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domingo, 8 de dezembro de 2019

Como morrem as religiões



Como morrem as religiões – Parte 1
Theóphilo Siqueira
Reformador (FEB) Maio 1937

            Conta Renan que, na igreja de sua terra natal, reunia-se o povo, à meia noite, no dia de S. lvo e o Santo estendia os braços para abençoa-lo. Mas, se houvesse ali alguém que duvidasse, erguendo os olhos para verificar o milagre, o Santo se ofendia do ato e não se movia, perdendo-se por esta causa a benção. (Recordações da infância.)

            O catolicismo romano plantou, na subconsciência dos povos a que serve, infelizmente, a crendice, a superstição religiosa. Criou o materialismo-religioso, pior, talvez, que o materialismo puro, pois este nega, mas aquele desfigura, deturpa e conspurca.

            A crença cega, sem raciocínio, estratificou-se. Da ortodoxia impenitente, os bons espíritos se afastaram; mirrou-se a delicada flor da pura intuição, que vai brotar algures. Surge o profetismo fora da Igreja, por isso que igreja não é templo, não é casa de pedra e argila, mas o próprio profetismo. “Tu és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno não prevalecerão sobre ela.” Isto é: sobre este teu profetismo. Pedro, esta tua intuição, esta tua mediunidade, em suma, a minha igreja será edificada e nada, nenhum erro, nenhum interesse inferior a destruirá. Eis fundada, desde esse momento, a verdadeira Igreja, do divino Salvador.

            Não importam as falsas “Igrejas”, os falsos “Cristos”, os falsos profetas ou médiuns.

            Os novos alicerces sobre os quais repousará o espírito-santo são aquelas declarações peremptórias do Apóstolo Simão, cujo nome foi mudado para o de Pedro - pedra - pelo Senhor Jesus.

            As sutilezas teológicas, essa impenetrável ciência que teve a grande vantagem de desorientar o povo, de turvar o que era claro, de aristocratizar o que era simples - não fora um gênio aquele frade do XI século - S. Tomás, que com a sua Escolástica- adaptou à Igreja os princípios de Aristóteles - estabeleceram a contrafação de uma pura verdade, contrafação que tem durado tanto...

            Mas, a evolução é, por sua natureza, lenta, pois que a imortalidade não tem pressa. Qual é, em suma, a duração de uma religião? Ela irá até o ponto em que se “igrejificar”. Uma vez “igrejificada”, a esclerose começa a minar lhe o organismo. Os exemplos abundam na História.

            Constantino, em 424, iniciou a aglutinação da “Igreja” de Roma... - Esse Imperador pagão, politicamente adere aos cristãos, tornando-se o “Bispo externo”. Havia vencido a Maxêncio, nos muros de Roma, e volta protetor do cristianismo romano... não daquele Cristianismo do Senhor Jesus, defendido pelo Príncipe da Paz.

            O vero Cristianismo dispensa exércitos, espadas, canhões, etc., porque sua força está no Amor. Não resistir ao mal é o preceito messiânico.


Como morrem as religiões – Parte 2
Theóphilo Siqueira
Reformador (FEB) Outubro 1937

            A implacável lima do tempo gasta toda obra humana. “Toda planta que o Pai não plantou secará.. As “Religiões” são arranjos do interesse inferior do homem. As revelações descidas do Alto se mesclam impurezas da contingência humana, pois que Deus, na sua onisciência, respeita os sentimentos predominantes através dos quais os profetas e médiuns, apesar dos pesares, inoculam ensino autêntico, que conduz à salvação. Deus, contemporizando com humanas fraquezas, semeia verdades eternas, que germinam paulatinamente: escreve direito por linhas tortas...

            Mas, a tendência das doutrinas é a de aglutinarem-se em “igrejas” e, assim, entram na reta do fanatismo. Vem a intolerância. A doutrina, de perseguida, passa a perseguidora. Eis o ciclo fatal das “Religiões”.

            Previna-se o Espiritismo... Fuja da aridez do escolasticismo. No dia em que se assentar sobre a sua verdade, passará à História. Viverá, então, uma vida artificiosa, cheia de sutilezas teológicas. Viva o Espiritismo como tem sido até agora, utilizando-se dos recursos das modernas ciências, da metafísica, servida por escrupuloso experimentalismo, despido de interesses sectários.

            A metafísica já não se limita às puras abstrações, mas desce ao terreno firme dos fatos.

            O experimentalismo, em pleno domínio da psicologia, já não se canaliza exclusivamente ao campo da ciência material. Infelizmente, o exagero leva o homem a estratificar o pensamento humano, criando o dogma. A Escolástica, exagerando os princípios aristotélicos, solidificou uma “Teologia” rígida; imutabilizou a sua verdade. O racionalismo, combatendo a Escolástica, exagerou, igualmente, o seu negativismo. O materialismo impera dogmaticamente, se bem vá cedendo o passo a um intuitismo temperado de sadio raciocínio, onde o espiritualismo, sem ritos nem “sacerdote”, ganha terreno dia a dia, Espiritualismo, sem aquele privilegiado esoterismo hierárquico... Um espiritualismo eclético, equidistante das “Escolas” (1) um pouco de escola pônica, um pouco da eleástica; uma dose de Sócrates, com Platão, com uma mistura de Aristóteles; adicionou-se mesmo um pouco de S. Tomás, sem se desprezar F. Bacon.

            (1) Se do interesse do leitor, sugerimos busca no Google para detalhes sobre escolas pônica, aristotélica, socrática etc. para evitarmos enxertos ao texto original.

            O Espiritismo, estabelecendo o conceito de verdade, dentro da concepção evolucionista, reporá o homem no caminho que o torna verdadeiramente digno em face de seu Criador. O Cristianismo primitivo, posto entre o panteísmo e o politeísmo, demonstrou, pelo Verbo incarnado, a transcendência divina: Deus criando livremente, pela sua vontade onipotente, a espiritualidade da alma e a sua liberdade. A Terceira Revelação, na pista da Verdade, vai ampliando o ensino do Cristo. Religião e ciência já não se repelem, mas, ao contrário, completam-se. Aí estão a geologia, a biologia, a física, a química fornecendo ao homem elementos de inestimável valor

            Ao Espiritismo estava reservado o papel decisivo do critério experimental, para
prova de uma religião revelada. E vai avassalando fariseus e publicanos, gregos e
romanos. A força material das velhas “Religiões”, ele antepõe a sua força moral, provando o fato. Convencer, eis o melhor meio de vencer.

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