Pesquisar este blog

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

Direitos e Deveres



Direitos
e Deveres

            Conduzia o motorista seu veículo, por movimentada rodovia, quando, ao penetrar em extensa curva, viu surgir-lhe à frente um carro que avançava de contra mão.

            ― Não devo afastar-me, para dar passagem a esse imprudente, porque estou no meu direito. É ele o transgressor da lei; que ele, pois, arque com as consequências!...

            E, assim, pela desobediência de um e pela intransigência de outro, sucedeu o inevitável: pagaram ambos e a destruição dos veículos dos foi o menor dano que lhes sobreveio.

            Dias depois, passava pelo mesmo local outro motorista que, por coincidência, se viu em situação análoga. Surgiu-lhe adiante um carro que também vinha de conta mão. Disse ele, então, de si para si:

            ― Cumpre-me velar, no meu próprio benefício, pela observância da lei, tanto quanto o colega que aí vem. Mas, se ele não sabe e não quer velar, velo eu, por mim e por ele, no benefício de nós ambos.

             E, assim, pela transigência de um, embora a desobediência de outro, nada de grave ocorreu e puderam ambos prosseguir tranquilamente a viagem.

            É essa, com efeito, a única atitude compatível com a economia da evolução.  Quem renuncia, jamais perde. Se perde, do ponto de vista humano, perde apenas temporariamente, porque, cedo ou tarde, a própria vida, sob os influxos daquela justiça imanente e indefectível, lhe restituirá, multiplicados, todos os bens que espontaneamente transferiu a outras mãos.

            Para o que compreendeu o espírito da Lei Eterna, não há deveres que, em última análise, não se convertam em autênticos direitos. A vida, então, deixa de ser um fardo que o destino nos impõe carregar e a dor já não será uma punição que a justiça nos obriga a sofrer.

            No concerto da evolução, temos o direito de escolher o papel que melhor nos aprouver e quando, por imprudência na escolha ou negligência na execução, a dor nos visita, é ainda no uso de um direito que isso nos ocorre: o direito de sofrer para a redenção de nossos espíritos.
                                  
R. C. Romanelli

inO Primado do Espírito
 3ª edição ampliada - Ed. Síntese - 1965

   


2 comentários: