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segunda-feira, 18 de julho de 2011

'O Marquês de Maricá'


Em 1844...


por Mínimus*

Reformador Setembro 1944
* O ex presidente da FEB - A. Wantuil de Freitas
utilizou esse cognome em muitos de seus escritos.

            Há cerca de 150 anos, um pouco antes do aparecimento de Espíritos às irmãs Fox, na América do Norte, e dez anos antes de Kardec ouvir falar em fenômenos espíritas, já existia no Brasil um escritor, dos mais notáveis, que pregava em seus livros muitos dos ensinamentos que, só mais tarde, foram transmitidos ao Codificador, através de mensagens recebidas por vários médiuns.
            Isto vem confirmar que o Consolador soprava em todos os recantos da Terra, os mesmos ensinos que deveriam ficar codificados pelo missionário que surgiu no maior centro de civilização do século XIX.
            Esse escritor brasileiro, desencarnado no Rio de Janeiro exatamente no ano em que surgiram os fenômenos das irmãs Fox, publicou a sua obra e a distribuiu gratuitamente. em várias e sucessivas tiragens.
            Além de escritor, era poeta o nosso patrício, espírito lúcido, conceituoso e perspicaz, doutor em Filosofia e em Matemática pela Universidade de Coimbra. Foi ministro da Fazenda, senador pelo Distrito Federal, Conselheiro de Estado, membro do Instituto Brasileiro, grã-cruz da Ordem do Cruzeiro, cavaleiro da de Cristo, administrador da Imprensa Régia, membro da Junta de Comércio e membro da Constituinte do Império.
            Leiamos alguns dos seus pensamentos:

Formação dos Mundos:

2778 - Os mundos, como os homens, são também mortais.

2941- Os mundos e sistemas solares concebidos na divina mente e realizados pela onipotência do Ser Supremo têm, como as sementes vegetais e os ovos animais, um desenvolvimento lento, mas progressivo e variado, até chagarem por muitos e inumeráveis milênios àquele grau de madureza e plenitude, em que, dissolvendo-se, se resolvem nas substâncias elementares de que foram formados, e que servirão de materiais para novas formações, futuros mundos, sistemas solares.

Pluralidade dos Mundos:

2681 - Os homens enganam-se com a idéia de um progresso material e intelectual que esperam neste mundo, e que só pode verificar-se em outros e outras vidas.
2691 - Pode haver e é provável que haja nos outros sistemas e mundos criaturas vivas, que, não sendo impassíveis pela sua organização corporal, se tornem tais pela sua superior inteligência.

2695 - Mundos haverá onde criaturas privilegiadas tenham olhos telescópicos para descobrir o que se passa em outros orbes mais vizinhos.

2925 - Não podemos conceber um mundo diverso deste em que vivemos; contudo, são inumeráveis os que existem inteiramente diferentes: uma variedade ilimitada caracteriza a infinita sabedoria do Ser eterno e incompreensível que os criou.

3787 - Se não existem habitantes nos planetas de Júpiter, Saturno e Herschel, para que servem ao primeiro quatro satélites ou luas, ao segundo sete, e ao terceiro seis? Uma iluminação lunar sem viventes que a gozem, é fato fenomenal inexplicável.

4074 - “Vires acquirit eundo”, diz-se de um rio, outro tanto se pode dizer dos espíritos, na sua eterna viagem por mundos inumeráveis, com variados corpos adaptados a seus diversos sistemas.

Do Princípio Vital:

2704 - Os espíritos ou átomos indivisíveis e imortais preexistem à sua união com os corpos organizados; antes dela não tem consciência da sua existência, nem podem ter o exercício das faculdades sensíveis e intelectuais que os distinguem, e só podem ser provocadas pela ação do mundo externo sobre os órgãos, sentidos e contextura dos corpos a que são unidos.

2707 - Quando os espíritos ou átomos indivisíveis se unem e se condensam, então se materializam, ganham extensão, forma, figura e densidade, e tornam-se capazes de localidade, ação e movimento.

Dos Espíritos:

3135 - O material e sensual é o invólucro ou estojo do racional e espiritual: o Espírito é a substância ativa e inteligente, o corpo o instrumento ou maquinismo executor e condutor da sua ação e inteligência.

3850 - Os Espíritos são átomos indivisíveis que se tornam viventes, sensíveis e inteligentes, colocados em certos pontos distintos e centrais dos corpos organizados destinados a servir-lhes de meio de comunicação com o Universo externo e material, e a provocar deste modo o exercício das suas faculdades naturais, sensíveis e intelectuais.

3863 - Os homens não tem nem podem formar idéia de substâncias imateriais. As almas e Espíritos são considerados por eles como entidades corporais perceptíveis aos sentidos com forma, figura e lugar no espaço, capazes de ação e reação e, quando muito, os reputam de uma substância material mais sutil e menos densa que a dos corpos viventes deste mundo.

Do Perispírito:

2493 -  O que não tem extensão não pode ter mobilidade, nem localidade; os Espíritos são incapazes de movimento e lugar sem os corpos organizados que os habilitam para isso.

2544 - As entidades espirituais não podem existir sem corpos organizados que se põem em relação com o Universo material; do que observamos neste mundo podemos inferir o que se passa nos outros globos.

2578 - De que nos serviria a outra vida se o nosso Espírito não conservasse o cabedal de idéias e conhecimentos que adquiriu na primeira, e perdesse a memória da sua identidade individual e intelectual?

2680 - Na existência neste mundo não podemos  duvidar da necessidade de um corpo unido à substância a que chamamos alma. Poderá esta existir sem ele nos outros mundos e sistemas?

Da Matéria:

4140 - Não sabemos o que seja a matéria em abstrato e em substância; só a conhecemos em sua forma concreta, figurada e fenomenal, sendo por isso perceptível aos nossos sentidos corporais e capaz de ser idealizada com representações correspondentes aos objetos materiais que fizeram impressão sobre nós.

Da Reencarnação:

2656 - A categoria da nossa existência nas vidas futuras será correspondente ao nosso bom ou mau procedimento nas antecedentes.

2709 - As noções sublimes de uma outra vida, e de um progresso intelectual ilimitado, não foram outorgadas pela divindade da nossa ilusão; se o gênero humano crê e espera semelhantes bens, é porque tais crenças e esperanças lhe foram sugeridas por Deus, que não se engana nem pode ser enganado.

4002 - Devemos congratular-nos de saber que ignoramos infinito; teremos de aprender eternamente, com variados corpos, em inumeráveis mundos.

Da Emancipação da Alma:

2924 - A faculdade de sonhar, dormindo, é um argumento poderoso de que existe em nós um princípio ou unidade sensível e inteligente, que, unida ao nosso corpo, o dirige e administra no exercício e processo da vida humana.

3081 - Sonhei que admirando a Lua cheia na plenitude da sua luz reflexa, surgia em mim o desejo ardente de a visitar e conhecer de perto, quando uma voz sonora, mas de objeto não distinto, retiniu aos meus ouvidos: - “Pobre criatura! A tua ignorância se desculpa; sabe que cada um dos mundos da imensidade tem um sistema e construção especial; que os seus habitantes não podem existir em algum outro que não seja aquele para que foram organizados. O teu Espírito tem de habitar e admirar inumeráveis orbes pela sucessão dos tempos e progresso da eternidade, mas somente com corpos privativos e adaptados ao sistema de cada um deles. A sabedoria do Onipotente, sendo infinita, a variedade  das suas obras é ilimitada, tudo o que ideou e produz na imensidade do Espaço é original e sem cópia.” Calou-se, e acordei assombrado com esta inesperada e portentosa revelação.

Do Progresso dos Espíritos:

927 - Sem a crença em uma vida futura, a presente seria inexplicável.

1611 - Os modernos progressistas são apoucados na sua doutrina do progresso quando o limitam a esta vida mortal.

3134 -  As noções do Infinito, eternidade e Imensidade, da Imortalidade da alma e de uma vida futura com as transcendentes da Infinita sabedoria, poder e bondade de Deus, autor e criador de tudo, provam demonstrativamente que a nossa vida não se limita à curta existência neste mundo, mas que terá de prolongar-se pela eternidade com variados corpos em inumeráveis mundos, crescendo a nossa inteligência progressivamente em ciência, virtude, amor, gratidão e admiração de Deus, e, consequentemente, em uma bem-aventurança tal, que não é possível qualificar nem compreender. A inteligência humana é muito superior e transcendente à vida animal e temporária deste mundo terreal, e, portanto, nos anuncia altos e sublimes destinos, depois dele, em muitos outros subseqüentes e inumeráveis.

4011 - A bem aventurança eterna deve ser uma felicidade progressiva, ilimitada e insaturável; não como a temporal, limitada e alternada com males.

Das Desigualdades Sociais:

2673 - Sem extensão não pode haver desigualdade; os Espíritos são perfeitamente iguais por sua natureza imaterial; a variedade em suas faculdades e potências depende da diversidade dos corpos organizados a que estão unidos, os quais promovem ou limitam a sua expansão e exercício.

2877 - É questão curiosa, se renascendo para uma segunda vida não seríamos os mesmos que fomos, concorrendo em tudo as mesmas circunstâncias, condições e acidentes da primeira: a afirmativa parece provável com ressaibos de fatalismo.

Da Desencarnação:

782 - Um casulo é o túmulo de uma lagarta e o berço de uma borboleta; também a morte para o homem é o princípio de uma nova e melhor vida.

Das Provações:

2485 - Quando estamos profundamente convencidos da Infinita sabedoria, bondade e justiça de Deus, agradecemo-lhe os mesmos males e dores que nos afligem e atormentam na presente vida.

2487 - Subi a Deus na vossa ventura; Ele descerá a vós na vossa desgraça.

4007 - Não só os bens provém de Deus, mas também os males, como ocasião e instrumentos de Deus.

4057 - Confundimos muitas vezes o bem com o mal, porque um e outro ocasionam ordinariamente o seu contrário.

Dos Céus e Moradas do Pai:

2597 - São inumeráveis os céus, cada mundo tem o seu privativo, abrilhantado também de estrelas colocadas ou esparzidas por diverso modo do que se nos representa o que avistamos.

Das Religiões dos Homens:

2407 - A intolerância religiosa é uma censura ou condenação da Divindade pela sua tolerância universal.

2728 - Em matéria de religião deve crer-se tudo o que é compatível com idéia ou noção de um Deus eterno, imenso, infinitamente sábio, poderoso, bom, justo e providente, e rejeitar quanto for oposto ou repugnante com estes seus divinos atributos.

Sobre Certos Dogmas:

2122 - Em matéria de religião, a força pode fazer hipócritas, mas nunca verdadeiros crentes.

2297 - Quando os homens personalizaram os atributos da Divindade, criaram o politeísmo.

2650 - Entidades fabulosas, umas boas, outras malignas, incorporadas nas crenças e cultos religiosos antigos e modernos, foram sempre criaturas da imaginação, ignorância e impostura humana: a razão e a Natureza debalde as reprovam e recusam, a credulidade dos homens é mais poderosa do que elas ambas.

4157 - O temor difere muito do medo: teme-se a justiça de Deus, Criador e Benfeitor do gênero humano; mas tem-se medo do que é mal, cruel, maligno, mal intencionado e mal-fazente, como os homens imaginam e qualificam a satanás ou o diabo.

            A edição da obra a que nos referimos, e de onde extraímos as reflexões acima enumeradas, data de 1896, publicada pela Livraria Alves. Há edições anteriores, de 1844 e 1846, e uma outra, recentíssima, de 1940.
            Tal como disseram os Espíritos a Kardec, o autor anunciou no final do seu livro o seguinte:

            “Comigo levo à cova muitas idéias, para que não supus madura a geração atual, porque também para as idéias a questão de oportunidade é vital; perdem-se por temporãs, como serôdias; o ponto é conhecer a terra onde a semente é lançada. Todavia, os homens superiores que me lerem me compreenderão sem dúvida; e quando a roda dos tempos houver volvido mais um ou dois séculos, tornar-se-ão axiomas os princípios que hoje a minha própria censura proscreve da publicidade.”

            E como o leitor desse estudo deve estar ansioso por saber o título do livro e o nome do autor de tão precioso trabalho, informamo-lo de que essa obra, realmente notável, foi escrita pelo Sr. Marquês de Maricá, sob o título de “Máximas, Pensamentos e Reflexões”.
            A Revelação Divina é progressiva e de acordo com a capacidade de assimilação de cada homem e de cada época, já dizia Kardec. Continuemos à espera da bondade do Criador e, aos poucos, novos conhecimentos nos irão sendo revelados.
            Como se vê, o Marquês de Maricá, do mesmo modo que J.-B. Roustaing e muitos outros, pertence ao Grupo de grandes Espíritos enviados por Deus à Terra para colaborar com Allan Kardec. Uns vieram um pouco antes, outros ao mesmo tempo, e muitos continuam vindo depois do Mestre.


Nota: Reformador (FEB) em Julho 1978 comenta sobre o livro “Falando à Terra”, recebido por Chico Xavier por volta de 1951 que contém mensagem sob o título “Reflexões” ditada pelo espírito Mariano José Pereira da Fonseca que,  encarnado, foi o Marquês de Maricá, cujo descenso ocorreu em 1848.  


‘Mariano José Pereira da Fonseca

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Mariano José Pereira da Fonseca, 1º e único visconde com grandeza e marquês de Maricá (Rio de Janeiro, 18 de maio de 1773 — Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1848), foi um escritor, filósofo e político brasileiro.

Foi ministro da Fazenda, conselheiro de estado e senador do Império do Brasil, de 1826 a 1848.

Filho do comerciante Domingos Pereira da Fonseca, este natural de Portugal e de Teresa Maria de Jesus, natural do Rio de Janeiro, Mariano casou-se com Maria Barbosa Rosa do Sacramento a 30 de junho de 1800.

Doutor em filosofia e consagrado em matemática pela Universidade de Coimbra em 1793, ocupou o cargo de Ministro da Fazenda no 3° Gabinete de 1823, depois foi nomeado senador pela província do Rio de Janeiro em 1826.

Por seus conhecimentos e modo de fazer política, tornou-se Conselheiro de Estado Efetivo em 1823 e Grande do Império, tendo participado da elaboração da Constituição do Império. Detinha a Grã-Cruz da Imperial Ordem do Cruzeiro.

Como escritor, escreveu diversas obras, a mais conhecida sendo Máximas, Pensamentos e Reflexões, composta de quatro volumes, com um total de 3169 artigos, publicada entre os anos de 1837, 1839 e 1841.’



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