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quarta-feira, 13 de julho de 2011

b Moisés

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Moisés



Ernani Cabral
Reformador (FEB) Dezembro 1952

            Moisés foi, sem dúvida, um grande condutor de homens, quer como político, quer como sacerdote supremo de seu povo, verdadeiro fundador da religião de Israel;. Mas pairou acima de tudo, naquela personalidade de escol, o seu amor a Jeová, o Pai Celestial, o Deus único e verdadeiro. Aquele que, no dizer do salmista, ‘está na congregação dos poderosos e julga no meio dos deuses.’(Sal., 82:1)
            Sua individualidade, qual pequeno sol que iluminasse um povo, espraia-se em várias nuanças, com aspectos multiformes: foi legislador, higienista, político, moralista, sacerdote supremo e chefe absoluto.
            Conseguiu despertar o sentimento nacional dos hebreus que viviam escravizados no seio dos egípcios, de cujo jugo os libertou.
            Criou o culto externo, que adornou com ouro e querubins, e que seria a preparação do culto interno, ‘espírito e verdade’.
            Idealizou as leis do holocausto, de expiação do pecado e de expiação da culpa, do sacrifício da paz etc, que obrigavam a oferta de louvores materiais a Deus, e que seria a expressão do amor de homens rústicos e belicosos ao Criador, a Jeová, Deus dos Exércitos, que ele, desse modo primitivo, ensinava a adorar.
            Criou, outrossim, a casta sacerdotal, consagrando Arão e seus descendentes a esse mister, porque, sendo o povo incapaz de compreender devidamente as coisas divinas, era necessário que tivesse orientadores, os quais zelariam também pela pureza do culto, que obedeceria ao ritual e aos preceitos.
            E até hoje os que se não sabem conduzir em matéria religiosa ou os que se não querem dar ao trabalho de estudar ou de investigar pelo seu próprio esforço, encontram no sacerdote o seu ‘diretor espiritual’, a exemplo do que sucedia no tempo de Moisés, muitos séculos antes do Cristo!
            Daí porque as diversas religiões não devem ser condenadas, nem proscritas. Os espíritos encarnados têm diversas idades e vários graus de entendimento. Muitos ainda precisam de padres ou de pastores, de rabinos ou de sacerdotes para, quais crianças, serem conduzidos a Deus...
            E nós outros mesmos, espíritas, temos, nos Mensageiros do Senhor que se comunicam conosco, os melhores conselheiros e guias espirituais.
            Escrevendo os cinco primeiros livros do Velho Testamento, do Gênese ao Deuteronômio, Moisés afirmou, categoricamente, a concepção monoteísta, merecendo por isso a referência de Jesus, de que a ‘salvação vem dos judeus’ (João 4;22), porque no Deuteronômio está expresso:
            “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma e de todo o teu poder.” (Deut 6:5)
            O grande legislador judeu, por influência dos Espíritos Superiores (o Espírito Santo), criou, assim, o primeiro mandamento, e ainda este outro, que também surgiu em seu terceiro livro, o Levítico: “O amor do próximo como  a nós mesmos”, que seria o desdobramento ou o complemento do primeiro (Lev 19:18). “Destes dois mandamentos”, afirmava depois Jesus, “depende toda a lei e os profetas”. (Mat 22:40)
            Moisés expressou, portanto, a Primeira Revelação de Deus feita aos homens, de que Ele é uno, supremo criador; eterno e verdadeiro, onisciente, onipresente, puro, bom, misericordioso, justo, ilimitado, perfeito, isto é, senhor de todos os atributos inerentes à Sua perfeição e grandeza. Destarte, Moisés lançou, por assim dizer, as bases, o fundamento do Cristianismo, que seria a Segunda Revelação, assim como o Espiritismo, calcado nessas mesmas verdades, é a Terceira Revelação de Deus ( João 16;12 a 14), e que viria dar a interpretação exata dos textos bíblicos, tirando, “da letra que mata o espírito que vivifica”.
            Varão enérgico, mas culto e justo, Moisés era possuidor de uma fé profunda, tornando-se o primus inter pares de seu povo, que o considerava “eleito de Deus” e que tem, realmente, figura assinalada na história das religiões.
            Devemos compreender que as Revelações de Deus são dadas, progressivamente, à Humanidade, à medida que ela se vai tornando adulta no entendimento e capaz de sentir uma verdade maior, ou uma porção maior da verdade, que é una e indestrutível, embora se nos apresente até com aspectos diferentes. Daí o laço de amor que deve ligar todas as religiões, pois todas possuem um ponto único de referência, que é Deus. Ele representa o centro do círculo, atingido pelos diversos raios, pelas várias cordas, pelas múltiplas coordenadas, que são os diversos caminhos que levam ao Pai Celestial.
            Mas é somente através do Espiritismo que se pode ter uma idéias mais perfeita desse conjunto ou da verdade eterna. É através do estudo, da pureza moral, do sentimento de tolerância para com todas essas religiões e do amor indistinto a toda as criaturas, seja qual for o credo que adotem, que poderemos sentir a beleza do conjunto, a harmonia do todo, que é a obra perfeita do Criador.
            As Revelações de Deus são progressivas, porque, como pondera o Eclesiastes, “tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo propósito debaixo do céu.”(Ecl., 3:1)
            Porque Moisés veio tantos séculos antes de Jesus? Porque o Divino Mestre não o antecedeu e nem lhe foi contemporâneo?
            É porque no tempo de Moisés a Humanidade ainda era muito endurecida e atrasada, merecendo uma porção certa, porém menor, da verdade, que Jesus depois completaria, deixando ainda muitas coisas envoltas no véu da letra, para que seus Mensageiros, mais tarde, as elucidassem, devidamente.
            Antes de Moisés, somente certos filósofos ou alguns iniciados possuíam o conhecimento da existência de um Deus único e da imortalidade da alma, percepções até então esotéricas. Muitos homens cultos daquele tempo tinham mais a intuição do que a certeza dessa verdades. Eles constituíam a ciência oculta, transmitida cautelosamente aos discípulos, aos novos adeptos, aos iniciados que tivessem mérito para recebê-las, mas ainda eram vedadas ao povo, que só aceitava como deuses as forças da Natureza, e que só podia admitir o politeísmo no seu entendimento ainda pagão, isto é, primitivo.
            Mas, quando o Senhor achou oportuno, lançou a uma nação inteira a Primeira Revelação, o monoteísmo, que logo se estenderia por toda a Terra.
           Entretanto, como o povo hebreu era ignorante, brutal, materializado e belicoso, esse Deus se manifestava ainda como o Senhor dos Exércitos, que dava também terra boa, fartura e proteção aos que n’Ele criam, assim como castigava, inexoravelmente, os que não cumpriam os seus mandamentos e nem guardavam os seus preceitos. Isto levou os profetas de Israel a proclamarem que o Deus dos Exércitos era terrível, vingativo e poderoso, castigando até à quarta geração!
            Era preciso que a Humanidade inculta e grosseira, daquele tempo, tivesse temor de Deus, enquanto que hoje compreendemos que Ele quer é o nosso amor.
            Séculos depois veio o Cristo, o Messias prometido, que também surgiu na época apropriada. Não veio revogar a lei enunciada por Moisés, mas dar um sentido novo aos seus mandamentos. A Humanidade, embora ainda endurecida, havia progredido um pouco, e já merecia uma Revelação maior. Então Jesus esclareceu que “só o amor constrói para a eternidade’. O que importa não é o culto externo (pois que o reino de Deus está dentro de nós mesmos) mas a regeneração, a prática do bem, o perdão, a humildade. Deus é uno e também é amor. Tempera a justiça com a bondade e dá “a cada um, segundo as suas obras” (Mat 16:27). Todavia, o Nazareno declarou que tinha ainda muitas verdades que dizer, mas que os homens de seu tempo não as podiam suportar, nem entender. Mas quando viesse o Espírito da Verdade, o Paracleto, ele guiaria a Humanidade em toda a verdade e anunciaria as coisas que teriam de vir (João 16;12 e 13). Seria então a fase posterior, complementar, a da Terceira Revelação, que é o Espiritismo.
            Os Mensageiros do Senhor, o Espírito Santo, são a síntese da verdade, manifestando aos homens o espírito, a essência dessa mesma verdade, através de uma Revelação maior, que vem do Criador.
            Devemos acentuar que a verdade completa não está com os homens, mas com Deus, que é a própria verdade. Nossa cultura e nossa zona lúcida de conhecimentos não permitem a percepção da verdade absoluta. O finito não pode compreender o infinito, mas apenas senti-lo, relativamente. Assim, a verdade está fragmentada em todas as religiões; todavia, a  verdade maior encontra-se no Espiritismo, que é a última Revelação de Deus à Terra, mas que também é progressiva. À medida que os homens se forem desenvolvendo moral e intelectualmente, multiplicar-se-ão os fenômenos espíritas, maior será seu grau de entendimento, mais extensa a Revelação.
            E a Humanidade caminha para a fusão de todas as religiões em uma só, mesmo que seja daqui a séculos, quando haverá “um só rebanho e um só pastor”, conforme Jesus previu (João 10:16).
            Nós, espíritas, devemos contribuir para que seja implantada na Terra, o mais breve possível, esse reino da fraternidade: amando-nos uns aos outros e a todos, indistintamente, tendo tolerância para com as crenças alheias.
            Nada de ataques às outras religiões! Nem devemos responder aos que nos caluniam e perseguem, mas orar por eles. O que temos a fazer, é trabalhar pelo bem. Nosso exemplo convencerá mais do que as palavras e do que quaisquer contendas, que o apóstolo Paulo já condenava. As discussões, geralmente, são frutos, assim como as polêmicas, de vaidade ou de orgulho intelectual, que não constróem mas desunem. Prestam serviço às trevas, mais do que a Jesus, mesmo que motivadas pelo zelo em prol da verdade. Esta não se impõe, porém desce como graça aos corações amadurecidos, dignos de a reconhecer. Quem não está em idade espiritual de aceitar a Revelação Maior, que é o Espiritismo, mesmo vendo e sentindo, nele não crê. A estes, nosso sentimento de tolerância, nosso perdão, nossa prece e nosso amor, pois o silêncio é também força construtiva.
            Assim. sejamos fraternos, não somente conosco, mas com os adeptos de quaisquer religiões, e até com os seus sacerdotes, muitos dos quais prestando ainda serviços reais à causa divina. Só procedendo assim, seremos verdadeiramente cristãos; só assim cumpriremos os ensinamentos de Jesus: amar e perdoar sempre!
         Moisés foi, em síntese, um grande varão, um espírito fulgurante, que prestou, em sua época, um assinalado serviço à Humanidade.
            Lembremo-nos porém de que ele enunciou mandamentos humanos e mandamentos religiosos ou divinos. Somente os de moral religiosa constituem, propriamente, o Torá, como os rabinos chamavam, isto é, a lei de Deus. Os outros, de culto externo ou de preceito, como a proibição de falar com os mortos, duraram até João (Lucas 16:16).
            E os próprios mandamentos divinos são sintetizados no amor (Mat 22;37 a 39), conforme a palavra autorizada do Divino Mestre, mesmo porque, como disse o apóstolo João, “Deus é amor” e o amor é a própria verdade, a quem Moisés também serviu com tanta sinceridade e com tanto valor. 


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