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terça-feira, 23 de julho de 2019

Reajuste e simplifique


Reajuste e simplifique
André Luiz por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1951

Não é pela desconfiança que atingiremos a certeza.
Apronta a entesourar a fé, amealhando os grãos de esperança.

*

Não é pela violência que alcançaremos a realização.
Habitue-se a usar a serenidade, considerando que um edifício se constitui de insignificâncias mil.
*

Não é pela maldade que chegaremos à bondade.
Acostume-se a tolerar e a desculpar, corrigindo em você mesmo aquilo que lhe desagrada nos outros.

*

Não é pela desaprovação que improvisaremos o estímulo.  
Procure as particularidades elogiáveis e os ângulos nobres das situações e das pessoas, para que o bem seja cultivado e reine soberano.

*

Não é exaltando a sombra que acenderemos a luz.
Evite os comentários obscuros, onde o mal encontra brechas para dominar os atos, as palavras e os pensamentos.

*

Não é semeando moléstias que sustentaremos a saúde.
Alije a carga mental das ideias enfermiças e plante o bom ânimo, o otimismo e a alegria, em cada minuto.

*

Não é contemplando feridas que ajudaremos a Humanidade.
Lembre-se do “lado melhor” do irmão de jornada e ajude-lhe o coração a esquecer todo o mal.

*

            Não é destruindo que construiremos o Reino Divino nos círculos da Terra.
            Restaure o que puder onde o desastre passou proclamando perturbação e falência.

*

Não é descendo às furnas sombrias do desânimo e da tristeza que escalaremos a montanha da luz.
Use os seus patrimônios e as suas experiências no Evangelho e na Revelação dos Espíritos Benevolentes e Sábios, tanto quanto mobiliza a água e o sabão nas lutas de cada dia e verá a colheita sublime de sua nova sementeira.

*

O ministério de Jesus não é serviço de crítica, de desengano, de negação.
É trabalho incessante e renovador para a vida mais alta em todos os setores do mundo.  

*

Ninguém precisa ferir, humilhar ou desesperar.
Reajuste e simplifique.
O Senhor fará o resto.  



Destruição e Miséria


Destruição e Miséria
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1951

“Em seus caminhos há destruição e miséria.” – Paulo aos Romanos 3:16

Quando o discípulo se distancia da confiança no Mestre e se esquiva à ação nas linhas do exemplo que o seu divino apostolado nos legou, preterindo a senda vasta de infidelidade à própria consciência, cava, sem perceber, largos abismos de destruição e miséria por onde passa.

Se cristaliza a mente na ociosidade elimina o bom ânimo no coração dos trabalhadores que o cercam e estrangula as suas próprias oportunidades de servir.

Se desce ao desfiladeiro da negação, destrói as esperanças tenras no sentimento de quantos se abeiram da fé e tece vasta rede de sombras para si mesmo.

Se transfere a alma para a residência escura do vício, sufoca as virtudes nascentes nos companheiros de jornada e adquire débitos pesados para o futuro.

Se asila o desespero, apaga o tênue clarão da confiança na alma do próximo e chora inutilmente, sob a tormenta de lágrimas destrutivas.

Se busca refúgio na casa fria da tristeza, asfixia o otimismo naqueles que o acompanham e perde a riqueza do tempo, em lamentações improfícuas.

A determinação divina para o aprendiz do Evangelho é seguir adiante, ajudando, compreendendo e servindo a todos.

Estacionar é imobilizar os outros e congelar-se.

Revoltar-se é chicotear os irmãos e ferir-se.

Fugir ao bem é desorientar os semelhantes e aniquilar-se.

Desventurados aqueles que não seguem o Mestre que encontraram, porque conhecer Jesus Cristo em espírito e viver longe d'Ele será espalhar a destruição, em torno de nossos passos e conservar a miséria dentro de nós mesmos.

 

Sepulcros Abertos



Sepulcros abertos
Emmanuel por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1951

Reportando-se aos espíritos transviados da luz asseverou Paulo que guardam a garganta por sepulcro aberto e, nessa imagem, podemos emoldurar muitos companheiros, quando se afastam da Estrada Real do Evangelho para os trilhos escabrosos do personalismo delinquente.

 Logo se instalam no império escuro do “eu”, olvidando as obrigações que nos situam no Reino Divino da Universalidade, transfigura-se lhe a garganta em verdadeiro túmulo descerrado. Deixam escapar todo o fel envenenado que lhes transborda do íntimo, à maneira dum vaso de lodo, e passam a sintonizar exclusivamente com os males que ainda apoquentam vizinhos, amigos e companheiros.

Enxergam apenas os defeitos, os pontos frágeis e as zonas enfermiças das pessoas de boa vontade que lhes partilham a marcha.

Tecem longos comentários no exame de úlceras alheias ao invés de cura-las.  
             
Eliminam precioso tempo em palestras compridas e ferinas, enegrecendo as intenções dos outros.

Sobrecarregam a imaginação de quadros deprimentes nos domínios da suspeita e da intemperança mental.

Sobretudo queixam-se de tudo e de todos.

Projetam emanações entorpecentes de má fé estendendo o desânimo e a desconfiança contra a prosperidade da santificação, por onde passam, crestando as flores da esperança e aniquilando os frutos imaturos da caridade.

Semelhantes aprendizes, profundamente desventurados pela conduta a que se acolhem, afiguram-se nos, de fato, sepulcros abertos...

Exalam ruínas e tóxicos de morte.

Quando te desviares, pois, para o resvaladiço terreno das lamentações e das acusações, quase sempre indébitas, reconsidera os teus passos espirituais e recorda que a nossa garganta deve ser consagrada ao bem, por instrumento vivo em que se expressará o Verbo Sublime do Senhor.  

Inspirações - 4


Inspirações – 4
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Junho 1923

“ESCÓRIA” e “PURITANISMO”

Vamos falar, conforme desejas, da “escória” espírita, constituída, conforme a opinião dos “puritanos”, pelos adeptos que não ajustam sua conduta, estritamente, aos ditados da moral evangélica.

Quantos reproches, quantos anátemas não se lançam contra os da “escória”! Porém, veja-se a inconsequência dos exprobradores (censores) e lançadores dos anátemas.

Costumam eles mostrar-se os mais zelosos pelo proselitismo; desejariam atrair para seu credo a todo o mundo, parecendo-lhes uma insensatez que haja pessoas remissas à aceitação do novo ideal, e impacientam-se por vê-lo imperar no mundo, como soberano.

            Não perdem ocasião de falar, a quem quer que seja, de suas crenças, dos fenômenos espíritas, da comunicação com os espíritos, e, se podem, não deixam de oferecer ao seu catecúmeno a oportunidade de presenciar alguma sessão em que possa ter uma prova pessoal da verdade da comunicação ultraterrena. Com as portas abertas para todo mundo, dão-se por muito satisfeitos quando veem que por elas entram, de tropel, gente de toda procedência.

Não deveriam esses beneméritos adeptos lembrar-se de que, só pelo fato de haverem sido iniciadas essas multidões no Espiritismo, não se poderia esperar delas um conhecimento imediato e perfeito da ideia e, menos ainda, que conformassem seu proceder tornando-o imáculo, às suas prescrições? Muito sensatamente, eles aceitam e transmitem o ensino revelado pelo mundo invisível, segundo o qual o espírito, quando desencarna, se encontra no espaço unicamente com o patrimônio que levou da terra, em inteligência e em bondade, patrimônio de que não lhe é dado separar-se e a que não pode acrescentar, ou diminuir, um átomo sequer, senão por mérito próprio, sejam quais forem o lugar onde se encontre e as alterações de estado e de situação a que se veja submetido. Ora, se a mudança de condição da vida, resultante da volta ao espaço pelo fenômeno natural chamado “morte”, não modifica, intrinsecamente, o modo de ver dos espíritos, não lhes dá direito a enriquecer-se com virtudes que não conseguiram adquirir antes, como se poderá razoavelmente pretender que os neófitos do Espiritismo, os quais, em regra geral, são verdadeiros condenados a galé, se mostrem ao mesmo tempo profundos conhecedores do ideal e modelos de virtude e de pureza? Não se repele a ideia do milagre, por implicar a derrogação de alguma lei natural? Mas, que milagre não seria, com exclusão de toda lei, de toda lógica e de toda justiça, se apenas pelo fato de abraçarem o Espiritismo, os novos adeptos logo se sentissem fundamentalmente transformados em “outros homens”, regenerados por completo?

Não é possível. E não se alegue que nem todos os da “escória” são neófitos; porque, em realidade, são neófitos no ideal espírita, não só os da “escória”, mas também os “puritanos”. O próprio “puritanismo” de que estes fazem garbo, os denuncia, como denunciavam os fariseus, ao tempo de Jesus, o excessivo apego à letra da Lei, a ausência de reais virtudes.

Para que o espírito modele sua individualidade moral - que tem de ser obra sua - necessita do concurso do tempo, e de muito tempo se a bagagem de suas imperfeições for importante, apesar de toda sua boa vontade e de seus esforços por se melhorar, sendo-lhe difícil tornar sensível, seu melhoramento, aos olhos dos homens, de modo que possa receber destes a patente de virtuoso, por grandes que sejam seus méritos aos olhos de Deus, que não julga as ações de seus filhos segundo o defeituoso juízo humano.

Não é possível que somente “virtuosos” militem no campo espírita. As religiões havidas até o presente não puderam ver-se livres da “escória”. Tão pouco poderá ver-se livre dela o Espiritismo. E como há de poder, se, como Jesus, ele não veio ao mundo para recrutar justos - que já estão nele - senão pecadores? É assim que o seu apelo ele o dirige a todos os náufragos da vida, a todos os aflitos, a quantos o peso do infortúnio abate, aos que o passado de uma vida delituosa, submergiu no abismo do remorso, - Bem vindos sejam todos esses filhos pródigos à casa do Pai, ao seio do Espiritismo e bem vindos sejam, não para receber exprobrações, nem ser inexoravelmente tratados por seus irmãos maiores, mas para receber destes o pão bendito da piedade, saturado de amor fraternal, conselhos que edifiquem e exemplos sãos, que os estimulem ao próprio aperfeiçoamento, a ir para Deus nas asas do conhecimento e da virtude.

E, se o Espiritismo não veio ao mundo para recrutar justos - que já são seus, seja qual for o campo em que militem - senão pecadores, porque estes são os que prementemente necessitam dele, tende, ó espíritas, em muita conta esses indispensáveis fatores como parte integrante de vossas fileiras e não penseis que tendam a diminuir, não. Longe disso, irão aumentando, à medida que o Espiritismo abra passagem na sociedade humana. E contra este fato não valerão exprobrações, censuras, apóstrofes, desprezos, nem excomunhões dos “puritanos”. Contra todo poder e vontade humanos, o fato “se dará”. Sendo isto inegável, é preciso que os ‘leaders’ do Espiritismo pensem seriamente no problema que o “caso” lhes traça.

Isso os obrigará a modelar e organizar de tal maneira o Espiritismo, a formular o seu credo de modo tão especial que, sem que haja atentado à verdade e à pureza do ideal e sem que este sofra coisa alguma pela ação de adeptos que o observem deficientemente, possa quem quer que seja sentir-se abrigado sob o amplo, piedoso e redentor manto da Nova Revelação.

Se o Espiritismo, por improcedentes escrúpulos e puritanismos, se empenhasse em não reconhecer a legitimidade do iniciado espirita que não pudesse apresentar-se em seus festins de comunhão espiritual com as alvas vestimentas de bodas antes que tivesse tido tempo de purificar-se, não faltaria quem, utilizando os seletos materiais que ele oferece, tomando-lhe o lugar e prescindindo de sua denominação, formasse um credo religioso que acolheria todos os deserdados. E, a estes acompanharia uma infinidade de bons trabalhadores que, ao serviço dos Diretores da evolução humana, se constituiriam pastores do novo rebanho.

O plano divino tem que se realizar; o rebanho humano, seja qual for a categoria dos que o compõem, tem que ser apascentado, porque o Mestre não quer que nenhuma de suas ovelhas se perca. A redenção do gênero humano se há de tornar efetiva. O Espiritismo reúne em si todas as condições para esta obra; mas, se não a realizasse, não faltaria quem o fizesse.






domingo, 21 de julho de 2019

Jantar em Betânia



Jantar em Betânia

26,6  Encontrava-se Jesus em Betânia, na casa de Simão, o leproso.
26,7  Estando à mesa, aproximou-se Dele uma mulher com um vaso de alabastro, cheio de perfume muito caro, e derramou-o na sua cabeça. 
26,8  Vendo isto, os discípulos disseram indignados: -Para que este  desperdício? 
26,9 Poder-se-ia vender este perfume por um bom preço e dar o dinheiro aos pobres. 26,10 Jesus ouviu-os e disse-lhes: “- Por que molestais esta mulher? É uma boa ação o que ela  Me fez, 
26,11 Pobres, vós tereis sempre convosco. A Mim, porém, nem sempre Me tereis. 
26,12 Derramando este perfume em Meu corpo, ela o fez em preparação para o Meu sepultamento.  
26,13 Eu lhes afirmo com toda certeza: Em toda parte onde for anunciada a Boa Nova, no mundo inteiro, também será contado, em sua memória, o que ela fez”   


            Para Mt (26,6-13) -Jantar  em Betânia
leiamos a Antônio Luiz Sayão em “Elucidações Evangélicas” (ed. FEB):

            “Quebrando o vaso de alabastro, cheio de precioso perfume, e derramando-o sobre a cabeça de Jesus, rendia Maria de Magdala uma homenagem ao Senhor. Ainda cegos pela matéria os discípulos só compreendiam os fatos materiais. O Mestre procurava sempre fazer que os compreendessem sob o aspecto espiritual. A escolha de um perfume para essa lição obedeceu à razão de que, pela natureza essencial dos perfumes, eles dão a ver que os sacrifícios que se hajam de praticar, tendo-se em vista o Espírito, não devem ser buscados unicamente nas coisas de ordem material, mas também nas de ordem espiritual.

            Fora um ato de amor e desinteresse, o daquela mulher, e, portanto, um sinal de ascendência do Espírito sobre a matéria.

            Pobres, te-los-eis sempre convosco, ao passo que nem sempre Me tereis a Mim, disse Jesus, aludindo, pelo que lhe tocava, ao seu aparecimento na Terra, aos tempos e à duração desse aparecimento, para o desempenho da sua missão terrena. Aludia também à duração da sua vida, humana ao ver dos homens.

            Falando dos pobres da Terra, referia-se, preferentemente aos que se encontram num estado de inferioridade qualquer, aos que, sobretudo, o são moral e intelectualmente. Nos planetas inferiores, como o nosso, sendo a pobreza, tanto material, como moral, uma efetivação de provas, sempre haverá pobres de uma e outra categoria; enquanto não se ache concluída a separação dos bons e dos maus. Cumpre, porém, notar que da elevação de um planeta não decorre o nivelamento das faculdades.

            Entre nós, sempre haverá pobres, ainda quando hajam do nosso mundo desaparecido a pobreza material e a pobreza moral.  Qualquer que seja o grau de depuração do planeta terreno, nele haverá sempre, entre os Espíritos depurados, que o habitarão, muitos menos adiantados do que outros. Esses são os intelectualmente pobres, aos quais os ricos em inteligência, em saber, darão com abundância o que possuem.”
                                          
                  


Inspirações - 3



Inspirações – 3
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Maio 1923

DA VARIEDADE À UNIDADE - UM SÓ REBANHO E UM SÓ PASTOR

"Um só rebanho e um só pastor!...”

Aspiração grandiosa esta infundida em seus discípulos pelo divino Mestre que a anunciou como uma formosa realidade para o fim dos tempos, em que na humanidade terrestre há de ficar dominada completamente a matéria pelo Espírito, a natureza inferior do homem pela sua natureza superior.

Longe vem a época, muito longe ainda, em que a humanidade terrestre constituirá um só rebanho e reconhecerá um só pastor; mas há de chegar o dia em que isso aconteça, sob pena de fazer bancarrota a lei do Progresso o que é inconcebível. Entre os espíritas não há quem possa negar, sem se contradizer, o princípio fundamental que o Espiritismo proclama, como base essencial de sua doutrina, o do progresso constante dos seres para a perfeição: é postulado incontroverso. Tudo procede de uma fonte única, de um mesmo princípio e, realizando-se, a mônada, individualizada, através de infinitas formas, tende sempre para a unidade de que recebeu o ser e a Ela chega, conduzida nas asas da evolução. A lei é só uma e, por conseguinte, tudo está sujeita ao mesmo processo para alcançar sua a finalidade: sair gérmen, do Princípio sem princípio, modelar uma individualidade, mediante o desenvolvimento de todas as suas possibilidades, passando por inúmeras fases e metamorfoses, para chegar, convertida em fruto, ao pináculo da perfeição, onde se efetiva a unidade de todas as almas que alcançaram esse plano inefável.

Aquele que isto compreende e sente, orienta todo seu labor e conduta para essa suprema modalidade. Nessa orientação se forjam os heróis da caridade e do amor espiritual, os bem-aventurados, os santos e os anjos. E, se as sociedades querem ascender a tais alturas, não têm outro remédio senão imitar os eminentes varões que, seguindo o caminho da virtude, galgaram as alturas da santidade. Estas alturas não se alcançam por leis ou decretos humanos, nem pelo azar das revoluções, ou das guerras; somente o caminho da virtude austera e consciente conduz até lá, assim os indivíduos, como as sociedades. A lei é uma e nela não cabem exceções.

As sociedades, as humanidades, chegam um dia ao apogeu de sua evolução, a inefáveis alturas de aperfeiçoamento, que excluem toda possibilidade de discórdia, de baixezas e de infidelidade. A tais cumes de perfeição, porém, só ascendem quando têm desprezado todos os caminhos, que não sejam os da virtude. Porque, como já disse, este é o único que pode conduzir ao cume dos aperfeiçoamentos efetivos, quer os indivíduos, quer às sociedades.

Aquele, que se não esforça por aperfeiçoar-se moralmente, longe está do caminho de sua felicidade verdadeira. Quando as sociedades ou os povos não adotam igualmente por norma de conduta esse alto idealismo, por mais importante que seja o seu desenvolvimento no plano material, longe estão ainda, muito longe de sua redenção. É que o progresso não se improvisa; realiza-se parcialmente, por etapas.

Do mesmo modo que as sociedades e os povos, em um período de sua evolução, realizam os progressos que a esse período correspondem, ficando os outros para sucessivos períodos, também os indivíduos se aperfeiçoam, modelando cada um sua respectiva individualidade. E, quanto maior for o empenho que ponham em aperfeiçoar-se e maior for o número dos que vivam com esta preocupação constante, mais perfeita será a sociedade a que pertençam, uma vez que o que se verifica com a parte se reflete no todo na devida proporção. Daí resulta sempre que o estado de virtude alcançado por uma coletividade solidária representa a soma exata das virtudes individuais alcançadas pelos seus membros.

Esta mesma lei se aplica a toda sorte de desenvolvimento nas instituições religiosas e nos ideais que devam influir no progresso humano, sobretudo nos períodos de gestação e crescimento.

Ora, sendo ela uma lei geral e insubstituível, o Espiritismo não podia estar isento da sua sanção.

A Estaca zero



A estaca zero
Irmão X por Chico Xavier
Reformador (FEB) Janeiro 1951

Denunciando aflitiva expectação, o crente recém-desencarnado dirigia-se ao anjo orientador de aduana celeste, explicando:

- Guardei a maior intimidade com as obras de Allan Kardec que, invariavelmente, mantive por mestre inatacável. Os livros da codificação vigiavam-me a cabeceira. Devorei lhes todas as considerações, apontamentos e ditados e jamais duvidei da sobrevivência...

O funcionário espiritual esclareceu, porém, imperturbável:

- Entretanto, o seu nome aqui não consta entre os credores de ascensão às esferas santificadas. Sou, portanto, constrangido a indicar-lhe o regresso à nossa antiga arena de purificação na Crosta da Terra.

- Oh! o corpo! o fardo intolerável, suspirou o candidato, evidentemente desiludido.

Cobrou, contudo, novo ânimo e continuou:

- Talvez não me tenha feito compreender. Fui espírita convicto. Desde muito cedo, abracei os princípios sacrossantos da Doutrina que é, hoje, a salvadora luz da Humanidade. Não somente Allan Kardec foi o meu instrutor na descoberta da Revelação. Acompanhei as experiências de Zöllner e Aksakof, nos setores da física transcendental, com estudos particularizados da fenomenologia mediúnica.  Meditei intensivamente para fixar os conhecimentos de que disponho. Flammarion, no original francês, era meu companheiro predileto de noites e noites consecutivas. Em companhia dele, o meu pensamento pervagava nas constelações distantes, prelibando a glória que eu julgava alcançar, além do túmulo. Léon Denis era o mentor de minhas divagações filosóficas. Deleitava-me com os livros dele, absorvendo-lhes as elucidações vivas e sempre novas. E Delanne? nele, sem dúvida, situei o manancial de minhas perquirições científicas. Estimava confrontar-lhe as observações com os estudos de Claude Bernard, o fisiologista eminente, adquirindo, assim, base legítima para as análises minuciosas. Para não citar apenas os grandes vultos latinos, adianto-lhe que as experiências de Crookes foram carinhosamente acompanhadas por mim através do noticiário. As comoventes páginas de “Raymond”, com que Oliver Lodge surpreendeu o mundo, arrancaram-me lágrimas inesquecíveis. E, a fim de alicerçar pontos de vista, no sólido terreno do espírito, não me contentei com os ocidentais. Consagrei-me às lições dos orientalistas, demorando-me particularmente no exame dos ensinos de Rama-krishna, o moderno iluminado que plasmou discípulos da altura de um Vivekananda. No Brasil, tive a honra de assistir a sessões presididas por Bezerra de Menezes, em minha mocidade investigadora.,seguindo, atenciosamente, a formação e a prosperidade de muitos centros doutrinários...

Ante o silêncio do servidor celeste, o precioso estudante fez pequeno intervalo e observou:

- Com bagagem tão grande, acredito que a minha posição de espiritualista deva ser reconhecida.

- Sim - registou o anjo solícito - o seu cuidado na aquisição de conhecimento é manifesto. Traz consigo um cérebro vigoroso e bem suprido. Primorosa leitura e teorias excelentes.

- E não me supõe capacitado à travessia da barreira?  

- Infelizmente, não. As suas vibrações se inclinam para baixo e você não se mostra preparado a viver em atmosfera mais sutil que a da carne terrestre.

Longe de penetrar o verdadeiro sentido das palavras ouvidas, o crente aduziu:

- E a Bíblia? a intimidade com o Livro Divino, porventura, não me conferirá direito à elevação? De Moisés ao Apocalipse, efetuei reflexões incessantes. Prestei ardoroso culto a David e Salomão, entre os mais velhos, e não se passou um dia de minha existência em que não meditasse na grandeza de Jesus e na sublimidade dos seus ensinamentos. Em meu velho gabinete existem páginas variadas, escritas por mim mesmo, em torno do Evangelho de João, que interpreto como sendo a zona divina do Novo Testamento...

Parando alguns instantes, o recém desencarnado voltou a inquirir:

- Não julga que a minha fidelidade às letras Sagradas seja passaporte justo à subida?

- Indubitavelmente - respondeu o anjo -, a sua conceituação está repleta de imagens iluminativas. Ainda assim, não posso atentar contra a realidade que me compele a indicar-lhe o retorno para atender aos serviços que lhe cabe realizar.       

- Céu! - clamou o interlocutor, desapontado - que fazer então?

- Nesta passagem - explicou-se o cooperador angélico -, temos verdadeiro concurso de títulos e esses títulos se expressam aqui pelas obras de cada um. Sem experiência vivida e sem serviço feito, o espírito não vibra as condições precisas à viagem para o Mais Alto. O seu retrato mental deixa perceber uma individualidade pujante e valiosa, idêntica, no fundo, a um navio, vasto e bem acabado, cheio de riquezas, utilidades e adornos, que nunca se tenha ausentado do porto para a navegação. Em tais condições...
           
- Entretanto, eu não fiz mal a ninguém.

- Vê-se claramente que o seu espírito é nobre e bem intencionado.

- Então - indagou o crente, semi exasperado -, qual a minha posição de homem convicto? que sou? como estou, depois de haver estudado exaustivamente e crido com tanto fervor e tanta sinceridade?

O anjo, triste talvez pela necessidade de ser franco, elucidou, sem hesitar:

- A sua posição é invejável, comparada ao drama inquietante de muita gente. Demonstra uma consciência quitada com a Lei. Não tem compromissos com o mal e revela-se perfeitamente habilitado à excursão nos domínios do bem.

Em se tratando, contudo, de ascensão para o Céu, observo-lhe o coração na estaca zero. Ninguém se eleva sem escada e sem força. O meu amigo sabe muito. Agora, é preciso fazer.

E ante o sorriso reticencioso do funcionário celestial, o interlocutor nada mais aduziu, entrando, ali mesmo, em profundo silêncio.


Desperta para a vida nova!


sempre estaremos no limiar de uma nova maneira de encarar a vida...


Desperta para a Vida Nova!
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1951

Achamo-nos no limiar de um novo ano. Precisamos, pois, descansar a bagagem que trazemos em nossa consciência e meditar sobre o que fizemos até agora e o que ainda poderemos fazer. A vida do homem comum é entretecida de mortes e ressurreições diárias. A todo instante morremos pelos pensamentos pecaminosos, pelas palavras desfraternas e pelos atos inamistosos que praticamos, mas, sempre que buscamos resgatar nossas culpas pela exemplificação de ações meritórias, operamos a nossa própria ressurreição ao olhos do Mestre.

Ano novo, vida nova - diz o adágio. Aparentemente, essas palavras pouco significam. Todavia, penetremos o profundo sentido que elas têm. Vida nova pode significar a retificação do nosso itinerário moral, pode valer por uma oportunidade de reabilitação, se não insistirmos em seguir atalhos perigosos, por onde o nosso Espírito, confundido e desorientado, vá perder-se em pântanos dissimulados pela ramaria verde da superfície. Para realizar vida nova, tem o homem que despojar-se da personalidade moral que marca a sua estagnação fora do Evangelho. Deverá
submeter a sua consciência ao banho lustral do arrependimento construtivo, do arrependimento que possa fixar o início da sua redenção espiritual.

Aquele que procede em desacordo com os preceitos do Bem, que se afasta imprudentemente do roteiro evangélico, não caminha: estaciona. Perde a visibilidade das coisas morais e acabará envolto no espesso nevoeiro da incompreensão e do desespero, se não realizar sincero esforço para evadir-se de tão periclitante posição espiritual. Será o caso, então, de se lhe recomendar o versículo de João (12:35): Andai enquanto tendes a luz, para que as trevas não vos apanhem. Sim, porque, depois, como poderá orientar-se, como poderá recuperar o bom caminho, se a escuridão lhe veda a possibilidade de localizar-se? Através do pensamento, porém, poderá o homem perdido nas trevas reconquistar a direção de si mesmo, entregando-se com fé à discrição das forças do Alto, porque Deus é a bússola e o Evangelho, o itinerário da salvação.

*

Que fizemos de útil no ano que passou? Que semeamos para a boa colheita futura? Quantas vezes sobrecarregamos o nosso débito pela inobservância do mais comezinho espírito de fraternidade? Quantas pedras pusemos na estrada dos nossos semelhantes? Quantas vezes permitimos que o egoísmo e o orgulho nos dominassem o coração? Quantas vezes a vaidade fez que nos derramássemos em louvores próprios? Quantas vezes morremos espiritualmente e quantas pudemos renascer em Jesus, evitando reincidir em erros e aproveitando as lições das quedas anteriores?
             
Vida Nova... Bem necessitamos de corrigir a nossa rota. Se todo aquele que sopesar suas ações quotidianas compreender e decidir em definitivo levar vida nova, ameigando o caráter na exemplificação dos princípios do Evangelho do Cristo, estará ao mesmo tempo servindo à obra do Mestre e a si próprio. Todavia, ninguém estará com o Cristo, se não estiver com os seus irmãos de provações terrenas, nas horas de amargas aflições. No serviço cristão, só é certa a conduta inspirada pelo desejo de servir com abnegação, amor, tolerância e desprendimento. “E se ninguém vos receber nem escutar as vossas palavras, saindo daquela casa ou cidade, sacudi o pó de vossos pés" (Mateus, 10:14). Que esse pó signifique uma exortação ao bem, um incentivo, uma lembrança, a fim de que o indiferente de agora, quando chegar a hora do esclarecimento, tenha no episódio um pretexto para começar a própria iluminação.

*

Todos quantos necessitam de iniciar vida nova não podem perder mais tempo. A lição soberba de Emmanuel, nessa maravilhosa joia da literatura espírita, que é “Pão Nosso”, deve ser repetida: "Má vontade gera sombra. A sombra favorece a estagnação. A estagnação conserva o mal. O mal entroniza a ociosidade. A ociosidade cria a discórdia. A discórdia desperta o orgulho. O orgulho acorda a vaidade. A vaidade atiça a paixão inferior. A paixão inferior provoca a indisciplina. A indisciplina mantém a dureza de coração. A dureza de coração impõe a cegueira espiritual. A cegueira espiritual conduz ao abismo. Entregue às obras infrutuosas da incompreensão, pela simples má vontade pode o homem rolar indefinidamente ao precipício das trevas."

Precisamos morrer menos a cada instante, para alcançarmos a glorificação da aleluia espiritual. Se ultrajamos Jesus com fementida solidariedade e continuamos a negá-lo através de pensamentos e atos inferiores, semelhamo-nos a corpos sem vida, a simples féretros de carne, sombrios condutores de cadáveres morais. Todavia, irmão, se apenas te falta ânimo para acompanhar pegadas do Cristo, sacode o torpor que te adormece o Espírito e vem iniciar também uma vida nova.

Desperta, ó tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e o Cristo te esclarecerá!” (Paulo - Efésios. 5:14).


Oração dos Aprendizes


0ração dos aprendizes
Espírito Aniceto por Chico Xavier  
Reformador (FEB) Janeiro 1951

“A sua garganta é um sepulcro aberto.” Paulo aos Romanos 3:13

Senhor, ilumina-nos a visão de trabalhadores imperfeitos.

Justo Juiz, ampara os criminosos e transviados.

Construtor Celeste, restaura as obras respeitáveis ameaçadas pela destruição.

Divino Médico, sara os doentes.

Amigo dos Bons, regenera os maus.

Mensageiro da Luz, expulsa as trevas que ainda nos rodeiam.

Emissário da Sabedoria, esclarece-nos a ignorância.

Dispensador do Bem, compadece-te de nossos males.

Advogado dos Aflitos, reajusta os infelizes que provocam o sofrimento.

Sumo Libertador, emancipa-nos a mente, encarcerada em nossas próprias criações menos dignas.

Benfeitor do Alto, estende compassivas mãos a todos aqueles que te desconhecem os princípios de amor e trabalho, humildade e perdão, nas coisas inferiores da Vida.

Senhor, eis aqui os teus servos incapazes. Cumpra-se em nós a tua vontade sábia e justa, porque a nossa pequenez é tudo o que possuímos, para que, em teu Nome, possamos operar a nossa própria redenção, hoje, aqui e agora. Assim seja.