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segunda-feira, 18 de julho de 2011

'Nossas sementes'


Nascer de Novo

Martins Peralva
Reformador (FEB)  Novembro 1959

            “Necessário vos é nascer de novo.”
- (Jesus a Nicodemos.)
           
             Entre inúmeros benefícios que decorrem do estudo e da assimilação da Doutrina Espírita, podemos indicar, sem dificuldade, aquele que orienta acerca do milenário problema da Morte.
            Inegavelmente, sem qualquer partidarismo, somos levados a compreender que só o Espiritismo estuda o velho problema, com riqueza de pormenores, uma vez que, sobre o assunto muito pouco, ou quase nada disseram as demais religiões, que se limitaram, simplesmente, a admitir e anunciar a existência do Mundo Espiritual.
            Sem a consoladoras luzes da nossa amada Doutrina, marcharia o homem para o túmulo - diremos melhor: para a Pátria da Verdade - sem idéia segura do que lhe acontecerá após o choque biológico do desenlace.
            Nenhuma noção sobre a morte.
            Nenhum conhecimento das leis admiráveis que regem a vida no plano espiritual.
            Nenhuma informação sobre o que sucede à alma durante e depois a desencarnação.
            Em suma: verdadeiro cego, ante o mundo grandioso que o aguarda; um indígena, atônito, perplexo, nos pórticos de estranha, quão maravilhosa civilização.
            Essa ignorância, praticamente total, a respeito de tão importante problema, é a triste herança de velhas e novas religiões, mestras no ocultar e fantasiar a realidade da vida além das fronteiras terrenas.
            Religiões que procederam e procedem a maneira dos cronistas sociais modernos: Depois eu conto...
            O Espiritismo é profundamente, intensamente realista, tanto nesse, como em todos os assuntos de interesse da alma eterna.
            Identificando a criatura, sem subterfúgio de qualquer espécie, com os seus postulados, fazendo-a absorver a parcela de verdade que ela suporta, torna-a tranqüila ante a perspectiva da desencarnação.
            Não cremos, nem anunciamos um Céu gracioso, adquirível à custa de promessas, espórtulas, louvaminhas ou petitórios, nem um inferno tenebroso, eterno, de onde jamais sairemos. O nosso conceito, a respeito da morte e de suas conseqüências, se alicerça no Evangelho: “A cada um será dado de acordo com a suas obras.”
            Seria, naturalmente, leviandade, afirmarmos que o Espiritismo já revelou em toda a sua extensão e plenitude, a vida no plano extrafísico. Expressando, todavia, a misericórdia divina, vem erguendo, gradualmente, em doses nem sempre homeopáticas, a cortina que separa o mundo físico do espiritual, consentindo estendamos o olhar curioso, indagativo, sobre o belo panorama da vida além da carne.
            O espírita não teme a morte, nem para si nem para os outros, mas procura cumprir, da melhor maneira possível, apesar de suas imperfeições - imperfeições que não desconhece -, os deveres que lhe cabem na Terra, aguardando, assim, confiante, a qualquer tempo, hora e lugar, o momento da Grande Passagem.
            Não a considera pavorosa, lúgubre, terrificante, tão pouco a define por suave e milagrosa porta de redenção e felicidade. O Espiritismo ensina, com apoio no Cristianismo, que não há duas vidas, mas, sim, duas fases, que se prolongam, de uma só vida.
            Se a Doutrina preleciona: “nascer, viver, morrer, renascer ainda, progredir continuamente”, Jesus notifica a Nicodemos: “Necessário vos é nascer de novo.”
            A uma daquelas fases, dá-se o nome de Etapa Corporal. Vai do berço ao túmulo. À outra, dá-se o nome de Etapa Espiritual. Vai do túmulo ao berço.
            A nossa alma é como o Sol, que se esconde no horizonte, ao pôr de um dia, para, no alvorecer de novo dia, retornar pelo mesmo caminho. A vida em si mesma, é sublime cadeia de experiências que se repetem, séculos e mais séculos, até que obtenhamos a perfeição. Maravilhosa cadeia, cujos elos se entrelaçam, se entrosam, se harmonizam, justapostos...
            Pensando e atuando dentro desta conceituação, estranha para muitos, por enquanto, porém muito lógica e racional para nós, sabe o espírita, em tese, o que a Morte, como fenômeno simplesmente transitivo, lhe reservará.
            Sabe que o sistema devida adotado na Terra, o seu comportamento ético, terá justa e equânime correspondência no mundo espiritual, que é, indefectivelmente, um prolongamento do terráqueo...
            Boas sementes, bons frutos produzem.
            Más sementes, amargos frutos produzem.
            Seremos, aqui e em qualquer parte, o resultado de nós mesmos, de nossos atos, pensamentos e palavras, sem embargo das generosas intercessões de amigos que nos anteciparam na Grande Viagem.
            Proporcionando alegria e amparo, alimento e instrução, aqui na Terra, aos nossos semelhantes, a Lei nos assegurará, no Plano Espiritual, instrução e alimento, amparo e alegria. Tais noções, hauridas no Espiritismo, tornam o homem mais responsável e mais cuidadoso, mais esclarecido e mais consciente, compelindo-o a passos mais seguros, dentro da vida - em suas duas fases -, para que a Vida lhe sorria, agora e sempre.
            Evidentemente, sem subestimar, nem sobrestimar a morte, o espírita caminha, luta e sofre, trabalha e evolui, conscientemente, na direção do Infinito bem, valorizando, para sua própria felicidade, os renascimentos sucessivos a que se referiu Jesus no diálogo com Nicodemos.


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