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segunda-feira, 11 de julho de 2011

'Amemos a Vida'


“CONDUTA DO ESPÍRITA:   ‘AMEMOS A VIDA
por INDALÍCIO MENDES

Livro: ‘RUMOS DOUTRINÁRIOS’ (1ª Ed. FEB-1974)

“Jesus é a fonte, Jesus é a luz, Jesus é a vida eterna”.
Vicente de Paulo.

I

     Deus criou o homem para a felicidade. Entretanto, para alcançar essa felicidade o homem tem de amar, tem de sentir dentro do coração os impulsos espontâneos do bem em suas múltiplas manifestações, porque “tudo quanto existe, por ser obra de Deus, é expressão do amor divino, que, assim, está na essência de cada coisa e de cada ser, dando-lhes a feição própria do seu valor, no conjunto da criação”.
     Somos espíritos a caminho do progresso. Nossa oficina é a vida terrena. Trabalhando, cultivando o que a vida tem de bom e de belo, iremos reduzindo, a pouco e pouco, a incomensurável distância que nos separa da perfeição relativa. A Humanidade continua sofrendo porque continua a não saber amar, por não ter ainda conseguido compreender que a felicidade na Terra está na observância perfeita deste preceito fundamental da doutrina de Jesus: “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a vós mesmos.”
     No Universo, tudo é amor, beleza, harmonia. Deus se nos apresenta de todas as formas: nos altos vôos do pensamento humano, nas demonstrações de amor, humildade e caridade; na grandeza empolgante de uma floresta gigantesca, na cristalinidade de um simples regato, no assombroso dinamismo das cataratas, no esplendor do raio de Sol, na magia extasiante de uma nesga de céu estrelado, na encantadora fragilidade de uma flor agreste, no sorriso ingênuo da criança, enfim, em todas as mínimas e máximas manifestações da Natureza!
     Se Deus, mesmo num planeta de provas e expiações, como este, nos cerca de tantas maravilhas, porque havemos de olhar a vida melancolicamente, como se o nosso coração estivesse fadado apenas a se amortalhar nos negros crepes da desesperança? Deus está em toda parte e se revela em tudo que é bom e belo. Jesus, nosso Mestre amado, deixou, no Evangelho, para a semeadura que todos devemos fazer em nossos próprios corações, a semente do amor e da caridade, que são revelações da alegria que enche o Universo.  É dever de cada um de nós realizar sempre o melhor, porque a perseverança nesse esforço trará em si as bênçãos do Alto.
     Jesus foi otimista nas suas pregações, ensinando as criaturas a se alegrarem com a vida, reconciliando-se com Deus através da prática de ações puras e da emissão de pensamentos nobres e renovadores. A alegria é índice de boa saúde espiritual. Quem ama a Deus não se entrega à tristeza, ao desânimo, à desesperança, porque estes três estados dalma denunciam falta de fé, ausência de confiança nos desígnios do Pai que está nos Céus. O apóstolo Paulo afirmou que “os frutos do Espírito são amor, alegria e paz”. Na verdade, sem amor, sem alegria, sem paz,o Espírito não pode evoluir.
     Não nos devemos conservar tristes, cabisbaixos, abatidos, se quisermos chegar um dia a ser discípulos do Cristo. Não. Não, porque o Evangelho não é doutrina de derrotados, mas de vencedores. Quando o cumprirmos devidamente, seremos triunfadores e não vencidos, porque teremos suplantado nossas fraquezas, nossos erros, nossas imperfeições, causas diretas das dores que hoje experimentamos.
     A sã alegria não espouca em gargalhadas perturbadoras e escandalosas. É discreta, deixa o coração confortado e o Espírito pode fruir suave tranquilidade. Embeleza-se com sorrisos bondosos, onde brincam a tolerância e o amor. O Espiritismo, que é o Paracleto, o Consolador prometido por Jesus, é a religião do amor, da caridade, da paz, da justiça, da humildade, e, conseqüentemente, da alegria, porque, onde imperem sentimentos tão delicados, a alegria domina, visto estabelecer-se, aí, a vontade de Deus.
     O Evangelho ensina-nos a ser alegres em Deus. Ser alegres em Deus é ter fé na Sua ilimitada misericórdia. Compreendamos, com Harry E. Fosdick, que, “como base da religião alegre apresentada nesse livro alegre que é o Evangelho, acha-se uma personalidade alegre – o Cristo. Os quadros da arte medieval, em que Ele é representado com aspecto tristonho, são desmentidos pela narrativa da Sua vida e pelas conseqüências da Sua influência”.
     A própria palavra Evangelho (Boa Nova) traz alvíssaras para a Humanidade.
     Na doce linguagem filosófica de Marden, encontramos este conselho salutar: “Pensai no bem; expulsai o mal; enchei tanto o vosso espírito de tudo o que é bom, belo e verdadeiro que, dentro dele, o mal não possa encontrar lugar. Quando tivermos aprendido que há em nós bastante de divino para sobrepujarmos todas as faltas de harmonia, para fazer cessar toda a dissonância que prejudique a grande sinfonia divina, então a nossa vida terá um alvo. Esse conhecimento será a vara de condão que há de transformar a alfurja em palácio.
     “Um diácono americano, de nome Brown, salientava-se pelo reconhecimento que exprimia, sempre, nas reuniões em que se faziam preces com aplicação especial, apesar de ter perdido toda a família, o lar, as propriedades e a saúde. Os seus amigos espantavam-se com aquele reconhecimento. Brown, no entanto, aparecia sempre alegre e otimista.
     “- Ah! – dizia ele – se eu tivesse perdido tudo no mundo, ainda agradeceria ao Senhor o terem-me ficado os dois dentes que tenho na boca.”
     Aí está, soberbo em sua eloqüência, um exemplo de fé e compreensão dos deveres do homem em face dos dissabores da vida. Aquele que crê, sabe esperar paciente e resignadamente o raiar do Sol, depois das vergastadas da tormenta. Confia em Deus e segue, imperturbável, seu destino, porque a verdadeira vida começa além do véu...

II

     Para melhor compreendermos nossa verdadeira posição em face da vida, precisamos considerar que os infortúnios e as contrariedades que amiudamente nos aperream não são obra de Deus, mas obra exclusiva da nossa imperfeição moral. Todavia, elas são úteis porque educam o nosso espírito, levando-o a atentar para detalhes que, em outras circunstâncias, talvez não merecessem nossa atenção.
     Jesus nos deixou o exemplo de como devemos encarar a vida: fortes ante as vicissitudes, serenos ante os contratempos que nos experimentam o caráter, resignados ante as provações que nos depuram o espírito. A melhor maneira de se suportar as agruras da vida material está em sustentarmos uma atitude espiritual elevada. “Só é verdadeiro o que é bem e bom, porque Deus o fez”, disse-o Marden. Logo, se nos acharmos diante de qualquer ação ou pensamento que não exprima a verdade nem traga o sinal do que é bem e bom, devemos estar vigilantes para não nos engolfarmos insensivelmente no mal dissimulado e sorrateiro. Pensar no bem e praticá-lo equivale a resistir ao mal e expulsá-lo.
     O Evangelho nos apresenta Jesus, não como um derrotado, mas como um ser que sabia enfrentar as situações mais graves com a serenidade dos que confiam verdadeiramente no poder de Deus. Quando soubermos ler o Evangelho, banhando-nos na luz pura de seus ensinamentos, poderemos compreender a grandeza espiritual do Mestre, que em numerosas ocasiões demonstrou sua alegria de um modo superior. Fosdick, um comentador da Bíblia, frisou com muita propriedade que “ninguém, a não ser uma alma alegre, ama as crianças como Jesus as amava, a ponto de encontrar em sua convivência simples e despreocupada um prazer e um conforto”. Tanto que, ao pretenderem os discípulos afastar os meninos que dEle se aproximavam, teve estas palavras registradas por Marcos (10:14-16): “Deixai vir a mim as criancinhas, não as impeçais, porque delas é o reino de Deus. Em verdade vos digo: Aquele que não receber o reino de Deus como criança, de modo algum entrará nele. Abraçava as crianças, as abençoava, pondo as mãos sobre elas.”
     Demorai o vosso espírito na meditação do sentido dessas palavras de Jesus. Penetrai a essência sublime de sua afirmativa, que encerra uma advertência prodigiosa.

*

     Jesus era alegre com dignidade. Possuía a alegria pura e santa que identificava Sua grandeza espiritual. A alegria é um estado que aproxima de Deus as criaturas, quando alicerçada na pureza de pensamento. É alegre, não aquele que gargalha por nonadas, mas o que, naturalmente, traz Deus no coração. “Pensai no bem; expulsai o mal; enchei tanto o vosso espírito de tudo o que é bom, belo e verdadeiro que, dentro dele, o mal não possa encontrar lugar. As dores que nos afligem são reflexos do mau emprego que temos feito do nosso livre-arbítrio. A tristeza pode ser consequente do vazio dos corações sem amor e sem fé. A alegria vive no íntimo do ser humano que ama o bem, com ele respondendo ao mal. Entretanto, como o veio de ouro que jaz ignorado nas entranhas da terra, ela pode estar latente no coração do homem, sem que este a perceba, em virtude de procurar apenas o superficial. Os hábitos perniciosos, a vaidade, o orgulho, o esquecimento dos deveres evangélicos, a educação deficiente ou defeituosa, levam o homem a desprezar a alegria simples do espírito, filha dos bons pensamentos e das boas ações, para se enredar na alegria artificial dos sentidos, que o atiram no negrume dos dias amargurosos. Essa falsa alegria ilude e entorpece o espírito, embrutecendo-o, cegando-o, porque atende de preferência a exigências materiais. Engendra as noites agitadas do sofrimento e da desesperança. É tão enganosa quanto a miragem que, nos desertos, induz o aventureiro imprevidente, torturado pela sede, a se arrojar de borco sobre a areia escaldante, convencido de estar mergulhando a boca ressequida na fonte de linfa cristalina e fresca!

*

     Podemos aquilatar da têmpera de nossa fé pela maneira de recebermos e tolerarmos o sofrimento. Sabem os espíritas que a dor exerce uma ação redentora sobre o espírito humano, despertando-o para as verdades divinas. Infelizmente, porém nem sempre, quando ela nos bate à porta, e nos invade o lar, e nos comprime o coração, nos encontra suficientemente resignados para acolhê-la sem desespero. Por que isso? Qual a razão da nossa fraqueza? A resposta é simples: falta fé. Desde que penetremos a verdade evangélica, assimilando-a; desde que Deus tenha um altar em nosso coração, em vez de um nicho em nossos lábios, a fé nos dará forças para enfrentar todas as vicissitudes. Por mais que repitamos essas verdades, muitas vezes sentimos que elas ainda não estão integradas em nosso espírito. Isto revela, então, a enormidade do nosso atraso.
     A amargura que, por vezes, nos ensombra os dias, pode representar uma oportunidade para ressarcirmos velhos débitos. Eis aí o motivo de nos prepararmos para a dor. O meio de nos fortificarmos para suportá-la, para utilizá-la em nosso próprio benefício é a fé, revigorada pelo estudo da Doutrina, pela prática do Evangelho. “A dor é o agente do progresso que diz a muitos espíritos: ‘Levanta-te e caminha!’ E há quanto tempo essa voz ressoa aos nossos ouvidos!” – adverte-nos o adorável “padre Germano”, em sua “Memórias”. E aduz, com justo critério: “(...) a bem dizer, todos pecamos; mas erros há premeditados, como há faltas que se originam da nossa fraqueza física e moral; entretanto, cumpre pecar o menos possível, já que a perfeição absoluta é exclusivo predicado de Deus”. Esta é a diretriz a seguir: “pecar o menos possível”, realizar o máximo esforço para ir diminuindo o nosso acervo de erros, evitando reincidir, fugindo deliberadamente a qualquer pensamento ou ato capaz de criar mais um sobrecarga para o nosso espírito.
     Nós é que criamos o nosso sofrimento. E se Deus não nos impede de sofrer é porque temos necessidade da dor para nos purificarmos. O Pai, entretanto, não nos retira sua misericordiosa assistência, através de seus iluminados servidores. Dá-nos elementos para aliviar essas dores. Um deles é a prece, recurso consolador que nos aproxima de Jesus, pondo-nos em contato com as forças benéficas do Alto. Nas horas amarguradas, a prece traz-nos a tranqüilidade, porque ela é o “idioma universal falado por todos os povos em relação a Deus”, o Esperanto das almas que confiam no futuro e sabem esperar a sua hora de verdadeira felicidade.
     Aquele que se revolta contra a vida não se apercebe da grandiosa sabedoria de Deus, desconhece a razão de sua existência sobre a Terra. Do mesmo modo, o que se desespera ante a perspectiva da dor, ignora o bálsamo que a fé sincera derrama sobre as almas resignadas.
     “Um dia, trouxeram a Averrhoes, cujas crenças ora pendiam para o panteísmo, ora para o materialismo, um árabe a quem uma fera dilacerara parte do corpo.
     - Sofres? – pergunta-lhe o filósofo.
     - Não se trata de sofrer – responde o outro – mas, sim, de cumprir a vontade de Alá.
     Voltando-se para seus discípulos, observou-lhes Averrhoes:
     - Este homem está mais perto da verdade do que eu.” (“A Nova Luz” – Dejean.).

III

         O progresso do Espírito tem de ser obra do próprio Espírito. Cumpre-nos sustentar, com ânimo forte e forte decisão, todas as nossas lutas, resignados, mas não desanimados; cabe-nos enfrentar corajosamente os problemas terrenos, as mais das vezes dolorosos, porque eles sempre trazem muita coisa de útil ao desenvolvimento espiritual do homem. O bem é o principal caminho para a felicidade, mas, “para vivermos felizes, devemos harmonizar tudo que dentro de nós houver de melhor”, conforme a lição fecunda eu nos oferecem “Os Quatro Evangelhos”. A compreensão da vida se faz através das vicissitudes e estas devem ser interpretadas espiriticamente, maneira única, na nossa desvaliosa opinião, de se encontrar a chave dos problemas que atormentam a vida terrena. Por isso é que o Espiritismo veio aclarar a situação do homem em face da dor, ensinando-lhe o porquê da vida, o que somos, donde viemos, para onde vamos.
     A vida é um curso de aperfeiçoamento. A melhor maneira de vivê-la, e também a mais difícil, é evangelicamente. O esforço do homem deve orientar-se nesse sentido, para que, nas horas de aflição ou desespero, ele tenha arrima na fé. A recompensa não foge àquele que faz o bem e evita o mal, pagando o mal com o bem e por um bem recebido dar um bem maior. Aparentemente, isto é muito simples, muito fácil, embora, na realidade, seja uma tarefa gigantesca, ante a qual, muitas vezes, falecem nossas forças. Entretanto, convém não esquecermos que seremos bons para nós na proporção em que formos sinceramente bons para os nossos semelhantes.
     As dificuldades da vida são problemas nossos, que teremos de resolver consoante a fortaleza do nosso Espírito e a grandeza da nossa fé em Deus. Se as enfrentarmos sem temor, mas com humildade e confiança, triunfaremos inelutavelmente. O homem não deve entregar-se ao desânimo ante os obstáculos que encontra. Tem o dever de lutar com todas as energias, até o fim. Se, a despeito de tudo, não sair vitorioso de suas lides materiais, deverá, então adotar uma atitude serena, de digna resignação, porque suas derrotas podem significar provas indispensáveis ao desenvolvimento do seu Espírito. Em última análise, o espírito que crê e trabalha, vence sempre. Isto posto, devemos reagir contra nós mesmos. O homem que se sente vencido antes a refrega, que desanima só ao imaginar os empecilhos que o esperam, não é digno da vida. Deu-nos Deus o instinto de luta para que saibamos construir nossa vitória. Lutemos por ela, mas evangelicamente, sem jamais nos esquecermos de que responderemos pelas injustiças que cometermos e que seremos premiados pelo bem que fizermos.
     Temos de enfrentar a vida terrena com fé e humildade. Não confundamos, porém, fé com fanatismo, nem humildade com servilismo. Com fé e humildade, valorizaremos o nosso Espírito; com fanatismo e ação servil, só faremos deprimi-lo. A condição de harmonia espiritual pode ser encontrada quando se adquire a virtude da humildade real, para que pretendamos ser incluídos no rol dos que Jesus, no Sermão da Montanha, considerava bem-aventurados e capazes de verem a Deus, por serem limpos de coração.
     Voltemos ao nosso tema.
     A verdadeira alegria é a que provém da satisfação dos deveres que temos para com o Criador e os nossos semelhantes. Somente a experimentaremos quando soubermos cumprir tais deveres. Só assim nos firmaremos no caminho da paz e do amor divinos.
     Todavia, para nos preservarmos do mal ou demonstrarmos a intenção de palmilhar o bom caminho, não precisamos adotar atitudes convencionais, afivelando à face a máscara pesada da tristeza, mostrando uma fisionomia onde não refulja o sorriso que atrai e conforta, onde se não descubra um lampejo de discreta alegria, o olhar parado, com, a expressão fria e desconcertante das águas estagnadas! Muitas vezes, o mal não vem de fora: está dentro de nós mesmos. Eis por que não devemos esquecer estas palavras de Jesus: “Vosso olho é a lâmpada de vosso corpo; se o vosso olho for simples, todo o vosso corpo será luminoso. Mas, se o vosso olho for mau, todo o vosso corpo é tenebroso. Se, pois, a luz que está em vós não for senão trevas, quão grandes não serão essas mesmas trevas!” (Mateus, VI, 22-23).
     O povo, no seu linguajar pitoresco, onde há vestígios de sabedoria, costuma dizer que “os olhos são as janelas da alma”, porque é pelos olhos que o Espírito se debruça para contemplar as grandezas e as misérias da vida terrena.
     Acha-se nos Evangelhos a imperecível lição do Cristo contra o convencionalismo de pretensas atitudes religiosas: “Quando jejuardes, não tomeis um ar triste como os hipócritas; porque eles desfiguram os seus rostos para fazer ver aos homens que estão jejuando; em verdade vos digo que já receberam a sua recompensa.” Jesus salientou, assim a importância da sinceridade no futuro da criatura. Aquele cujos lábios exprimem sentimentos contrários aos que traz no coração, pode enganar o mundo, mas não iludirá jamais o Senhor e seus delicados mensageiros.
     Emmanuel esclarece com propriedade: “Aí no mundo, constumais entronizar o escritor que enganou o público, o político que ultrajou o direito, o capitalista que se enriqueceu sem escrúpulos de consciência, colocados na galeria dos homens superiores. Exaltando-lhes os méritos individuais com extravagâncias louvaminheiras, muito falais em “mediocridades”, em “rebanho”, em “rotina”, em “personalidade superior”. Para nós, a virtude da resignação dos pais de família, criteriosos e abnegados, no extenso rebanho de atividades rotineiras da existência terrestre, não se compara em grandeza com os dotes de espírito do intelectual que gesticula desesperado de uma tribuna, sem qualquer edificação séria, ou que se emaranha em confusões palavrosas na esfera literária, sem uma preocupação sincera de aprender com os exemplos da vida. O trabalhador que passa a vida inteira trabalhando com o Sol no amanho da terra, fabricando o pão saboroso da vida, tem mais valor para Deus que os artistas de inteligência viciada, que outra coisa não fazem senão perturbar a marcha divina das suas leis.” “(...0 estudioso algum pode conquistar simpatias sem que haja transformado o coração em manancial de bondade espontânea e sincera. Na vida não basta saber. É imprescindível compreender. Os livros ensinam, mas só o esforço próprio aperfeiçoa a alma para a grande e abençoada compreensão”.
     E assim  é. A bondade vale mais que a sabedoria, mas o fim do Espírito é alcançar o domínio da sabedoria e da bondade, transfundindo-as, tornando-as uma força a  serviço do Criador.
     O estudo metódico dos Evangelhos em espírito e verdade pode operar maravilhas em nosso íntimo. Conforme a afirmativa de Alexandre Vinet, “só o Evangelho restitui à alma, à mais devastada das almas, todo o verdor da juventude, toda a frescura das impressões da infância, e, se podemos assim expressar-nos, toda a sua virgindade”. E o apóstolo Paulo adverte, clarividentemente: “Andamos pela fé e não pela vista.” O Espírito aumenta sua visão pela fé. Enquanto a vista pode levar-nos à cegueira espiritual; a fé, no entanto, nos ilumina a estrada a percorrer, põe-nos nas pegadas do Cristo, que é o rumo certo da redenção do Espírito.

*

     “Se alguém agora me pedisse lhe mostrasse o fim imediato da vida – exclamava Charles Wagner – responder-lhe-ia: o fim de qualquer coisa está indicado nela mesma. Esse fim é ela vir a ser tudo quanto pode ser, associando-se com todo o poder do amor ao desígnio eterno que procura realizar por intermédio dela. O homem foi feito para se tornar cada vez mais homem, para manter a sua vida e, o que dá no mesmo, para auxiliar os outros a manter as deles no crescimento normal. Ora, o crescimento normal exige o desenvolvimento de todo o ser, físico, intelectual e moral, sua harmoniosa reciprocidade. O homem, pois, foi feito para realizar na Terra a vida verdadeira e justa, e para combater tudo quanto seja contrário a isso,.. As coisas humanas têm o seu ponto culminante na justiça, que é o seu acordo supremo. Pode dizer-se que o fim do homem é tornar-se um poder de Justiça. Crer na vida é crer que ela é um combate, no qual a vitória pertencerá à justiça. Toca-nos, pois, fortificar-nos, lutar, sofrer, se preciso for, mas sem perder nunca a esperança. E depois? O depois, como o antes, pertence à Vontade Divina que fez a vida do homem. Só ela conhece o segredo remoto do Universo. Ela quis que as coisas próximas a nós nos parecessem mais importantes do que as que se acham afastadas, por isso que a nossa responsabilidade está ligada a elas. A estrada do homem é feita de tal modo que ele distingue claramente o que lhe fica sob os pés. E ao mesmo tempo lhe é forçoso seguir adiante, trilhando a linha que se esboça para o além. Este além não deve de tal forma absorver-nos que nos faça esquecer a vida, mas também não podemos esquecê-lo, sob pela de ficarmos sem saber porque vivemos. O homem precisa.
            “Sentir, sofrendo, que o trabalho mortal
            Tem seu prolongamento infinito; que ele se perpetua
            E que a eternidade estende a mão à hora.”
*
     Tudo quanto nos envolve convida-nos a amar a vida. Aproveitemos os parcos momentos de satisfação que nos surpreendem, saboreando-os com volúpia espiritual. Esses instantes de alegria servem para nos dar uma idéia dos prazeres puros, elevados, que aguardam os Espíritos evoluídos.
     Façamos destas palavras de Léon Denis o “vade-mecum” de nossa vida diária:
     “Leitor, se queres libertar-te dos males terrestres, escapar às reencarnações dolorosas, grava em ti essa lei moral e pratica-a. Faze que a grande voz do dever abafe os murmúrios das tuas paixões. Dá o que for indispensável ao homem material, ser efêmero que se esvairá na morte. Cultiva com cuidado o ser espiritual, que viverá para sempre. Desprende-se das coisas perecíveis; honras, riquezas, prazeres mundanos, tudo isso é fumo; o bem, o belo, o verdadeiro, somente é que são eternos! Conserva tua alma sem máculas, tua consciência sem remorsos. Todo pensamento, todo ato mau atrai as impurezas mundanas; todo impulso, todo esforço para o bem, centuplica as tuas forças e te fará comunicar com as potências superiores. Desenvolve em ti a vida espiritual, que te fará entrar em relação com o mundo invisível e com a natureza inteira. Consiste nisso a fonte do verdadeiro poder, e, ao mesmo tempo, a dos gozos e das sensações delicadas, que irão aumentando à medida que as sensações da vida exterior se enfraqueceram com a idade e com o desprendimento das coisas terrestres. Nas horas de recolhimento, escuta a harmonia que se eleva das profundezas do teu ser, como um eco dos mundos sonhados, entrevistos, e que fala de grandes lutas morais e de nobres ações. Nessas sensações íntimas, nessas inspirações desconhecidas dos sensuais e dos maus, reconhece o prelúdio da vida livre dos espaços e um antegozo das felicidades reservadas ao Espírito justo, bom e valoroso.”
     Amemos a vida, transformando-a numa prece diária ao Criador de todas as coisas, numa oração aos esplendores da Natureza em que vivemos, às benesses que nos descem do Alto, por misericórdia de acréscimo!

Do livro “Rumos Doutrinários” por Indalício Mendes, você acabou de ler apenas um trecho sob o título ‘Amemos a vida”, parte do primeiro capítulo denominado ‘Conduta Espírita’. Trata-se, somente, de uma amostra de seu conteúdo para você ficar tentado a lê-lo por inteiro.  Peça-o à FEB ou na livraria /Biblioteca do seu Centro. Não o encontrando, busque-o nos sites de venda de livros usados tipo ‘Livronauta’, ‘Estante Virtual’, ‘sebosOnline’, entre outros. É fácil de comprar, os preços são razoáveis e você recebe o livro em sua casa. Prá variar, tudo começa acessando o Google...

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