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domingo, 15 de fevereiro de 2015

j. O Pensamento de Indalício Mendes


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f. O Pensamento de Indalício Mendes


Favores


Favores

Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Abril 1956

            A Bondade Infinita de Deus,  a expressar-se nas leis que nos regem, dá sempre,  ajudando aos homens conforme as conveniências da vida.

            Por isso mesmo, é preciso considerar que entre o Pai que dá e o filho que pede, interpõem-se o merecimento e a necessidade.
            Ninguém recolhe o bem sem conquistá-lo.
 
            Ninguém recebe o mal sem atraí-lo.

            Assim sendo, em qualquer requisição à Providência Divina, recordemos nossa própria situação à frente dela.

            Lembremo-nos de que a árvore é amparada pelo pomicultor, a fim de que produza; o animal é nutrido pela natureza} para retribuir-lhe em cooperação: o operário na oficina é contratado para servir e o aluno é admitido no educandário a fim de crescer em conhecimento...

            Antes, pois, de endereçarmos requerimentos à Vida Superior é aconselhável examinemos qual tem sido o nosso concurso em benefício da vida, no plano em que nos achamos.

            Muitos aprendizes da fé recorrem aos Amigos Espirituais solicitando-lhes auxílio nessas ou naquelas aquisições de ordem material; entretanto, é imprescindível compreender que os verdadeiros amigos de nossas almas jamais nos estimularão à preguiça ou à indocilidade, à teimosia ou à negação.

            Suspeitemos, dessa forma, de qualquer proteção gratuita aos nossos desejos, quando conscientemente estamos convictos do nosso dever de renovação e progresso. Tão perigoso é invocar favores delituosos entre os homens quanto rogá-los no mundo dos espíritos porque a ociosidade e a viciação, em toda parte, possui adoradores e o preço dos obséquios imerecidos é sempre o compromisso com a sombra extremamente difícil de resgatar.

            Aceitemos a luta por aprendizado bendito em nosso roteiro de ascensão.

            Dor, dificuldade, tentação, pobreza, infortúnio, solidão, incompreensão, embaraços e provas constituem a força da escola em que nos situamos, e na qual edificaremos nossa vitória futura.


            E convencidos de que a Lei dá sempre, seja o mofo ao pão inutilmente armazenado ou a limpidez à fonte que ajuda a todos, procuremos nela, pelo nosso trabalho e por nossa conduta, o limitado bem de hoje que nos conduzirá ao Infinito Bem de amanhã. 

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O Começo da História sem Fim


O Começo da
História sem Fim

por Lino Teles / Ismael Gomes Braga 
Reformador (FEB) Abril 1956

            Na noite de 28 de Março de 1848, nas paredes de madeira do barracão de John D. Fox, começaram a soar pancadas incomodativas, perturbando o sono da família, toda ela metodista.

            As meninas Katherine (Katie ou Kate) , de nove anos de idade, e Margaretta, de doze anos (1), correram para o quarto dos pais, assustadas com os golpes fortes nas paredes e teto de seu quarto.

            (1) Há, com relação a essas idades, pequenas diferenças entre os autores, seja para menos, seja para mais, As idades que anotamos são devidas a Robert Dale Owen, e parecem ser as corretas. (Veja-se a obra "Katie Fox", de W. G. Langworthy Taylor, 1933, págs. 47-48.)

            Esse barracão, na aldeia de Hydesville, no Condado de Wayne, perto de Nova Iorque, era construído em terreno pantanoso. Os alicerces eram de pedra e tijolos até à altura da adega e daí para cima surgiam paredes de tábuas.

            Seus últimos ocupantes haviam sido os Weekmans, que posteriormente também confessaram ter ouvido ali batidas na porta, passos na adega e fenômenos outros inexplicáveis.

            No dia 31 de Março de 1848 a família Fox deitou-se mais cedo do que de costume, pois havia três noites seguidas que não podiam conciliar o sono. Foi severamente recomendado às crianças, agora dormindo no quarto dos pais, que não se referissem aos tais ruídos, mesmo que elas os ouvissem.

            Nada, porém, obstou a que pouco depois as pancadas voltassem, tornando-se às vezes em verdadeiros estrondos, que faziam tremer até os móveis do quarto.

            As meninas assentaram-se na cama, e o Sr. John Fox resolveu dar uma busca completa pelo interior e pelo exterior da pequena vivenda, mas nada encontraram que explicasse aquele mistério.

            Kate, a filha mais jovem do casal, muito viva e já um tanto acostumada ao fenômeno, pôs-se em dado momento a imitar as pancadas, batendo com os seus dedos sobre um móvel, enquanto exclamava em direção ao ponto onde os ruídos eram mais constantes: “Vamos, Old Splitfoot, faça o que eu faço.” Prontamente as pancadas do “desconhecido” se fizeram ouvir, em igual número, e paravam quando a menina também parava.

            Margaretta, brincando, disse: “Agora, faça o mesmo que eu: conte um, dois, três, quatro”, e ao mesmo tempo dava pequenas pancadas com os dedos. Foi-lhe plenamente satisfeito esse pedido, deixando a todos estupefatos e medrosos.

            Estava estabelecida a comunicação dos vivos com os mortos e assentada uma nova era de mais dilatadas esperanças, com a prova provada da continuidade da vida além do túmulo.

            Naquela mesma noite de 31 de Março várias perguntas foram feitas pelos donos da humilde casa e por alguns dos inúmeros vizinhos ali chamados, obtendo-se sempre, por meio de certo número de pancadas, respostas exatas às questões formuladas. O comunicante invisível forneceu ainda a sua história: fora um vendedor ambulante, que antigos moradores daquela casa assassinaram, havia uns cinco anos, para furtar-lhe o dinheiro que trazia; seu corpo se achava sepultado no porão do barraco, a dez pés de profundidade.

            No barracão havia residido, em 1844, o casal Bell, sem filhos, e que só tinha uma criadinha, Lucretia Pulver, que não raro dormia fora, em casa dos pais. Feito um inquérito, foi ouvida a criadinha, pois o casal já havia desaparecido do lugar. Ela se lembrava de um vendedor ambulante que certo dia aparecera no barracão, e que os patrões a mandaram dormir na casa dos pais, para que o hóspede pernoitasse no quarto dela. Pela manhã compareceu ela em casa dos patrões e soube que o vendedor partira muito cedo.

            Diante do depoimento obtido pelos golpes do batedor invisível, foram feitas escavações no porão, mas era tempo de chuvas e, como a água enchia logo a fossa que se abria no terreno pantanoso, resolveram realizar a busca em época propícia. No verão, continuaram a escavação e, a cinco pés de profundidade, foram encontrados carvão, cal e alguns ossos humanos.

            Por ser muito incompleto o achado, os incrédulos teceram suas dúvidas sobre a verdade da revelação.

            As pancadas continuavam, tendo-as testemunhado várias centenas de curiosos. A pouco e pouco foram estabelecendo uma convenção para receberem respostas mais detalhadas às perguntas que se faziam aos autores invisíveis. Convencionou-se um alfabeto em que cada letra representaria determinado número de batidas: o A seria uma, o B seria duas, o C três, e assim por diante.

            As irmãs Fox viajaram, e também em outras casas, onde se hospedavam, ouviam-se as tais pancadas, travavam-se novas conversações com os Espíritos, processando-se ainda outros fenômenos interessantíssimos. Notou-se que possuíam elas uma faculdade especial, e pouco depois se observou que outras pessoas eram dotadas de semelhantes faculdades: ao contato de suas mãos uma mesa se levantava, dava pancadas com os pés, e essas pancadas respondiam com inteligência a perguntas. Nomes de respeitáveis personalidades já falecidas assinavam belas mensagens anunciadoras de uma revolução no campo moral das criaturas humanas, dizendo que afinal os tempos eram chegados para que novos horizontes se descortinassem aos destinos do homem.

            Surgiu a época das mesas girantes que se tornou epidemia no mundo, como se pode ver da interessante série de artigos de Zêus Wantuil neste órgão.

            Foram as mesas girantes, e depois falantes, que chamaram a  atenção do Prof. Hippolyte Léon Denizard Rivail para os fenômenos espíritas.

            Depois das mesas surgiu a escrita com o lápis preso a uma cestinha de vime e, finalmente, com a mão do médium. Servindo-se desses últimos meios, Rivail elaborou a grandiosa Codificação do Espiritismo.

            Outros casos de depoimentos pessoais de mortos foram registrados e alguns confirmados posteriormente. Os “rappings” e “knockings” não mais se usaram na transmissão de notícias e informações de além-túmulo. O barracão de John Fox envelheceu e desmoronou em parte (2), esquecido por todos, visto que surgiram fenômenos muito mais expressivos, formas de identificação de Espíritos comunicantes muito mais convincentes que levaram os estudiosos à certeza da continuação da vida “post-mortem”.

            (2)  Em 1916, Benjamim F. Bartlett adquiriu os restos do velho barracão, reconstruindo-o na cidade de Lily Dale, N.Y., onde é conservado até os dias atuais. (Veja-se o “Grand Souvenir Book of the World Centennial Celebration of Modern Spiritualism”  , obra publicada nos Estados Unidos, em 1948, pág. 12)

            Passou meio século de esquecimento sobre Hydesville. Eis senão quando, alguns escolares da aldeia, brincando no local das ruínas do barracão, notaram que havia caído parte de uma parede interna, junto do alicerce, deixando visível um esqueleto humano quase inteiro e um baú de ferro. Reconfirmava-se, assim, a declaração do Espírito do vendedor ambulante feita havia cinquenta e cinco anos. O casal Bell ocultara o cadáver e o baú junto da parede da adega e construíra pelo lado interior outra parede. O fato foi consignado pelo “Boston Journal” de 23 de Novembro de 1904, que disse terem ficado assim desvanecidas as últimas sombras de dúvida ainda existentes.

            Ao que tudo indica, o cadáver fora enterrado no centro do porão. Depois, conforme argumenta Sir Arthur Conan Doyle, alarmado o criminoso pela facilidade que havia em ser descoberto o crime, exumou o corpo para junto do muro. Ou porque a transferência se verificasse com muita precipitação, ou porque a luz era escassa, ficaram vestígios da inumação anterior.

            Hoje, esses ossos e o baú se acham em Lily Dale, em um museu, registrando a triste história da inferioridade humana, e recordando o nascimento de uma Nova História para a Humanidade.

            Um mundo de novos fenômenos mediúnicos que se seguiram ao episódio de Hydesville, abriu outros caminhos aos estudiosos. Allan Kardec dilatou ainda mais os conhecimentos a esse respeito, sabiamente coordenando-os para uma compreensão menos imperfeita e mais justa do todo. Posteriormente, notáveis trabalhos, devidos a homens notáveis, trouxeram subsídios importantes à obra da Codificação pois que esta não poderia ficar estática em determinado tempo, terá de viver e crescer sempre, confirmada e apoiada por novos fatos bem verificados e inteligentemente interpretados.

            O começo da História do Espiritismo é a noite de 31 de Março para 1º de Abril de 1848 mas o nascimento da Codificação é o dia 18 de Abril de 1857. Houve nove anos de estudos e observações dos fenômenos, antes de aparecer o primeiro livro de Allan Kardec, e depois desse aparecimento já decorreram quase 100 anos que vão firmemente registrando outros fatos em confirmação e ampliação dos antigos, de todos os tempos.

            Esta História teve começo, mas não terá fim.


Compaixão para os ofensores

Compaixão
 para os ofensores

Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Nov 1956

            Realmente, a compaixão é o tratamento mais elevado e mais justo que devemos prestar àqueles que nos ofendem.

            Quem sofre com paciência e perdão solve a dívida do passado ou acumula créditos no porvir; ao revés, quem gera a flagelação para os outros não, sabe quando conseguirá extinguir a flagelação para si mesmo.

            Sempre que insultado pelas trevas da incompreensão e do crime, guarda serenidade e auxilia sempre.

            A cabeça do calculista, que se aproveita do raciocínio para estender a miséria, pode amanhã transformar-se no esconderijo da loucura, e as mãos que apedrejam serão mirradas pela atrofia.

            A alma do desertor encontra os fantasmas que temem e a língua do maldizente talvez amanhã será compelida a dolorosa mudez.

            Os olhos que se alegram na crueldade conhecerão a cegueira, e os pés que se movimentam na distribuição da calúnia passarão, muitas vezes, por terríveis mutilações.

            Compadece-te de todos os que se confiam ao mal porque ninguém sabe quantas lágrimas chorará; o mandante do sofrimento, nas grades do remorso, para lavar-se contra o lodo da culpa.

            Arma-te de coragem para fazer o bem, ainda mesmo que espinheiros e nuvens, fogo e fel te cruzem a jornada escabrosa na Terra, porque só o bem é capaz de fundir as algemas do ódio convertendo-as em divinos laços de amor.

            Recorda o Cristo, bendizendo aqueles que te chagaram o coração e segue adiante, ajudando e servindo sempre, na certeza de que os carrascos de hoje serão, sem dúvida, os penitentes de amanhã, sentenciados não por ti, mas pelo estigma da condenação que lavraram, desprevenidos e insensatos, em desfavor de si mesmos.


O método nas tarefas mediúnicas


O método
nas tarefas mediúnicas 

por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1956

            Nas tarefas mediúnicas, o método de ação é importantíssimo. Sem ele os resultados poderão ser intermitentes, deficientes ou nulos, em virtude da instabilidade fluídica, que perturba a concentração dos componentes do grupo de trabalho psíquico. Quer para os Espíritos, que tão benévola e eficazmente cooperam para amenizar as dores do mundo físico, quer para os trabalhadores terrenos do Espiritismo, o método é necessário ao serviço comum. Com ele poder-se-á conseguir maior concentração de fluidos, maior homogeneidade de pensamento nas reuniões, maior disciplina no trabalho, que se desenvolverá naturalmente, sem altibaixos, facilitando a obtenção de efeitos mais seguros nas obras de caridade espiritual e mais sólida normalização de esforços, sem sobrecarga para os médiuns.

            Devemos lembrar sempre que uma casa espírita é um templo sem imagens nem rituais, sem sacerdócio militarmente organizado, mas dispondo de hierarquia funcional imprescindível ao estabelecimento da ordem, da disciplina e do amor à Doutrina codificada por Allan Kardec. Essa hierarquia, no entanto, terá de ser rigorosamente subordinada aos princípios doutrinários. Quanto, maior for a obediência a esses princípios, mais seguros serão os resultados da colaboração entre os médiuns e os Espíritos, porque estes sentirão menos empecilhos para levar a bom termo seus elevados desígnios. Às vezes, pessoas egressas de outras religiões ainda não suficientemente libertas de hábitos nelas adquiridos, procuram fazer enxertos nas práticas espíritas, mesmo inconscientemente do erro que praticam, criando inovações absurdas por contrárias aos postulados doutrinários firmados pelo Codificador.

            Como o Espiritismo não tem papa nem bispos, nem corpo organizado de sacerdotes; sendo, como é, uma Doutrina liberal, que confia na consciência do homem esclarecido e deixa a seu livre arbítrio as decisões que toma e os rumos que segue, algumas pessoas desconhecedoras das determinações doutrinárias se julgam aptas a adotar atitudes personalistas e a adotar normas distantes dos ensinamentos que Allan Kardec resumiu na Codificação. Nenhum espírita digno deste nome abusa da liberdade que tem dentro do Espiritismo, começando-por admitir que seu primeiro dever é ser humilde para se colocar em condições de compreender melhor o alcance dos ensinamentos ditados por elevadas e nobres Entidades do Além. Sem humildade não há Espiritismo, porque esta é a qualidade principal daquele que se decide a aceitar a tutela de Jesus, através das lições contidas na Codificação. Assim, o espírita consciente de seus deveres morais e espirituais subordina-se aos princípios doutrinários, porque compreende que não há nem pode haver liberdade absoluta, neste mundo de relatividades em que vivemos. Basta meditar sobre as leis que regem a vida, para se reconhecer que toda liberdade é limitada. Semelham-se as determinações de ordem moral e as de natureza biológica. O homem não deve fazer umas tantas coisas, embora, se o quiser, possa realizá-las, respondendo pessoalmente pelas consequências. Isso tanto acontece na vida moral e espiritual, como na vida física. Se alguém voluntariamente abrevia os dias de sua peregrinação terrena; ou os de outrem, arrastará todo o peso da enorme responsabilidade contraída quando cometeu esse crime. A propósito, mais um valioso subsídio para o estudo da responsabilidade do homem em face das leis de Deus se encontra nesse prodigioso livro - “Memórias de um Suicida”, ditado à médium Yvonne A. Pereira pelo Espírito de um famoso suicida, sob a orientação do Espírito de Léon Denis, o “suave poeta do Espiritismo”.

*

            A responsabilidade está sempre presente em nossos atos e pensamentos, e a Doutrina Espírita, elucidativa e confortadora, como nenhuma outra, dá-nos meios e forças para atendermos às necessidades multifárias da nossa existência terrena e às que temos com o mundo espiritual. Tudo para nós, seres humanos, é relativo, dada a nossa impossibilidade de compreender e abarcar o Absoluto, que é Deus. Somente Ele conhece a essência do Universo. O que promana do Alto, como os ensinamentos espirituais que servem de santelmo à Humanidade nas horas aflitivas, atende, por isso, ao relativismo do mundo físico, surpreendendo-nos  com as revelações progressivas da Verdade, à medida que nos vamos tornando mais aptos à recepção e assimilação paulatina do Conhecimento. Em todos os tempos, as revelações tem permitido ao homem tomar contato e apreender novos aspectos da Verdade, assim como de retificar pontos que erradamente aceitara como revelações, sem os haver submetido ao crivo do raciocínio e à evidência verdadeiramente irretorquível dos fatos. À proporção que a Humanidade vai evolvendo, consolidando sua posição em face do Universo, as revelações vão surgindo, ora aqui, ora ali, deste ou daquele modo, por isto ou por aquilo, aguçando-nos a curiosidade sempre insatisfeita no terreno científico, estimulando a nossa consciência na busca do futuro espiritual e nos dando, a pouco e pouco, novos elementos para progredirmos em direção ao porvir, com mais segurança em nosso trabalho e mais confiança em nossas possibilidades.

            Se o Criador age tão cautelosamente, seguindo um método de sucessivas e progressivas revelações, para não nos levar à desorientação pela incapacidade de compreender toda a Verdade de uma só vez, porque nós, insulados em limitações de limitações, não devemos subordinar nossos estudos e nossa conduta às lições de Mais Alto, seguindo também um sistema de trabalho uniforme e racional, mas progressivo, capaz de permitir a cada um dos nosso semelhantes, como a nós mesmos, a assimilação gradual das Verdades subsidiárias da Grande Verdade?

                                                                                  *

            O médium, por ser um “chamado”, tem enorme responsabilidade moral e espiritual. Não lhe cabe desistir de sua função mediúnica, nem coagi-la ou compromete-la em tarefas que colidam com a Doutrina do Espiritismo, consoante o que se encontra em Kardec. Deve, portanto, estabelecer a sua própria disciplina de trabalho, realizando meditações diárias, precedidas e concluídas pela prece, comparecendo assídua e fielmente à sessões de desenvolvimento ou de trabalho mediúnico, se já for médium desenvolvido. Isto não quer dizer que, sendo necessário, não se entregue ao exercício da mediunidade fora dos dias e horas já determinadas, porque não há horário nem dia estabelecido para a prática da caridade, para a realização do bem. O médium é simples instrumento dos Espíritos. Amparados pela Doutrina e pelas luzes evangélicas, saberá quando pode agir assim, pois há ocasiões em que seu concurso é imprescindível, fora dos programas preestabelecidos para os serviços mediúnicos. Nesses casos, o próprio guia lhe dará a intuição precisa no momento oportuno, se deve ou não entregar-se a tarefa extraordinária. Fora disto, no entanto, o médium necessita de resguardar-se, porque o exercício da mediunidade importa em desgaste nervoso quando não há método de trabalho. Os médiuns esclarecidos sabem que devem repousar, porque recebem dos Guias a orientação devida. Estes sabem que a mediunidade exige cuidado e que os médiuns são instrumentos delicados, que devem ser cuidadosamente tratados, a fim de prestarem sempre os melhores serviços.

            Afora esta parte, os médiuns devem adotar um método de vida pessoal compatível com a manutenção da saúde, evitando excessos de qualquer natureza.

            O método, tão necessário à vida do homem, é de suma importância para o médium particularmente, esteja ou não entregue ao labor mediúnico. Muitos benefícios podem decorrer da ação metódica, benefícios que podem ser mais bem sentidos do que descritos.




sábado, 7 de fevereiro de 2015

O Duplo dos Vivos

O Duplo dos Vivos
Reformador (FEB) Julho 1955

            (Artigo extraído do Boletim trimestral da "Fédération Spirite Internationale"
de Julho de 1954; foi escrito por M. Horace Leaf,
espirita distinto e editor do Boletim acima citado.)

            Há alguns anos, o Strand Magazine publicou uma fotografia, tomada por um sábio alemão, da aparição de um homem de pé, atrás de um grupo de ióguis mergulhados em silenciosa meditação. Era a fotografia de um homem vivo, iógui também, mas residente a alguns quilômetros dali.

            Os espíritas ou psiquistas iniciados não foram surpreendidos por essa imagem, pois uma de suas crenças mais comuns é a de que o homem, a mulher ou, mesmo, uma criança possuem um corpo etéreo, duplo de seu corpo físico. Nada há de novo nesta crença. Reportando-nos, pois, às práticas religiosas das raças primitivas, deduz-se que esta ideia é ao certo, tão antiga quanto a Humanidade.

            Existem numerosos testemunhos deste fenômeno da separação do duplo, na religião cristã, e a Igreja já aceitou esta crença sob o nome de "bilocação”. Conta-se que numerosos santos experimentaram e praticaram esta faculdade, dentre os quais podem citar S. Severo de Ravena, Santo Ambrósio e Santo Antônio de Pádua. Conta-se que este último deixou realmente o púlpito de S. Pedro de Queyroix, onde estava a pregar, e seu corpo etéreo apareceu e falou perante uma assembleia de monges em um convento do outro extremo da cidade.

            Conta-se, também, que, lembrando-se de que devia assistir a um serviço divino neste mosteiro, justamente no momento em que se encontrava no púlpito da igreja, ajoelhou-se deliberadamente perante os fiéis, puxou o capuz para a fronte, e assim ficou durante alguns minutos, no decurso dos quais os fiéis esperaram com todo o respeito. Comparecendo perante os monges e tendo assim cumprido sua promessa, tomou novamente seu corpo físico e reencetou sua pregação na igreja.

            Não é necessário multiplicar as citações, visto que possuímos numerosos exemplos contemporâneos, autenticados por testemunhos certos. Talvez não seja fora de propósito citar um caso pessoal sobre este assunto tão raramente tratado. Pessoalmente, estou consciente de ter deixado meu corpo físico e, assim fazendo, ele se pôs a falar-me.  Aquele esforço fez que eu tornasse a tomar meu corpo; ouvi-o- claramente pronunciar as palavras por ele formuladas. Em minhas viagens pelo mundo, tenho ficado admirado do grande número de pessoas, algumas das quais sem nenhum conhecimento do Espiritismo e nem das pesquisas psíquicas, que me têm declarado haverem feito tal experiência.

            A prova experimental completa desta forma de Psiquismo é rara; mas, há mais ou menos 70 anos, certo número de homens altamente qualificados chegaram a ponto de dar um testemunho positivo deste fenômeno supranormal.

            O primeiro que o testemunhou foi o Coronel Eugênio de Rochas. Seu método consistiu em magnetizar a pessoa, obtendo, por meio da sugestão e de ordens, a separação do "duplo". Revelam algumas das suas fotografias uma separação completa. A forma etérea era, na maior parte do tempo, porosa, mas completamente idêntica à forma humana. Descobriu De Rochas, além de tudo, certo número de traços interessantes concernentes a esta forma vaporosa, demonstrando que ela corresponde ao controle mental do indivíduo a que ela pertence. Ela pode, por exemplo, diluir-se ao atravessar corpos sólidos e, o que é igualmente característico, torna-se a sede das sensações, fato muito significativo, dado que toda sensação parte do domínio mental.

            O Dr. Durville, que vem, em seguida, como experimentador, utilizou-se também de diversos indivíduos; ele conseguiu, com êxito, obter a separação do duplo por meio de passes magnéticos. "O "duplo", disse ele, tem o aspecto do médium, torna-se mais ou menos luminoso e acha-se ligado ao corpo do médium por um tênue fio que parte do umbigo."

            Nestas experiências, igualmente os órgãos das sensações se situam no "duplo" separado do corpo físico. Assim, uma das características mais notáveis do fantasma é que, por vezes, ele se torna meio sólido e húmido, quando o tocamos.

            As experimentações ulteriores demonstraram que o corpo etéreo tem peso e que ele se pode dilatar e contrair à vontade. Seu peso seria aproximadamente de duas onças e meia (mais ou menos, 70 gramas).

            A confirmação disso foi obtida pelo Dr. Duncan Mac Dougall, de Haverfield (Massachusets, U.S.A.), que pesou agonizantes e observou, em seis casos, que o defunto havia perdido entre 2 onças e 2 onças e meia.

            A fotografia psíquica tem oferecido grande número de provas da separação do "duplo" psíquico. Assim, a primeira fotografia obtida por Mumber, o primeiro fotógrafo deste gênero, era a de uma pessoa viva. Posteriormente, no momento em que Mumber fotografava um de seus clientes, este cai em transe e a placa respectiva revela uma representação perfeita dele próprio, de pé, atrás de seu corpo! É desnecessário acrescentar que estes fatos deram origem à teoria de que todos os Espíritos, vistos pelos videntes, não seriam nada mais do que os "duplos" psíquicos de pessoas vivas! Esta teoria, como é fácil deduzir, de forma alguma seria contrária à hipótese da sobrevivência da alma, pois, se se pode afirmar que o espírito humano pode existir fora de seu organismo físico durante a vida, não haveria razão para que o não pudesse após a morte. Só um prejulgamento estúpido poderia diminuir a força desta argumentação.

            Outros psiquistas realizaram experiências análogas e, dentre eles, Frederico Hudson, o primeiro fotógrafo espírita inglês. Certa vez, ele obteve a fotografia do "duplo" de Frank Herne, então famoso médium de efeitos físicos, em estado de transe.

            Eis uma prova evidente de que o desenvolvimento da mediunidade se acha intimamente ligado ao desdobramento etérico, na maior parte das vezes parcial, mas, em certos casos, total. Em razão da sutileza do "duplo" etéreo, é ele raramente visível, e não se devem tirar conclusões senão depois dos testemunhos daqueles que por experiência podem falar da separação do "duplo". A maior parte dos testemunhos se refere a separações parciais, mesmo porque a separação completa divide de forma tão radical os dois corpos que, em geral, o cérebro se torna incapaz de registar as reações mentais que se produzem quando o espírito funciona no "duplo" psíquico. Todavia, é possível, para um indivíduo experimentado, registrar, por seu cérebro, quando houve uma separação completa. Em tais casos, somos autorizados a concluir que existe uma conexão muito ativa entre os dois corpos. Porque isto se dá em determinados casos e não em ontros, ignoramos.

            O exemplo seguinte demonstra quão real pode ser um desdobramento para o organizador, mas não para o sujet: Uma de minhas amigas, que sofria de insônia crônica, havia perdido uma joia de valor. Veio procurar-me com o desejo de poder reencontrar o objeto, e eu pude informá-la de que a joia se achava em sua própria casa, além de lhe indicar o local a que deveria dirigir as suas buscas. Dando-lhe essas informações, eu me aventurei a lhe afirmar que, depois de se ter deitado essa noite, ela pegaria no sono dentro de um quarto de hora e acordaria na manhã seguinte, completamente refeita.

            No dia seguinte ela me veio ver, tomada de viva emoção, e me comunicou que havia recuperado a joia como eu lhe havia dito, após o que, tinha ido deitar-se. De repente, ela me viu passeando no quarto. Logo exclamou: "Oh, Sr. Leaf, encontrei o anel!" E eu lhe respondi: "Agora, durma!"

            Alguns minutos depois, ela caiu em profundo sono, que durou oito horas. Mas eu não possuía a menor ideia deste acontecimento! Também não posso duvidar dele. Foi o primeiro, e, que eu saiba, o único exemplo de haver eu realizado tal experiência.

            Este fato se parece muito, em princípio, com aquele que foi relatado pelo Rev. Stainton Moses e publicado em Phantasms of the Living ("Fantasmas dos Vivos"). Ele resolveu aparecer, durante o sono, a um amigo que residia a alguns quilômetros de sua casa, sem informá-lo previamente de sua intenção. Em seguida, deitou-se, e acordou no outro dia, sem possuir a menor ideia de que alguma coisa tivesse acontecido. Entretanto, seu amigo o viu sentado em uma cadeira que ele próprio acabava de deixar. Para se certificar de que não estava dormindo, ele abriu um jornal e colocou-o diante de sua face; ao baixá-lo, viu a aparição sempre na cadeira. Nenhuma palavra foi pronunciada pela visão, que logo desapareceu.

            Muldom tem provavelmente toda a razão quando diz que a projeção inconsciente do "duplo" se produz, quase sempre, no estado de sonho. Há entretanto numerosas provas de que ela se faz também no momento em que os indivíduos estão em vigília e em estado consciente. A melhor forma de explicar o aspecto de sonho da questão, é analisar os sonhos imediatamente após o despertar. Concluir-se-á, então, que há grande percentagem de formas simbólicas nas experiências de desprendimento do corpo físico. Por uma razão inexplicável, o cérebro etéreo não regista a experiência da mesma maneira como o faz o cérebro físico. Este último recorre ao simbolismo, no esforço de simplificar o fenômeno.

            A questão do desdobramento é bastante complicada para a nossa condição. Por experiência pessoal eu sei que ele se pode produzir de diferentes maneiras, e que mais de um corpo super físico se poderá formar. O verdadeiro corpo etéreo pertence, de certa forma, ao nosso mundo físico, mas não é certamente constituído da mesma matéria, ou de matéria semelhante à de nosso organismo físico comum. Neste ponto de vista, os teósofos têm mais ou menos razão quando afirmam com insistência que, enquanto o corpo físico comporta quatro graus de matéria densa, o corpo etéreo consiste em três, porém mais sutis.

            Pode-se adotar esta teoria de graduação apenas como ilustração; entretanto, ela representa mais do que simples conjectura. Segundo os teósofos, o corpo etéreo desaparece, desde que morre o corpo físico. É esta a indicação que deve existir na íntima relação entre os dois corpos, e pode-se, por isso, esperar que sejam encontradas ainda outras relações fisiológicas com referência ao assunto.

            O que se chama "cordão umbilical" é caso provado. Dele se encontram testemunhos na Bíblia. Pretende-se que os dois corpos sejam ligados por um cordão vital, da existência do qual depende a continuidade da aliança deles. Se ele se rompe, a volta do corpo etéreo ao corpo físico não é mais possível, e o resultado é a morte deste último. Não possuímos provas evidentes deste cordão e não se conhece muita coisa a seu respeito. Entretanto, deve existir uma relação vital entre os dois corpos, e ela existe provavelmente graças àquela espécie de cordão umbilical.

            Experimentei, por muitas vezes e de diferente maneiras, o desdobramento, mas não tenho o menor conhecimento da existência de tal cordão. Pode ser que a causa disto resida no fato de minha atenção estar sempre dirigida para outros elementos. Sou fervoroso partidário da introspecção e, invariavelmente, nessas experiências, minha atenção se prende às reações mentais e emocionais. Elas foram tão atraentes, que eu poderia, perfeitamente, omitir certos fatos salientes, dentre os quais, o cordão psíquico.

            "Este cordão ou cabo", declara o Dr. Nad Fodor, que estudou atentamente este assunto, "de semelhança impressionante com o corpo físico de um recém-nascido e seu cordão umbilical, está ligado à medula cervical em certas partes do crânio e, segundo alguns pesquisadores, ao plexo solar”. Esta contradição na localização corresponde perfeitamente às diversas maneiras pelas quais se procede às experiências do desdobramento. Parece não haver leis que regulem esta matéria, mas apenas uma regra geral. Por exemplo, certos indivíduos desdobram-se imediatamente e por completo; outros, escapam-se pela cabeça; outros, pelos pés, enquanto que alguns pretendem que se dissolvem e tornam a formar-se acima do organismo físico. E é por diversas formas que se efetua o retorno ao corpo físico.

            De minha parte, sei que volto sempre pela cabeça, quando retomo gradativamente o controle de meu corpo físico, o que se processa lentamente para baixo, como se o corpo etéreo se fixasse, com lentidão, no corpo físico. Certa vez, mesmo, foram-me necessárias duas horas para realizar o retorno completo, e eu me encontrava inteiramente consciente do fenômeno durante toda a sua duração.

            O Dr. Fodor declara que o cordão umbilical não é um simples tecido de teia de aranha, mas que se distende mais longe, sendo, como se supõe, mais denso, desde que não se alongue muito. "É de cor branco-acinzentada (prateada) e elástico até uma extensão incrível", como se pode imaginar, desde que se considere a enorme distância que o corpo etéreo pode percorrer para aparecer fora de sua outra parte, física. É ele o condutor da corrente vital que permite ao Espírito ou à alma fazer a coordenação com o corpo físico, o que parece impossível sem o seu concurso. Sua separação completa significa a morte imediata.

            A primeira experiência de desdobramento pode ser bastante perturbadora. Em mim, aconteceu que me acordei antes de ter obtido pleno controle de meu corpo físico. Imaginai uma pessoa completamente despertada, mas incapaz de mover seu corpo da maneira mais insignificante! Sentimo-nos como um prisioneiro dentro da mais ínfima das células, sem auxílio e fazendo esforços para se tornar senhor de seu próprio corpo! Depois eu me certifiquei, depressa, de que, mantendo-me em estado perfeitamente calmo e deitado, a volta se efetuaria normal e agradavelmente. A utilização da vontade não somente retarda o controle, mas também nos conduz ao temor.

            No momento atual, a questão do duplo etéreo e suas possibilidades representa ainda um mistério em vários pontos, e ninguém possui competência bastante para poder falar com autoridade absoluta. Da mesma forma que outros fatores naturais, concernentes à vida, é assunto totalmente particular e pode-se dizer que, talvez no futuro, se descobrirá que o assunto encerra faces multiformes. Jamais chegaremos, nesta matéria, a estabelecer uma ciência exata, da mesma maneira como não poderemos, jamais, formar uma ciência exata no campo da Psicologia.

            O que poderá ser ainda mais embaraçoso, é o caso de vermos o nosso próprio "duplo"! Entretanto, isto parece ser um fato averiguado. Por outro lado o "duplo" psíquico pode agir a distância, desde que o paciente o ignore por completo e viva, por todo esse tempo, sua vida normal.

            Certo número de pessoas têm feito experiência com este fenômeno e, dentre elas, Maupassant, de Vigny, Musset, Shelley, e o poeta alemão, Goethe.

            Goethe descreveu fielmente o fenômeno. Assim, conta que, viajando a cavalo, ficou surpreso de ver a si próprio vindo a seu encontro e vestido com roupas que jamais havia usado! Oito anos depois, encontrava-se na mesma estrada e com os mesmos trajes da visão anterior. Foram essas as próprias palavras: "Isto não aconteceu por minha vontade, mas por acaso."

            O exame minucioso de todos estes casos conduz-nos à conclusão de que existem exemplos de previsão do futuro. Entretanto, a dificuldade repousa na incrível realidade do "duplo". Um dos exemplos mais significativos deste fenômeno foi-me  dado por um senhor que se encontrava em Exeter, no Devonshire, na Inglaterra, e que o aterrou. Ele teve ordem da casa que representava de procurar certo cliente em determinado lugar, às onze da manhã seguinte. Com grande surpresa o cliente apresentou-se uma hora mais cedo, trazendo pequena valise. Apertaram as mãos, discutiram em pormenores o assunto comercial e se separaram. Uma hora após, o mesmo fato se repetiu: todos os gestos e palavras foram renovados e, contudo, tem-se a prova de que o cliente não se encontrava em Exeter na ocasião do primeiro enconntro!

            Certas pessoas, em diferentes épocas, têm-me  declarado que elas próprias me haviam visto e ouvido falar. Entretanto, na maioria dos casos, eu pude provar que me encontrava muito longe da cena, cuidando normalmente do meu trabalho ou atividade de sempre.             

            Assim, foi-me possível provar a um eminente membro da Sociedade Americana de Pesquisa Psíquicas que o Espírito ou alma é capaz de viver independentemente, mesmo a grandes distâncias, fora do organismo físico. A prova mais convincente  da existência do "duplo" etéreo se revela no fato de poder ser visto simultaneamente por diversas pessoas. O professor Charles Richet cita vários exemplos no seu livro –‘ Trinta Anos de Pesquisas Psíquicas’. Existem além disso outros testemunhos.

            Um dos argumentos preferidos pelos negativistas da hipótese espírita, no que concerne às materializações é este: não é outra coisa senão o ‘duplo etéreo’ do médium, modificado para ser ser semelhante a alguma outra pessoa. Entretanto, os  moldes de parafina apresentam a prova objetiva de são formados por Espíritos materializados. O próprio físico inglês, Sir William Crookes, confirma  que realizou tais experiências.

            Posso testemunhar, sem hesitação, a possibilidade de uma pessoa, residente a mais de 500 quilômetros, manifestar-se sob uma forma sólida e sustentar comigo uma palestra prolongada e inteligente, enquanto eu segurava sua mão, parcialmente materializada. E, para confirmar que realmente se achava presente, antes de se desmaterializar, ela confiou um segredo, cuja veracidade, mais tarde, pude verificar. Isto a convenceu de que foi a manifestação do seu "eu" etéreo, se bem que ela tivesse a menor lembrança do que aconteceu.

            Pouco se conhece sobre a melhor forma de efetuar- se conscientemente um desdobramento etéreo. A maior parte daqueles com os quais tenho discutido o assunto, sentiram espontaneamente o fenômeno, e isto com grande admiração. Entretanto, encontrei diversas pessoas que me declararam serem capazes de se desdobrar à vontade. Uma delas é um engenheiro que prestava serviços técnicos a uma usina elétrica do sul da Inglaterra. Ele, no fim, suspendeu estas experiências por temer que, algum dia, não pudesse mais retomar seu corpo físico. Era chefe de pequena família e acreditava em que o risco seria muito grande. Ele não era espírita.

            O estudo aprofundado das circunstâncias referentes ao desdobramento, mesmo o espontâneo, revela um esforço bem organizado e um objetivo bem definido. Isto poderia produzir-se abaixo dos limites da consciência. Não há razão alguma para se fazer esta sugestão, pelo motivo de que a pessoa normalmente ignorava o fim visado. Sabe-se perfeitamente que a consciência normal não é mais do que uma parte especializada do Espírito e que ela se acha bastante limitada quanto ao conhecimento das demais possibilidades do Espírito. Os recalques e a hipnose o provam.

            Nas regiões inferiores do Espírito há muitos comportamentos dos quais nada conhecemos; certamente é aí que vivemos a maior parte de nossa vida mental.

            Se os recalques podem causar - como nós sabemos - uma forma de histeria, e reagir inesperadamente sobre o corpo físico, há poucas razões para negar que, existindo outros elementos estranhos ao corpo físico, possam produzir-se muitas coisas no domínio do etéreo, a respeito das quais ainda devemos permanecer na ignorância. Isto naturalmente deve ser considerado como especulação, mas não uma especulação sem finalidade justificada.

            Devem existir explicações de aparições fora do corpo físico, e não há, desse assunto, melhor explicação a não ser aquela que se oferece com a saída do corpo etéreo.

            Se um dia a ciência oficial puder explicar este fenômeno, ter-se-á realizado grande progresso concernente à natureza do homem, e poder-se-ão, também, descobrir novas condições de existência. Isto implica em novas concepções do tempo e do espaço, pois o mundo etéreo não será, talvez, inteiramente físico. Então, nós nos convenceremos de que o homem poderá encontrar-se ao mesmo tempo em dois lugares diferentes e duas vezes no mesmo lugar, como no caso de Goethe. ( * )

(Ext. de "Survie" nº 238.)


(Traduzido por Max Kohleisen)

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Espiritismo e Ciência



Espiritismo e Ciência
Túlio Tupinambá / (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Abril 1956

            O cepticismo de pretensos cientistas tem sido mais nocivo do que benéfico à Humanidade. A verdadeira característica do sábio é a humildade honesta, isto é, a humildade que se manifesta espontaneamente, com o propósito de evitar algo capaz de escandalizar a outrem. O sábio estuda, analisa, pesquisa, observa, compara e conclui. Não realiza afirmativas apriorísticas, mesmo quando em face do que possa parecer, à ciência oficial, absurdo ou paradoxo.

            Infelizmente, porém, não é numerosa essa nobre estirpe de sábios, à qual pertenceram e pertencem homens de absoluto equilíbrio moral e intelectual, dotados de uma independência admirável e refratários a influências de caráter religioso, político ou dogmático.

            Quando o Espiritismo, no século passado e nos primeiros anos do presente século, atraiu as atenções do mundo científico, numerosos foram os homens de ciência que se puseram a fazer experiências, a fim de descobrirem o que havia de verdadeiro na velhíssima novidade. Alguns, indiferentes aos preconceitos, se entregaram de corpo e alma ao trabalho, objetivando encontrar a verdade que haviam vislumbrado. Outros, entretanto, preferiram adotar atitudes espaventosas, agradáveis aos impenitentes negadores de todas as épocas e aos servidores do ultramontanismo absorvente e dominador. Por isto, sábios como William Crookes, para mencionarmos apenas um, sofreram insultos e humilhações. Repetira-se com ele o que já sucedera com outros legítimos homens de ciência, incumbidos pelo Alto de romper os liames da tradição balofa, que a vaidade e o orgulho amparavam. César Lombroso, enquanto negou a realidade espírita, era apontado como gênio. Depois que, tocado pela revelação, pode observar, graças à médium Eusápia Paladino, fenômenos incontestáveis, tendo a bela coragem de confessar a verdade, renunciando aos pontos de vista que anteriormente professava, passou a ser achincalhado por aqueles mesmos que o incensavam. Agora, já era um velho senil, que não possuía suficiente equilíbrio para discernir entre a verdade e o erro. Não obstante, sua famosa obra póstuma – “Richerche sui fenomeni ipnotici e spiritici” - é um monumento que engrandece o Espiritismo, porque ele, não apenas reconhece a realidade espírita, mas desenvolve considerações impressionantes, com a autoridade moral e científica que possuía. Em “Cristianismo e Espiritismo”, obra de Léon Denis, que deve ser lida atentamente por todo aquele que almeja adquirir cultura espírita, há um histórico magnífico acerca da evolução do Espiritismo, além de estudar a origem dos Evangelhos, sua autenticidade e seu sentido oculto; as alterações sofridas pelo Cristianismo e sua decadência, precedendo a Nova Revelação, isto é, o Espiritismo, que é o Cristianismo redivivo, em sua forma simples e pura.

            Há, entretanto, necessidade que os cientistas se dediquem mais seriamente aos problema que o Espiritismo oferece à sua argúcia. Não desejamos nós, prosélitos de Allan Kardec, que eles adotem previamente uma postura simpática em relação ao Espiritismo. O que desejamos é que sejam absolutamente despidos de “parti-pris” no exame e estudo dos fenômenos espíritas, e se forrem de beneditina paciência para levar a termo tão árduo quão benemérito trabalho. Mais cedo ou mais tarde, Espiritismo e Ciência estarão de mãos dadas, porque a Ciência há de alcançar resultados que a possibilitem a afirmar a veracidade dos postulados espiritistas. E então, se isto não for para os nossos dias, porque ainda há muito preconceito e muito dogmatismo, se-lo-á para o próximo milênio pois o Espiritismo não se baseia em milagres, não se escora em fantasias nem em episódios alucinantes. Em seu tríplice aspecto – religioso, filosófico e científico – há de afirmar-se a Humanidade inteira, como já se afirmou a milhões de criaturas despojadas de orgulho e isentas de vaidade.

            O Espiritismo salva, enquanto o cepticismo, filho dileto do materialismo, conduz os homem ao desespero. O legítimo sábio não aprova nem desaprova, não afirma nem nega previamente. Estuda, observa, pesquisa, examina, analisa compara e conclui. Só emite opinião definitiva quando julga esgotadas todas as fontes de esclarecimento e todos os recursos investigatórios.

            Se são lentos e penosos os avanços conseguidos na Física, na Química e em outras ciências, digamos da matéria, como pretenderem que sejam rápidos e fáceis os trabalhos realizados no domínios do Espiritismo, mesmo no que diz respeito às manifestações físicas? É lamentável que poucos tenham sido os homens de ciência devotados a tão úteis, embora dificílimos, estudos. A maioria, utilitarista e imediatista, quer que os “fatos” se repitam matematicamente como se os Espíritos não tivessem vontade própria e pudessem estar equiparados a fenômenos invariáveis, sujeitos a fórmulas fixas. Por isso essa maioria de sábios sorri superiormente, escarnece e nega os fenômenos espíritas, sem se dar ao trabalho de verificar se são mesmo sábios ou se apenas aparentam sê-lo. A verdade é monopolizada por eles e também pela Igreja.

            O que não estiver de acordo com os cânones consagrados pela ciência oficial ou conforme as exigências da Igreja, é repelido.

            O Espiritismo continua serenamente seu caminho e não tem pressa, porque sabe que a Humanidade evolui muito lentamente. Quanto mais se demorar o homem a iluminar-se pelo conhecimento da verdade espírita, maiores serão os obstáculos que terá de transpor. O homem macerado por sucessivas reencarnações, um dia curvará a cerviz à verdade e, então, verá que o Espiritismo jamais esteve ou estará em antagonismo com a Ciência, uma vez que ele é, a um só tempo: Religião, Ciência e Filosofia. 

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

No Mundo


No Mundo

Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador  (FEB) Novembro 1956


            A pretexto de exaltar nossa fé, não podemos fugir do mundo, como se o mundo não fosse a nossa escola de aperfeiçoamento e renovação.

            Se o próprio Jesus veio pessoalmente ao mundo convocar os homens que o povoam a cooperar com Ele na construção do Reino de Deus, na Terra, é que o Senhor confia nas almas que se encontram no mundo, falecendo-nos, assim, qualquer autoridade para condenar os que ainda se vestem de carne, em busca da santificação que lhes é necessária.

            O Evangelho não improvisa heróis e nem relega aos anjos tarefas que devem estar vitoriosas em nossas mãos.

            Retirar-se o cristão do mundo para consagrar-se ao êxtase adorativo, ao redor do Mestre, seria o contra senso de o soldado afastar-se do combate, mascarando a própria ociosidade com falaciosa lisonja, em torno do general que o dirige.

            É indispensável saibamos aceitar a nossa posição, dentro do mundo tal qual é.
Se o erro foi o nosso clima de ação até ontem, saibamos suportar, desde agora, as consequências de nossa invigilância, reajustando-nos para a verdade e para o bem. Se jazíamos cristalizados em deploráveis enganos, toleremos as lições amargas que a ignorância nos impôs e avancemos, de consciência reerguida, para a luz de nossa própria ressurreição moral.

            Não nos esqueçamos de que todos os vultos veneráveis do apostolado de Jesus saíram do mundo. Todos os gênios da bondade e da abnegação que com Ele plantaram a bandeira do amor universal na Terra eram discípulos da experiência humana, diplomados pela bênção divina, no educandário do mundo.

            E, qual acontecia ontem, a oportunidade de sublimação, hoje, é inalterável.
Vivamos no mundo, melhorando a qualidade de nossa vida dentro dele, sirvamo-lo sem apego, recebamos, de ânimo firme, os ensinamentos que nos reserva, cada dia, e assim, respirando em seus caminhos, sem a ele pertencermos, cooperaremos com o Celeste Orientador de nossos destinos a edificar para o mundo e com o mundo o Bem-aventurado e Divino Amanhã.