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quarta-feira, 20 de março de 2019

Caracteres da propaganda do Espiritismo



Caracteres da propaganda do Espiritismo
A Redação 
Reformador (FEB) Setembro 1925

            É o nosso maior desejo que o Espiritismo se propague amplamente e à sua luz os incrédulos se convertam, mas é mister nos entendamos sobre o que cumpre levar a efeito em prol da sua ampla divulgação. Certo é que o papel a ser desempenhado pelos espíritas é de segunda grandeza neste particular, porque a regência superior do Espiritismo, no mundo, cabe aos Espíritos reveladores. Eles sabem despertar e atrair a atenção humana pode-se dizer que é principalmente sob a sua influência que as  inteligências se inclinam à aceitação das verdades que eles revelam. Aos adeptos corre o dever de proclama-las com segurança e critério, socorrendo-se da experiência e observação de seus maiores, para a escolha dos métodos mais adequados à propaganda.

            No entretanto, nem sempre a ação dos adeptos tem sido esclarecida e como o homem age às cegas, quando é dominado pelo ardor do proselitismo e não está em comunhão com os Espíritos superiores, nem senhor dos conhecimentos doutrinários, sucede que as formas mais contraditórias de propagação das ideias espíritas tem sido observadas, outrora mais do que hoje, e dentre elas lembramos as sessões públicas de carater experimental.

            Ora, tais sessões de vulgarização do Espiritismo por vezes se tem convertido, no dizer do Mestre, em arena de propaganda. No afã de derrotarem a descrença, ostentam as reluzentes armas dos fatos, na suposição de que nada resistirá ao seu contato, sem embargo, a experiência há mostrado que de lá o adversário se retira quase sempre mais forte e zombador.

            Compreende-se a utilidade e a razão de ser das reuniões de caráter experimental, mas, para que produzam bons frutos, instruam, despertem e completem a convicção, é necessário, em primeiro lugar, que não sejam públicas e que, pelo menos, as pessoas que as frequentam simpatizem com a ideia espírita e de antemão conheçam os princípios estabelecidos. Consideramos, enfim as sessões práticas como um curso de “instrução espírita, em que se estuda a teoria dos fenômenos, a indagação das causas e a consequente verificação do que é possível e o que não é. (1)

            “É matéria vencida, diz ainda o mestre, que a melhores comunicações se obtêm nas reuniões pouco numerosas, naquelas onde principalmente reinam a harmonia e união de sentimentos. Ora, quanto mais numerosas, mais difícil de conseguir-se a homogeneidade. (2). E, se a homogeneidade, a comunhão de pensamentos e de sentimentos são, para os grupos espíritas, e toda a sorte de reuniões. A condição sine qua non, de estabilidade e vitalidade, é para este fim que devem tender todos os esforços e, quanto menos numerosas forem as reuniões, tanto mais fácil alcança-lo. (3)

            Com efeito, atraindo-se a multidão de curiosos para assistir os trabalhos práticos, é sumamente difícil, senão impossível, obter-se dela as referidas condições de homogeneidade para as reuniões sérias e instrutivas, porque os sentimentos e ideias contrárias que a agitam não poderão jamais formar ambiente favorável às boas produções mediúnicas.

            Outrora, a Federação realizava sessões públicas e práticas, mas, de pronto, o Espírito do Dr. Bezerra de Menezes, que as presidia, logo na sua segunda mensagem de desencarnado, mensagem que publicaremos mais tarde, veio reparar o erro em que incorera de boa fé, dando-nos a orientação a que temos sido fiéis até este momento.

(1)  Revue Spirite 1859, pg. 171
(2) Livro dos Médiuns pg. 328
(3) Revue Spirite 1860, pg. 301

            Ora, tal sistema de propaganda por ser impróprio e inadequado aos fins que devemos ter em vista, acolhemos plenamente as instruções do nosso patrono, ainda mais porque se casam com as que o nosso bem amado mestre Sr. Kardec, houve por bem dar aos membros da Sociedade parisiense de estudos espíritas na alocução pronunciada por ocasião da terminação do seu mandato de presidente da referida Sociedade no ano de 1859, de alocução que extraímos este fragmento:

            “Sem dúvida, diz ele, desejamos todas a vulgarização das ideias que professamos, porque a: reputamos úteis e para isso cada um de nós contribui com a sua parte, mas sabemos que a convicção não adquire senão a custa de observações contínuas e não por fatos isolados, sem encadeamento e raciocínio, contra os quais a incredulidade pode sempre apresentar objeções. Um fato, dirão, é sempre um fato, argumento sem réplica. Sem dúvida, quando não é contestado, nem contestável. Um fato, que sai fora do círculo  de nossas ideias e conhecimentos, parece impossível à primeira vista e, quanto mais extraordinário, maiores objeções levanta, eis porque sofre contestação. Aquele que investiga as causas delas toma conhecimento, que para elas encontra base e razão de ser, compreende a possibilidade do fato e já não o rejeita. Um fato não é inteligente, muita vez, senão pela sua ligação com outros fatos; considerado isoladamente, pode parecer estranho, incrível, absurdo mesmo; mas, seja ele um dos anéis da cadeia, tenha base racional e possa se explicado, toda anomalia desaparece. Ora, para perceber-se esse encadeamento e apreender-se o conjunto e que se é conduzido, de consequência em consequência, é mister em todas as coisas, e talvez com mais forte razão em Espiritismo, um nexo de observações raciocinadas. O raciocínio é, pois, elemento poderoso de convicção, hoje mais do que nunca, quando as ideias positivas nos induzem a saber o como e o porquê de cada coisa.
            É de admirar a persistência da incredulidade em matéria de Espiritismo nas pessoas que viram, enquanto que outros que nada viram, são crentes sinceros: será que estas últimas são criaturas superficiais, que aceitam tudo que se lhes diz?  Ao contrário, as primeiras viram, mas não compreenderam; as segundas não viram, mas compreenderam e se compreenderam é porque raciocinassem.”

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