aprendendo, evoluímos." Em toda escola, o prêmio de haver aprendido uma lição é que nos deem outra lição de coisas. Aprende-se a andar, andando, e não com teorias de equilíbrio; a escrever, escrevendo, e não ouvindo conferências sobre o particular; Aritmética,à força de resolver problemas; Química, no laboratório, e História Natural, no livro da Natureza, e não repetindo de memória o que diz o livro de texto." Doutrina é agir. O Espiritismo é ação.

           Podemos acrescentar: aprende-se a Doutrina Espírita na vida diária, procurando-se adaptar a nossa conduta aos preceitos doutrinários. Só com a experiência poderemos progredir. Um preceito doutrinário é muito bonito, mas carecerá de importância se não puder ser praticado. É preciso, portanto, que exerçamos todos, praticamente, a Doutrina. Infelizmente, multiplicam-se os núcleos ditos espíritas, mas não se tem multiplicado na mesma proporção o estudo e principalmente  a exemplificação da Doutrina.

           Em nosso modo de entender, o trabalho mais necessário, urgente mesmo, é a pregação da Doutrina, comentários sobre os preceitos doutrinários e a exemplificação no dia a dia de todos nós.

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