Pesquisar este blog

sábado, 21 de dezembro de 2019

Espiritismo e Religião



Espiritismo e Religião
Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Novembro 1952

            Já era tempo de constituir matéria pacífica na Doutrina dos Espíritos, o seu aspecto religioso.

            Como, porém, ainda suscita, dúvida, vindo esse assunto à baila, dentro e fora do campo espírita, procuraremos demonstrar o desacerto que pretendem considerar o Espiritismo tão somente como Ciência, tomando esta expressão no sentido em que os homens a concebem e empregam.

            Comecemos por definir o que é, em realidade, Religião.

            No excelente léxico, de autoria de Maurice Lachatre, encontramos a seguinte explicação: Religião - do latim religio, religare - laço que une os homens a Deus, e, consequentemente, une os homens entre si, sentimento profundo do liame íntimo que existe entre o homem e Deus; entre Deus e a criação, entre a criatura e o Criador, etc.

            Pondo de parte o cultualismo aparatoso e espetacular, cujo objetivo é impressionar os sentidos das massas, a essência, a alma da religião está perfeitamente definida no tópico acima transcrito.

            Ora, religar o homem a Deus, ou seja, a criatura ao Criador, importa em promover e acoroçoar o seu aperfeiçoamento contínuo, a sua ininterrupta espiritualização.

            Sendo Deus a suprema perfeição, e ressentindo-se o homem de muitos senões, será, por certo, reduzindo estes progressivamente, que ele consumara aquele objetivo, que encerra, aliás, a finalidade da Religião.

            Vejamos se o Espiritismo colima, ou não, o mesmo propósito.

            Analisemos, embora perfunctoriamente, as obras fundamentais da Doutrina. Quais são elas?  “O Livro dos Espíritos”, em primeiro lugar. Antes de nos reportarmos às outras, perguntamos: o próprio título desse excelente manancial de luz não é incompatível com a ciência terrena, consoante as bases materialistas em que a mesma se assenta?  Outrossim, tratando-se de matéria revelada do Além, como dar-lhe cunho exclusivamente científico, quando a ciência dos homens não admite o fenômeno da revelação, nem tão pouco a realidade do outro plano da Vida? Já, por isso, exclamava Jesus: Graças vos dou, Pai Celestial, porque revelas as tuas coisas aos simples e pequeninos e as ocultas dos prudentes e dos sábios.

            Passando do título, examinemos o conteúdo da maravilhosa doutrina ditada pelos Espíritos, da qual Kardec foi o compilador honesto e criterioso. O seu Capítulo I encerra os seguintes assuntos: De Deus. Deus e o Infinito. Provas da existência de Deus. Atributos da Divindade. Panteísmo.

            O Capítulo II reporta-se às - Penas e Gozos Futuros. Nada. Vida Futura. Intervenção de Deus nas penas e recompensas. Natureza das Penas e dos Gozos Futuros. Penas temporárias. Expiação e Arrependimento. Ressurreição, Paraíso, Inferno e Purgatório.

            Para não nos alongarmos, contentemo-nos com os textos citados, e indaguemos: Quando e onde a ciência mundana cogitou dos assuntos supra –referidos? Tais temas são, ou não, característica genuinamente religiosas? Quanto às demais produções Kardecistas, que diremos das denominadas: - “O Livro dos Médiuns”, -  "O Evangelho segundo o Espiritismo”, - “O Céu e o Inferno ou a Justiça Divina”, e mesmo - “A Gênese”?

            Não nos consta que a ciência circunscrita às plagas deste orbe se interessasse pelos problemas do Futuro, do Destino, da Justiça Distributiva e da Lei de Causalidade na esfera
Moral.  

            Semelhantes proposições não constituem objeto de laboratório, de microscópio e de bisturi, escapando, portanto, às indagações e às pesquisas da ciência materialista.

            Nada abafante, o insigne pensador e filósofo russo, Leon Tolstói, assim se manifestou a propósito: “O homem racional não pode viver sem religião! Porque homem racional? Não seria dispensável o qualificativo, uma que todos os homens fazem uso da razão? A nosso ver, Tolstoi põe em relevo, destacando o verdadeiro marco que nos separa da família zoológica.  

            0s animais, satisfazendo-se com a vida do instinto, são imediatistas, desinteressando-se completamente pelo passado e pelo futuro. Importa-lhes, apenas, o presente, o dia, o momento em que se encontram.

            O que se faz necessário, nesta época de transição, por isso confusa e caótica, é modificar o conceito errôneo que geralmente se faz de Religião, pois é precisamente desse fator de evolução moral que carece a humanidade contemporânea.

            A moral e a ética espíritas são as mesmas da escola cristã, segundo afirma Kardec através dos magníficos comentários aduzidos em torno dos textos escriturísticos de que sua compõe sua excelente produção, intitulada "O Evangelho Segundo o Espiritismo”). É digno de registro, ser essa obra, dentre suas congêneres, a que maior número de edições tem alcançado, atendendo aos reclamos dos famintos de justiça e consolação, de luz e esperança em melhores dias.  

            A concepção religiosa encarnada pelo Divino Mestre ressalta, em toda a sua existência, a seguinte instrução que ministrou à Samaritana, a respeito do modo como render culto à Divindade: A hora vem e agora é, em que os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; pois o Pai procura os que assim o adorem. Deus é Espírito, portanto, importa que os que o adoram o façam em espírito e em verdade.

            Não é possível maior clareza na elucidação do magno assunto.  

            João Batista, o precursor, via pelo mesmo prisma a maneira de estabelecer relações do homem com Deus. Interpelado pelo povo acerca da Doutrina Messiânica, respondeu: Quem tiver duas túnicas, dê uma a quem não tem; e aqueles que dispõem de pão em abundância, façam o mesmo.

            A moralidade desse programa tão simples quanto eloquente, está no sentimento de solidariedade e cooperação, único processo de resolver o problema econômico, que vem, através dos séculos, convulsionando a Humanidade.

            Tiago, o apóstolo, a seu turno, adotava o mesmo critério, consoante verificamos desta sábia enunciarão: A religião pura e imaculada diante de Deu, nosso Pai, é esta: Assistir os órfãos e as viúvas em suas aflições, e guardar-se a si mesmo isento da corrupção do mundo.

            Paulo de Tarso afinava-se por idêntico diapasão, como prova o presente apelo, dirigido aos romanos: Rogo-vos, pois, irmãos, por compaixão, que apresenteis os vossos corpos como um sacrifício, santo, e agradável a Deus, pois em tal importa o culto racional.  E não vos conformeis com este século mas transformai-vos, começando pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual é a boa, agradável e perfeita vontade de Deus.

            À ciência terrena devemos muitos benefícios, fazendo, por isso, jus à nossa gratidão.
-
            Notemos, porém, que no decorrer dos tempos, aqueles mesmos favores, que ela nos proporciona, degeneram em forças negativas, destruindo o que havia edificado. É o fruto natural e inevitável do materialismo em que se inspira a ciência sem Deus. Ela acaba de nos dar, ultimamente, as formidáveis energias liberadas do átomo, fazendo surgir, de tão maravilhosa descoberta, a bomba atômica, essa nova espada de Dâmocles suspensa sobre a cabeça da Humanidade, que, aflita e apavorada, sem norte e sem rumo, debate-se na perspectiva de uma terceira conflagração cujas consequências devastadoras são imprevisíveis.

            Não nos basta, portanto, a cultura do cérebro, precisamos também a do coração, que é a cultura do belo, do justo e do verdadeiro.

            Os homens destituídos do senso de dignidade, das noções do dever e da responsabilidade, descambam para o abismo, a suprema ruína que a sua ciência não soube prever, e, agora, não pode evitar.

            César, diz com muita propriedade Fulton Sheen, construiu estradas para levar ao mundo, em triunfo, as águias de Roma; mas por essas estradas passaram Pedro e Paulo divulgando o Evangelho. Assim, também o fim deste nosso século verá cientistas e filósofos catando, nos cestos de papéis usados das suas universidades, as Verdades Sagradas e Divinas que os séculos XVIII e XIX atiraram fora.

*

            A função precípua da Doutrina dos Espíritos - que são as virtudes do céu - é promover a evolução integral do homem, mediante o processo natural de sua auto-educação, tal como se deduz do sugestivo “slogan” do Excelso Educador: Sede perfeitos, como vosso Pai celestial é perfeito.

            Tirar, pois, do Espiritismo, esse objetivo, é reduzi-lo a um corpo decapitado.


sexta-feira, 20 de dezembro de 2019

A Dor



A Dor
Moacyr de Oliveira
Reformador (FEB) Outubro 1952

A Dor tem bigorna, tenazes, carvões
Acesos na forja de luz peregrina,
tem limas, martelos, serrotes, formões,
archotes, espelhos... na vasta oficina.

Artista perfeito, - transforma as paixões,
Venturas ou sonhos, com a lixa mais fina,
as almas deixando sem jaça ou senões...
E o ser se transmuda, quando ela termina.

Trabalha, sem pausa, sem pressa ou barulho,  
Tranquila, severa, serena, com o orgulho
De quem tem certeza dos milagres seus.

E ao fim da tarefa, na glória que a anima,
Do negro cascalho faz uma obra-prima,
Que a Morte arrebata, levando-a até Deus!


Abre a tua janela!



Abre a tua janela!
José Brígido (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Outubro 1952

            Malib amava a filosofia, porque com ela aprendera a compreender e interpretar a vida humana. Não era excessivamente otimista nem excessivamente pessimista porque achava os extremos contrários à sabedoria divina, tomando por base o princípio da harmonia universal. Tudo para Malib estava bem, porque, a seu ver, para todas as coisas havia sempre uma explicação, embora muitas vezes ele não a encontrasse, pois somente Alá possui o dom da onisciência.

*

            Descia Malib, ao entardecer, pelas vielas irregulares de Medina, quando encontrou um homem na pujança dos seus trinta anos, sentado numa esquina, deplorando a sorte ingrata que o ferira e regando seus lamentos com abundantes lágrimas. Malib parou, pôs as mãos à cintura, pensou um instante e em seguida a ele se dirigiu:

            - Que tens, homem, que choras como uma criança?

            - Trabalho, trabalho muito e não posso realizar meus sonhos! ...  Vejo outros que vivem sem sacrifício, pouco fazem e tudo têm...

            - E esperas que essas lágrimas melhorem a tua situação? - perguntou Malib. O homem que para na vida, ou está morto ou está dormindo. Se está morto, para um instante na eternidade para recomeçar a faina no reino de Alá; se está dormindo, dá descanso ao corpo para que possa retomar com mais ânimo sua tarefa. Tu não estás morto, mas dormes e sofres de pesadelo...

*

            O homem tirou as mãos que lhe cobriam o rosto e olhou para Malib, com ar expectante. Teria razão o filósofo? O desconhecido preferiu responder-lhe:

            - Sim, estou dormindo. Para que vieste perturbar-me o sono?

            - Porque não desejo que teu pesadelo se prolongue. Vamos, homem, desperta para a vida! Abre a janela da tua alma e deixa que por ela entre a claridade do entendimento! Respira o ar puro da compreensão sadia para que possas ver e sentir as belezas reais que a vida possui!

*

            O desconhecido, já agora, olhava, perplexo, para Malib. Mas parecia chumbado ao chão, pois não se movia e uma frase que se esboçara em seus lábios ficara paralisada no início. Malib aproveitou o ensejo para prosseguir, veemente:

            - Vamos! Desperta, homem! Não te entregues à indolência espiritual e ao quebrantamento físico, porque o tempo é curto e há longas tarefas a realizar! Aproveita o instante que estás vivendo para que algo dignifique a tua presença neste planeta! Desperta! Desperta para a vida amigo! Abre a janela da tua alma, desencarcera-te das ideias estreitas e constringentes que escurecem e comprimem tua razão! Vamos! Reage e luta! Nunca é vencido aquele que demonstra coragem e ânimo até o último momento. O essencial é saber lutar. Abre a tua janela espiritual e deixa que o ar puro do otimismo racional entre através dela para realizar em ti a graça da purificação mental!

*

            Atingira o auge a estupefação do desconhecido, que olhava, boquiaberto, para Malib. Em volta de ambos aglomeram-se alguns transeuntes, tangidos pela curiosidade. Não sabiam a razão do discurso de Malib, pois viam diante de si um homem acordado, enquanto outro mandava que ele despertasse. Malib percebeu o que se passava e retomou o fio da palavra:

            - Levanta a cabeça, olha as estrelas que começam a luzir no firmamento! Toma-as por fanal, porque são os vagalumes do Jardim de Alá! O homem que tem consciência do seu papel na vida, não perde tempo em remoer desventuras ou em reviver insucessos. Avança resolutamente para a adversidade, encara cada contratempo como um estímulo para o triunfo. Ainda que, para os outros homens, não sejas no sentido vulgar, um triunfador, sê-lo ás para o Todo Poderoso, se persistires na luta sem desânimo, com os olhos voltados para Alá! Não importa que o progresso seja, às vezes, imperceptível. A verdade é que todo homem que persevera numa tarefa digna, é sempre vitorioso! Quando te sentires fatigado repousa o necessário, porque tudo tem seu tempo. A água que perfura a pedra não se apressa. Pode levar séculos na obra de desgaste, até que um dia celebra a vitória da sua tenacidade!

*

            Alguns aplausos secundaram essas palavras do filósofo. Este, com simplicidade simpática, ergueu os braços, como se quisesse denotar que se dirigia, não somente ao desconhecido que motivara o discurso, mas a todos quantos ali se encontravam:

            - Abre os olhos do espírito para que possas enxergar o que os olhos do corpo físico nem sequer vislumbram! Aproxima-te do Bem para que tenhas o Belo a teu lado e verás como o Sol se apresentará com diferente fulgor e as estrelas cintilarão de diversa maneira, mais lindas, tão lindas quanto as sentenças de Maomé! Abre a janela da tua alma e tudo te parecerá melhor. Os gorjeios dos pássaros que brincam nas florestas te repercutirão nos ouvidos como os sons sintonizados de uma orquestra divina! O próprio ruído do vento nas quebradas não mais te assustará, assim como a precipitação das águas nas cascatas será como murmúrios da Natureza-Mãe num segredar de coincidências seculares! Desperta enquanto é tempo! Abre os olhos do espírito para que possas compreender o que os sentidos comuns do ser humano não podem apreender!

*

            Era sepulcral o silêncio. Centenas de olhos fixavam Malib, que perdera, por fim, a noção do lugar em que se encontrava, pois parecia transportado a páramos celestiais. A noite chegara. O céu se mostrava prodigiosamente belo. Luzia o Crescente circundado por estrelas rutilantes. Malib alcançara, por fim, um grande triunfo fazendo despertar aquele homem a quem o desânimo e o desespero pareciam haver ferido profundamente. Então, concluiu:

            - Olha para a Natureza com um sorriso de confiança, festejando nesse sorriso de fé a beleza sem par da criação, porque, afinal, tu, eu, todos nós, os animais, as árvores, as plantas, somos partículas da Natureza, de que fazem parte também a montanha majestosa de cume inacessível, o abismo insondável, o oceano poderoso que se diverte ameaçador, nos corcoveios dos vagalhões gigantescos, o riso simples da criança, o bramido terrível das feras que dominam as selvas! Sim, tudo é Natureza, tudo é Alá, cuja bênção se espraia, generosa, sobre as nessas cabeças! Há majestade no porte do elefante, na atitude do leão, no rastejar do verme, no remígio (vôo) do condor! Há divindade na explosão do raio e no pranto de quem sofre! Aprende, amigo, a ver beleza em tudo, através de pensamentos dignos e elevados, porque em tudo há, a presença de Alá!

*

            O desconhecido ergueu-se, abraçou demoradamente Malib, pronto para partir com ele. Comovido, disse-lhe somente:

            - Nada é maior que Alá e Maomé foi o seu profeta! Todavia, pela tua boca parece ter falado aos meus ouvidos o grande Emir dos Crentes! O que eu não pude fazer, tu fizeste. Agora, bendizendo teu nome, quero gritar para que todos me ouçam nesta noite feliz: 

            - Está aberta a janela da minha alma! Já posso ver, através dela, o caminho iluminado que me espera!

            - Alá seja com todos!

quinta-feira, 19 de dezembro de 2019

Mensagem de Natal



Mensagem de Natal
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1952

            “Glória a Deus nas Alturas, paz na Terra e boa vontade para com os homens.”
                                                                                                                                   

            O cântico das legiões angélicas, na Noite Divina, expressa o programa do Pai acerca do apostolado que se reservaria ao Mestre nascente.

*

            O louvor celeste sintetiza., em três enunciados pequeninos, a plataforma do Cristianismo inteiro.

*

            Glória â Deus nas Alturas, significando o imperativo de nossa consagração ao Senhor Supremo, de todo o coração e de toda a alma.

            Paz na Terra, traduzindo a fraternidade que nos compete incentivar, no plano de cada dia, com todas as criaturas.

            Boa Vontade para com os homens, definindo as nossas obrigações de serviço espontâneo, uns à frente dos outros, no grande roteiro da Humanidade.

*

            O Natal exprime renovação da alma e do mundo, nas bases do Amor, da Solidariedade e do Trabalho.

*

            Dantes, os que se anunciavam em nome de Deus, exibiam a púrpura dos triunfadores sobre o acervo de cadáveres e despojos dos vencidos.

            Com o Enviado Celeste, que surge na Manjedoura, temos o Divino Vencedor, arrebanhando os fracos e os sofredores, os pobres e os humildes para a revelação do Bem Universal.

*

            Dantes, exércitos e armadilhas, flagelos e punhais, chuvas de lodo e lama para a conquista sanguinolenta.

            Agora, porém, é um Coração armado de Amor, aberto à compreensão de todas as dores, ao encontro das almas.

            Não amaldiçoa.
            Não condena.
            Não fere.
            Fortalece as boas obras.
            Ensina e passa.
            Auxilia e segue adiante.

            Consola os aflitos, sem esquecer-se de consagrar o júbilo esponsalício de Canaã.

            Reconforta-se com os discípulos no jardim doméstico, todavia, não desampara a multidão na praça pública.

            Exalta as virtudes femininas no Lar de Pedro, contudo, não menospreza a Madalena transviada.

            Partilha o pão singelo dos pescadores, mas não menoscaba o banquete dos publicanos.

            Cura Bartimeu, o cego esquecido, entretanto, não olvida Zaqueu, o rico enganado.

             Estima a nobreza dos amigos, contudo, não desdenha a cruz entre os ladrões.

            Cristo na Manjedoura representava o Pai na Terra.

            O cristão no mundo é Cristo dentro da vida.

*
            Natal! Glória a Deus! Paz na Terra! Boa Vontade para com os Homens!

*
            Se já podes ouvir a mensagem da Noite Inesquecível, recorda que a Boa Vontade para com todas as criaturas é o nosso dever de sempre.




quarta-feira, 18 de dezembro de 2019

As Negações de Pedro



As Negações de Pedro

26,69  Enquanto isso, Pedro estava sentado no Pátio. Aproximou-se dele uma das servas, dizendo: Também tu estavas com Jesus, o Galileu! 
26,70  Mas, ele negou publicamente, nestes termos: - Não sei o que dizes! 
26,71  Dirigia-se ele para a porta a fim de sair, quando outra criada o viu e disse aos que lá estavam: Este homem também estava com Jesus de Nazaré! 
26,72  Pedro, pela segunda vez, negou com juramento: - Eu não conheço tal Homem! 
26,73  Pouco depois, os que ali  estavam, aproximaram-se de Pedro e disseram: Sim, tu és daqueles. Teu modo de falar te dá a conhecer.    
26,74  Pedro, então, começou a dizer imprecações, jurando que nem sequer conhecia tal Homem. E, neste momento, cantou o galo. 
26,75  Pedro recordou-se do que Jesus lhe dissera: “Antes que o galo cante, negar-Me-ás três vezes!  E, saindo, chorou amargamente. 

         Néio Lúciopor Chico Xavier, em  "Jesus no Lar"  (Ed.. FEB),  relata episódio ocorrido em casa de Simão Pedro e que ganhou o título:

Os Instrumentos da Perfeição

            “Naquela noite, Simão Pedro trazia à conversação o espírito ralado por extremo desgosto. Agastara-se  com parentes descriteriosos e rudes. Velho tio acusara-o de dilapidador dos bens da família e um primo ameaçara esbofeteá-lo na via pública.

            Guardava, por isso, o semblante carregado e austero. Quando o Mestre leu algumas frases dos Sagrados Escritos, o pescador desabafou. Descreveu o conflito com a parentela e Jesus o ouviu em silêncio.

            Ao término do longo relatório afetivo, indagou o Senhor:

            -E que fizeste, Simão, ante as arremetidas dos familiares incompreensivos?

            -Sem dúvida, reagi como devia! - respondeu o apóstolo, veemente. - Coloquei cada um no seu lugar próprio. Anunciei, sem rebuços, as más qualidades de que são portadores. Meu tio é raro exemplar de sovinice e meu primo é mentiroso costumas. Provei, perante numerosa assistência, que ambos são hipócritas, e não me arrependi do que fiz.

            O Mestre refletiu por minutos longos e falou, compassivo:

            -Pedro, que faz um carpinteiro na construção de uma casa?

            -Naturalmente trabalha - redarguiu o interpelado, irritadiço.

            -Com quê? - tornou o Amigo Celeste, bem humorado.

            -Usando ferramentas.

            Após a resposta breve de Simão, o Cristo continuou:

            -As pessoas com as quais nascemos e vivemos na Terra são os primeiros e mais importantes instrumentos que recebemos do Pai, para a edificação do Reino do Céu em nós mesmos. Quando falhamos no aproveitamento deles, que constituem elementos de nossa melhoria, é quase impossível triunfar com recursos alheios, porque o Pai nos concede os problemas da vida, de acordo com a nossa capacidade de lhes dar solução.

            A ave é obrigada a fazer o ninho, mas não se lhe reclama outro serviço. A ovelha dará lã ao pastor; no entanto, ninguém lhe exige o agasalho pronto. Ao homem foram concedidas tarefas, quais sejam as do amor e da humildade, na ação inteligente e constante para o bem comum, a fim de que a paz e a felicidade não sejam mitos na Terra. Os parentes próximos, na maioria das vezes, são o martelo ou o serrote que podemos utilizar a benefício da construção do templo vivo e sublime, por intermédio do qual o Céu se manifestará em nossa alma. Enquanto o marceneiro usa suas ferramentas, por fora, cabe-nos aproveitar as nossas por dentro. Em todas as ocasiões, o ignorante representa para nós um campo de benemerência espiritual; o mau é desafio que nos põe à prova; o ingrato é um meio de exercitarmos o perdão; o doente é uma lição à nossa capacidade de socorrer.

            Aquele que bem se conduz, em nome do Pai, junto de familiares endurecidos ou indiferentes, prepara-se com rapidez para a glória do serviço à Humanidade, porque, se a paciência aprimora a vida, o tempo tudo transforma.

            Calou-se Jesus e, talvez porque Pedro tivesse ainda os olhos indagadores, acrescentou serenamente:

            -Se não auxiliarmos ao necessitado de perto, como auxiliaremos os aflitos, de longe?  se não amamos o irmão que respira conosco os mesmos ares, como nos consagraremos ao Pai que se encontra no Céu?

            Depois dessas perguntas, pairou na modesta sala de Cafarnaum expressivo silêncio que ninguém ousou interromper.”

         Para Mt (26,69-75) O Fracasso de Pedro -, encontramos em “Elucidações Evangélicas” (Ed. FEB)  de Antônio Luiz Sayão, o que se segue:

            “Pedro confiara demais nas suas próprias forças e não procurará o único ponto de apoio que o pudera sustentar: a prece.  Deixara-se levar pela confiança em si mesmo e, malgrado ao aviso de Jesus, não se pudera em guarda.

            Grande foi o seu remorso, pois que nele houve apenas fraqueza e não culpa.
            Houve apenas falta de previdência, de desconfiança de si mesmo, e não traição premeditada, fruto da covardia e do egoísmo.

            Ao deixar a casa do sumo sacerdote, ele reconheceu o seu erro e se dispôs a repará-lo. Essa a distinção que se deve fazer entre a fraqueza e a culpabilidade.

            Dificilmente pode o culpado reparar, no curso de uma existência, a falta durante ela cometida; ao passo que o fraco pode adquirir a força de que careça.

            Eis por que são quase sempre temerários os nossos juízos. Eis como e por que às vezes condenamos o que o Senhor desculpa e desculpamos o que Ele reprova.

            Quando o galo cantou, Jesus não estava perto de Pedro.

            Mas, naquele instante, o apóstolo experimentou uma impressão fluídica que, por efeito de mediunidade, lhe recordou as palavras do Mestre, fazendo-o ao mesmo tempo ver o semblante doce e calmo deste, que se limitava a dirigir-lhe um olhar triste, quando com a ingratidão era pago da afeição que lhe testemunhara.

            Houve, da parte de Jesus, ação magnética a distância e, da de Pedro, vidência.”
                
                                                                          
                                                                                                     
                 
                                                               
                  


terça-feira, 17 de dezembro de 2019

Apascenta


Apascenta
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Março 1951

“Apascenta as minhas ovelhas.” Jesus

            Significativo é o apelo do Divino Pastor ao coração amoroso de Simão Pedro, que lhe continuaria o apostolado.

            Observando na Humanidade o seu imenso rebanho, Jesus não recomenda medidas drásticas em favor da disciplina compulsória.

            Nem gritos, nem xingamentos.
            Nem cadeia, nem forca.
            Nem chicote, nem vara.
            Nem castigo, nem imposição.
            Nem abandono aos infelizes, nem flagelação aos transviados.
            Nem lamentação, nem desespero.

            "Pedro, apascenta as minhas ovelhas!"

            Isso equivale a dizer: - Irmão, sustenta os companheiros mais necessitados que tu mesmo.

            Não te desanimes, perante a rebeldia, nem condenes o erro do qual a lição benéfica nascerá depois.

            Ajuda ao próximo, ao invés de vergastá-lo.

            Educa sempre.

            Revela-te por trabalhador fiel.

            Sê exigente contigo mesmo e ampara os corações enfermiços e frágeis que te acompanham os passos.

            Se plantares o bem, o tempo se Incumbirá da germinação, do desenvolvimento, da florescência e da frutificação da lavoura sublime no instante oportuno.

            Não analises destruindo.

            O inexperiente de hoje pode ser o mentor de amanhã.

            Alimenta a “boa parte” do teu irmão e segue para diante, a vida converterá o mal em detritos e o Senhor fará o resto.


domingo, 15 de dezembro de 2019

O talento esquecido



O talento esquecido
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Dezembro 1954

            No mercado da vida, observamos os talentos da Providência Divina fulgurando na experiência humana, dentro das mais variadas expressões. Talentos da riqueza material, da intelectualidade brilhante, da beleza física, dos sonhos juvenis, dos louros mundanos, da glória social e doméstica, do poder e da popularidade...

            Alinham-se à maneira de joias grandes e pequenas, agradáveis e preciosas, estabelecendo concorrência avançada entre aqueles que as procuram.  

            Há, porém, um talento de luz acessível a todos. Brilha entre ricos e pobres, cultos e incultos. Aparece em toda parte. Salienta-se em todos os ângulos da luta. Destaca-se em todos os climas e sugere engrandecimento em todos os lugares.

            É o talento da oportunidade, sempre valioso e sempre o mesmo, na corrente viva e incessante das horas.

            É o desejo de doar um pensamento mais nobre ao círculo da maledicência, de fortalecer com um sorriso o ânimo abatido do companheiro desesperado, de alinhavar uma frase amiga que ajude o mau a sentir-se menos duro, e que auxilie o bom a revelar-se sempre melhor, de prestar um serviço insignificante ao vizinho, plantando o pomar sublime da gratidão e da amizade, de cultivar algum trato anônimo de solo, onde o arvoredo de amanhã fale sem palavras de nossas elevadas intenções.

            Acima de todos os dons, permanece o tesouro do tempo.

            Com as horas os santos construíram a santidade e os sábios amealharam a sabedoria...

            É com o talento esquecido das horas que edificaremos o nosso caminho, no rumo da. Espiritualidade Superior, na aplicação silenciosa com o Mestre que, atendendo compassivamente às necessidades de todos os aprendizes, prometeu, com amor, não somente demorar-se conosco até ao fim dos séculos terrestres, mas também asseverou, com justiça, que receberemos individualmente na vida, de acordo com as nossas obras.