"A Igreja romana não relegou para segundo plano o pai, fazendo do filho o objeto exclusivo de seu culto de adoração? E o culto prestado a Maria já não ameaça substituir o que ela, a Igreja, presta ao filho? "Mas virá o tempo, e já veio, em que os verdadeiros adoradores adorarão o pai em ESPÍRITO E VERDADE; esses são os adoradores que o pai quer. " "Os Quatro Evangelhos" de J.-B. Roustaing, à pág. 221 - Vol 4 - 7ª Ed. (FEB) 1990.
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domingo, 15 de fevereiro de 2015
Favores
Favores
Emmanuel
por Chico
Xavier
Reformador (FEB) Abril 1956
A Bondade Infinita de Deus, a expressar-se nas leis que nos regem, dá
sempre, ajudando aos homens conforme as conveniências
da vida.
Por isso mesmo, é preciso considerar
que entre o Pai que dá e o filho que pede, interpõem-se o merecimento e a
necessidade.
Ninguém recolhe o bem sem conquistá-lo.
Ninguém recebe o mal sem atraí-lo.
Assim sendo, em qualquer requisição
à Providência Divina, recordemos nossa própria situação à frente dela.
Lembremo-nos de que a árvore é
amparada pelo pomicultor, a fim de que produza; o animal é nutrido pela
natureza} para retribuir-lhe em cooperação: o operário na oficina é contratado
para servir e o aluno é admitido no educandário a fim de crescer em
conhecimento...
Antes, pois, de endereçarmos
requerimentos à Vida Superior é aconselhável examinemos qual tem sido o nosso concurso
em benefício da vida, no plano em que nos achamos.
Muitos aprendizes da fé recorrem aos
Amigos Espirituais solicitando-lhes auxílio nessas ou naquelas aquisições de
ordem material; entretanto, é imprescindível compreender que os verdadeiros
amigos de nossas almas jamais nos estimularão à preguiça ou à indocilidade, à
teimosia ou à negação.
Suspeitemos, dessa forma, de
qualquer proteção gratuita aos nossos desejos,
quando conscientemente estamos convictos do nosso dever de renovação e
progresso. Tão perigoso é invocar favores delituosos entre os homens quanto rogá-los
no mundo dos espíritos
porque a ociosidade e a viciação, em toda parte, possui adoradores e o preço
dos obséquios imerecidos é sempre o compromisso com a sombra extremamente
difícil de resgatar.
Aceitemos a luta por aprendizado
bendito em nosso roteiro de ascensão.
Dor, dificuldade, tentação, pobreza,
infortúnio, solidão, incompreensão, embaraços e provas constituem a força da escola
em que nos situamos, e na qual edificaremos nossa vitória futura.
E convencidos de que a Lei dá
sempre, seja o mofo ao pão inutilmente armazenado ou a limpidez à fonte que
ajuda a todos, procuremos nela, pelo nosso trabalho e por nossa conduta, o
limitado bem de hoje que nos conduzirá ao Infinito Bem de amanhã.
O Começo da História sem Fim
O Começo da
História sem Fim
Reformador (FEB) Abril 1956
Na noite de 28 de Março de 1848, nas
paredes de madeira do barracão de John D. Fox, começaram a soar pancadas
incomodativas, perturbando o sono da família, toda ela metodista.
As meninas Katherine (Katie ou Kate)
, de nove anos de idade, e Margaretta, de doze anos (1), correram para o
quarto dos pais, assustadas com os golpes fortes nas paredes e teto de seu
quarto.
(1) Há, com relação a essas idades,
pequenas diferenças entre os autores, seja para menos, seja para mais, As
idades que anotamos são devidas a Robert Dale Owen, e parecem ser as corretas.
(Veja-se a obra "Katie Fox", de W. G. Langworthy Taylor, 1933, págs.
47-48.)
Esse barracão, na aldeia de
Hydesville, no Condado de Wayne, perto de Nova Iorque, era construído em
terreno pantanoso. Os alicerces eram de pedra e tijolos até à altura da adega e
daí para cima surgiam paredes de tábuas.
Seus últimos ocupantes haviam sido
os Weekmans, que posteriormente também confessaram ter ouvido ali batidas na
porta, passos na adega e fenômenos outros inexplicáveis.
No dia 31 de Março de 1848 a família
Fox deitou-se mais cedo do que de costume, pois havia três noites seguidas que
não podiam conciliar o sono. Foi severamente recomendado às crianças, agora
dormindo no quarto dos pais, que não se referissem aos tais ruídos, mesmo que elas
os ouvissem.
Nada, porém, obstou a que pouco
depois as pancadas voltassem, tornando-se às vezes em verdadeiros estrondos,
que faziam tremer até os móveis do quarto.
As meninas assentaram-se na cama, e
o Sr. John Fox resolveu dar uma busca completa pelo interior e pelo exterior da
pequena vivenda, mas nada encontraram que explicasse aquele mistério.
Kate, a filha mais jovem do casal,
muito viva e já um tanto acostumada ao fenômeno, pôs-se
em dado momento a imitar as pancadas, batendo com os seus dedos sobre um móvel,
enquanto exclamava em direção ao ponto onde os ruídos eram mais constantes: “Vamos, Old Splitfoot, faça o que eu faço.”
Prontamente as pancadas do “desconhecido”
se fizeram ouvir, em igual número, e paravam quando a menina também parava.
Margaretta, brincando, disse: “Agora, faça o mesmo que eu: conte um, dois,
três, quatro”, e ao mesmo tempo dava pequenas pancadas com os dedos.
Foi-lhe plenamente satisfeito esse pedido, deixando a todos estupefatos e
medrosos.
Estava estabelecida a comunicação
dos vivos com os mortos e assentada uma nova era de mais dilatadas esperanças,
com a prova provada da continuidade da vida além do túmulo.
Naquela mesma noite de 31 de Março
várias perguntas foram feitas pelos donos da humilde casa e por alguns dos
inúmeros vizinhos ali chamados, obtendo-se sempre, por meio de certo número de
pancadas, respostas exatas às questões formuladas. O comunicante invisível forneceu
ainda a sua história: fora um vendedor ambulante, que antigos moradores daquela
casa assassinaram, havia uns cinco anos, para furtar-lhe o dinheiro que trazia;
seu corpo se achava sepultado no porão do barraco, a dez pés de profundidade.
No barracão havia residido, em 1844,
o casal Bell, sem filhos, e que só tinha uma criadinha, Lucretia Pulver, que
não raro dormia fora, em casa dos pais. Feito um inquérito, foi ouvida a
criadinha, pois o casal já havia desaparecido do lugar. Ela se lembrava de um vendedor
ambulante que certo dia aparecera no barracão, e que os patrões a mandaram
dormir na casa dos pais, para que o hóspede pernoitasse no quarto dela. Pela
manhã compareceu ela em casa dos patrões e soube que o vendedor partira muito
cedo.
Diante do depoimento obtido pelos
golpes do batedor invisível, foram feitas escavações no porão, mas era tempo de
chuvas e, como a água enchia logo a fossa que se abria no terreno pantanoso,
resolveram realizar a busca em época propícia. No verão, continuaram a escavação
e, a cinco pés de profundidade, foram encontrados carvão, cal e alguns ossos
humanos.
Por ser muito incompleto o achado,
os incrédulos teceram suas dúvidas sobre a verdade da revelação.
As pancadas continuavam, tendo-as
testemunhado várias centenas de curiosos. A pouco e pouco foram estabelecendo
uma convenção para receberem respostas mais detalhadas às perguntas que se
faziam aos autores invisíveis. Convencionou-se um alfabeto em que cada letra representaria
determinado número de batidas: o A seria uma, o B seria duas, o C três, e assim
por diante.
As irmãs Fox viajaram, e também em
outras casas, onde se hospedavam, ouviam-se as tais pancadas, travavam-se novas
conversações com os Espíritos, processando-se ainda outros fenômenos
interessantíssimos. Notou-se que possuíam elas uma faculdade especial, e pouco
depois se observou que outras pessoas eram dotadas de semelhantes faculdades:
ao contato de suas mãos uma mesa se levantava, dava pancadas com os pés, e essas
pancadas respondiam com inteligência a perguntas. Nomes de respeitáveis
personalidades já falecidas assinavam belas mensagens anunciadoras de uma
revolução no campo moral das criaturas humanas, dizendo que afinal os tempos
eram chegados para que novos horizontes se descortinassem aos destinos do
homem.
Surgiu a época das mesas girantes
que se tornou epidemia no mundo, como se pode ver da interessante série de
artigos de Zêus Wantuil neste órgão.
Foram as mesas girantes, e depois
falantes, que chamaram a atenção do
Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail para os fenômenos espíritas.
Depois das mesas surgiu a escrita
com o lápis preso a uma cestinha de vime e, finalmente, com a mão do médium.
Servindo-se desses últimos meios, Rivail elaborou a grandiosa Codificação do
Espiritismo.
Outros casos de depoimentos pessoais
de mortos foram registrados e alguns confirmados posteriormente. Os “rappings”
e “knockings” não mais se usaram na transmissão de notícias e informações de
além-túmulo. O barracão de John Fox envelheceu e desmoronou em parte (2),
esquecido por todos, visto que surgiram fenômenos muito mais expressivos,
formas de identificação de Espíritos comunicantes muito mais convincentes que
levaram os estudiosos à certeza da continuação da vida “post-mortem”.
(2)
Em 1916, Benjamim F. Bartlett adquiriu os restos do velho barracão,
reconstruindo-o na cidade de Lily Dale, N.Y., onde é conservado até os dias
atuais. (Veja-se o “Grand Souvenir Book
of the World Centennial Celebration of Modern Spiritualism” , obra publicada nos Estados Unidos, em 1948,
pág. 12)
Passou meio século de esquecimento
sobre Hydesville. Eis senão quando, alguns escolares da aldeia, brincando no
local das ruínas do barracão, notaram que havia caído parte de uma parede
interna, junto do alicerce, deixando visível um esqueleto humano quase inteiro
e um baú de ferro. Reconfirmava-se, assim, a declaração do Espírito do vendedor
ambulante feita havia cinquenta e cinco anos. O casal Bell ocultara o cadáver e
o baú junto da parede da adega e construíra pelo lado interior outra parede. O
fato foi consignado pelo “Boston Journal” de 23 de Novembro de 1904, que disse
terem ficado assim desvanecidas as últimas sombras de dúvida ainda existentes.
Ao que tudo indica, o cadáver fora
enterrado no centro do porão. Depois, conforme argumenta Sir Arthur Conan
Doyle, alarmado o criminoso pela facilidade que havia em ser descoberto o
crime, exumou o corpo para junto do muro. Ou porque a transferência se
verificasse com muita precipitação, ou porque a luz era escassa, ficaram
vestígios da inumação anterior.
Hoje, esses ossos e o baú se acham
em Lily Dale, em um museu, registrando a triste história da inferioridade
humana, e recordando o nascimento de uma Nova História para a Humanidade.
Um mundo de novos fenômenos
mediúnicos que se seguiram ao episódio de Hydesville, abriu outros caminhos aos
estudiosos. Allan Kardec dilatou ainda mais os conhecimentos a esse respeito,
sabiamente coordenando-os para uma compreensão menos imperfeita e mais justa do
todo. Posteriormente, notáveis trabalhos, devidos a homens notáveis, trouxeram
subsídios importantes à obra da Codificação pois que esta não poderia ficar
estática em determinado tempo, terá de viver e crescer sempre, confirmada e
apoiada por novos fatos bem verificados e inteligentemente interpretados.
O começo da História do Espiritismo
é a noite de 31 de Março para 1º de Abril de 1848 mas o nascimento da
Codificação é o dia 18 de Abril de 1857. Houve nove anos de estudos e
observações dos fenômenos, antes de aparecer o primeiro livro de Allan Kardec,
e depois desse aparecimento já decorreram quase 100 anos que vão firmemente
registrando outros fatos em confirmação e ampliação dos antigos, de todos os
tempos.
Esta História teve começo, mas não
terá fim.
Compaixão para os ofensores
Compaixão
para os ofensores
Emmanuel
por Chico
Xavier
Reformador (FEB) Nov 1956
Realmente, a compaixão é o
tratamento mais elevado e mais justo que devemos prestar àqueles que nos ofendem.
Quem
sofre com paciência e perdão solve a dívida do passado ou acumula créditos no
porvir; ao revés, quem gera a flagelação para os outros não, sabe quando conseguirá
extinguir a flagelação para si mesmo.
Sempre que insultado pelas trevas da
incompreensão e do crime, guarda serenidade e auxilia sempre.
A cabeça do calculista, que se
aproveita do raciocínio para estender a miséria, pode amanhã transformar-se no
esconderijo da loucura, e as mãos que apedrejam serão mirradas pela atrofia.
A alma do desertor encontra os
fantasmas que temem e a língua do maldizente talvez amanhã será compelida a
dolorosa mudez.
Os olhos que se alegram na crueldade
conhecerão a cegueira, e os pés que se movimentam na distribuição da calúnia
passarão, muitas vezes, por terríveis mutilações.
Compadece-te de todos os que se
confiam ao mal porque ninguém sabe quantas lágrimas chorará; o mandante do sofrimento,
nas grades do remorso, para lavar-se contra o lodo da culpa.
Arma-te de coragem para fazer o bem,
ainda mesmo que espinheiros e nuvens, fogo e fel te cruzem a jornada escabrosa
na Terra, porque só o bem é capaz de fundir as algemas do ódio convertendo-as
em divinos laços de amor.
Recorda o Cristo, bendizendo aqueles
que te chagaram o coração e segue adiante, ajudando e servindo sempre, na
certeza de que os carrascos de hoje serão, sem dúvida, os penitentes de amanhã,
sentenciados não por ti, mas pelo estigma da condenação que lavraram,
desprevenidos e insensatos, em desfavor de si mesmos.
O método nas tarefas mediúnicas
O método
nas tarefas mediúnicas
por Indalício
Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1956
Nas tarefas mediúnicas, o método de
ação é importantíssimo. Sem ele os resultados poderão ser intermitentes,
deficientes ou nulos, em virtude da instabilidade fluídica, que perturba a
concentração dos componentes do grupo de trabalho psíquico. Quer para os
Espíritos, que tão benévola e eficazmente cooperam para amenizar as dores do
mundo físico, quer para os trabalhadores terrenos do Espiritismo, o método é
necessário ao serviço comum. Com ele poder-se-á conseguir maior concentração de
fluidos, maior homogeneidade de pensamento nas reuniões, maior disciplina no
trabalho, que se desenvolverá naturalmente, sem altibaixos, facilitando a obtenção
de efeitos mais seguros nas obras de caridade espiritual e mais sólida
normalização de esforços, sem sobrecarga para os médiuns.
Devemos lembrar sempre que uma casa
espírita é um templo sem imagens nem rituais, sem sacerdócio militarmente organizado,
mas dispondo de hierarquia funcional imprescindível ao estabelecimento da
ordem, da disciplina e do amor à Doutrina codificada por Allan Kardec. Essa
hierarquia, no entanto, terá de ser rigorosamente subordinada aos princípios
doutrinários. Quanto, maior for a obediência a esses princípios, mais seguros
serão os resultados da colaboração entre os médiuns e os Espíritos, porque
estes sentirão menos empecilhos para levar a bom termo seus elevados desígnios.
Às vezes, pessoas egressas de outras religiões ainda não suficientemente
libertas de hábitos nelas adquiridos,
procuram fazer enxertos nas práticas espíritas, mesmo inconscientemente do erro
que praticam, criando inovações absurdas por contrárias aos postulados
doutrinários firmados pelo Codificador.
Como o Espiritismo não tem papa nem
bispos, nem corpo organizado de sacerdotes; sendo, como é, uma Doutrina
liberal, que confia na consciência do homem esclarecido e deixa a seu livre
arbítrio as decisões que toma e os rumos que segue, algumas pessoas
desconhecedoras das determinações doutrinárias se julgam aptas a adotar
atitudes personalistas e a adotar normas distantes dos ensinamentos que Allan
Kardec resumiu na Codificação. Nenhum espírita digno deste nome abusa da
liberdade que tem dentro do Espiritismo, começando-por admitir que seu primeiro
dever é ser humilde para se colocar em
condições de compreender melhor o alcance dos ensinamentos ditados por elevadas
e nobres Entidades do Além. Sem humildade não há Espiritismo, porque esta é a
qualidade principal daquele que se decide a aceitar a tutela de Jesus, através
das lições contidas na Codificação. Assim, o espírita consciente de seus
deveres morais e espirituais subordina-se aos princípios doutrinários, porque
compreende que não há nem pode haver liberdade absoluta, neste mundo de
relatividades em que vivemos. Basta meditar sobre as leis que regem a vida,
para se reconhecer que toda liberdade é limitada. Semelham-se as determinações
de ordem moral e as de natureza biológica. O homem não deve fazer umas tantas
coisas, embora, se o quiser, possa realizá-las, respondendo pessoalmente pelas
consequências. Isso tanto acontece na vida moral e espiritual, como na vida
física. Se alguém voluntariamente abrevia os dias de sua peregrinação terrena;
ou os de outrem, arrastará todo o peso da enorme responsabilidade contraída
quando cometeu esse crime. A propósito, mais um valioso subsídio para o estudo
da responsabilidade do homem em face das leis de Deus se encontra nesse
prodigioso livro - “Memórias de um Suicida”,
ditado à médium Yvonne A. Pereira
pelo Espírito de um famoso suicida, sob a orientação do Espírito de Léon Denis,
o “suave poeta do Espiritismo”.
*
A responsabilidade está sempre
presente em nossos atos e pensamentos, e a Doutrina Espírita, elucidativa e
confortadora, como nenhuma outra, dá-nos meios e forças para atendermos às
necessidades multifárias da nossa existência terrena e às que temos com o mundo
espiritual. Tudo para nós, seres humanos, é relativo, dada a nossa
impossibilidade de compreender e abarcar o Absoluto, que é Deus. Somente Ele
conhece a essência do Universo. O que promana do Alto, como os ensinamentos
espirituais que servem
de santelmo à Humanidade nas horas aflitivas, atende, por isso, ao relativismo
do mundo
físico, surpreendendo-nos com as revelações
progressivas da Verdade, à medida que nos vamos tornando mais aptos à recepção
e assimilação paulatina do Conhecimento. Em todos os tempos, as revelações tem
permitido ao homem tomar contato e apreender novos aspectos da Verdade, assim
como de retificar pontos que erradamente aceitara como revelações, sem os haver
submetido ao crivo do raciocínio e à evidência verdadeiramente irretorquível
dos fatos. À proporção que a Humanidade vai evolvendo, consolidando sua posição
em face do Universo, as revelações vão surgindo, ora aqui, ora ali, deste ou
daquele modo, por isto ou por aquilo, aguçando-nos a curiosidade sempre
insatisfeita no terreno científico, estimulando a nossa consciência na busca do
futuro espiritual e nos dando, a pouco e pouco, novos elementos para
progredirmos em direção ao porvir, com mais segurança em nosso trabalho e mais
confiança em nossas possibilidades.
Se o Criador age tão cautelosamente,
seguindo um método de sucessivas e progressivas revelações, para não nos levar
à desorientação pela incapacidade de compreender toda a Verdade de uma só vez,
porque nós, insulados em limitações de limitações, não devemos subordinar
nossos estudos e nossa conduta às lições de Mais Alto, seguindo também um
sistema de trabalho uniforme e racional, mas progressivo, capaz de permitir a
cada um dos nosso semelhantes, como a nós mesmos, a assimilação gradual das
Verdades subsidiárias da Grande Verdade?
*
O médium, por ser um “chamado”, tem
enorme responsabilidade moral e espiritual. Não lhe cabe desistir de sua função
mediúnica, nem coagi-la ou compromete-la em tarefas que colidam com a Doutrina
do Espiritismo, consoante o que se encontra em Kardec. Deve, portanto,
estabelecer a sua própria disciplina de trabalho, realizando meditações
diárias, precedidas e concluídas pela prece, comparecendo assídua e fielmente à
sessões de desenvolvimento ou de trabalho mediúnico, se já for médium
desenvolvido. Isto não quer dizer que, sendo necessário, não se entregue ao
exercício da mediunidade fora dos dias e horas já determinadas, porque não há
horário nem dia estabelecido para a prática da caridade, para a realização do
bem. O médium é simples instrumento dos Espíritos. Amparados pela Doutrina e
pelas luzes evangélicas, saberá quando pode agir assim, pois há ocasiões em que
seu concurso é imprescindível, fora dos programas preestabelecidos para os
serviços mediúnicos. Nesses casos, o próprio guia lhe dará a intuição precisa
no momento oportuno, se deve ou não entregar-se a tarefa extraordinária. Fora
disto, no entanto, o médium necessita de resguardar-se, porque o exercício da
mediunidade importa em desgaste nervoso quando não há método de trabalho. Os
médiuns esclarecidos sabem que devem repousar, porque recebem dos Guias a
orientação devida. Estes sabem que a mediunidade exige cuidado e que os médiuns
são instrumentos delicados, que devem ser cuidadosamente tratados, a fim de
prestarem sempre os melhores serviços.
Afora esta parte, os médiuns devem
adotar um método de vida pessoal compatível com a manutenção da saúde, evitando
excessos de qualquer natureza.
O método, tão necessário à vida do
homem, é de suma importância para o médium particularmente, esteja ou não
entregue ao labor mediúnico. Muitos benefícios podem decorrer da ação metódica,
benefícios que podem ser mais bem sentidos do que descritos.
sábado, 7 de fevereiro de 2015
O Duplo dos Vivos
O
Duplo dos Vivos
Reformador (FEB)
Julho 1955
(Artigo extraído do
Boletim trimestral da "Fédération Spirite Internationale"
de Julho de 1954; foi escrito por M. Horace Leaf,
espirita distinto e editor do
Boletim acima citado.)
Há alguns anos, o Strand Magazine
publicou uma fotografia, tomada por um sábio alemão, da aparição de um homem de
pé, atrás de um grupo de ióguis mergulhados em silenciosa meditação. Era a fotografia
de um homem vivo, iógui também, mas residente a alguns quilômetros dali.
Os espíritas ou psiquistas iniciados
não foram surpreendidos por essa imagem, pois uma de suas crenças mais comuns é
a de que o homem, a mulher ou, mesmo, uma criança possuem um corpo etéreo,
duplo de seu corpo físico. Nada há de novo nesta crença. Reportando-nos, pois,
às práticas religiosas das raças primitivas, deduz-se que esta ideia é ao
certo, tão antiga quanto a Humanidade.
Existem numerosos testemunhos deste
fenômeno da separação do duplo, na religião cristã, e a Igreja já aceitou esta
crença sob o nome de "bilocação”. Conta-se que numerosos santos
experimentaram e praticaram esta faculdade, dentre os quais podem citar S.
Severo de Ravena, Santo Ambrósio e Santo Antônio de Pádua. Conta-se que este
último deixou realmente o púlpito de S. Pedro de Queyroix, onde estava a
pregar, e seu corpo etéreo apareceu
e falou perante uma assembleia de monges em um convento do outro extremo da
cidade.
Conta-se, também, que, lembrando-se
de que devia assistir a um serviço divino neste mosteiro, justamente no momento
em que se encontrava no púlpito da igreja, ajoelhou-se deliberadamente perante os
fiéis, puxou o capuz para a fronte, e assim ficou durante alguns minutos, no
decurso dos quais os fiéis esperaram com todo o respeito. Comparecendo perante
os monges e tendo assim cumprido sua promessa, tomou novamente seu corpo físico
e reencetou sua pregação na igreja.
Não é necessário multiplicar as
citações, visto que possuímos numerosos exemplos contemporâneos, autenticados
por testemunhos certos. Talvez não seja fora de propósito citar um caso pessoal
sobre este assunto tão raramente tratado. Pessoalmente, estou consciente de ter
deixado meu corpo físico e, assim fazendo, ele se pôs a falar-me. Aquele esforço fez que eu tornasse a tomar meu
corpo; ouvi-o- claramente pronunciar as palavras por ele formuladas. Em minhas
viagens pelo mundo, tenho ficado admirado do grande número de pessoas, algumas
das quais sem nenhum conhecimento do Espiritismo e nem das pesquisas psíquicas,
que me têm declarado haverem feito tal experiência.
A prova experimental completa desta
forma de Psiquismo é rara; mas, há mais ou menos 70 anos, certo número de
homens altamente qualificados chegaram a ponto de dar um testemunho positivo
deste fenômeno supranormal.
O primeiro que o testemunhou foi o
Coronel Eugênio de Rochas. Seu método consistiu em magnetizar a pessoa,
obtendo, por meio da sugestão e de ordens, a separação do "duplo".
Revelam algumas das suas fotografias uma separação completa. A forma etérea
era, na maior parte do tempo, porosa, mas completamente idêntica à forma
humana. Descobriu De Rochas, além de tudo, certo número de traços interessantes
concernentes a esta forma vaporosa, demonstrando que ela corresponde ao
controle mental do indivíduo a que ela pertence. Ela pode, por exemplo,
diluir-se ao atravessar corpos sólidos e, o que é igualmente característico,
torna-se a sede das sensações, fato muito significativo, dado que toda sensação
parte do domínio mental.
O Dr. Durville, que vem, em seguida,
como experimentador, utilizou-se também de diversos indivíduos; ele conseguiu,
com êxito, obter a separação do duplo por meio de passes magnéticos. "O "duplo", disse ele, tem o
aspecto do médium, torna-se mais ou menos luminoso e acha-se ligado ao corpo do
médium por um tênue fio que parte do umbigo."
Nestas experiências, igualmente os
órgãos das sensações se situam no "duplo" separado do corpo físico.
Assim, uma das características mais notáveis do fantasma é que, por vezes, ele
se torna meio sólido e húmido, quando o tocamos.
As experimentações ulteriores
demonstraram que o corpo etéreo tem peso e que ele se pode dilatar e contrair à
vontade. Seu peso seria aproximadamente de duas onças e meia (mais ou menos, 70
gramas).
A confirmação disso foi obtida pelo
Dr. Duncan Mac Dougall, de Haverfield (Massachusets, U.S.A.), que pesou
agonizantes e observou, em seis casos, que o defunto havia perdido entre 2
onças e 2 onças e meia.
A fotografia psíquica tem oferecido
grande número de provas da separação do "duplo" psíquico. Assim, a primeira
fotografia obtida por Mumber, o primeiro fotógrafo deste gênero, era a de uma
pessoa viva. Posteriormente, no momento em que Mumber fotografava um de seus
clientes, este cai em transe e a placa respectiva revela uma representação
perfeita dele próprio, de pé, atrás de seu corpo! É desnecessário acrescentar
que estes fatos deram origem à teoria de que todos os Espíritos, vistos pelos
videntes, não seriam nada mais do que os "duplos" psíquicos de
pessoas vivas! Esta teoria, como é fácil deduzir, de forma alguma seria
contrária à hipótese da sobrevivência da alma, pois, se se pode afirmar que o
espírito humano pode existir fora de seu organismo físico durante a vida, não
haveria razão para que o não pudesse após a morte. Só um prejulgamento estúpido
poderia diminuir a força desta argumentação.
Outros psiquistas realizaram
experiências análogas e, dentre eles, Frederico Hudson, o primeiro fotógrafo
espírita inglês. Certa vez, ele obteve a fotografia do "duplo" de
Frank Herne, então famoso médium de efeitos físicos, em estado de transe.
Eis uma prova evidente de que o
desenvolvimento da mediunidade se acha intimamente ligado ao desdobramento etérico,
na maior parte das vezes parcial, mas, em certos casos, total. Em razão da
sutileza do "duplo" etéreo, é ele raramente visível, e não se devem
tirar conclusões senão depois dos testemunhos daqueles que por experiência
podem falar da separação do "duplo". A maior parte dos testemunhos se
refere a separações parciais, mesmo porque a separação completa divide de forma
tão radical os dois corpos que, em geral, o cérebro se torna incapaz de
registar as reações mentais que se produzem quando o espírito funciona no
"duplo" psíquico. Todavia, é possível, para um indivíduo
experimentado, registrar, por seu cérebro, quando houve uma separação completa.
Em tais casos, somos autorizados a concluir que existe uma conexão muito ativa
entre os dois corpos. Porque isto se dá em determinados casos e não em ontros,
ignoramos.
O exemplo seguinte demonstra quão
real pode ser um desdobramento para o organizador, mas não para o sujet: Uma de minhas amigas, que sofria
de insônia crônica, havia perdido uma joia de valor. Veio procurar-me com o
desejo de poder reencontrar o objeto, e eu pude informá-la de que a joia se
achava em sua própria casa, além de lhe indicar o local a que deveria dirigir
as suas buscas. Dando-lhe essas informações, eu me aventurei a lhe afirmar que,
depois de se ter deitado essa noite, ela pegaria no sono dentro de um quarto de
hora e acordaria na manhã seguinte, completamente refeita.
No dia seguinte ela me veio ver,
tomada de viva emoção, e me comunicou que havia recuperado a joia como eu lhe
havia dito, após o que, tinha ido deitar-se. De repente, ela me viu passeando
no quarto. Logo exclamou: "Oh, Sr. Leaf, encontrei o anel!" E eu lhe
respondi: "Agora, durma!"
Alguns minutos depois, ela caiu em
profundo sono, que durou oito horas. Mas eu não possuía a menor ideia deste
acontecimento! Também não posso duvidar dele. Foi o primeiro, e, que eu saiba,
o único exemplo de haver eu realizado tal experiência.
Este fato se parece muito, em
princípio, com aquele que foi relatado pelo Rev. Stainton Moses e publicado em
Phantasms of the Living ("Fantasmas dos Vivos"). Ele resolveu
aparecer, durante o sono, a um amigo que residia a alguns quilômetros de sua
casa, sem informá-lo previamente de sua intenção. Em seguida, deitou-se, e
acordou no outro dia, sem possuir a menor ideia de que alguma coisa tivesse
acontecido. Entretanto, seu amigo o viu sentado em uma cadeira que ele próprio
acabava de deixar. Para se certificar de que não estava dormindo, ele abriu um
jornal e colocou-o diante de sua face; ao baixá-lo, viu a aparição sempre na
cadeira. Nenhuma palavra foi pronunciada pela visão,
que logo desapareceu.
Muldom tem provavelmente toda a
razão quando diz que a projeção inconsciente do "duplo" se produz,
quase sempre, no estado de sonho. Há entretanto numerosas provas de que ela se
faz também no momento em que os indivíduos estão em vigília e em estado consciente.
A melhor forma de explicar o aspecto de sonho da questão, é analisar os sonhos
imediatamente após o despertar. Concluir-se-á, então, que há grande percentagem de
formas simbólicas nas experiências de desprendimento do corpo físico. Por uma
razão inexplicável, o cérebro etéreo não regista a experiência da mesma maneira
como o faz o cérebro físico. Este último recorre ao simbolismo, no esforço de
simplificar o fenômeno.
A questão do desdobramento é
bastante complicada para a nossa condição. Por experiência pessoal eu sei que
ele se pode produzir de diferentes maneiras, e que mais de um corpo super físico
se poderá formar. O verdadeiro corpo etéreo pertence, de certa forma, ao nosso
mundo físico, mas não é certamente constituído da mesma matéria, ou de matéria
semelhante à de nosso organismo físico comum. Neste ponto de vista, os teósofos
têm mais ou menos razão quando afirmam com insistência que, enquanto o corpo
físico comporta quatro graus de matéria densa, o corpo etéreo consiste em três,
porém mais sutis.
Pode-se adotar esta teoria de
graduação apenas como ilustração; entretanto, ela representa mais do que
simples conjectura. Segundo os teósofos, o corpo etéreo desaparece, desde que
morre o corpo físico. É esta a indicação que deve existir na íntima relação
entre os dois corpos, e pode-se, por isso, esperar que sejam encontradas ainda
outras relações fisiológicas com referência ao assunto.
O que se chama "cordão
umbilical" é caso provado. Dele se encontram testemunhos na Bíblia. Pretende-se
que os dois corpos sejam ligados por um cordão vital, da existência do qual
depende a continuidade da aliança deles. Se ele se rompe, a volta do corpo
etéreo ao corpo físico não é mais possível, e o resultado é a morte deste
último. Não possuímos provas evidentes deste cordão e não se conhece muita
coisa a seu respeito. Entretanto, deve
existir uma relação vital entre os dois corpos, e ela existe provavelmente
graças àquela espécie de cordão umbilical.
Experimentei, por muitas vezes e de
diferente maneiras, o desdobramento, mas não tenho o menor conhecimento da
existência de tal cordão. Pode ser que a causa disto resida no fato de minha atenção
estar sempre dirigida para outros elementos. Sou fervoroso partidário da
introspecção e, invariavelmente, nessas experiências, minha atenção se prende
às reações mentais e emocionais. Elas foram tão atraentes, que eu poderia,
perfeitamente, omitir certos fatos salientes, dentre os quais, o cordão
psíquico.
"Este cordão ou cabo",
declara o Dr. Nad Fodor, que estudou atentamente este assunto, "de semelhança
impressionante com o corpo físico de um recém-nascido e seu cordão umbilical,
está ligado à medula cervical em certas partes do crânio e, segundo alguns
pesquisadores, ao plexo solar”. Esta contradição na localização corresponde perfeitamente
às diversas maneiras pelas quais se procede às experiências do desdobramento.
Parece não haver leis que regulem esta matéria, mas apenas uma regra geral. Por
exemplo, certos indivíduos desdobram-se imediatamente e por completo; outros,
escapam-se pela cabeça; outros, pelos pés, enquanto que alguns pretendem que se
dissolvem e tornam a formar-se acima do organismo físico. E é por diversas
formas que se efetua o retorno ao corpo físico.
De minha parte, sei que volto sempre
pela cabeça, quando retomo gradativamente o controle de meu corpo físico, o que
se processa lentamente para baixo, como se o corpo etéreo se fixasse, com
lentidão, no corpo físico. Certa vez, mesmo, foram-me necessárias duas horas
para realizar o retorno completo, e eu me encontrava inteiramente consciente do
fenômeno durante toda a sua duração.
O Dr. Fodor declara que o cordão
umbilical não é um simples tecido de teia de aranha, mas que se distende mais
longe, sendo, como se supõe, mais denso, desde que não se alongue muito. "É
de cor branco-acinzentada (prateada) e elástico até uma extensão
incrível", como se pode imaginar, desde que se considere a enorme
distância que o corpo etéreo
pode percorrer para aparecer fora de sua outra parte, física. É ele o condutor
da corrente vital que permite ao Espírito ou à alma fazer a coordenação com o
corpo físico, o que parece impossível sem o seu concurso. Sua separação
completa significa a morte imediata.
A primeira experiência de
desdobramento pode ser bastante perturbadora. Em mim, aconteceu que me acordei
antes de ter obtido pleno controle de meu corpo físico. Imaginai uma pessoa
completamente despertada, mas incapaz de mover seu corpo da maneira mais
insignificante! Sentimo-nos como um prisioneiro dentro da mais ínfima das
células, sem auxílio e fazendo esforços para se tornar senhor de seu próprio
corpo! Depois eu me certifiquei, depressa, de que, mantendo-me em estado perfeitamente
calmo e deitado, a volta se efetuaria normal e agradavelmente. A utilização da
vontade não somente retarda o controle, mas também nos conduz ao temor.
No momento atual, a questão do duplo
etéreo e suas possibilidades representa ainda um mistério em vários pontos, e
ninguém possui competência bastante para poder falar com autoridade absoluta.
Da mesma forma que outros fatores naturais, concernentes à vida, é assunto
totalmente particular e pode-se dizer que, talvez no futuro, se descobrirá que
o assunto encerra faces multiformes. Jamais chegaremos, nesta matéria, a
estabelecer uma ciência exata, da mesma maneira como não poderemos, jamais,
formar uma ciência exata no campo da Psicologia.
O que poderá ser ainda mais
embaraçoso, é o caso de vermos o nosso próprio "duplo"! Entretanto,
isto parece ser um fato averiguado. Por outro lado o "duplo" psíquico
pode agir a distância, desde que o paciente o ignore por completo e viva, por todo
esse tempo, sua vida normal.
Certo número de pessoas têm feito
experiência com este fenômeno e, dentre elas, Maupassant, de Vigny, Musset,
Shelley, e o poeta alemão, Goethe.
Goethe descreveu fielmente o
fenômeno. Assim, conta que, viajando a cavalo, ficou surpreso de ver a si
próprio vindo a seu encontro e vestido com roupas que jamais havia usado! Oito
anos depois, encontrava-se na mesma estrada e com os mesmos trajes da visão
anterior. Foram essas as próprias palavras: "Isto não aconteceu por minha vontade, mas por acaso."
O exame minucioso de todos estes
casos conduz-nos à conclusão de que existem exemplos de previsão do futuro.
Entretanto, a dificuldade repousa na incrível realidade do "duplo".
Um dos exemplos mais significativos deste fenômeno foi-me dado por um senhor que se encontrava em Exeter,
no Devonshire, na Inglaterra, e que o aterrou. Ele teve ordem da casa que
representava de procurar certo cliente em determinado lugar, às onze da manhã
seguinte. Com grande surpresa o cliente apresentou-se uma hora mais cedo, trazendo
pequena valise. Apertaram as mãos, discutiram em pormenores o assunto comercial
e se separaram. Uma hora após, o mesmo fato se repetiu: todos os gestos e
palavras foram renovados e, contudo, tem-se a prova de que o cliente não se encontrava
em Exeter na ocasião do primeiro enconntro!
Certas pessoas, em diferentes
épocas, têm-me declarado que elas
próprias me haviam visto e ouvido falar. Entretanto, na maioria dos casos, eu
pude provar que me encontrava muito longe da cena, cuidando normalmente do meu
trabalho ou atividade de sempre.
Assim, foi-me possível provar a um
eminente membro da Sociedade Americana de Pesquisa Psíquicas que o Espírito ou
alma é capaz de viver independentemente, mesmo a grandes distâncias, fora do
organismo físico. A prova mais convincente da existência do "duplo" etéreo se
revela no fato de poder ser visto simultaneamente por diversas pessoas. O
professor Charles Richet cita vários exemplos no seu livro –‘ Trinta Anos de Pesquisas Psíquicas’. Existem além
disso outros testemunhos.
Um dos argumentos preferidos pelos
negativistas da hipótese espírita, no que concerne às materializações é este:
não é outra coisa senão o ‘duplo etéreo’ do médium, modificado para ser ser
semelhante a alguma outra pessoa. Entretanto, os moldes de parafina apresentam a prova objetiva
de são formados por Espíritos materializados. O próprio
físico inglês, Sir William Crookes, confirma que realizou tais experiências.
Posso testemunhar, sem hesitação, a
possibilidade de uma pessoa, residente a mais de 500 quilômetros, manifestar-se
sob uma forma sólida e sustentar comigo uma palestra prolongada e inteligente,
enquanto eu segurava sua mão, parcialmente materializada. E, para confirmar que
realmente se achava presente, antes de se desmaterializar, ela confiou
um segredo, cuja veracidade, mais tarde, pude verificar. Isto a convenceu de
que foi a manifestação do seu "eu" etéreo, se bem que ela tivesse a
menor lembrança do que aconteceu.
Pouco se conhece sobre a melhor
forma de efetuar- se conscientemente um desdobramento etéreo. A maior parte
daqueles com os quais tenho discutido o assunto, sentiram espontaneamente o
fenômeno, e isto com grande admiração. Entretanto, encontrei
diversas pessoas que me declararam serem capazes de se desdobrar à vontade. Uma
delas é um engenheiro que prestava serviços técnicos a uma usina elétrica do
sul da Inglaterra. Ele, no fim, suspendeu estas experiências por temer que,
algum dia, não pudesse mais retomar seu corpo físico. Era chefe de pequena
família e acreditava em
que o risco seria muito grande. Ele não era espírita.
O estudo aprofundado das
circunstâncias referentes ao desdobramento, mesmo o espontâneo, revela um
esforço bem organizado e um objetivo bem definido. Isto poderia produzir-se
abaixo dos limites da consciência. Não há razão alguma para se fazer esta
sugestão, pelo motivo de que a pessoa normalmente ignorava o fim visado.
Sabe-se perfeitamente que a consciência normal não é mais do que uma parte
especializada do Espírito e que ela se acha bastante limitada quanto ao
conhecimento das demais possibilidades do Espírito. Os recalques e a hipnose o
provam.
Nas regiões inferiores do Espírito
há muitos comportamentos dos quais nada conhecemos; certamente é aí que vivemos
a maior parte de nossa vida mental.
Se os recalques podem causar - como
nós sabemos - uma forma de histeria, e reagir inesperadamente sobre o corpo
físico, há poucas razões para negar que, existindo outros elementos estranhos
ao corpo físico, possam produzir-se muitas coisas no domínio do etéreo, a
respeito das quais ainda devemos permanecer na ignorância. Isto naturalmente
deve ser considerado como especulação, mas não uma especulação sem finalidade
justificada.
Devem existir explicações de
aparições fora do corpo físico, e não há, desse assunto, melhor explicação a
não ser aquela que se oferece com a saída do corpo etéreo.
Se um dia a ciência oficial puder
explicar este fenômeno, ter-se-á realizado grande progresso concernente à
natureza do homem, e poder-se-ão, também, descobrir novas condições de
existência. Isto implica em novas concepções do tempo e do espaço, pois o mundo
etéreo não será, talvez, inteiramente físico. Então, nós nos convenceremos de
que o homem poderá encontrar-se ao mesmo tempo em dois lugares diferentes e
duas vezes no mesmo lugar, como no caso de Goethe. ( * )
(Ext. de "Survie" nº 238.)
(Traduzido por Max Kohleisen)
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015
Espiritismo e Ciência
Espiritismo
e Ciência
Túlio Tupinambá / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Abril 1956
O cepticismo de pretensos cientistas
tem sido mais nocivo do que benéfico à Humanidade. A verdadeira característica
do sábio é a humildade honesta, isto é, a humildade que se manifesta espontaneamente,
com o propósito de evitar algo capaz de escandalizar a outrem. O sábio estuda,
analisa, pesquisa, observa, compara e conclui. Não realiza afirmativas apriorísticas,
mesmo quando em face do que possa parecer, à ciência oficial, absurdo ou
paradoxo.
Infelizmente, porém, não é numerosa
essa nobre estirpe de sábios, à qual pertenceram e pertencem homens de absoluto
equilíbrio moral e intelectual, dotados de uma independência admirável e
refratários a influências de caráter religioso, político ou dogmático.
Quando o Espiritismo, no século
passado e nos primeiros anos do presente século, atraiu as atenções do mundo
científico, numerosos foram os homens de ciência que se puseram a fazer
experiências, a fim de descobrirem o que havia de verdadeiro na velhíssima
novidade. Alguns, indiferentes aos preconceitos, se entregaram de corpo e alma
ao trabalho, objetivando encontrar a verdade que haviam vislumbrado. Outros,
entretanto, preferiram adotar atitudes espaventosas, agradáveis aos
impenitentes negadores de todas as épocas e aos servidores do ultramontanismo
absorvente e dominador. Por isto, sábios como William Crookes, para mencionarmos apenas um, sofreram insultos e
humilhações. Repetira-se com ele o que já sucedera com outros legítimos homens
de ciência, incumbidos pelo Alto de romper os liames da tradição balofa, que a
vaidade e o orgulho amparavam. César
Lombroso, enquanto negou a realidade espírita, era apontado como gênio.
Depois que, tocado pela revelação, pode observar, graças à médium Eusápia Paladino, fenômenos
incontestáveis, tendo a bela coragem de confessar a verdade, renunciando aos
pontos de vista que anteriormente professava, passou a ser achincalhado por
aqueles mesmos que o incensavam.
Agora, já era um velho senil, que não possuía suficiente equilíbrio para
discernir entre a verdade e o erro. Não obstante, sua famosa obra póstuma – “Richerche sui fenomeni ipnotici e
spiritici”
- é um monumento que engrandece o Espiritismo, porque ele, não
apenas reconhece a realidade espírita, mas desenvolve considerações
impressionantes, com a autoridade moral e científica que possuía. Em “Cristianismo e Espiritismo”, obra de Léon Denis, que deve ser lida
atentamente por todo aquele que almeja adquirir cultura espírita, há um
histórico magnífico acerca da evolução do Espiritismo, além de estudar a origem
dos Evangelhos, sua autenticidade e seu sentido oculto; as alterações sofridas
pelo Cristianismo e sua decadência, precedendo a Nova Revelação, isto é, o
Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, em sua forma simples e pura.
Há, entretanto, necessidade que os
cientistas se dediquem mais seriamente aos problema que o Espiritismo oferece à
sua argúcia. Não desejamos nós, prosélitos de Allan Kardec, que eles adotem previamente uma postura simpática em
relação ao Espiritismo. O que desejamos é que sejam absolutamente despidos de “parti-pris”
no exame e estudo dos fenômenos espíritas, e se forrem de beneditina paciência
para levar a termo tão árduo quão benemérito trabalho. Mais cedo ou mais tarde,
Espiritismo e Ciência estarão de mãos dadas, porque a Ciência há de alcançar
resultados que a possibilitem a afirmar a veracidade dos postulados espiritistas.
E então, se isto não for para os nossos dias, porque ainda há muito preconceito
e muito dogmatismo, se-lo-á para o próximo milênio pois o Espiritismo não se
baseia em milagres, não se escora em fantasias nem em episódios alucinantes. Em
seu tríplice aspecto – religioso, filosófico e científico – há de afirmar-se a Humanidade
inteira, como já se afirmou a milhões de criaturas despojadas de orgulho e isentas
de vaidade.
O Espiritismo salva, enquanto o
cepticismo, filho dileto do materialismo, conduz os homem ao desespero. O
legítimo sábio não aprova nem desaprova, não afirma nem nega previamente. Estuda,
observa, pesquisa, examina, analisa compara e conclui. Só emite opinião definitiva
quando julga esgotadas todas as fontes de esclarecimento e todos os recursos
investigatórios.
Se são lentos e penosos os avanços conseguidos
na Física, na Química e em outras ciências, digamos da matéria, como
pretenderem que sejam rápidos e fáceis os trabalhos realizados no domínios do
Espiritismo, mesmo no que diz respeito às manifestações físicas? É lamentável
que poucos tenham sido os homens de ciência devotados a tão úteis, embora
dificílimos, estudos. A maioria, utilitarista e imediatista, quer que os “fatos”
se repitam matematicamente como se os Espíritos não tivessem vontade própria e
pudessem estar equiparados a fenômenos invariáveis, sujeitos a fórmulas fixas.
Por isso essa maioria de sábios sorri superiormente, escarnece e nega os
fenômenos espíritas, sem se dar ao trabalho de verificar se são mesmo sábios ou
se apenas aparentam sê-lo. A verdade é monopolizada por eles e também pela
Igreja.
O que não estiver de acordo com os
cânones consagrados pela ciência oficial ou conforme as exigências da Igreja, é
repelido.
O Espiritismo continua serenamente
seu caminho e não tem pressa, porque sabe que a
Humanidade evolui muito lentamente. Quanto mais se demorar o homem a
iluminar-se pelo conhecimento da verdade espírita, maiores serão os obstáculos
que terá de transpor. O homem macerado por sucessivas reencarnações, um dia curvará
a cerviz à verdade e, então, verá que o Espiritismo jamais esteve ou estará em
antagonismo com a Ciência, uma vez que ele é, a um só tempo: Religião, Ciência
e Filosofia.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015
No Mundo
No Mundo
Emmanuel
por Chico
Xavier
Reformador (FEB) Novembro 1956
A pretexto de exaltar nossa fé, não
podemos fugir do mundo, como se o mundo não fosse
a nossa escola de aperfeiçoamento e renovação.
Se o próprio Jesus veio pessoalmente
ao mundo convocar os homens que o povoam a cooperar com Ele na construção do
Reino de Deus, na Terra, é que o Senhor confia nas almas que se encontram no
mundo, falecendo-nos, assim, qualquer autoridade para condenar os que ainda se
vestem de carne, em busca da santificação que lhes é necessária.
O Evangelho não improvisa heróis e
nem relega aos anjos tarefas que devem estar vitoriosas em nossas mãos.
Retirar-se o cristão do mundo para
consagrar-se ao êxtase adorativo, ao redor do Mestre, seria o contra senso de o
soldado afastar-se do combate, mascarando a própria ociosidade com falaciosa
lisonja, em torno do general que o dirige.
É indispensável saibamos aceitar a
nossa posição, dentro do mundo tal qual é.
Se
o erro foi o nosso clima de ação até ontem, saibamos suportar, desde agora, as
consequências de nossa invigilância, reajustando-nos para a verdade e para o
bem. Se jazíamos cristalizados em deploráveis enganos, toleremos as lições
amargas que a ignorância nos impôs e avancemos, de consciência reerguida, para
a luz de nossa própria ressurreição moral.
Não nos esqueçamos de que todos os
vultos veneráveis do apostolado de Jesus saíram do mundo. Todos os gênios da
bondade e da abnegação que com Ele plantaram a bandeira do amor universal na
Terra eram discípulos da experiência humana, diplomados pela bênção divina, no
educandário do mundo.
E, qual acontecia ontem, a oportunidade
de sublimação, hoje, é inalterável.
Vivamos
no mundo, melhorando a qualidade de nossa vida dentro dele, sirvamo-lo sem apego,
recebamos, de ânimo firme, os ensinamentos que nos reserva, cada dia, e assim,
respirando em seus caminhos, sem a ele pertencermos, cooperaremos com o Celeste
Orientador de nossos destinos a edificar para o mundo e com o mundo o
Bem-aventurado e Divino Amanhã.
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