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quinta-feira, 3 de abril de 2014

Andrew Jackson Davis


Andrew Jackson Davis

Zeus Wantuil
Reformador (FEB) Abril 1978

            Andrew Jackson Davis, cognominado O "Pai do Espiritualismo Moderno", o "Allan Kardec americano", filho de pais humildes e incultos, nasceu, em 1826, num distrito rural do Estado de Nova Iorque (EUA), às margens do rio Hudson, entre gente simples e ignorante.            

            Era um menino pouco atilado, falto de atividade intelectual, corpo mirrado, sem nenhum traço que denunciasse a sua excepcional mediunidade futura.

            Tal como sucedeu com Francisco Cândido Xavier, o célebre médium brasileiro dos dias atuais, Jackson Davis começou a ouvir, nos derradeiros anos de sua infância, vozes agradáveis e gentis, seguidas de belas clarividências, nele se desenvolvendo ao mesmo tempo os dons mediúnicos - com aplicação em diagnósticos médicos.

            Em 6 de março de 1844, provavelmente em corpo perispirítico, foi transportado da pequena localidade de Poughkeepsie, onde morava, às montanhas de Catskill, quarenta milhas distantes. Nestas montanhas encontrou dois anciães, que lhe revelaram ser seus mentores, posteriormente identificados como os Espíritos de Galeno e de Swedenborg. Foi este o primeiro contato que o rapazinho teve com os chamados mortos.

            Com o tempo, sua mediunidade ganhou novos rumos. Quando em transe, falava várias Iínguas, inclusive o hebraico, todas dele desconhecidas, expondo admiráveis conhecimentos de Geologia e discutindo, com rara habilidade, intrincadas questões de Arqueologia histórica e bíblica, de Mitologia, bem como temas linguísticos e sociais - apesar de nada conhecer de gramática ou de regras de linguagem e sem quaisquer estudos literários ou científicos. De tal modo eram as respostas, que "fariam honra- segundo o Dr. Jorge Bush, professor da Universidade de Nova. Iorque - a qualquer estudante daquela idade, mesmo que, para as fornecer, tivesse consultado todas as bibliotecas da Cristandade" .

            Sua pessoa chamou logo a atenção do Dr. Lyon, do Rev. Guilherme Fishbough e de muitos homens sérios e cultos, entre os quais sobressai o nome de Edgar Allan Poe.

            Durante dois anos Davis ditou, em transe inconsciente, um livro sobre os segredos da Natureza, dado a público, em 1847, sob o título "Os Princípios da Natureza". A ele Conan Doyle se referiu, dizendo ser "um dos livros mais profundos e originais de Filosofia" e conta, nos Estados Unidos, com dezenas de edições.

            Fato semelhante mais tarde se passaria, aqui no Brasil, com o médium atrás citado, o qual, nascido em meio igualmente pobre e inculto, e sem conhecimentos à altura, psicografou, aos vinte anos, a notável e originalíssima obra poética - "Parnaso d. Além-Túmulo".

            Como este médium, Davis também recebeu muitos outros livros, cerca de trinta, em parte editados com o título geral de "Filosofia Harmônica", a ele transmitidos pela entidade espiritual Swedenborg. Dezenas de edições foram publicadas nos Estados Unidos, o que bem mostra o interesse que suas doutrinas reveladoras despertaram, conquistando milhares de prosélitos.

            Davis não era um místico nem um religioso no sentido vulgar, e nem aceitava a revelação bíblica na sua interpretação literal. Todavia, era honrado, sério, incorruptível, amante da Verdade e sinceramente compenetrado de sua responsabilidade naqueles acontecimentos renovadores. Na sua pobreza material, jamais esqueceu a justiça e a caridade para com todos.

            Suas faculdades medianímicas chegaram a maior desenvolvimento depois dos 21 anos de idade, e ele pode então observar mais claramente o processo desencarnatório de várias pessoas, narrando o em todas as minúcias. Suas descrições estão concordes com inúmeras outras feitas por médiuns de diferentes países, adquirindo na obra mediúnica de Francisco Cândido Xavier complementação assaz relevante.

            Antes de 1856, Jackson Davis profetizou o aparecimento dos automóveis e dos veículos aéreos movidos por uma força motriz de natureza explosiva, como também as máquinas de escrever e, ao que tudo indica, as locomotivas com motores de combustão interna. É extraordinária, pasmosa mesmo, a riqueza de detalhes que acerca desses inventos futuros Davis deixou estampados em sua obra "Penetralia", hoje centenária.

            Afora isso, ele também predisse, em 1847, a manifestação ostensiva dos Espíritos com as criaturas humanas, frisando que não levaria muito tempo para que essa verdade se revelasse numa exuberante demonstração.

            Sua obra inicial, de grande luminosidade, foi uma preparação para o aparecimento do Espiritismo, e numa de suas notas, datada a 31 de março de 1848, lê-se este significativo trecho:

            "Esta madrugada um sopro fresco passou pelo meu rosto, e ouvi uma voz, suave e firme, dizer-me: "Irmão, foi dado inicio a um bom trabalho; contempla a demonstração viva que surge." Pus-me a cismar no significado de tal mensagem."

            Muito longe estava ele de supor que, justamente na noite do citado dia, as irmãs Fox, em Hydesville, conversariam, por meio de batidas, com o Espírito de um morto, inaugurando o grandioso movimento espiritista mundial.

            Por causa desse fato, Jackson Davis passou a ser citado por alguns escritores espiritas como "o profeta da Nova Revelação".

            A série de livros sob o título geral de "Filosofia Harmônica", livros de alto nível moral e intelectual, seguiram-se as "Revelações Divinas da Natureza", cuja recepção absorveu os anos seguintes de sua vida.

            Mediante suas visões espirituais do Além, deste apresentou descrição bem aproximada da que os Espíritos forneceriam em diversos países, inclusive no Brasil, aqui pela mediunidade de Francisco Cândido Xavier, nos livros do Espírito de André Luiz.

            Davis viu por lá uma vida semelhante à da Terra, vida a que se poderia chamar semimaterial, com gostos e objetivos adaptados às nossas naturezas, que a morte não modifica. Viu que, nesse vasto Além, o trabalho científico, o artístico, o literário e o humanitário não cessam. Viu as várias fases e graus do progresso espiritual, referindo-se às causas que retardam a evolução humana.

            A bem da Verdade, diga-se que os numerosos livros que ele deu a lume, de alto alcance doutrinário, diferem, em vários pontos, dos ensinos kardequianos, sem, contudo, estar com eles em contradição, salientando-se a lei das reencarnações, que Davis apresentou como não obrigatória para o progresso do Espírito, entendendo que o Espírito pode e deve progredir no Espaço, sem necessidade de reencarnar.

            Jackson Davis avançou mais do que Swedenborg no levantamento dos véus que encobrem os mistérios da Vida, mas o emérito pedagogo Allan Kardec, missionário posterior, complementou-lhe e ampliou-lhe a obra, baseado nas comunicações de muitos Espíritos Superiores, sob a égide do Espírito da Verdade.

            Esta justa ressalva não empana e nem desmerece a real importância dos ensinos legados pelo grande médium norte-americano, a respeito dos quais o notável crítico E. Wake Cook disse serem capazes de reorganizar o mundo.

            Nas viagens que, desprendido do corpo, fez ao Mundo dos Espíritos, Davis presenciou, num lugar a que chamou "Summerland", a educação harmoniosa das crianças desencarnadas, reunidas, por grupos, em grandes e belos edifícios, nos quais se lhes administrava instrução e cuidados especiais, tudo de acordo com a idade e os conhecimentos delas.

            Davis ficou tão maravilhado com o sistema ali adotado e sua engenhosa organização que buscou concretizá-lo no plano terrestre. Daí nasceu o primeiro Liceu Espiritista, por ele fundado em 25 de janeiro de 1863, em Dodsworth Hall, Broadway, Nova Iorque. Esse movimento liceano ramificou-se nos Estados Unidos e propagou-se à Inglaterra, ao Canadá, à Austrália, etc.

            O célebre vidente americano sofreu acusações caluniosas e críticas acerbas, contra ele assacadas pelos eternos malversadores da Verdade. Homem superior, a tudo se sobrepunha com tolerância evangélica e larga compreensão.

            Nos últimos anos de vida, Andrew Jackson Davis dirigiu uma pequena livraria em Boston, e aos 13 de janeiro de 1910, com a idade de 84 anos, desencarnava na sua residência de Watertown, no Estado de Massachusetts, legando à Humanidade o exemplo dignificante de sua frutuosa existência.

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