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segunda-feira, 25 de março de 2013

25. 'Fenômenos de Materialização'




25

Fenômenos de Materialização
por     Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942



            O Brasil ocupa vasta extensão de território, equivalente a pouco menos de metade da América do Sul, e confina com todas as nações políticas que constituem o continente, exceto o Chile.

            Dizemos nações políticas porque, na verdade, adotado o critério etnográfico, todas essas nações ainda hoje se confundem em suas origens e desdobramentos.

            Iberos e Lusos, neolatinos ambos, os dominadores se mesclaram mais ou menos ao aborígene aqui encontrado, e cujos ancestrais, por sua vez, não prescindem de uma genealogia comum.

            No Brasil, entretanto, como em a Norte-América, outro fator se imiscuiu cedo bastante para caldeamento da nova raça, com a diferença que lá, nos Estados Unidos, o negro se insulou, extremado de cruzamento, enquanto aqui, estimulado pela índole do colonizador, prolificou e preponderou mesmo, ao Norte, em Estados como Bahia e Maranhão.

            Com a bravura e o espírito de liberdade do índio; com a resistência pacífica e a amorosidade do negro; com o espírito de aventura e cavalheirismo do luso, como que se acentuaram e apuraram os característicos do crioulo para receber e assimilar o influxo da civilização europeia.

            Quando assinalamos estes valores étnicos em escorço desta natureza, é claro que não pretendemos subordina-los a influências biológicas quaisquer, pois que o sangue, para nós, é um fluido orgânico especificamente idêntico em todo o ser humano.

            Queremos, sim, e devemos condiciona-los ao ascendente psicológico, ou seja ao contato dos Espíritos em reencarnações iterativas, criando interesses e laços de afinidade intelectual e moral, na formação de uma Pátria comum, com finalidades definidas na evolução da humanidade.

            Assim, do africano a superstição, do índio a exaltação e o ardor votivo, e do luso o misticismo poético se fundiram, para nos dar uma religiosidade pacífica, temperada de suave racionalismo e extreme das violências e demasias que ensanguentaram, quanto denegriram, a evolução religiosa do velho continente. 

            É um fato que, à parte ocorrências isoladas, acidentes mais políticos que religiosos, as lutas sectaristas, a Inquisição, não tiveram eco aquém mar.

            Dir-se-ia que ao sol dos trópicos, em reflorir de seivas, ao contato de uma natureza virgem, quão magnífica, os corações se destravavam, os Espíritos se abrolhavam, as gentes se acomodavam à comunhão de um Novo Ideal também novo como o cenário que se lhes rasgava aos olhos e maravilhoso dessas mesmas maravilhas.

            Duas citas ilustrativas bastam a sancionar o asserto: - Nassau, em Pernambuco, luterano confesso, não consta tenha hostilizado o culto católico e, no Império, por oficial o Catolicismo nenhuma religião, aliás permitida, embora com restrições, sofreu violências.

            Se tais restrições, aliadas ao bafejo oficial, não facultavam a esses credos maior desenvolvimento, não iam, contudo, ao ponto de lhes cercear o proselitismo e estancar as fontes de uma propaganda discreta, que haveria de avolumar e produzir frutos oportunos, como sucedeu com o Protestantismo e com a nossa própria doutrina.

            Proclamada a Republica com surpresa e espanto da maioria da Nação (bestificada, na frase de Aristides Lobo (1), estatuída oficialmente a liberdade de cultos, a "Revelação Espirita", estudada e praticada, até então, de modo por assim dizer "fragmentário e dispersivo, quão platônico, entrou a corporificar-se, havendo por centro de irradiação natural o Rio de Janeiro, a capital do país, o" seu maior e mais importante núcleo de população e intelectualidade.

            (1) Ainda há quem insista no afirmar que Deodoro, ao marchar para a Praça d'Aclamação, não tinha em mente derrubar a Monarquia, mas apenas destruir o ministério Ouro Preto, como consequência da chamada questão militar. Esse seu desígnio fora, porém, anulado in loco e de chofre. E por que não ver nesse incidente uma prova da influência, dos Espíritos, quando ela está por toda a parte?

            Os médiuns curadores, mais que quaisquer outros, repontaram a flux em todas as camadas sociais, á proporção que as obras espíritas se vulgarizavam por todo o país, de Norte a Sul.
           
            Qual o primeiro caso de cura mediúnica? Ignoramo-lo . 

            Sabemos, entretanto, que eles se realizaram por milhares e de tal quilate que aliciaram adeptos na própria classe médica, adeptos do estofo de Marx, Dias da Cruz, Bezerra de Menezes, Maia Barreto, Fernando de Alencar, Pinheiro Guedes, para só falar dos desencarnados .

            Mas, por que essa feição singular, que não teve e não tem paralelo na história espiritista de outro povo?

            A nosso ver; porque a índole, a alma coletiva da nossa gente, a sua formação, o seu determinismo histórico, as circunstancias mesológicas, territoriais, econômicas e morais assim o permitiram, providencial que não fortuitamente.

            É um prisma doutrinário superior, que nenhuma escola clássica poderia consultar e que, mesmo para a generalidade do proselitismo, demanda amplitude de horizontes visuais e muita coordenação de raciocínio, conhecimentos históricos e filosóficos, senso comparativo e alta intuição teleológica.

            A índole brasileira, a própria história do país definem-na como a mais pacífica do mundo.

            Conquistas de ordem moral e politica, tais como a Independência, a igualdade civil (abolição da escravatura), a República, a separação da Igreja e do Estado, a delimitação de fronteiras, tudo se há conseguido, pode dizer-se, sem efusão de sangue.

            Essa indiferença, essa desambição, a miúde julgadas um mal, um sintoma de frouxidão do caráter nacional, é antes, para nós outros, um signo benéfico, um timbre de superioridade moral - antevisão específica, inconsciente embora, da evolução espiritual, prenúncio de confiança, em suma, no potencial divino, em trânsito acelerado para a fraternidade universal.

            Se o Cristo disse - que um fio de cabelo não cairia sem que o Pai quisesse, não devemos daí iludir a lei de trabalho e esforço, que nos compete individual e coletivamente realizar, para enriquecimento do patrimônio de progresso planetário; mas, do esforço e do trabalho inteligente e pacífico à violência, aos surtos da força, às explosões do egoísmo, em detrimento da moral universal e da razão divina, vai todo um abismo, que só pode ser coberto pela lei de Amor.

            Indivíduos, classes de indivíduos e nações, ainda não experimentaram até que ponto a humildade deixa de ser covardia, porque uns e outras, tarados de orgulho - fermento que leveda toda a massa - não se precatam da existência das correntes espirituais que conduzem a humanidade.

            Ora, de um nateiro de Espíritos assim distribuídos e conjugados, o pendor latente e pronunciado por mil feitos esparsos é o da beneficência mútua e, como a desproporção da massa inculta e boa é enorme; como a dispersão dessa massa é também um fato e mais: como essa população numerosa vive em rincões remotos, isolada e pobre, dada a dificuldade de comunicações, era natural que os médicos do espaço aí acorressem e, ao mesmo tempo que curassem corpos, suscitassem a cura dos Espíritos.

            Quem perlustra o interior do nosso país e o conhece na singeleza simplesmente encantadora dos seus hábitos e costumes, sabe que o Brasileiro ainda não contaminado da gafeira do modernismo teórico e dissolvente, é um espiritista inconsciente, seja um cristão inato.

            Ele pode, na verdade, ouvir a sua missa na igrejola rústica do povoado próximo, mas sabe como ninguém de histórias de almas do outro mundo e as conta com a convicção de verdadeiro crente.

            E, se nos centros civilizados o médium prescreve homeopatia, lá, por esses sertões a dentro, é a flora opulenta o reservatório em que os Espíritos buscam remédio para todas as enfermidades.

            Poderá ele, o ingênuo, o mísero instrumento da Providencia, não saber ler; poderá não conhecer, de oitiva sequer, a Doutrina dos Espíritos, mas o que ele não ignora é que há almas boas e almas ruins, pelo que também possui orações para atrair umas e afugentar outras.

            Com mais um pouco, se um dia cai num centro espirita, magnífico de intuição, é de vê-lo adepto integrado naquela "zona lúcida" de que nos fala o ilustre Dr. Paul Gibier (1).

            (1) Analyse des choses.

            Autóctone, remanescente de velhas migrações orientais, ádvena da África ou forasteiro da Europa, mais recente, que importa?

            Ele saturou o seu Espirito no "ambiente espiritual" desta terra de Santa Cruz - é um filho
de Deus que busca o aprisco do Pastor, sob as vistas de Ismael.




9. 'Ciência Religião Fanatismo'

9

Ciência    Religião   Fanatismo

por  Mínimus
(Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938




            Quanto ao Espírito, é natural que encontremos certa dificuldade na compreensão de sua estrutura, e nem a isso tentaremos chegar- as formigas só compreendem o que lhes é possível.

            Se a matéria ainda está tão mal analisada, como pretendermos compreender a formação do Espírito?

            Sabemos, no entanto, existir o Espírito, não só por no-lo terem ensinado, como por não podermos admitir que a matéria pense. Ele só pode ser a causa da inteligência, e este o seu efeito. Os relógios elétricos, diz Kardec, dão uma vaga ideia dessa causa, Desligada a corrente elétrica, que também não vemos, o relógio para.

            Não podemos explicar cientificamente como são formados os Espíritos; não podemos compreender a sua constituição, nem porque são imortais; mas explicamos melhor que todas as filosofias, religiosas ou não, donde partimos e aonde nos encaminhamos, para que existimos e por que sofremos, e isso, sem recorrermos a jogo de palavras, a hipálages (figura de retórica, com que parece atribuir-se às palavras de uma frase o que pertence a outras palavras da mesma frase) e a metalepses (Figura de retórica, em que se toma o antecedente pelo consequente, e vice-versa).

            Desconhecem os nossos antagonistas o que eles próprios são, não sabem onde reside a consciência, ignoram onde se localiza a virtude e a maldade, não explicam os segredos da fecundação e os da morte; vivem às apalpadelas, desnorteados, destruindo hoje as teorias que ontem criaram; entretanto, creem-se gênios, quando não passam de vermes presunçosos. E, como lhes não podemos apresentar a composição química do espírito e a compreensão exata do infinito, obras do Gênio Máximo - julgam-nos vencidos.

            Isso importava querer exigir a um analfabeto a compreensão exata, qual a tem o homem culto, da numeração infinita. Pois é justamente o que nos querem pedir a nós sob-calor de que tudo devêssemos explicar, até mesmo o que só é dado ao Espírito Supremo.

            Pode-se ser humilde, afirmando ignorar, ou orgulhoso, negando a verdade.

            A crença na existência do Espírito, e mesmo na reencarnação, faz parte dos ensinamentos de todas as religiões antigas, inclusive o Bramanismo.

            E mais recentemente, alguns anos antes do nascimento do Cristo, Vergílio, no Livro XI da Eneida, fala-nos que os seres que habitam no inferno são imagens aéreas que voejam sob incorpóreas formas, e mais adiante, no mesmo capítulo, diz-nos pela boca de Anquises: "As almas destinadas a habitar outros corpos bebem, nas águas do Letes, a tranquilidade e o longo esquecimento. Elas tornarão à face da Terra, voltando a novos corpos".

            Como vemos, essa crença não é nova; mas, só o Espiritismo, com a apresentação dos fenômenos, conseguiu demonstrar essas verdades e pode amplificar os conhecimentos anteriores, afirmando aos saduceus de hoje que os Espíritos atravessam a matéria, transportam-se com a velocidade do pensamento e irradiam, de acordo com o seu grau espiritual, mensagens para diversas direções, como o fazem a luz e a eletricidade.

            Flammarion foi um dos que mais defenderam a existência de forças superiores dirigindo a natureza. Em seu "Tratado de Astronomia", afirmava que há na natureza alguma coisa além da matéria cega, que existe uma lei intelectual de progresso governando a criação e que a morte universal não reinará jamais.

            Vede, senhores, que ele assegurava que a morte universal não existe, e hoje, decorridos tantos anos, podemos, com os próprios conhecimentos adquiridos ultimamente pela ciência, ampliar a Lei de Lavoisier, asseverando: - Nada se perde, nada se cria e nada morre na natureza: tudo se transforma. E dizemos - nada morre - porque está provado que tudo tem movimento. A matéria, que julgavam morta, contém elétrons que giram sempre, porque esta matéria está integrada com a energia que a não deixa perecer e antes a transforma pela influência direta do Fluido Universal ou sob sua ação catalisadora.

            Paracelso, o fundador da Iatroquímica (Doutrina médica que surgiu durante o século XVI, a qual atribuía a causas químicas tudo o que se passava no organismo, são ou enfermo) no século XVI, enunciava que o homem é um composto químico e que as moléstias têm por causa uma qualquer alteração deste composto. Ele falava com os conhecimentos da época, pois inda não se havia descoberto a ação do magnetismo e nem se sonhava com a do FIuido Universal, que, há oitenta anos, os espíritas, vimos anunciando.

            O Espiritismo apresenta-nos teoria mais desenvolvida que a de Paracelso: vai além da matéria visível, atingindo a energia instável.

            Bebemos água e ingerimos bicarbonato de soda. Junte-se a cada molécula de água um átomo de hidrogênio, ou tire-se o hidrogênio do bicarbonato, e ambos ficarão intoleráveis e com suas propriedades terapêuticas modificadas, porque não é, pois, possível que inteligências, que nos são mui superiores, possam produzir pelo conhecimento que têm do Fluido Universal, modificações ou alterações no nosso organismo, quando sabemos ser esse fluido o elemento básico de todos os corpos denominados simples.

            Daí concluirmos que a água fluidificada sofre a ação da força magnética ou fluídica, adquirindo propriedades terapêuticas capazes de modificar, alterar, substituir ou fortalecer esse mesmo fluido componente da matéria do corpo humano.

            Daí inferirmos e assegurarmos que há criaturas aptas a servir de transmissoras do fluido vital, modificando, com os "passes", os fluidos de quem os recebe, suprindo deficiências e até mesmo evitando que a vida se extinga.




domingo, 24 de março de 2013

Uma juventude que deseja construir...





Segundo Kenneth Bannister, os ensinamentos espíritas podem ser resumidos em quatro pontos:

1 - A vida e o progresso são eternos.

 - A juventude de agora já experimentou ser  adulta em encarnações anteriores.

3 - Não existe o que se chama velhice, tal como é geralmente entendida. Isso não seria possível na eternidade. Nós apenas nos tornamos mais sábios à medida que evoluímos.

4 - Apenas o corpo físico envelhece.

Bannister  é um espírita experimentado e reencarnacionista convicto. Certamente sabe ele que o Espiritismo é mais do que está contido nos quatro pontos que elaborou; sem dúvida, porém, eles são inteiramente válidos. Os jovens que conhecem a doutrina espírita colocam-se numa perspectiva tranquila e equilibrada. Como diz Bannister , eles sabem que já foram adultos em passadas vidas e também experimentaram aqui e ali a contestação dos mais jovens. O simples fato de estarem hoje integrando um movimento avançado do pensamento, como o Espiritismo, já é testemunho suficiente de maturidade espiritual. É uma juventude que deseja construir, que deseja montar esquemas de vida e progresso em bases espirituais, certos de que este mundo em que vivemos não anda à matroca, sendo, ao contrário, governado por leis divinas sérias e irremovíveis. Que o homem é responsável pelos seus atos e que, se espalhar discórdia, colherá decepções e amarguras. Que a afirmação de sua personalidade não exige implantação da desordem e da revolta. Que a renovação dos valores não é feita com sangue, mas com trabalho constante e pacífico de esclarecimento, porque a sociedade, como um todo, não pode ser melhor do que seus componentes humanos e só evolui à medida que o próprio homem evolve.

Último trecho anotado do artigo: “Lendo e Comentando” de
Hermínio de Miranda
como publicado em Reformador (FEB) Dezembro 1969

sábado, 23 de março de 2013

E eu com isso!?!



"Devemos lamentar aqueles que sabem tanto, mas na realidade sabem tão pouco. A aquisição do conhecimento deveria trazer, não vaidade, mas humildade. O indício de uma alma adiantada não está na basófia, mas na mansidão e na consciência de suas imperfeições que devem ainda ser eliminadas".                                                                  Silver Birch


A tarefa daqueles como nós que já estão na posse de uma verdade superior, é procurar transmitir esse conhecimento ao semelhante, mas não esperar que venham todos correndo para nós, porque a aceitação da verdade renovada exige certa maturidade espiritual e certa dose de humildade intelectual que nem todos alcançaram. O Espiritismo não arrasta ninguém - ele atrai para a luz as almas fascinadas pelo brilho da verdade. O que nos cabe fazer é proclamar o conhecimento que nos foi dado. Se o companheiro não quiser ou não puder aceitá-lo, ouça você o conselho de Silver Birch a uma senhora:

- Não se preocupe. Você não é responsável por ele, mas somente por você. Sempre lhes digo que, por mais que eu os ame, não posso viver a vida deles, pensar por eles ou responsabilizar-me pelos seus atos. Esse dever é deles: como devem decidir a ordenação de suas vidas à luz do conhecimento de que dispõem. Você é responsável pelo que você mesma faz, pelo que diz, pelo que pensa, nem mais nem menos. Você não é responsável pelo que seu esposo diz, pensa ou faz. Isso é da responsabilidade dele.

As observações oportunas de Silver Birch nos servem a nós, os que vivemos na esperança de transmitir a todos os que nos cercam as alegrias das nossas convicções. É que nem sempre encontramos em nossos mais queridos parentes e amigos o eco que faz ressoar em nós as vibrações dos nossos irmãos superiores que vieram trazer-nos a doutrina espírita. Muito estimaríamos que todos seguissem conosco, mas temos de respeitar o estágio evolutivo de cada um, pois, como diz Silver Bírch, não podemos viver as vidas alheias, nem pensar por eles ou assumir a responsabilidade pelos seus atos. Que isso, porém, não nos impeça de continuar pregando, principalmente pelo exemplo eloquente da nossa paz interior diante do infortúnio e das dores inevitáveis da vida humana.

Que não nos aflijam, porém, os resultados imediatos e que não duvidemos da competência de Deus para dirigir o Universo. Silver Birch nos adverte de que está crescendo constantemente o número dos que respondem ao apelo espiritual. E conclui: - Não estamos lutando uma batalha perdida. Estamos alcançando vitórias.

Trecho do artigo: “Lendo e Comentando” de
Hermínio de Miranda
como publicado em Reformador (FEB) Dezembro 1969


'O Espiritismo é o Consolador'




O Espiritismo
é o Consolador
por Túlio Tupinambá  
(Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Julho 1959


            “Assim como o Cristo disse: "Não vim destruir a lei, porém cumpri-la", também o Espiritismo diz: "Não venho destruir a lei cristã, mas dar-lhe execução." Nada ensina em contrário ao que ensinou o Cristo; mas desenvolve, completa, e explica, em termos claros e para toda a gente, o que foi dito apenas sob forma alegórica. Vem cumprir, nos tempos preditos, o que o Cristo anunciou, e preparar a realização das coisas futuras. Ele é, pois, obra do Cristo, que preside, conforme igualmente o anunciou, à regeneração que se opera e prepara o reino de Deus na Terra." (de "O Evangelho segundo o Espiritismo". )

            Na realidade, o Cristianismo, desde que foi "constantinizado", passou a ser na Terra quase que exclusivamente platônico. O estabelecimento do regime sacerdotal com escalonamento hierárquico já representava, em si mesmo, uma divergência do primitivo espírito cristão, pois Jesus fez da humildade a pedra de toque da sua doutrina. Tanto assim que, ao lhe perguntarem os discípulos: "Quem é o maior no reino dos céus? - Jesus, chamando a si um menino, o colocou no meio deles e respondeu: Digo-vos, em verdade, que, se não vos converterdes e tornardes quais crianças, não entrareis no reino dos céus. – e aquele, portanto, que se humilhar e se tornar pequeno como esta criança será o maior no reino dos céus - e aquele que recebe em meu nome a uma criança, tal como acabo de dizer, é a mim mesmo que recebe." (Mateus, capítulo XVIII, v. 1 a 3.) Ora, com essas palavras pretendeu, sem dúvida alguma, inculcar no espírito dos discípulos que todos devemos ser simples e modestos, comedidos e discretos, serenos e compassivos. Nada de orgulho nem sequer de aparências de superioridade. Entretanto, que se tem visto há séculos, da parte de muitos dos que se dizem representantes do Cristo na Terra? Pompa, olvido da humildade cristã, abandono da tolerância cristã, renúncia à simplicidade cristã. As coisas religiosas se misturaram com as coisas políticas, a ambição do poder temporal suplantou a legítima cordura cristã. Antes das Cruzadas, já o espírito cristão desertara daqueles que se consideram seus depositários. A Inquisição, por sua vez, levou a Humanidade a sofrimentos terríveis, numa grande e negra fase da vida do homem. Com o mesmo despudor se invocava o nome de Deus para cometer crimes, falava-se no Cristo para justificar perseguições tremendas. Podemos imaginar o sofrimento terrível do Mestre, diante de tantos e tão prolongados espetáculos de horror!

            Onde está, hoje, o Cristo? Junto aos potentados de religiões materializadas ou com o Espiritismo, que prescinde do poder, que não se preocupa com a política nem com a dominação; que não busca o beneplácito dos poderosos para se beneficiar com favores capazes de alienarem a sua autoridade moral'? Com quem está o Cristo? Com aqueles que abusam de seu nome e não seguem seus ensinamentos ou com aqueles que vivem na humildade, procurando dar cumprimento aos seus elevados preceitos e fazendo da caridade e do amor o seu programa diário?

            Assim como o Cristo e seus primitivos adeptos foram perseguidos pela religião então dominante e caçados pelo poder político, assim continuam sofrendo restrições os espíritas que, para serem fiéis ao Cristo, buscam a exemplificação cotidiana do Evangelho, no lar, na vida pública e em suas sessões de estudo religioso.

            Dizer-se, pois, que o Espiritismo é a Religião do Cristo não constitui despautério, porque essa verdade é simples e positiva como a luz do Sol. À época da sua peregrinação visível pela Judeia, Jesus predisse o advento do Consolador, que os fatos demonstram ser justamente o Espiritismo. Disse o Mestre: "Se me amais, guardai os meus mandamentos; e eu rogarei a meu Pai e ele vos enviará outro Consolador, a fim de que fique eternamente convosco: o Espírito de Verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê e absolutamente não o conhece. Mas, quanto a vós, conhecê-lo-eis, porque ficará convosco e estará em vós. - Porém, o Consolador, que é o Santo Espírito, que meu Pai enviará em meu nome, vos ensinará todas as coisas e vos fará recordar tudo o que vos tenho dito." (João, cap. XIV, v. 15 a 17 e 26.)

            Acompanhemos a explanação de "O Evangelho segundo o Espiritismo": "Jesus promete outro consolador: o Espírito de Verdade, que o mundo ainda não conhece, por não estar maduro para o compreender, consolador que o Pai enviará para ensinar todas as coisas e para relembrar o que o Cristo há dito. Se, portanto, o Espírito de Verdade tinha que vir mais tarde ensinar todas as coisas, é que o Cristo não dissera tudo; se ele vem relembrar o que o Cristo disse, é que o que este disse foi esquecido ou mal compreendido.

            O Espiritismo vem, na época predita, cumprir a promessa do Cristo: preside ao seu advento o Espírito de Verdade. Ele chama os homens à fiel observância da lei; ensina todas as coisas, fazendo compreender o que Jesus só disse por parábolas. Advertiu o Cristo: "Ouçam os que têm ouvidos para ouvir." O Espiritismo vem abrir os olhos e os ouvidos, porquanto fala sem figuras, nem alegorias, levanta o véu intencionalmente lançado sobre certos mistérios. Vem, finalmente, trazer a consolação suprema aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, atribuindo causa justa e fim útil a todas as dores."

            Quando da vinda do Cristo, a Humanidade padecia os erros e as incompreensões da religião judaica. Era preciso destruir preconceitos e cumprir a lei, que vinha sendo desvirtuada, porque o coração do homem se endurecera no egoísmo, na vaidade e na ambição. E Jesus anunciou que não viera destruir a lei, mas lhe dar cumprimento. Os tempos passam e o Espiritismo surge justamente quando a Humanidade se viu em crise idêntica: a religião que se dizia depositária das verdades cristãs se achava distanciada dos ensinamentos do Cristo. Paganizada, usufruía as vantagens de um concubinato com o poder político, desejosa de partilhar ou herdar esse poder. Então, o Espiritismo, pela palavra de Allan Kardec, que se fez intérprete da vontade do Alto, codificando as mensagens enviadas por Espíritos de escol, começara a sua tarefa. Cada dia mais ele se aprofunda no coração da Humanidade, alargando o seu âmbito de influência. Dentro da sua pobreza, o Espiritismo se enriquece com as luzes do Alto, e se expande e se fortalece na alma dos homens esclarecidos. Amparado pela fé em seus destinos, resiste a todos os insultos e calúnias, lançando o perdão às bocas que vituperam, certo de que, em encarnações futuras, muitos dos seus detratores de hoje se encontrarão nas fileiras dos que realizam a boa luta pela evangelização de todas as criaturas humanas.

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sexta-feira, 22 de março de 2013

Teus Filhos



Teus Filhos

Emmanuel
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Dezembro 1969

            Se conflitos inquietantes te envenenam a alma, obstando-te a harmonia conjugal, as leis da vida não te impedem a separação do companheiro ou da companheira, com quem a convivência se te fez impraticável, embora, com isso, estejas debitando ao futuro a solução de graves compromissos em tua vida de espírito... Entretanto, pensa nos filhos. Almas queridas que viajaram das estâncias do passado, pelas vias da reencarnação, desembarcaram no presente, através dos teus braços, suplicando-te auxílio e renovação.

            Quem são eles? Habitualmente, são aqueles mesmos companheiros de alegria e sofrimento, culpa e resgate, nas existências passadas, em cujo clima resvalaste em problemas difíceis de resolver. Ontem, associados de trabalho e ideal são hoje os continuadores de tua ação ou intérpretes de tuas obras.

            Quase sempre, renascemos na Terra à maneira das vergônteas de uma raiz, e, em nosso caso, a raiz é o conjunto de débitos e aspirações em que se nos desdobram os dias terrestres objetivando nossa ascensão espiritual. 

            Os filhos não te pedem apenas dinheiro ou reconforto no plano físico. Solicitam-te igualmente assistência e rumo, apoio e orientação.

            Se te uniste com alguém no tálamo doméstico, semelhante comunhão encerra também todos aqueles que acolhes na condição de herdeiros do teu nome, a te rogarem proteção e entendimento, a fim de que não lhes faleçam o dom de servir e a alegria de viver.

            Em verdade, repetimos, as leis da vida não te impedem o divórcio, porque situações calamitosas existem no mundo nas quais a alma encarnada se vê sob a ameaça de naufrágio nas pesadas correntes do suicídio ou da criminalidade e o Senhor não faz a apologia da violência. Apesar disso, considera a extensão dos teus compromissos, porquanto não te reunirias com alguém no âmago do recinto caseiro para a criação da família ou para a sustentação de tarefas específicas, sem razões justas nos princípios de causa e efeito, evolução e aperfeiçoamento,

            Sejam, pois, quais forem as circunstâncias constrangedoras que te afligem no lar reflete acima de tudo, em teus filhos, que precisam de ti. A tua união inclui particularmente cada um deles e eles, que necessitam hoje de tua bênção, se buscas esquecer-te a fim de abençoá-los, amanhã também te abençoarão.

CEC, na noite de 21/2/69, em Uberaba, Minas.)




24. 'Fenômenos de Materialização'



            24

Fenômenos de Materialização
por     Manoel Quintão
 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
 1942

            Um fato típico e ilustrativo do acerto, aqui merece lembrado.

            Em 1907 reunia-se em Haia a notável "Conferência da Paz", na qual se deram entrevista os mais lídimos expoentes da civilização contemporânea.

            Todos os povos ditos policiados, as pátria de maior lustre na historia do mundo para a hora planetária que transcorria, ali se achavam representados pelo que de mais são se pudera julgar de suas capacidades de pensamento e ação predominantes.

            Em memorável plenário de inteligência e sabedoria, ali se firmaram projetos e desígnios da mais alta moralidade coletiva, ao mesmo passo que do maior alcance politico, social, internacional, para orientação e progresso pacífico da humanidade.

            Nada obstante, sete anos depois, quase de súbito, estalou a guerra europeia, que bem se pode dizer mundial nas consequências!

            A esse prélio nefando e diabólico, em espasmos de verdadeira loucura concorreram, no mesmo nível de bruteza e ferocidade, aqueles mesmos povos - oh! irrisão! - ditos cristãos e civilizados, ao aceno daqueles mesmos patronos e dirigentes que lhes haviam outorgado, anos antes, um Congresso da Paz!

            Ninguém queria a guerra, afirma-se ainda hoje e nós o acreditamos, mas a guerra se fez e todos a fizeram!

            No momento crítico, no momento psíquico da catástrofe, não houve um cérebro de estadista, uma voz de imperante capaz de sustar a conflagração!

            Seria que a guerra fizesse ou faça parte integrante da evolução coletiva de nossa humanidade?

            Seria que esse atentado à lei maior do amor, universalmente consagrada em todas as Teogonias, e, no mínimo, tão nefando quanto o homicídio, passível de penalidade cominada por todos os códigos de legislação humana, se enquadrasse nos desígnios da Providencia?

            Ninguém o diria, ninguém o dirá, senão que a Providencia se conjuga, na espécie, ao livre arbítrio humano, para que tenha cada qual a responsabilidade de seus atos, proporcional ao grau de sua consciência e à tarefa que escolheu.

            Ninguém queria a guerra, coletivamente falando, é certo; mas, individualmente, todos a previam e ninguém de boa fé se propunha combater o germe latente de suas possibilidades entrevistas.

            Quem, no entanto, poderia prever lhe as consequências imediatas ou remotas, bem como o momento e o pretexto no qual e pelo qual deflagraria?

            Mas, pergunta-se: teriam os Guias desses povos deixado correr à revelia o advento abominável?

            A que se reduz, então, o seu missionarismo, se não lhes é permitido desviar de seu curso fatal os acontecimentos?

            Nossa presunção é que esses Guias procuram, sem violentar a Lei, esclarecer as consciências, suscitando aos responsáveis diretos pelos problemas terrenos as soluções convinháveis.

            Não podendo eles, contudo, desmantelar a entrosagem das causas e ascendentes de tais choques - ainda mais porque cada povo, como cada indivíduo, tem de entesourar a sabedoria pela experiência e, o que é mais - resgatar as culpas coletivas, os atentados de concerto cometidos no transcurso dos séculos -limitam-se a atenuar lhes os efeitos, tirando desses pravos (injustos, maus, perversos) acontecimentos, desses flagelos, o proveito aleatório possível, fazendo desde logo germinar e florir de esperanças a sementeira da desolação e da dor.

            Rasgam-se, assim, no céu da humanidade, ao refazimento sucessivo das gerações alternadas, horizontes novos, e o que se verifica é que, dos planos com que cada povo entrou na liça, nenhum se realizou integral, na exata medida das previsões humanas.

            Eles, só eles, esses Guias Espirituais, poderiam sabe-lo, porque só eles podem reivindicar a investidura de intérpretes do pensamento divino, que conduz povos, humanidades, mundos ...

            Meditem um instante, os que porventura recusam este arbítrio imanente, na inocuidade de quantos Congressos, Tribunais, Conferencias e Ligas se hão ajustado post-bellum para concertar o mundo, vendo esvaecerem-se lhes os propósitos a cada passo, como espumas flutuantes de mares encarneirados .

            Admitamos, porém, que os governantes possam volver-se para o mundo das causas; que, em vez de confiarem na força dos próprios raciocínios e na força das próprias armas, se apropinquam à intuição manante sempre dos planos superiores; que, em vez de Machiavel, de Mazzini, de Maetternich ou Richelieu, meditem o Evangelho de Jesus; que, ao invés da glória de póstumas consagrações - no fundo inconsequentes, porque são eles os primeiros a duvidar da sobrevivência da alma - lobriguem a hipótese de uma reencarnação planetária com todas as consequências de sua atual conduta!

            Esses Guias entrariam desde logo a modificar a face do mundo, e a politica deixaria de ser a arte de governar povos oprimindo povos, deixaria de os conduzir pelo servilismo inconsciente à chacina eventual e calamitosa.

            Seria, ao contrário, a arte benemérita de felicitar os povos, a fim de ascenderem maiormente na escala espiritual, porque digno é o trabalhador do seu salário, como bem o disse o Legislador de todos e para todos os tempos.

            Força é, contudo, reconhecer quão longe ainda nos encontramos dessa etapa, em virtude da qual a influência das relações entre encarnados e desencarnados se fará sentir na vida pública e, o que é mais - na vida dos povos entre si.

            Ainda por décadas, quiçá por séculos, o preconceito de casta, de nacionalidade, de hierarquia social e política - fórmulas do ingênito, humano egoísmo - se fará sentir como impasse maior à felicidade coletiva, o predito reinado da paz entre os homens.

            Porque, evidentemente, para atingir esse estágio, haverá o homem de o realizar antes, em si e na família, para o transportar de seguida à vida pública.

            Ora, a família humana, no dizer de um pensador do espaço, ainda se compõe de alianças heterogêneas, sem força coesiva para alcançar o seu objetivo, objetivo que não pode ser outro senão o afeiçoamento dos Espíritos em reencarnações iterativas e conjugadas para a obra mais lata da confraternidade universal.

            É debalde que se pretende melhorar a sorte das crianças por meio de legislações meramente convencionais, desde que se lhes não faça compreender a finalidade superior da existência em suas naturais vicissitudes e contingencias.

            Melhorar o, homem; mas melhora-lo racional e substancialmente, sem violências, sem coações de consciência, eis o problema!

            Postos assim de manifesto, todos os problemas atuais da humanidade se achanarão, e no quadro nebuloso do futuro se delinearão, desde logo, os traços de um cooperativismo bem entendido, isento de hegemonias, opressões e rivalidades.

            Cada povo compreenderá que a sua posição histórica, política, geográfica, deixa de ter significação exclusiva e absoluta, ou privilegiada, para entrosar no determinismo universal.

            O mais forte, o mais rico, o mais poderoso, o melhor aquinhoado na partilha transitória, compreenderá que a vantagem, que toda a vantagem é ilusória, vã, até contraproducente e negativa, se se não filiar a objetivos gerais de benefício comum.

            Assim como um homem egoísta, avarento, a insular-se entre pobres e famintos cria em torno de si ambições e perigos que lhe ameaçam tesouro e vida; assim como o sábio, egoisticamente confinado entre ignorantes, engendra hostilidades e sacrifícios da incompreensão mesma do seu saber; assim os povos exclusivistas, autoritários, egoístas, se condenam ao aniquilamento de si mesmos.

            E porque o quem com ferro fere com ferro será ferido não se restringe à esfera individual e tem, ao demais, como toda a palavra do Cristo, acepção universal, vemos nós, no decurso da História, os velhos impérios desaparecidos, ou simplesmente transmudados em colônias secundárias, incapazes de dar uma ideia da sua passada opulência, do esplendor de seus fastos.

            Tebas, Nínive, Babilônia, Atenas, Cartago, Roma, onde estão?

            E os Tutmés, os Ciros, os Alexandres, os Césares? Mais modernamente, Carlos Magno, Felipe lI, Napoleão?

            E o próprio sonho de Guilherme lI, lançando ao mundo pasmo o desafio da sua formidolosa máquina guerreira, a que se reduz, encarado sob este prisma, à luz da realidade contemporânea?

            Relutam os governos em abdicar do tradicional critério, arrogando-se poderes de árbitros do Futuro: cristãos presuntivos, esquecem que o Cristo disse - meu reino não é deste mundo e quando, em meio ás tempestades por eles engendradas, estala o raio da provação, maldizem o raio e loucos, e cegos, e orgulhosos, não se precatam que o aniquilamento, a evaporação, dos próprios, quiméricos sonhos, - falam de um Determinismo providencial, que lhes escapa, sempre que nele não incidem, inconscientes embora de sua influência. 


8. 'Ciência Religião Fanatismo'



8

Ciência    Religião   Fanatismo

por  Mínimus
(Antônio Wantuil de Freitas)
Ed. FEB
c.1938


Palestra 2

ESPIRITISMO E CIÊNCIA

            Com os olhos espirituais voltados para o Alto, tangemos as cordas sensitivas da alma, na esperança de que as vibrações geradas possam transmitir ao Ser dos Seres o nosso reconhecimento, por permitir-nos nova oportunidade de palestrar convosco.

            Crede que sentimos admiração, vendo-vos novamente presentes à reunião de hoje, porquanto alguns jornais anunciaram que o orador seríamos nós. Antes, pois, de entrarmos no assunto das nossas cogitações, cumpre-nos apresentar-vos agradecimentos pelo conforto que nos trazeis, bem como cientificar-vos de que nos ufanamos dessa grande dose de benevolência, que, mais uma vez, verificamos caracterizar os espíritas.

            Como já percebestes, as nossas palestras giram em torno da obra luminosa que os Espíritos nos transmitiram, esforçando-nos por demonstrar que seus ensinamentos anteciparam o progresso da ciência humana, que, dia a dia, mais se aproxima das verdades, conhecidas por nós outros, há tantos anos, através do Livro dos Espíritos.

            Procuramos seguir a mesma orientação desse livro de Sabedoria, no qual é, aliás, observada a sequência geral a todas as religiões: Primeiro - Deus, depois a matéria e, finalmente, o Espírito.

            Todos os livros considerados sagrados obedecem a essa ordem, e a orientação dos Espíritos da Terceira Revelação não na alterou.

            Digressamos algumas vezes, desviando-nos do objeto da palestra, levado pelo entusiasmo do espírito diante da grandiosidade e perfeição da obra do Senhor, ou perante a doçura e pureza dos ensinamentos do seu Cristo, mas, espíritas que sois, deveis compreender que esses arrebatamentos nos são habituais.

            Aliás, não temos a pretensão de esgotar o assunto deste ou daquele ponto, nem a presunção de que isso nos seria possível. Desejamos, apenas, estimular os espíritas ao estudo e à meditação, e apresentar-lhes, entre os argumentos que já lhes são conhecidos, outros que reputamos úteis para conseguirem aproximações de criaturas ao Criador. 

            Na palestra anterior, demonstramos, racionalmente e de acordo com a ciência, que a matéria é una, como nos ensinaram os Espíritos. Falamos do bombardeamento de alguns corpos simples produzindo o hidrogênio, corpo, único que se encontra no período inicial da ação das nebulosas, e que, único no começo acaba por transformar-se, gerando os corpos simples encontrados em todos os planetas.

            Não falamos apenas dos movimentos dos elétrons, perfeitamente iguais aos dos planetas em redor do Sol, movimentos esses de translação em órbitas elípticas, mas referimos, também, os de rotação, que neles igualmente se verificam.

            Tudo isto vem corroborar os ensinos que do Alto nos estão vindo há oitenta anos, conhecimentos que têm sido renegados pelas Academias, onde, infelizmente, sempre predominou o materialismo ou a comodidade religiosa dos que preferem estar bem com os potentados. Ambos, materialistas e apáticos, pouco se preocupam com o que lhes não aumentam os prazeres materiais da existência. Muito mais fácil lhes é, enchendo-se de filáucias acadêmicas, classificarem de loucos os que lhes apresentam fatos novos, acima da sua capacidade de assimilação. Assim fizeram com o fonógrafo de Edison, assim procedem com mais fortes razões, com os fenômenos que se não produzem por máquinas nem pela vontade do homem.

            Uma força, todavia, muito maior, inspirando os verdadeiros cientistas, auxiliando-os em novas descobertas, vem derrubando o edifício dos filauciosos, tirando-lhes a fonte de suas concepções, o alicerce de suas teorias - a realidade da matéria, tal como a supunham.

            E esses homens, guindados a posições de destaque como orientadores da cultura da humanidade, são, entretanto, empecilhos ao desenvolvimento rápido da ciência, constituindo obstáculos aos que desejam ir além do que eles conseguiram armazenar, porque seus cérebros estacionaram após a conquista dos títulos acadêmicos.

            Parece desarrazoada essa nossa afirmativa mas não o é. Os maiores inimigos do progresso espiritual da humanidade, tirante os padres, sempre foram esses pretensos cientistas de literatura, como se esse arremedo polimático, que os elevou a falazes glórias, pudesse merecer nome de ciência, quando, na realidade, cientistas só o são os físicos, os químicos e os astrônomos, e, ainda assim, cada qual dentro da sua esfera, sem passar além das chinelas de Apeles - "Ne, sutor, ultra crepidam". (‘sapateiro, não vá além do calçado’. O pintor Apeles assim responde ao sapateiro que, depois de criticar a sandália, pretendia analisar o resto do quadro.)

            Aos fenômenos espíritas, chamam-lhes surdos e impossíveis; a nós taxam-nos de loucos e até de velhacos; esquecem-se de que vultos geniais da ciência verificaram esses fenômenos; negam-se a estudá-los e, nessa ignorância absoluta, afirmam que tudo é mentira, fraude ou ilusão, estribados tão somente no orgulho néscio, exatamente como o analfabeto que dissesse louco o homem, a quem surpreendera somando letras do alfabeto na resolução de um problema algébrico.

            Discutir sobre um assunto que se não conhece, é o mesmo que criticar a Ilíada de Homero, sem nunca ter, sequer, folheado a Mitologia.

            Como podem saber que os fenômenos não existem, se os não estudaram. Como desejam merecer o nosso respeito, ambicionando que neles vejamos cientistas e sábios, se concluem, opiniaticamente, sem exame e, sobretudo, sem nada provar! : - "Sapiens nihil affirmat quod non placet.(o homem sábio nada afirma sem provas)

            Olvidam que Richet, o gênio da Medicina do Século, levou quarenta anos examinando os fenômenos espíritas; que Crookes, a quem devem dúzias de descobertas científicas, afirma a sua realidade; que centenas de outros gênios os observaram durante longos anos em laboratórios para esse fim escolhidos; esquecem-se de tudo, e continuam falando parvamente, como se a humanidade hodierna fosse a mesma que esperou cem anos, para que eles confirmassem o movimento da Terra.

            Felizmente, porém, a base, sobre a qual lhes assentam as convicções materialistas, a matéria - já os começa a desorientar, já lhes está fugindo, porquanto a química, tendo provado o poder de difração dos elétrons, colocou a matéria em posição embaraçosa, visto que este predicado não lhe era admitido, só o sendo para as ondulações dela desprovidas.

            De outro lado, ainda a Física e a Química, com o aparecimento dos elementos radioativos, descobrindo lhes variedades de raios que podem ser fotografados, raios que têm influência sobre a célula viva, ora auxiliando ou paralisando o desenvolvimento dos tecidos, ora destruindo-os, obrigam os materialistas a meditar sobre o nada, a que sempre se agarraram.

            Não conhecem a formação, a estrutura e as transformações do que chamam matéria, e querem que aceitemos teorias criadas sobre alicerces que eles próprios ignoram, no desejo de, com elas, nos provarem a não existência do Espírito, quando tais teorias, formadas com magia plástica de palavras, não satisfazem aos homens do século XX, que só aceitam estilo de ideias, de compreensão, de intelectualidade, de raciocínio.

            Vai fazer setenta anos, senhores, e portanto muito antes das descobertas dos raios X e da teoria moderna da constituição dos átomos, que Kardec nos dizia ser a solidificação da matéria um estado transitório do fluido universal, podendo mesmo voltar a esse estado primitivo.

            Claude Bernard, o grande fisiologista, já afirmava, nos fins do século XIX, que a matéria é privada de espontaneidade, que nada gera, e é movida pela força que a criou. E, referindo-se à matéria cerebral, confessava que ela não tem noção do pensamento que se manifesta, e que a Medicina, da qual era ele expoente, não sabe porque pesa a matéria, nem como a substância nervosa, que também é matéria, tem a faculdade de pensar

            Se os nossos capitosos homens de ciência procurassem ao menos ler o que se passa no mundo científico do Espiritismo, ficariam mais bem informados; e talvez se resolvessem a repetir a velha frase: "Sei que nada sei"; não nos mais livelando, então, aos seus amigos - os vendedores de lugares no Céu - nem se aliando a estes em cerimônias teatrais, cultos faustosos e exteriorizações ridículas - recursos políticos mui distanciados dos princípios do Cristianismo,

            Sabem que dois corpos se combinam para formar um terceiro, completamente diverso dos corpos originários, entretanto nada entendem da essência desses corpos e muito menos da força que os faz reagir; sabem a matéria, que dizem inerte, ser difrativa e movimentada, mas nada conhecem além disto; sabem que um grão de trigo germina milhares de anos depois de colhido, mas ignoram porque conserva ele essa vitalidade; no entanto, a nós, que compreendemos todos esses fenômenos, pretendem dar-nos lições de sabedoria, chamando-nos ignorantes.

            Ainda agora, os jornais franceses noticiam que vários cientistas se preocupam com certas radiações emitidas pelo solo, radiações a que atribuem uma infinidade de efeitos, desde o desenvolvimento de vegetais, até a causa de moléstias várias, inclusive os cânceres. Esses estudos têm á frente o sábio, astrônomo francês, Henri Deslandes, membro do Instituto. É bem possível que, amplificando suas experiências, melhor venham explicar essas radiações, as quais devem existir, não só em virtude da eletricidade da Terra, senão por se conciliarem com as descobertas de Curie, que puseram em evidência a formação de corpos radioativos novos, sob a influência de substâncias radioativas já existentes, e, ainda, por se acordarem com a nossa teoria do Fluido Universal.

            Os Espíritos sempre disseram encontrar dificuldades para apresentar-nos certas questões de ciência, visto que a nossa pobreza de linguagem os impossibilita de se explicarem mais claramente; contudo, com o progresso da ciência da Terra, já se vão descortinando aos poucos os ensinamentos que eles desejaram e tentaram dar, e os quais, só agora, se tornam mais compreensíveis.

            Sem querermos plagiar a Trindade dos católicos, teoria só admissível nos meios panteístas e nos do paganismo, podemos dizer que existe uma Tríade que alimenta o Universo - Deus, Espírito e Fluido. A primeira Pessoa é a criadora das outras duas, e estas as executoras dos desejos d'Aquela.

            Do Fluido Universal tanto provêm os fluidos magnéticos e elétricos, como os diversos estados da matéria e a força mecânica dos seres inanimados.

            Do Espírito vem a vitalidade, e, com esta, uma longa escala, desde as inteligências rudimentares até as inteligências elevadas.

            O perispírito, espécie de roupagem do espírito, é formado desse fluido, levemente materializado, ou seja matéria quintessenciada. E tanto isso é real, que ele se deixa fotografar quando auxiliado com a reunião da matéria mais densa do médium, podendo mesmo tornar-se visível, palpável e até readquirir, por alguns momentos, todas as faculdades peculiares aos encarnados, ao ponto de turvar com a respiração a água de sal e de se deixar auscultar, por médicos.

            Como matéria, que não deixa de ser, ele se modifica de planeta a planeta, assim como toma as aparências permitidas pelo grau de adiantamento do Espírito.

            Incorpóreo, traspassa qualquer matéria, e disto não pode haver dúvida, por isso que inúmeros gases, de matéria muitíssimo mais densa, atravessam as paredes de recipientes, aos nossos olhos intransponíveis. O perispírito é, pois, matéria, mas tão diferente da que conhecemos, como o vapor em relação à água.

            Vemos, portanto, existir a matéria visível e ponderável, e uma infinidade de estados diferentes de sua apresentação; daí classificá-la como energia estável e energia instável, incluindo-se nesta última a luz, o magnetismo, a eletricidade, etc.