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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

03 / 04 Anchieta



03/04
 José de Anchieta
1553 – 13 de Julho – 1953

por Almerindo Martins de Castro

inReformador’ (FEB) Agosto 1953


            Mediunidade curativa - Desse dom, os casos enchem - centenas de páginas, entre os quais dois ou três são testemunho do traço inconfundível que o Cristo estabeleceu para credencial dos seus Mensageiros.

            Numa leva de índios, trazidos da selva para Reritiba pelo padre Diogo. Fernandes, um deles era aleijado de nascença, de modo que só podia locomover-se engatinhando, à maneira de quadrúpede. José de Anchieta foi recebê-los, conforme costumava, e lhes falou, na linguagem deles; dizendo da alegria de trazê-los para o conhecimento de Deus, Mas, notou que entre todos, de pé, um havia de cócoras, e a isso se referiu. Os bugres riram, e explicaram a deformidade do companheiro. Anchieta, condoído daquele pobre ente, que, de rastos, andara centos de léguas, em ásperas sendas, chamou-o a si, e, estendendo-lhe o seu bordão, disse: "Anda de pé, direito, porque Deus quer teus olhos para o céu, homem que és e não voltados chão, iguais aos dos Bichos."

            O índio, arrimando-se ao cajado, e depois sem ele, ficou ereto, e andou, e correu feito gamo pelo campo fora.'  

            Num dia de S. João, em aldeia desse nome, entre outras recreações oferecidas durante as
festividades de arraial, havia uma de uso época: corrida ao pato, disputada por destros cavaleiros . Mas, no apanhar afinal a ave, surgiu dúvida entre dois concorrentes, e Anchieta, presente ali, foi solicitado para dar decisão, na qualidade de juiz da contenda. Chamou ele um menino, - mudo – conhecido de todos nessa condição. A surpresa foi geral, principalmente quando Anchieta disse ao menor, criança de 5 de idade e mudo de nascença, que pronunciasse a sentença, porque seria respeitada. E então o pasmo se tornou maior, pois o infante falou:

            ‘O pato é meu, a mim se há de dar, para que o leve à minha mãe.” E foi para casa, sob aplausos, levando o palmípede, e a voz que Deus lhe dera por intervenção do grande médium.

            Uma senhora estava embaraçada. havia quinze dias, sem poder dar a luz um filho, e, já em perigo de morte, por isso que a Medicina, desde remotos 4 séculos estava ausente. Recorreram a José de Anchieta, que, com os passes  das suas mãos puras sobre o ventre da mulher, fez nascer a criança.

            A crônica do tempo registrou centenas de curas relevantes, dos mais variados matizes e  circunstâncias, que atestavam o grande poder espiritual do médium taumaturgo, citando os nomes dos beneficiados, com, indicação da residência.

            Levitação – Este raro dom mediúnico José de Anchieta o possuía em notável extensão. Bastava concentrar-se nas suas orações de fervor e efeitos admiráveis, para que o corpo se levitasse, sendo necessário, algumas vezes, despertá-lo, nem sempre facilmente.  De uma vez, esse fenômeno se operou em plena missa, e a ele assistiram, com o natural espanto, todos os presentes. Em outra ocasião, José de Anchieta foi visto levitado em seu cubículo, à noite, estando o pequeno recinto iluminado com a luz irradiada de Espíritos.

            Transporte ubíquo - Mais rara, ainda é a faculdade transportar-se o médium e tornar-se visível, com o duplo materializado, em local diferente daquele onde está seu corpo,  Inúmeras vezes foi avistado simultaneamente em S. Vicente e em S. Paulo, segundo testemunhos de leigos e sacerdotes, e em outros sítios, para acudir a necessitados de socorro espiritual. Registrou-se mesmo o sensacional caso de haver celebrado, na mesma hora de uma noite de Natal, missa em S. Vicente e em Santos.

            Efeitos físicos - Da série imensa de maravilhas de toda espécie que produziu, José de Anchieta se agrandou naquelas que mais de perto o aproximam de Jesus, confirmando sempre aquela promessa solene de que os verdadeiros seguidores fariam as mesmas e maiores coisas do que o Mestre Divino.

            Pelas serranias aspérrimas de Paranapiacaba, rumo de S. Paulo, viajavam, a pé, Anchieta e mais cinco seculares. Na matalotagem levavam um moringue cheio de vinho que, por esmola, Anchieta recebera de um devoto, Nicolau Grilo, Durou três dias a viagem, e durante ela, bebiam do vinho, ao jantar e à ceia. E, quando o moringue esvaziava, Anchieta mandava enchê-lo com água e esta em vinho se transformava, cada vez melhor , Era o mesmo milagre das bodas do Caná, quando Jesus, num festim de matrimônio, mudou água em vinho. (João, cap. II, 3-10).

            Na casa dos padres, em Santos, José de Anchieta, já consagrado sacerdote, tendo terminado a sua missa de Natal, outro padre quis celebrar também; mas, o sacristão avisou ter acabado o vinho próprio. Anchieta, que, era então o então o Superior da Casa, ouviu isso, e disse: “Ide irmão, e trazei o vinho que está na botija." O outro, porém, respondeu que havia escorropichado a vasilha, e verificara não restar mais nada. "Ide, e achareis vinho", insistiu Anchieta. O sacristão obedeceu, e voltou, quase sem poder falar, do espanto, trazendo a botija bem cheia de vinho.

             Jesus multiplicou pão e peixes; Anchieta multiplicou azeite.

            Certa vez, no Colégio da Ordem, em São Vicente, e bem assim em toda a Capitania, houve falta de azeite. O Irmão-despenseiro  comunicou que o respectivo barril para consumo da Casa estava esgotado, isso, porque o Colégio supria as Casas subordinadas, a Igreja, e o pobres.

            Disse Anchieta: "Irmão, nas necessidades, não deixeis de acudir ao vosso barril, porque Deus é Pai, e fará que não falte azeite," Replicou o despenseiro tê-lo erguido sobre o torno e verificado estar seco, podendo ser usado para outro fim até. "Fazei, irmão, o que vos tenho dito", recomendou de novo Anchieta. O outro acatou a determinação, e, em todas as ocasiões, o barril deixava escorrer um fio de azeite suficiente para a necessidade do movimento.

            E isso se prolongou por 24 meses que foi o tempo decorrido para que chegasse de Portugal novo suprimento do precioso óleo.

            Achava-se José de Anchieta na Igreja da Conceição, em Itanhaém, e ouviu dos mordomos queixa de não haver azeite para iluminar a imagem no altar. Disse: "Irmãos, façam mais diligência, e talvez encontrem azeite." Responderam haverem virado a respectiva botija de boca para baixo, e dela não mais saía coisa alguma. Replicou, cheio de fé: "Não tomem por demasiado trabalho verificar mais uma vez, e quiçá encontrem azeite." Foram à botija, .e - oh! maravilha! - acharam azeite, e, apregoado o prodígio, de toda a parte acudiu gente para adquirir o milagroso óleo, com o intuito de usá-Io feito remédio para curar enfermidade.

            À vibração fluídica da sua voz obedeciam coisas e animais,  inexplicavelmente para os embasbacados assistentes desses insólitos fenômenos, quase incríveis, provindos que eram de um homem mirrado, meio disforme, paupérrimo, andrajoso, humilde, cujas mãos, se escreviam erudições, também se chafurdavam no amassar do barro e se calejavam na ajuda das construções que os da sua Ordem erguiam para os serviços religiosos e para instalação e abrigo dos índios cristianizados.

             Pássaros e aves pousavam-lhe nos ombros, nos braços, acompanhavam-no inequívocas demonstrações da influência fluídica, exercida sobre eles; mas, quando as testemunhas desse privilégio espiritual lhe. atribuíam isso à santidade personalíssima, Anchieta respondia, sempre humílimo: "Lembrai-vos de que os pássaros e as aves também pousam em monturos e imundícies.”

            Tal humildade, porém; não alterava o quase culto que lhe era tributado, tendo em conta as maravilhas que realizava, à vista de todos, e ainda as do dom de dupla vista, pois via, a distância revelando o local onde estavam coisas consideradas perdidas, e referindo acontecimentos que estariam ocorrendo bem longe dos seus olhos materiais. Mais ainda: em ocasiões prementes, transportava para junto. de si objetos que, por circunstâncias várias, eram. necessários, Indispensáveis no momento.

            Por isso, a deformidade do corpo, a pobreza extrema da sua aparência venciam os óbices
preconceitualistas das convenções sociais. Mem de Sá, Governador expedido pelo trono Português, lhe ouviu e acatou as informações e conselhos, e Estácio de Sá, Capitão-mor, escolhido. pela rainha D. Catarina para combater contra os que pretendiam assenhorear-se do Rio de Janeiro, teve Anchieta a seu lado, e, nos momentos da peleja, enquanto Estácio de Sá falava, em português, à sua gente, José de Anchieta, com a linguagem dos guaranis, eletrizava a alma dos índios, seus queridos filhos espirituais,
           
            E ainda por esse fulgor do seu Espírito, ao lado de todas as figuras de projeção nos pródromos do Brasil, foi o co-fundador da hoje opulenta capital de S. Paulo e da nossa bela Cidade Maravilhosa.
           
            Quando vencidos pelo valor da sua obra - cada dia mais e mais engrandecida pelos chamados milagres - e pelos tesouros do seu saber, os maiorais da Ordem quiseram elevá-Io a postos de mando, não faltou quem - moderadamente, é certo - chamasse a atenção para a chocante antítese da poderosa Companhia de Jesus apresentar, no cargo de chefe providencial, um homem de aspecto quase ridículo, de batina remendada e pés totalmente calosos.

            Mas, a seu tempo, José de Anchieta devia galgar esses postos supremos, tornando-se a principal figura da Ordem dos Jesuítas no Brasil.








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