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quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

A Ciência à procura do Espírito - parte 2 e final


A Ciência à Procura do Espírito – Parte 2 e final
Hermínio C Miranda
Reformador (FEB) Fevereiro 1959
                      
            O leitor talvez tenha lido, em “Reformador” de Janeiro, alguns comentários despretensiosos sobre a livro “The Reach of the Mind” do mestre americano da Parapsicologia, Dr. J. B. Rhine.

            Logo em seguida ao preparo daquele artigo, proporcionou-me distinto amigo a oportunidade de ler também - desta vez em tradução francesa - um livro mais reoente do Dr. Rhine: “New World of tbe Mind” que, em francês, tomou o título de “Le Nouveau Monde de Esprits”. Ora, entre o primeiro livro citado e este último, vai um espaço de cinco anos, pois que “The Reach of the Mind” é de 1948 e “New World of the Mind”, de 1953. São cinco anos preciosos, em que o Autor estudou, 
pesquisou e teve oportunidade de descobrir novos roteiros filosóficos.

            Claro que não se pode ainda dizer que o Dr. Rhine se bandeou para o campo espiritualista; mas, comparando a substância filosófica dos dois livros, a gente quase que pode sentir a luta do cientista cético, sendo arrastado pela evidência esmagadora, irresistível, dos fatos que ele próprio vai analisando. E por isso, aqui e ali, 
o livro do Dr. Rhine parece algo contraditório, como se o Autor hesitasse 
na escolha de suas conclusões.

            Não sei que tem feito o Dr. Rhine nestes outros cinco anos, de 1953 a 58. Certamente que continua pesquisando, com o critério habitual, e nem sei mesmo onde andarão suas dúvidas, no momento. Rogo ao leitor paciente um pouco de sua atenção para percorrermos. na companhia do Dr. Rhine, o campo de pesquisa, tal como se desdobrava aos seus olhos há cinco anos.

*

            Logo no pórtico de seu livro, o Dr. Rhine fixa o objetivo da obra, que é o de reunir os fragmentos existentes sobre o assunto da Parapsicologia, indicar seu lugar no quadro do conhecimento e avaliar sua importância para a vida humana. O Dr. Rhine reconhece que esses fragmentos começam a mostrar - mesmo ao frio pesquisador - indícios de um desenho regular. Ele está sentindo as primeiras alegrias do homem que começa a acertar com o caminho. porque vislumbrou uma luzinha bruxuleante, lá na frente. A nota dominante de seu livro é o combate ao materialismo cego, que ele encontrou especialmente entre seus colegas cientistas e, no meio destes, de modo muito particular, entre os psicólogos.

            Nada de otimismos exagerados, porém, leitor espírita. O Dr. Rhine ainda não está preparado para dizer ao mundo aquilo que nós sabemos: que o Espírito é uma realidade, que sobrevive à desintegração do corpo físico. Suas perplexidades ainda são muitas, tal como suas dúvidas e reservas. Mesmo depois de muito observar e catalogar fenômenos, documentá-los, analisá-los, ele ainda hesita em tirar dos fatos as conclusões óbvias que eles indicam. Suas observações 
vêm cheias de ressalvas, temores e reticências. 
Mas, não nos antecipemos.

*

            No primeiro capítulo, o Dr. Rhine informa que não se trata de um mundo inteiramente novo para a Ciência. Em todos os tempos tem havido manifestações espontâneas, que a História conservou em seus registros. A seu ver, o mérito das experiências espontâneas está justamente no fato de haverem provocado o interesse da Ciência pelo assunto. Daí o nascimento da Parapsicologia. Cita casos, colhidos por ele mesmo. É uma pequena amostra desses muitos milhares de casos que todos nós conhecemos, que estão acontecendo diariamente, conosco, com pessoas conhecidas, parentes, amigos: premonições, visões, manifestações, enfim, de toda ordem. Tais fenômenos. a que ele também chama psíquicos, não somente são inexplicáveis, a seu ver, como ainda “são absolutamente impossíveis, se as concepções do mundo e do homem, ensinadas pelos manuais existentes, estão corretas”. Donde se 
conclui que os manuais precisam ser retificados, acrescentamos nós.

            O Dr. Rhine começa então a discutir o estranho paradoxo de que até mesmo na Psicologia, ciência da natureza humana, predominam as cegas concepções materialistas. Fechadas assim, na estreiteza de seus limites, as escolas psicológicas tornaram-se exemplos vivos da mais legitima antítese do espírito científico, chegando ao cúmulo de decidir que tudo quanto não admita explicação física sofre 
suspeição de supra-naturalismo. 
Isto, numa ciência que cuida da alma, é imperdoável.

            Ora, os exemplos citados e alguns que o Autor cita mais adiante, são absolutamente inexplicáveis, dentro dos processos materiais. A alternativa é lógica e o Prof. Rhine a apresenta com suas habituais reservas, nestes termos: “Esses casos e uma multidão de outros semelhantes levam inegavelmente a pensar (não digo que eles demonstrem) que certas pessoas são às vezes tomadas de uma consciência perceptiva que lhes traz uma revelação, etc...” Notem as reservas, mas também a atitude de quem não pode e não quer deixar de admitir a verdade dos fatos.

            Falando depois sobre telepatia, ele vai um pouco mais longe, ao afirmar que “casos do que parece ser um contato entre espíritos, além da barreira do espaço, mais ainda que a própria clarividência, levam a pensar que existe, no espírito, algo que escapa às sujeições da matéria, impressionando as funções sensoriais. Permitem 
crer numa certa separação, pelo menos funcional, do espírito e do corpo”.

       Convenhamos que já é uma grande concessão para um cientista que admite, claramente, seu próprio ceticismo.

       Mas, o Dr. Rhine lamenta que existam ainda tantas barreiras ao progresso 
mais rápido da Parapsicologia. A seu ver, seria preciso, inicialmente, 
que se separassem nitidamente as duas noções: a de espírito e a de pessoa. 
Só assim poderiam ser ultrapassadas os limites atuais das pesquisas 
parapsicológicas... Suas dúvidas, no entanto, levam-no 
a inexplicáveis contradições, pois que, após fazer tantas afirmativas seguras, 
sai com um disparate, dizendo que as pesquisas estão 
mais ou menos paralisadas, no momento, porque 
ninguém sabe se existe mesmo o espírito, 
no sentido segundo o qual o entendemos”.

*

       Logo em seguida, retomando o fio da discussão, informa que a confirmação “aparente” (note-se a ressalva) da sobrevivência se encontra 
em toda uma série de casos inexplicáveis. 
E cita alguns casos de efeitos físicos, como de louça partida, 
quadros desprendidos da parede, pêndulos paralisados, etc. 
exatamente no instante em que ocorrem mortes, acidentes, ou outras emoções profundas com pessoas amigas, a distância. 
Ainda sobre esses casos, o Dr. Rhine reclama 
a necessidade de um estudo mais metódico do fenômeno, 
pois que não é possível qualquer progresso, 
quando os cientistas fecham os olhos a todos os fatos estranhos
produzidos pela Natureza e se recusam a estudar o que não podem explicar satisfatoriamente. Muitos chegam mesmo a declarar que tais fatos são impossíveis.

       O que é, de fato, impossível é analisar uma obra tão rica em sugestões, 
como a do Dr. Rhine, num comentário que, afinal de contas, 
precisa estar contido dentro de certos limites. Vamos prosseguir.

       Nas páginas seguintes, o Dr. Rhine se propõe a dizer alguma coisa sobre as conclusões a que chegou, depois de analisar o resultado dos inúmeros  
testes realizados com seres humanos normais 
(o grifo é meu e sobre o assunto ainda se dirá algo mais adiante). 
Confessa o Dr. Rhine que examinou todas as hipóteses que poderiam explicar os fenômenos ou que tenham sido até aqui invocadas para explicá-Ios. 
As hipóteses que acolhi - diz ele - não haviam sido consideradas
 como razoáveis até aqui, a não ser nos domínios da Religião.
 Mas elas foram verificadas pelos métodos mais rigorosos
 da investigação experimental.”

       O capítulo seguinte nos conta as dificuldades 
que a Parapsicologia está encontrando, 
da maneira mais paradoxal do mundo, entre os psicólogos. 
Nós outros, que conhecemos 
a cega e fatal resistência que as religiões dominantes 
oferecem ao progresso do Espiritismo, simpatizamos com o Dr. Rhine. 
O normal seria que justamente entre os psicólogos fosse a Parapsicologia
 encontrar seus mais firmes defensores e os maiores interessados em seu progresso, Engano, leitor amigo: o que existe é uma tremenda reação, 
que muito surpreende o Dr. Rhine mas não aos veteranos batalhadores da causa
 espírita. Já sabemos - após um século de lutas - 
quanto têm custado as nossas vitórias. 
A Parapsicologia também terá que lutar pelas suas. 
E o combate mais renhido e mais desleal a espera justamente no campo
daqueles que mais aptos estão para estender-lhe a mão.

       Numa enquete feita nos Estados Unidos, de cada três psicólogos um declarou que estava convencido de que não se produzia nenhum fenômeno extra-sensorial, 
mesmo sem se darem ao trabalho de examinar sequer os resultados 
e os relatórios organizados sobre as exaustivas pesquisas feitas. 
É inacreditável semelhante atitude da parte de homens que se dizem cientistas. 
Há mais, porém. Um deles, examinando os trabalhos do Dr. Rhine,
escreveu extenso arrazoado, concluindo que seus 
critérios externos de Física e de Psicologia dizem que ela 
(a percepção extra-sensorial) não existe, a despeito dos fatos relatados. (!)
 É até ridículo que um psicólogo, isto é, 
um cidadão que tem por obrigação conhecer um pouco da mente humana, 
nos venha afirmar, como qualquer materialista ignorante, 
que não acredita na percepção extra-sensorial porque
 os fenômenos respectivos não podem ser materialmente explicáveis. 
Afinal de contas, esses homens cuidam da Psicologia, 
que, por definição, é a ciência da alma, 
do comportamento humano e não da Biologia ou da Fisiologia.

       O fato certamente chocou o Dr. Rhine, que se mostra algo irritado com seus colegas, chegando a dizer, de maneira bastante justa e pitoresca, que esses homens “estão serrando o galho sobre o qual se acham sentados”.

       Particularmente, acho que as religiões dominantes estão sentadas nesse 
mesmo galho. Sobre esse tema solicito ao leitor paciente que aguarde outra oportunidade para conversarmos melhor.

*

       O Dr. Rhine faz extensos comentários sobre a atitude surpreendente dos psicólogos, dizendo que o preconceito materialista é universal. Alguns cientistas ainda se deixam convencer, quando colocados diante dos fatos; outros se recusam terminantemente a admitir os próprios fatos. Sem dúvida que, 
esperar que fatos psíquicos se encaixem, 
como peças de “puzzle” no quadro da ciência materialista, 
é o cúmulo da tolice, por mais erudita que seja essa tolice. 


       Em todo caso, o Dr. Rhine se consola ao afirmar que, em 1938,  8.8% dos cientistas consideravam a hipótese da percepção extra-sensorial como fato estabelecido,
 enquanto que, em 1952, a percentagem havia subido para 16.6%.  Ainda bem. 
A verdade vai-se impondo, lenta mas seguramente.

       O Autor continua doutrinando, aparentemente para seus colegas recalcitrantes, 
e acrescenta que a “percepção” extra-sensorial é hoje um fato experimental.
 O postulado metapsíquico, que pretende que todo testemunho da lei natural seja material, é falso. As hipóteses devem ceder diante dos fatos que as contradizem, 
senão a Ciência deixará de concordar com as realidades da Natureza ...” 
E adiante: “os psicólogos se aperceberão de que dizer que toda a Natureza deve ser material não era senão uma hipótese de trabalho da qual se tem abusado demais”.

       Em seguida ele relaciona os homens eminentes da Ciência que, 
nos tempos correntes. se têm dedicado seriamente ao estudo
 da Parapsicologia e concluído pela sua legitimidade.

       O capítulo conclui afirmando que já se dispõe de uma base sólida de fatos experimentais que confirmam pelo menos algumas das hipóteses sugeridas pelas experiências psíquicas espontâneas.

*

       O capítulo seguinte estuda as fronteiras atuais das pesquisas. Seu objetivo inicial é 
o de estabelecer distinção nítida entre telepatia e clarividência, de um lado, 
e o a que ele chama “precognição” e “psicocinesia”, de outro. 
Creio que são detalhes técnicos que interessam mais ao leitor especializado que nós, simples homens da rua em busca de esclarecimentos gerais.

       Não obstante esse capítulo contém alguns comentários preciosos sobre psiquismo e patologia, que convém ser referidos nestas notas. Ao contrário do que certos pseudo-cientistas apregoam - especialmente aqui no Brasil -, e certamente ao contrário do que muitos dos respeitáveis senhores da Igreja gostariam que fosse, as 
faculdades parapsíquicas não são sintomas de doenças nervosas é não se 
enquadram nos domínios da Psiquiatria e da Psicologia  patológica. 
Raras vezes o Dr. Rhine é tão enfático, tão positivo no que afirma, 
como neste ponto. “É  indiscutível, diz ele, que, no estágio atual das pesquisas,
 não encontramos nada que permita ligar as funções parapsíquicas
à psicopatia ou a quaisquer “anomalias”. (Pág. 114.)

       Martelando várias vezes a mesma tecla, ele insiste em outras palavras: “não existe incontestavelmente, razão alguma para duvidar delas (experiências psíquicas espontâneas) nem de as considerar como mórbidas”. (Pág. 116.)

       Mais abaixo, na mesma página, afirma novamente o mesmo pensamento, 
ao dizer que algumas pesquisas foram feitas em hospitais de alienados, nos 
Estados Unidos e na Europa. Sua conclusão: “O menos que se pode dizer é que não há nenhuma razão especial em procurar, entre os doentes mentais, aptidões 
parapsíquicas excepcionais.” Pelo contrário, como adverte mais além, quanto 
mais bem adaptado o indivíduo, maiores são suas chances de êxito” (pág. 117). 
E ainda (pág. 118): “Assim, então, o parapsiquismo é normal. 


       Julgo oportuno insistir nesse pormenor. Creio que já é tempo de aconselhar 
nossos inimigos a abandonarem o tolo argumento de que Espiritismo é sinônimo de loucura. Se a afirmativa já era inútil, tornou-se inconveniente, 
nestes últimos tempos. É bom recolher o argumento ao museu de inutilidades 
e colocá-lo perto daquele outro que afirmava ser de origem demoníaca
o fenômeno espírita.

*

            No capítulo seguinte, na segunda parte do livro, o Dr. Rhíne se propõe a analisar a realidade imaterial da Natureza. Mais uma vez volta ao tema da reação 
dos psicólogos aos fatos da Parapsicología. “O que é surpreendente, diz o Dr. Rhíne, 
é que não são os físicos mas os psicólogos, que têm protestado mais vivamente 
contra a conclusão de que o parapsiquismo transcende a explicação física.” (Pág. 165.)

       O certo é que os fatos são incontestáveis. “No momento, devemos concluir que 
há, nos resultados dos testes parapsíquicos, alguma coisa que exige um tipo ou 
uma ordem de realidade extra-física. Que o futuro da Física e o futuro da 
Parapsicologia se arranjem.” (Pág. 166.)

       Passa, então, o Dr. Rhine a discorrer sobre o lugar do parapsiquismo na ciência da vida. Sente-se, logo de início, sua dificuldade em explicar o fenômeno biológico 
da formação do corpo físico, que para nós, espíritas, está luminosamente claro 
desde que se revelou a existência do perispírito. Pergunta o Dr. Rhine: “Que forças, 
por exemplo, organizam as substâncias que constituem os organismos vivos e 
criam as formas que eles apresentam? Como podem tomar as características 
das espécies e como são elas conservadas e transmitidas em potencial, através 
de todos os estágios da reprodução? Para muitas outras questões deste gênero, 
ainda não encontramos resposta.” (Pág. 174.)

       Confessa também seu embaraço para explicar, entre outras coisas, 
a diferença final entre uma célula viva e outra morta. 
Conclui que muito poderá esperar
 a Biologia dos resultados que a Parapsicologia está colhendo. 
Ele próprio acha que os mestres da Biologia têm demonstrado 
menor dose de hostilidade em relação à Parapsicologia, 
que os psicólogos, o que é encorajador.

*
       No capitulo sexto, o Autor estuda parapsiquismo, psiquê e psicologia. Ainda uma vez insiste em falar sobre os psicólogos, que transformaram uma ciência da alma, como a Psicologia, em uma ciência sem alma, de vez que passaram a se interessar mais pelo comportamento da pessoa humana que pela estrutura imaterial dessa mesma pessoa. Mais além, protesta contra o postulado materialista de que toda a vida mental 
está contida implicitamente nos princípios físico-químicos da Neurologia. 
Nesse caso,  bastaria conhecer bem o cérebro humano 
para decifrar todo o mistério da vida mental. 
E os fenômenos comprovados que desafiam explicações físicas? 
Que fazer com eles? Ignorá-los, à maneira da avestruz, 
não é solução, nem mesmo seria atitude científica.

       A página 213, numa espécie de profissão de fé, o Dr. Rhine confessa que não é 
espírita nem espiritualista, em nenhum sentido rias palavras, “mas que, sem dúvida, “existe uma realidade que domina o Universo em toda a sua importância e 
não há outro recurso senão chamar a essa realidade espírito humano”.

*
       Na terceira parte do livro, o Dr. Rhine analisa a importância do parapsiquismo 
para a vida humana. Em seguida, no sétimo capítulo, 
trata de sua importância para o mundo da religião.

Recorda que, em seu livro “The Reach of the Mind”, sugeriu que a Parapsicologia está para a Religião como a Biologia para a Medicina ou a Física para a Engenharia. 
Não tem ilusões, porém: sabe que “será vão esperar que as organizações religiosas estabelecidas realizem tais pesquisas. Os principais objetivos das organizações
humanas de toda natureza são os de se conservarem e se perpetuarem. 
Seria vão perder tempo em imaginar que elas pudessem ser realizadas dentro de uma religião, sob a direção de sua hierarquia estabelecidas. Quanto a mim 
vou mais longe, em face do que temos presenciado: as religiões não 
somente evitarão a todo custo dar um passo para esclarecer o assunto, como, ainda, farão o possível para retardar a marcha das pesquisas 
que trazem a verdade em sua esteira.

E ainda acrescenta, o professor Rhine esta advertência de profunda significação e oportunidade: E, contudo, eu acho que a Religião tem hoje necessidade - e 
uma necessidade urgente - de toda a ajuda que lhe possam fornecer os melhores métodos de descoberta da verdade, nos domínios aparentados das pesquisas 
com ela relacionadas. Um desses, e o mais lógico, é o da Parapsicologia, 
sua parente natural.” (Pág. 227.)

       Segundo o Autor - em sua insuspeitíssima opinião - uma crise desse gênero 
está causando sérios danos à Religião. A verdade, continua, é que as religiões 
não estão mais à altura das contingências do mundo atual; encontram-se num 
estado de impotência para realizar seu grande objetivo social: paz e fraternidade.
 O próprio Comunismo, segundo o Autor, é uma conseqüência da, ou por outra, 
tornou-se possível somente à vista do fracasso das religiões, 
pois que um povo religioso não se deixaria levar pela ilusão comunista.


Por outro lado, “há uma grande coisa que a Ciência pode fazer pela Religião: 
é descobrir, por métodos científicos. um elemento extra-físico no ser humano” 
(pág. 231). Não resta dúvida de que, pelo menos no mundo ocidental, 
a maior inimiga da Religião é a filosofia materialista. Pois bem. “
É impossível - diz o Dr. Rhine – deixar de concluir que, no ser humano, ocorrem fenômenos que transcendem as leis da Matéria, o que implica, por definição, uma lei imaterial ou espiritual.” (Pág, 231.)

       Muitas questões embaraçosas para as religiões são discutidas neste capitulo, 
mas seria impraticável comentá-lo mais extensamente. 
Não se pode, no entanto, deixar de referir algumas, como, 
por exemplo, a que afirma a necessidade de evolução das ideias religiosas; 
se a Humanidade teve que abandonar o cabriolet a cavalo 
e a vela de sebo, porque não abandonaria 
conceitos filosóficos e religiosos inteiramente obsoletos.
Outro: “sobre que bases sólidas de conhecimentos uma religião funda um dogma? 

“Salta aos olhos que grande parte das ideologias, nas quais a Humanidade tem depositado sua confiança, não têm mais valor.”

       É agora que podemos acrescentar que não somente os psicólogos, mas também os representantes das religiões estão serrando o galho em que se acham sentados.

*

       No capitulo seguinte – “Relações com a saúde do espírito - o Dr. Rhine volta a 
insistir de ponto de vista de que as faculdades parapsíquicas nada têm a ver com a histeria e com as moléstias mentais. No século passado - o que de certa forma ainda persiste neste - acreditava-se que havia qualquer coisa de anormal nas referidas faculdades. É impressionante a insistência do Dr. Rhine neste ponto. 
Ninguém revelou qualquer relação de causa e efeito entre
 a patologia e a percepção extra-sensorial”. (Pág. 250.) Ou ainda: 
“se houvesse (alguma relação), os parapsicólogos concentrariam
 suas pesquisas nos hospitais de doenças mentais, 
onde encontrariam terreno mais vantajoso para suas investigações.” (Pág. 251.)

       Nas páginas finais o Dr. Rhine lança uma respeitável parcela de crédito à conta do Espiritismo, quando afirma: “Seja o que se possa pensar hoje, o movimento 
espírita contribuiu poderosamente para a organização do estudo dos fenômenos 
psíquicos e para a fundação de sociedades que se têm ocupado disso, 
desde o último quartel do século XIX.”

       É de se lamentar o precário conhecimento que o Autor tem da Doutrina Espírita. Algumas de suas observações são até mesmo incongruentes de modo especial 
quando discorre a respeito do problema da sobrevivência. Acha ele que o
 interesse do público e o dos próprios cientistas se tem concentrado mais na 
faculdades parapsíquicas que na mediunidade. Poderíamos recomendar 
ao Dr. Rhine os magníficos trabalhos de Aksakof e Bozzano, sobre Animismo e 
Espiritismo, pois que está evidenciado que o Autor não conseguiu ainda estabelecer distinção entre esses dois fenômenos, misturando-os lamentavelmente. Daí tirar 
esta conclusão que a verdade dos fatos de forma alguma poderia sustentar:
 “No conjunto, a hipótese da sobrevivência se encontra na situação mais 
desfavorável de sua história. 0s antigos estudos da mediunidade não são 
concludentes e não têm nenhuma “chance” de serem repetidos.”  Onde foi o 
Dr. Rhine buscar os fatos para essa afirmativa tão extravagante, 
sem substância e anti-científica? Continua dizendo que, a seu ver, 
questão da sobrevivência não constituirá o objeto principal das 
pesquisas futuras, que se concentrarão em assuntos mais promissores.

       No entanto, reconhece que o problema não pode ser enterrado sumariamente . Ele próprio tem catalogados mais de 3 mil casos que, segundo suas próprias palavras: “... sugerem fortemente a ação de qualquer fator espiritual... ((Pág. 306.) “Muitos não parecem explicáveis, tal como estão relatados, senão por um agente 
desencarnado, admitindo-se que tais fatos tenham sído bem relatados. (Pág. 306.) 
Em um dos casos, confessa o Dr.Rhine, “a intenção manifesta, atrás do efeito 
provocado, é tão própria de uma pessoa defunta, que não saberíamos 
razoavelmente atribuir-lhe outra origem.” Há ainda; prossegue o Autor, 
casos em que o médium é uma criança ou um estranho, ignorantes de toda a
 filosofia espiritualista e desprovidos de toda motivação ostensivas”.

Ou então: “casos desta natureza (ele acabou de citar alguns) fazem pensar 
num agente pessoal dum gênero que não pertence verossimilhantemente a
 nenhum indivíduo vivo. Eles levam a perguntar se um comportamento 
post-mortem ou espiritual é mesmo possível.” (Página 310.)

            Logo a seguir (pág. 312) informa que, a seu ver, a descoberta de “alguma coisa” cujas propriedades sejam inteiramente diferentes do corpo é fundamental à 
hipótese da sobrevivência. Mal sabe o Dr. Rhine que essa “alguma coisa” existe comprovadamente, para quem quiser ver". Falta-lhe conhecer ou admitir, à vista 

dos fatos observados, a existência do corpo perispiritual, que certamente lhe forneceria o elo faltante em suas pesquisas sobre o assunto.

*

 A nota final do livro contém certa tintura de humildade, que ficou bem. Diz o Autor que ainda é muito pouco o que se fez no domínio da pesquisa parapsíquica. 
Há, porém, um vasto mundo a ser explorado e os novos mundos “suplantam sempre os sonhos mais magníficos do aventureiro que os descobriu.  É nesta consciência de superioridade da verdade, sobre as mais queridas esperanças, que a Parapsicologia encontra encorajamento e confiança.” (Pág. 318).

E assim, amigos, procuramos, dentro da humilde condição de nossos 
conhecimentos, dar uma ideia do estado das pesquisas no domínio do espírito humano. Vemos que os cientistas ainda estão tateando 
nas profundezas desses domínios. Quem conhece porém, 
a revelação dos Espíritos, sabe, com segurança, 
quais serão as conclusões finais da Ciência, 
porque o homem precisa ficar com o ônus de seus erros 
e com o mérito de suas vitórias; ele tem o direito de errar porque isso é de sua própria condição humana, mas não dispõe de poderes para 
retardar indefinidamente a marcha da verdade.

Graças a Deus, acrescentamos tranquilos e confiantes. 
            

A Ciência à procura do Espírito - Parte 1


A Ciência à procura do Espírito - Parte 1
Hermínio C Miranda
Reformador (FEB) Janeiro 1959

            Comparando-se o adiantamento da literatura espírita em todo o mundo, com o reconhecimento “oficial” da fenomenologia, somos levados a uma certa impaciência muito humana, diante da lentidão com que, às vezes, caminha a Ciência, atrás dos grandes rasgos de intuição espiritual.

            É bem verdade que poderemos citar uma dúzia de cientistas de alto quilate moral e intelectual, que concluíram, inapelavelmente, pela legitimidade indiscutível dos postulados espíritas. Tais exemplos, no entanto, representam mais o pensamento isolado de alguns homens de maior acuidade mental e coragem moral, que o pronunciamento da Ciência.

            Não obstante, é preciso ressalvar: aquilo que nos parece tão lento, condicionados que estamos à cadeia dimensional de espaço-tempo, não seja mais que uma faceta da suprema sabedoria de Deus, permitindo que as ideias se amadureçam, enquanto se avolumam as provas, até atingirem um ponto em que a ciência oficial não possa mais ridicularizar ou despachar, com meia dúzia de argumentos tolos, a evidência esmagadora daquelas ideias.

            É, pois, necessário que exista a dúvida, para que haja critica. Manifestando-se a critica, vêm à tona novos argumentos e novos fatos em favor das ideias espirítualistas que, dessa forma, se vão tornando cada vez mais inatacáveis, mais convincentes, mais irrecusáveis. Temos que reconhecer - não sem certa dose de humildade cristã, - que não basta nossa crença inabalável nos fatos demonstrados, para torná-los aceitáveis aos outros. É preciso, para vencer a resistência da ideia preconcebida ou da mera preguiça humana de pensar, não apenas a nossa convicção de mais de século, mas o pronunciamento oficial da Ciência, que, para muitos de nossos irmãos, será a palavra final sobre o assunto.

            Por outro lado, a expectativa em torno desse pronunciamento parece criar, na própria Ciência, uma espécie anti-científica de complexo de superioridade, que a leva a minuciosa pesquisa do mundo material, em detrimento das perquirições no domínio espiritual.

            Se é necessário citar pontos de apoio a essa afirmativa, tenho-os aqui à mão, nesse curioso livro do famoso Dr. J. B. Rhine (The Reach of tbe Mind). Diz ele, a certa altura: “It is shocking but true that we know the atom today better than we know the mind that knows the atom.” Exatamente: é chocante, mas verdadeiro, que hoje conhecemos melhor o átomo, que a mente que conhece o átomo. Há, assim, flagrante disparidade entre o conhecimento do mundo material e as noções a cerca do espírito. Não se admira, pois, a desorientação da Humanidade, nesta fase tão crítica da História. Para que houvesse equilíbrio, teria sido preciso que o conhecimento íntimo da matéria fosse balanceado com a maturidade que decorre do conhecimento do espírito. Fora disso é o caos, é a inversão de valores, é o perigo da submersão de toda a Humanidade numa onda de crimes e sofrimentos. Os riscos aí estão, pois que verdadeiras crianças grandes, imaturas, brincam inconscientemente com bombas atômicas arrasadoras.

            No entanto, é preciso que se diga: uma boa parte da falha cabe aos próprios cientistas que, vítimas de sua imaturidade espiritual, divorciam-se dos princípios evangélicos e se deixam levar pela fatal ilusão de que nada mais existe além
das fronteiras da matéria.

            O que é ainda mais surpreendente é que alguns pesquisadores do fenômeno espírita se confundem e se perdem lamentavelmente nas conclusões, depois de terem reunido tantos elementos de iniludível solidez em favor da tese que - a despeito de suas dúvidas - pressentem ser a verdadeira.

            Num dos números anteriores do “Reformador” comentamos, de passagem, o livro “You Live After Death”, no qual, após reunir tantos argumentos favoráveis, lógicos e aceitáveis em favor da doutrina da preexistência e da sobrevivência do Espírito, o autor falha lamentavelmente, negando foros de autenticidade à tese
reencarnacionista, consequência lógica, insubstituível, da imortalidade do Espírito e razão de ser de sua evolução.

            Da leitura do livrinho do Dr. Rhíne, também nos fica esse dissabor da conclusão falha ou medrosa, após coligir laboriosamente tantos elementos comprobatórios de certos aspectos da manifestação do espírito. O autor arma lindamente a equação, e, quando a gente pensa que ele vai concluir da forma indicada pelos dados do problema, sai ele com um resultado inesperado...

            É uma pena que a exiguidade do espaço não nos permita uma análise mais profunda deste livro. Procuraremos, no entanto, traçar o esboço rápido de suas principais idéias,  limitados, certamente, pela humilde condição de nossos
conhecimentos.

            Como sabe o leitor, J. B. Rhine é professor de Psicologia e Diretor do Laboratório de Parapsicologia da Universidade de Duke, nos Estados Unidos. De longa data vem ele se dedicando ao estudo das faculdades do espírito; na verdade, desde 1930. O livro que ora examinamos é de 1948.

            Espírito inquisitivo como é, o Dr. Rhine saiu à procura de algum fundamento racional para o fenômeno da percepção extra-sensorial, a que chamou, abreviadamente, ESP. Sua preocupação estende-se ao problema da sobrevivência ela, a que alude, muito a medo, nas últimas páginas do livro. Anima-o, também, louvável desejo de aplicar os conhecimentos do problema espiritual em benefício do próprio homem com o objetivo de melhorar as condições de vida neste planeta, ameaçado, em sua própria sobrevivência pela incompreensão intrínseca do homem pelo homem. Parte ele do princípio sadio de que, se nos conhecêssemos melhor, melhor nos estimaríamos.

            Não obstante todas essas boas intenções, o Dr. Rhine admite certas ideias preconcebidas que, na certa, dificultam e obscurecem suas conclusões finais.

            Lembra, do início de seu livro, as crenças instiladas na criança e no adolescente, pelas religiões oficiais, para continuar dizendo que, ao atingir a fase de conhecimentos mais aprofundados, o estudante é levado irremediavelmente ao materialismo. É o primeiro impacto frio da Ciência. O estudante se informa sobre a origem e evolução da espécie humana, a íntima correlação entre cérebro e procedimento individual, o papel das glândulas e sua influência sobre a personalidade, através da química orgânica e começa a duvidar e a descrer. Por fim, o tiro de misericórdia: ele verifica que a criança somente amadurece quando se desenvolve o cérebro. E mais ainda: que determinadas funções mentais estão ligadas a não menos determinadas áreas do cérebro e que, se aquelas áreas forem destruídas, desaparecem as funções correspondentes. (É claro! Desaparecendo as pernas, desaparece a ação de caminhar; o corpo se apóia nas pernas, como o espírito se apóia no cérebro físico, para as manifestações conscientes. No entanto, a função de pensar não é orgânica, material - é espiritual. A prova é que o espírito pensa depois de desencarnado e o cadáver não pensa, longe de ser o órgão autônomo do pensamento, o cérebro é uma espécie de muleta do Espírito- que, à falta de instrumento mais aperfeiçoado, vai utilizando esse mesmo.) Ora, continua o Dr. Rhine, se o cérebro não é mais que um conjunto material de células materiais, produto do mesmo binômio energia-matéria que compõe o resto do Universo, o pensamento é um subproduto da matéria, uma função do cérebro. Em tal esquema, onde ficaria o espírito? Não há lugar para ele.

            Mais adiante, embora reconhecendo a urgente necessidade de se decidir, de uma vez, se o pensamento é ou não uma função do cérebro, o Dr. Rhine lança uma frase anti-científica, ao afirmar que· “sempre que a Ciência entra em cena, desaparece a crença tradicional na natureza espiritual do homem”. Com isso - é ainda o Dr. Rhine quem o diz - os próprios cientistas se recusam a manifestar de público, sua crença na alma, com rodeio de caírem no ridículo, perante seus colegas...

            O certo é que, passando por cima de todas as convenções, o Dr . Rhine resolveu estudar a sério, através de métodos científicos. os fenômenos de telepatia, clarividência e o a que ele chama PK ( “psychokinesis”).

            As experiências são por demais conhecidas. Recordo, apenas, que o Dr. Rhine imaginou um baralho especial de 25 cartas, composto de 5 conjuntos diferentes entre si. Cada conjunto de cinco contém um símbolo impresso: um círculo, um quadrado, uma estrela, uma linha ondulada e uma cruz. Primeiro, foi experimentada a faculdade extra sensorial de descobrir qual o símbolo de cada carta, previamente embaralhadas, sem tocá-las nem vê-las. Calculou-se, com assistência dos melhores matemáticos e estatísticos, as possibilidades e limites do acaso.  Além desses índices, estaria então caracterizada a capacidade de percepção extra-sensorial.

            Muita coisa Interessante foi revelada pelos testes então realizados. Embora a média fosse de sete cartas certas em 25, foram encontradas pessoas que acertavam 9 em 25, 15 em 25 e até mesmo todas as 25 cartas, o que estava astronomicamente acima do simples acaso. Os pesquisadores não puderam deixar de admitir então, que o ser humano possuí, em menor ou maior grau, a faculdade de percepção extra-sensorial.

            Isso era apenas o princípio. Outras conclusões viriam, ao cabo de outras experiências. Verificou-se também que o funcionamento da mente independe do espaço, porque é possível “transmitir” pensamento a distância. Uma pessoa fixa a imagem de determinada carta do baralho e outra, na mesma sala, em outra sala,
em outro edifício ou até mesmo mais longe, procura “receber” a imagem. Também aí se encontraram provas suficientemente seguras e aceitáveis em favor da percepção extra-sensorial.

            Posteriormente, foi examinada a influência do espírito sobre a matéria. Note-se que o Dr. Rhine não fala ainda de espírito, prefere dizer mente (mind). O pesquisador empregou, nesta, fase, dados de jogo.

            Em seguida, testou a capacidade premonitória, a que ele chama profética. Verificou também que certas pessoas podem prever a ordem em que se vão colocar as cartas do seu baralho especial. mecanicamente embaralhado.

            Enfim, o Dr. Rhine, a despeito de todo o seu ceticismo, não pode deixar de reconhecer que a mente (espírito) pode operar além do tempo e do espaço e pode influenciar a matéria. Sob este último aspecto, sua afirmativa é categórica: “A mente, como sistema não-físico, agindo de forma não-física sobre objetos físicos, produz efeitos físicos.” O Dr. Rhine descobriu ainda, muito surpreso, que essa influência física do espírito, sobre a matéria, estava intimamente ligada aos demais fenômenos de percepção extra-sensorial.

            Convencido, pois, da realidade do fenômeno, o Dr. Rhine se abalança então a filosofar sobre as tremendas consequências daquilo que verificou experimentalmente.

            É justamente ai que lhe faltou o verdadeiro “insight”; que o levaria a compreender e se fazer compreendido. Reconhece, taxativamente, que não há outra alternativa senão a de aceitar a realidade, doa a quem doer. Diz mais: que toda contra-explicação razoável foi invocada, analisada e considerada inaplicável à questão. Depois de dizer isso, ele próprio sente que, talvez, tenha ido muito longe para um cientista e acrescenta: “These are strong and confident words” São palavras fortes e confiantes. E continua: “nos treze anos, durante os quais tenho escrito sobre capacidades psíquicas, nunca cheguei a usá-las”. Atrás dessas palavras está uma série indestrutível de pesquisas; o terreno é firme.

            No entanto, a gente lê isso com certa reserva. Também no passado, cientistas de renome coligiram provas, em grande massa; também no passado , proclamaram, alto e bom som, o resultado de suas pesquisas e observações. Inúmeros  outros, que igualmente obtiveram resultados excelentes, deixaram de se manifestar, paralisados por um tolo respeito humano. O Dr. Rhine não será o último a provar a realidade do espírito. Contudo, para certo tipo de mentalidade, não adianta exibir fatos, conclusões e resultados positivos: sempre que desejam falar do assunto, retomam o problema na estaca zero, como se nada neste mundo se tivesse feito sobre ele. Mesmo o Dr. Rhine, cercado de perplexidades e dúvidas, reconhece que nenhum outro fenômeno na história da Ciência tem merecido tão pouco reconhecimento a despeito de tamanha massa de dados. “É urna surpresa para todos, descobrir quanta evidência existe em favor da percepção extra-sensorial.” (Pág. 132.)

            Nas páginas que se seguem, o Dr. Rhine se encarrega de responder minuciosamente aos críticos que comentaram seus resultados. Cita, inclusive, o caso de um cientista que resolveu refazer as experiências, por sua própria conta, e chegou a conclusões surpreendentes.
           
            No final de seu livro, o Prof. Rhine, sempre cheio de cuidados, alinha suas razões fundamentais. Primeiro, previne o leitor: esteja preparado para ler os incríveis parágrafos que se seguem. Fala, então, sobre as vantagens da aplicação da
faculdade extra-sensorial, na descoberta de planos secretos - o que, a seu ver, eliminaria a possibilidade de guerras - ou na descoberta de crimes, ate.

            Por fim, lamenta que suas descobertas, em vez de resolverem os problemas existentes, suscitaram novos problemas.

            A evidência não física do homem apóia-se em provas esmagadoras, segundo o autor. A hipótese da existência da alma ficou estabelecida, mas - e aí vem com suas prolongadas ressalvas - não o caráter super natural da alma, sua origem divina, sua transmigração, sua imortalidade, nada..  Embora suas conclusões tenham implicações religiosas, não está a religião envolvida nelas. Admite, porém com certa candura elogiável, que até o momento (“so far”) não existe conflito entre a alma psicológica e o sentido teológico do termo (Ainda bem. Quanto a nós, sabemos que nem até o momento, nem no futuro, irá ele, ou outro qualquer pesquisador, encontrar conflitos dessa natureza, mas isso é outra história.) Acrescenta que os dois conceitos diferem quando atingimos o domínio do que ainda não foi investigado cientificamente. Temos aqui uma contradição nada científica, com licença do Dr. Rhine: se o assunto ainda não foi investigado, como é que ele pode concluir que os mencionados conceitos diferem? Sem dúvida que muitas surpresas ainda aguardam o Dr. Rhine, na fecunda estrada que descobriu, especialmente quando verificar que, mesmo naqueles domínios virgens da investigação científica, ele há de descobrir que a alma psicológica e a religiosa são a mesma coisa: expressões divinas da mesma centelha divina.

            Segundo o professor, a parapsicologia já invadiu o domínio da religião, quer queiram quer não; o problema da imortalidade é comum a ambas. Informa também o autor que no decorrer dos últimos 75 anos (até à data do livro) alguns dos cientistas mais eruditos e outros de menor expressão se declararam convencidos da sobrevivência, tal como revelado através do fenômeno mediúnico.

           O Dr. Rhine, no entanto, ainda não está preparado para aceitar a sobrevivência, que diz ser um problema muito difícil. Em suas próprias palavras, o problema deve ser formulado da seguinte forma: “Alguma parte da pessoa humana, de algum modo verificável, sobrevive à morte do corpo, por algum espaço de tempo?” Embora - a seu ver - a resposta positiva não possa ser dada pela Ciência, a negativa é “extremely difficult to obtain if indeed it is possible”, ou seja, é extremamente difícil de obter se é que é possível obtê-la.

            Dentro da lógica, ainda segundo o Dr. Rhine, a hipótese da sobrevivência poderia ser estabelecida à base da evidência acumulada a respeito da percepção extra-sensorial, porque esta evidência já provou que a mente humana está acima e além do tempo e do espaço, logo, é imortal. Mas o Dr. Rhine não quer - escudado
em razões científicas - arriscar-se a assumir a responsabilidade do enunciado, com base na lógica. Quanto a esse aspecto, não o podemos censurar. Ele é um cientista, não um crente. Sua mente - diríamos seu espírito -, movida pelos conceitos matemáticos, estatísticos, lógicos, filosóficos e até morais - mas não religiosos - deseja encontrar fatos demonstráveis, provocados e controláveis de acordo com o procedimento standard de laboratórios. Reservamo-nos o direito de temer pelo bom andamento de tais experiências, pois que, já no passado, buscava--se a alma na glândula pineal e, sempre que o bisturi lá chegava, a alma se tinha evolado para o Além. O pesquisador que desejar procurar o espírito humano, tem que abandonar ideias preconcebidas e desistir da ingenuidade de querer aprisioná-lo numa proveta ou examiná-lo sob as lentes do microscópio.

            Certamente não faltam ao Dr. J .B. Rhine os petrechos técnicos, morais e materiais que muito o ajudarão nas suas pesquisas. Os resultados que já conseguiu são dos mais expressivos e muito fizeram pelo melhor entendimento do problema espiritual, para aqueles que não se acham ancorados nas águas tranquilas do espiritualismo.

            Esperemos pelos resultados que ele puder encontrar. O fenômeno espírita, que Allan Kardec iluminou com a moral evangélica, pode esperar pacientemente, porque, como os próprios cientistas começam a reconhecer, a “mente” se sobrepõe com facilidade à nossa humana ideia do tempo e do espaço.

            Que venham as pesquisas. A intuição dos grandes filósofos do Espiritismo já nos ensinou que Ciência e Religião são irmãs gêmeas, filhas do mesmo poder criador e diretor que é Deus. Sabemos, também, que a despeito de todas as distorções e desvios do presente, suas rotas se encontrarão lá na frente para nunca mais se afastarem.