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domingo, 27 de maio de 2012

27 de Maio



27 Maio

  O corpo não é gaiola
Que a nossa alma retém,
Mas uniforme de escola
Que ao Espírito convém.


 Salvador Gentile

in ‘Escola da Vida’ (IDE) - 1ª Ed  1987



sábado, 26 de maio de 2012

26 de Maio



26 Maio

  Descansemos Deus um pouco
de pedido e amolação.
Deus atende nossas preces
através de nossa ação.

 João Moreira da Silva

 por  Alaor Borges Jr
in ‘Servidores da Verdade” 
(Ed Espírita Paulo e Estevão –Uberaba MG - 1998) 


sexta-feira, 25 de maio de 2012

'Historiografia Transcendental'


   Historiografia
Transcendental

por Hermínio C Miranda

Reformador (FEB) Julho  1974

             
           
            Ao escrever, em 1973, o livro "As Marcas do Cristo", tive a felicidade de encontrar algumas evidências da contribuição que a mediunidade está trazendo à pesquisa histórica e do muito que poderá fazer no futuro.

            Vamos lembrar um desses exemplos aqui.

*

            O Cristianismo chegara a uma encruzilhada: ou seria apenas uma seita judaica ou partiria para a divulgação ampla, em escala mundial, para todos os povos. O teste fora em Antioquia e Paulo estava convencido de que o Cristo viera para todos e não apenas para os judeus. O incidente com Pedro foi o ponto crítico do processo. Anos depois, Paulo diria aos Gálatas (2 :11-14) :

            - Mas quando veio Cefas a Antioquia, enfrentei-o face a face, porque se tornara digno de repreensão, pois antes de chegarem alguns do grupo de Tiago, comia em companhia dos gentios, mas uma vez que aqueles chegaram, foi visto recatar-se e separar-se, temendo os incircuncisos. E os demais judeus o imitaram em sua simulação até o ponto em que o próprio Barnabé se viu arrastado pela simulação deles. Mas quando vi que não procediam com retidão segundo a verdade do Evangelho, disse a Cefas na presença de todos:

            "Se tu, sendo judeu, vives como gentio e não como judeu, como forças os gentios a se judaizarem ?"

            Vimos em Emmanuel as minúcias do dramático acontecimento e ficamos sabendo da tremenda importância do episódio, pois, no seu dizer preciso e sóbrio, "a atitude de Simão Pedro salvara a igreja nascente": (Grifo meu.)

            Tornara-se premente, inadiável, uma definição clara de princípios, pois a causa era grande demais para ficar enredada nas paixões humanas e ao sabor das opiniões pessoais de cada um. Foi assim que Paulo propôs uma reunião em Jerusalém para debater o assunto. Meses depois, Pedro mandou dizer-lhe que estavam prontos para o encontro, que ficaria conhecido na história eclesiástica como o Primeiro Concílio, no ano 49.

            Paulo encontrou a comunidade de Jerusalém profundamente modificada, sob a influência judaizante de Tiago, que mais parecia um "mestre em Israel". Emmanuel, que tem sempre uma palavra de tolerância e suavidade, é particularmente severo neste ponto, dizendo que os olhos de Tiago "deixavam perceber uma presunção de superioridade que raiava pela indiferença" .

            À noite, na hora da reunião, juntaram-se em torno de uma longa mesa os dirigentes da casa. Havia algumas pessoas que Paulo desconhecia. Pareciam componentes de um novo tipo de Sinédrio.

            Como Paulo trouxera Tito consigo, Tiago, muito rígido, quis saber se ele também era judeu. Paulo disse que não.

            - Circuncidado? - insistiu Tiago.

            - Não - esclareceu Paulo.

            Então não podia participar da reunião. A intolerância se instalara no círculo dos seguidores do Cristo. Pouco importavam as excelentes qualidades pessoais de Tito - e continuaria a dar provas disso pelo tempo afora - e o fato de Paulo colocar-se como seu fiador: filho de gregos, incircuncidado, não podia participar dos debates. A reunião somente começou depois que Tito se retirou da sala.

            Pedro, que desejava a presença de Tito, instou junto a Paulo para que o jovem fosse circuncidado, mas Paulo estava indignado; aquilo era uma imposição descabida. Seu primeiro impulso foi regressar a Antioquia e seguir o seu caminho, mas viera a Jerusalém com a intenção de levar "cartas de emancipação", ou seja, uma declaração formal que o liberasse para a pregação entre os gentios. O que estava em jogo para ele era demasiado importante e embora resistisse, a princípio tenazmente, pois a circuncisão de Tito seria um atestado de derrota aos seus princípios doutrinários, acabou cedendo, sob veementes protestos e ressalvas, ante a intransigência das vozes mais influentes na comunidade.

            - No dia imediato - escreve Emmanuel - procedeu-se solenemente à circuncisão de Tito, sob a direção cuidadosa de Tiago e com a profunda repugnância de Paulo de Tarso.

            Ora, esta informação, colhida no mundo espiritual, parece conflitar com a narrativa de Paulo que, na Epístola aos Gálatas, escreveu assim (2:3-5):

            "Pois bem, nem sequer Tito, que estava comigo, por ser grego, foi obrigado a circuncidar-se. Mas, por causa dos intrusos, dos falsos irmãos que solapadamente se infiltraram para espiar a liberdade que temos em Cristo Jesus, com a finalidade de reduzir-nos à escravidão, a quem nem por um instante cedemos, nos submetendo, a fim de salvaguardar para vós a verdade do Evangelho."






Kardec e o Método


Kardec
e o Método


            Ao considerar a obra monumental elaborada pelo Codificador, é  natural vá a atenção concentrar-se no conteúdo, tamanha a atração exercida sobre as mentes que percorrem suas páginas em busca de um norte para os passos incertos nos carreiros do mundo. Mas, depois de saciada a fome de esclarecimentos, volta-se a alma refeita para a imponência da obra, e da imponência dela para o vulto que soube concebe-la e executa-la com tanta mestria. A figura de Kardec desponta em toda a sua grandeza, granjeando a admiração e o respeito de todos aqueles que o vêm conhecer através de suas obras.

            Para os espíritas, portanto, as inspirações não são encontradiças apenas no conteúdo da codificação kardequiana, mas também na forma como foi ela vazada, dado que, embora avaliando devidamente a estatura moral e espiritual daquele que recebeu a incumbência de ser, entre os homens, o intérprete do Consolador, ressaltam da obra as qualidades de pedagogo exímio por ele demonstradas, na maneira magistral como soube ordenar, coordenar, concatenar e desdobrar os mais transcendentes assuntos, aplanando assim os caminhos e facilitando os passos de todos aqueles que por eles se põem a desbravar os terrenos da ciência das ciências.

            Se Kardec, codificador e mestre emérito, empregou os métodos por ele utilizados para veicular, em primeira mão, as noções basilares da Doutrina Espírita, será de indagar por que os espíritas, ao se entregarem ao afã de difundirem as mesmas noções, dão mostras do desprezo por esses métodos, uma vez que valorizam, de forma extremada, os que estão em voga nas atividades escolares do mundo.

            O “Reformador”, em variadas  oportunidades, e de diversos modos, já  tem acentuado que tal preferência não parece muito condizente com o espírito da Doutrina Espírita, visto que a escola do mundo é eminentemente pragmatista, utilitarista, imediatista e materialista. O Evangelho já adverte, na palavra do Mestre dos mestres, que “não se mete vinho novo em odre velho”, advertência que anteciparia a impropriedade de difundir as coisas do espírito através dos métodos materialistas, por muito respeitáveis e racionais que eles sejam.

            E se, em contrapartida, assaltar ao estudioso a hesitação quanto aos métodos a empregar para esse desiderato, é de lembrar que a dúvida só poderia ser fruto da distração, eis que o Codificador não se embaraçou com essa questão: utilizou desde logo os meios adequados e, além de utiliza-los, deu-lhes o devido realce em todos os passos de sua obra em que abordou o assunto.

            Métodos para difundir o Espiritismo ai estão, portanto, e indicados pelo próprio Codificador.  Nesse ponto, os espíritas precisam valorizar as simples conversações, tal como o ressalta Kardec. Porém, se há interesse ou conveniência de lançar mão de métodos de ação em maior escala, emergirá, na primeira plana, aquele em que está estruturado esse portento que é “O Livro dos Espíritos”. Nele e por ele se aprenderá; “ab Initio”, que o Espiritismo não cuida de quantificar as criaturas, e sim de qualificá-las.


Editorial
Reformador’ (FEB)
Maio 1974





Outros Mundos



Outros Mundos?

"Na casa de meu Pai há muitas moradas"    Jesus   (João, 14:2).


            A Terra é apenas um, entre os mundos habitados.

            A vida inteligente está por toda a parte.

            Estamos equidistantes da época em que, mal egressos da concepção dum mundo egocentrista, julgávamos ser o nosso o único plano do Universo onde a existência se constituía numa das etapas da evolução da alma.

            Voltemo-nos para o infinito. Cada mundo é uma escola.

            A nossa, atualmente, se caracteriza por criaturas em degraus elementares da evolução. Vivemos expiações de nosso passado, aprendendo em decorrência de erros. Alguns já se encontram interiorizando virtudes, graças às provações experimentadas em suas conquistas individuais. E todos marchamos para o princípio de nossa regeneração espiritual.

            Estamos sendo desligados da escala zoológica. Ascendemos para a era do Espírito.

            Outros mundos há, entre os que nos cercam, com vida inteligente mal saindo do reino dos instintos, com traços de sentimentos já matizando suas aspirações. Alguns se assemelham a nosso estágio evolutivo. Muitos, contudo, já se encontram em mais avançados degraus de desenvolvimento.

            Para cada clima, porém, um organismo ajustado.

            O aspecto físico e a densidade variam de um para outro plano.

            A habitabilidade de um mundo não significa uma cópia de nossos hábitos e nem de nossa configuração somática. Há os mais densos e há os mais fluidos, a ponto de atingir o que seria a imponderabilidade para nós.

            Não nos detenhamos, porém, a imaginar tais mundos. Eles existem.

            No momento é decisivo que apropriemos o nosso mundo íntimo, sob a inspiração do Evangelho, de modo a atingirmos um ponto em que o relacionamento com outras esferas humanas nos seja útil ao crescimento espiritual.

            Há muitas moradas no Universo.


J. Alexandre

in Reformador (FEB)  Julho 1974

25 de Maio


 25 Maio

  Caminheiro, enquanto é dia,
Acende luz nos teus passos
Para que á noite, sem guia,
Possas fugir aos fracassos.

 Salvador Gentile

in ‘Escola da Vida’ (IDE) - 1ª Ed  1987


quinta-feira, 24 de maio de 2012

24 de Maio



24 Maio

Deus te abençoe a bolsa de esperança
Que abres, a sós, sem que ninguém te espreite,
Para a gota de leite
Destinada à criança...

Irene Souza Pinto
por Chico Xavier 
in ‘Antologia dos Imortais’ (FEB) 4ª Ed  2002



quarta-feira, 23 de maio de 2012

02-02 'A Reencarnação'





02-02
A Reencarnação


         OBJEÇÕES E REFUTAÇÃO

***

            Quer agora o colega saber, em espírito e verdade, segundo o ensina o Espiritismo, qual o alcance, a significação e o benefício da missão do Redentor? Ele, personificação viva da lei divina que trouxe aos homens, e que pôs em prática em todos os seus atos, veio ensinar-lhes o caminho da salvação, oferecendo-lhes o modelo supremo em que se devem inspirar, até atingirem a perfeição.

            Dando-lhes os seus ensinos, de amor, de humildade, de submissão, de indulgência, de fraternidade, e exemplificando, uma por uma, todas essas excelsas virtudes, traçou o roteiro luminoso pelo qual há de seguir todo o rebanho, sejam embora indispensáveis, para alcançar aquele ideal supremo, - e o são forçosamente para todos – as sucessivas reencarnações, cuja necessidade abertamente proclamou a Nicodemos. Tão certo é que desse, e não por outro modo, se há de cumprir a sua promessa feita ao Pai: “das ovelhas que confiastes nenhuma se perderá”.

            E essas ovelhas não são exclusivamente, como o pretenderia a estreiteza de vistas dogmática, nem as que se acham presas no redil do Vaticano, nem as que são apascentadas pelo cajado de novos pastores, umas e outras declarando-se implacável guerra, e assim mostrando quanto se acham divorciadas do espírito do Cristo. São todas essas e mais as que com eles formam a totalidade do rebanho humano, disseminado no planeta, quaisquer que sejam atualmente as insígnias exteriores do seu culto. Porque, assim como Deus não exclui do seu amor a nenhum filho, por mais aviltado que esteja, e sempre lhe oferece os meios de reparação de suas faltas, cedo ou tarde, assim também o Cristo não deixará perder-se um só dos que lhe foram confiados.

            E se alguma vez os ditames da sabedoria e da justiça  impuserem uma seleção, segundo os méritos e o endurecimento de cada um, essa separação será apenas temporária.

            É o que ressalta da seguinte passagem do Evangelho, na qual mais uma vez se evidencia a imprescindibilidade das obras, como condição sine qua non da salvação.  

            O Divino Mestre figura a época em que, segundo o Espiritismo, o planeta terá subido hierarquicamente da condição de mundo expiatório, que é, a de mundo de felicidade e gozo, pelo duplo progresso efetuado, quer em sua constituição física, quer na situação moral dos seus habitantes, quando então o Cristo baixará a assumir a sua direção visível, conservando consigo os espíritos purificados, e relegando os endurecidos para as trevas exteriores de um mundo inferior, onde se irão depurar e preparar para uma futura ascensão, em tempo próprio. 

            “Quando vier o Filho do Homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono de sua majestade. E serão todas as gentes congregadas diante dele e separará uns dos outros, como o pastor aparta dos cabritos as ovelhas. E assim porá as ovelhas á direita e os cabritos à esquerda.
            Então, dirá o Rei que hão de estar á sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possui o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo:
            Porque tive fome, e destes-me de comer; tive sede e destes-me de beber; era hóspede e recolheste-me; estava nu e cobriste-me; estava enfermo, e visitaste-me; estava no cárcere e viestes ver-me.
            Então lhe responderão os justos, dizendo; Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer; ou sequioso, e te demos de beber? E quando te vimos hóspede e te recolhemos, ou nu e te vestimos? Ou quando te vimos enfermo ou no cárcere e te fomos ver?
            E, respondendo o Rei, lhes dirá: Na verdade vos digo que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes. (Mateus, cap XXV v. v. 31 a 40)
             
            Nesta enérgica  e imponente alegoria do Julgamento, cuja segunda parte apenas deixamos de reproduzir por desnecessária aqui, Jesus estabeleceu de um modo claro e inconfundível o critério que presidirá a escolha dos que forem dignos de ‘possuir a terra’, então regenerada, confirmando-se a sua promessa feita aos mansos, no sermão da montanha. Não se lhe perguntará se foram católicos ou protestantes, judeus, muçulmanos ou budistas ou se professaram mesmo alguma seita particular, nem se acreditaram na virtude mirífica de tal ou tal dogma. A escolha será feita daqueles que praticaram o amor ao próximo, em sua mais ampla acepção, prestando-lhe carinhosa assistência na fome, na sede, na nudez, na enfermidade, no encarceramento, em uma palavra, exercendo a caridade moral e materialmente para com todos os aflitos e necessitados.

            É, pois, a plena consagração da doutrina, soberanamente justa, da salvação pelas obras que não pelo mérito do sacrifício de outrem.

            É, para dar uma ideia da sua solidariedade com todos os desgraçados, sobre os quais Indistintamente se estende a sua piedade, o Divino Mestre torna meridianamente claro o seu
pensamento: “quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim é que o fizestes.”

            Se, pois, para o julgamento e a salvação hão de prevalecer as obras, e esta doutrina está errada, porque anula os méritos da paixão, morte e sacrifício de Jesus, quem erra não fomos nós, mas o próprio Cristo.

            Em vista do que, pode o nosso colega do ‘Puritano’ persistir na sua teoria da salvação exclusiva pela graça, com todas as responsabilidades que lhe dá o seu papel de pastor de almas, de cuja sorte é seu dever curar.

            Quanto a nós, entre a altiva ortodoxia protestante e o meigo Rabi da Galileia, preferimos, modestamente, mas sem hesitação, permanecer com este último.

            E aqui damos por findo este debate.



inReformador’ (FEB)
Editorial em 15 de Novembro de 1905

administrador
Pedro Richard


01-02 'A Reencarnação'


01-02
A Reencarnação


            OBJEÇÕES E REFUTAÇÃO

             A série de provas, demonstrativas que até agora produzimos e com que acreditamos ter evidenciado a pluralidade de existências da alma, 1º. pelo testemunho dos Evangelhos, 2º. pelos fatos de observação geral da vida humana, analisados: à luz da justiça divina, 3º. pelos fenômenos da psicologia experimental, 4º. pela recordação de outras vidas em alguns indivíduos, no estado normal, embora como casos excepcionais, mas nem por isso menos probatórios e dignos de exame, tudo isso nos dispensaria porventura do trabalho de alguma sorte tornado supérfluo, de tomar em consideração as objeções de pessoas formuladas contra essa lei admirável pelo nosso colega do ‘Puritano’, em seu editorial de 17 de agosto, depois do qual – digamos de passagem - recolheu-se ele a um mutismo verdadeiramente comprometedor não se animando a discutir um só de nossos temas de argumentação.

            Entendemos, todavia, que, quando não tivesse a utilidade de mostrar que as doutrinas do Espiritismo resistem triunfalmente a todas as críticas, e a todas elas levam vantagem, legitimando a superioridade que os seus crentes justamente lhes atribuem sobre todas as demais doutrinas, o não desprezar as impugnações do nosso ilustrado colega se nos impõe, ao menos, como um dever de cortesia a que nos julgamos com direito, que ao demais não recusamos a nenhum adversário no terreno da discussão teórica.

            A essa razões acresce o compromisso, por nós publicamente assumido, de responder por fim a tais objeções. Vamos, por conseguinte, desobrigar-nos dele.  

            Foram em número de quatro os argumentos pelo colega formulados em oposição às vidas múltiplas, o último dos quais  - o esquecimento do passado – a seu ver a mais revoltante injustiça e a maior  das tiranias, já se  acha por natureza destruído com a demonstração que anteriormente fizemos, no sentido de que esse esquecimento não só se justifica pelas leis da biologia e da fisio-psicologia sio-psicologia que regem a encarnação humana, mas sobretudo que ele representa um das maiores misericórdias do Criador, desembaraçando seus filhos daquilo que lhes poderia ser um estorvo nesse caminho reparatório e regenerador, e deixando-lhes somente o que pode favorecer e acelerar o seu progresso.

            Restam, pois, três objeções a examinar, e são as seguintes, tão sinteticamente quanto o exige a limitação de espaço, mas também tão nítida e fielmente reproduzidas como no-lo impõe a lealdade no debate:

I. A doutrina das reencarnações é adotada do paganismo.  
II. Implica a salvação pelas obras, em oposição à opinião de S. Paulo.
III. A salvação pelas obras torna vãos o sacrifício, paixão e morte de Jesus.

            Examinemos, por ordem, cada um desses argumentos.

            No que toca no primeiro, não vemos, antes de tudo, em que a antiguidade de uma doutrina possa constituir motivo de impugnação, uma vez que ela não infrinja os preceitos da razão e do bom senso. Pensamos, ao contrário, com S. Paulo que, se “Deus nunca se deixou sem testemunho,” um princípio que  atravessa os séculos e sobrevive aos próprios sistemas filosóficos ou religiosos de que fez parte, para reaparecer em sucessivas revelações com uma singular e indestrutível vitalidade, revela nesse mesmo fato a sua origem divina.  

            Se, pois, o dogma da reencarnação remonta a sua anterioridade à filosofia pagã- e podemos acrescentar que vem de muito mais longe, do Oriente, de cujas mais antigas religiões fazia parte; se nela acreditavam os próprios hebreus, como vimos no Evangelho, a propósito de João Batista e do cego de nascença; se Jesus abertamente o proclamou em  seus ensinos, e, o Espiritismo, como terceira revelação, complementar da messiânica, o incorpora, por esse mesmo fato, aos seus princípios, com a vantagem de  demonstrar experimentalmente, como o não havia sido feito, é que esse dogma é verdadeiro, é de origem  divina e constitui uma das leis da natureza, intimamente ligada às condições do progresso humano sobre a terra.

            Que os cristãos da Reforma, esquecidos da sabedoria desta advertência de Paulo “ a letra mata e o espírito vivifica” se tivessem exclusivamente apegado à letra das antigas escrituras e particularmente de algumas passagens do iluminado apóstolo dos gentios, para se encerrarem na imobilidade intolerante e dogmática, desprezando elementos de vida e progresso, como esse da pluralidade das existências da alma, que hoje vai sendo cientificamente demonstrada, isso em nada pode invalidar a sua veracidade: quando muito provará que os discípulos da Reforma não souberam penetrar-se da grandeza e elevação do espírito da doutrina, e como cegos se conservaram durante séculos diante de uma verdade tão claramente enunciada, e tão profundamente necessária para explicar aos homens como a justiça de deus fulgura soberana em meio das misérias e desigualdades da terra.

***

            Repugna-lhes, entretanto, admitir esse princípio – e passamos a examinar a segunda objeção – porque ele implica a salvação pelas obras, em oposição, no entender do colega, a opinião de Paulo.

            Não nos deteremos em examinar aquilo o que há de monstruosa e absurdo na doutrina da predestinação e da graça, que faz nascerem uns indivíduos irremissível e fatalmente condenados à perdição e outros de antemão fadados às celestes delícias, doutrina de que a igreja reformada faz uma das capitais do seu ensino, porque isso nos levaria demasiado longe. Para o fim que temos em vista, basta-nos opor a palavra de Paulo, invocada pelo colega, a palavra do mesmíssimo Paulo, em uma de suas mais instrutivas e memoráveis epístolas – e não careceríamos, como se vai ver, de mais que dessa citação.

            Porque, se de fato, em algumas passagens, exaltando as excelências da fé e os méritos do sacrifício de Jesus, o formidável organizador do Cristianismo parece de algum modo justificar a doutrina da salvação pela graça, em outras passagens o seu pensamento acerca da necessidade das obras é tão claro que só a estreiteza do espírito dogmático, ou porventura a falta de chave para compreensão do sentido profundo dos seus sentimentos, poderá gerar esse exclusivismo.

            O erro dos iniciadores, como dos continuadores da Reforma, inspirado aquele – quem sabe? – nas necessidades do seu tempo e no estado das inteligências de então, consistiu  e tem consistido em uma série de mutilações dos ensinos e das tradições sagradas. Em lugar de tomarem os Evangelhos em seu conjunto, como um todo harmônico e integral, cujas partes se completam entre si, e de adotarem o mesmo processo em relação às doutrinas contidas nas epístolas dos apóstolos, colocando-se ao demais, em relação a estas últimas, como de algumas parábolas e alegorias evangélicas, no ponto de vista da relatividade dos costumes e dos conhecimentos da época em que tais ensinos foram dados, o que os membros da nova igreja fizeram e tem feito é escolher um certo número de preceitos, mais convenientes às suas vistas e, apegando-se formalmente à letra, com eles construir o seu edifício dogmático, com evidente quebra da integridade doutrinária.

            Assim, por exemplo, pretendendo apoiar-se em Paulo, os reformadores erigem em dogma essa doutrina, sem dúvida muito cômoda, mas muito perigosa e funesta a causa do progresso humano, da salvação exclusiva pela graça. Que fazem eles, porém, entre outros, do ensino do grande convertido de Damasco acerca da caridade?

            Eis aqui como se expressava ele, dirigindo-se aos Coríntios (Epístola I, Cap. X111, v. v. 1 a 7):

            “Se eu falar as línguas dos homens e dos anjos, e não tiver caridade, sou como o metal que soa ou como o sino que tine.
            E se eu tiver o dom da profecia[1] e conhecer todos os mistérios e quanto se pode saber, e se tiver toda a fé, até o ponto de transportar montes, e não tiver caridade, não sou nada.
            E se eu distribuir todos os meus bens em o sustento dos pobres, e se entregar o meu corpo para ser queimado, se, todavia, não tiver caridade, nada disto me aproveita.
            A caridade é paciente, é benigna; a caridade não é invejosa, não obra temerária nem precipitadamente, não se ensoberbece. Não é ambiciosa, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal. Não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera, tudo sofre.”

            E acrescenta adiante, positivamente (v. 13):

            “Agora, pois, permanecem a fé, a esperança e a caridade, estas três virtudes; porém a maior delas é a caridade.”


            Não se pode ser mais claro e categórico, nem sabemos que jamais tenha sido dada mais bela definição dessa dileta filha do céu – a caridade.

            Em que consiste ela? Não é nas únicas obras de beneficência  material, pois ainda distribuindo os bens no sustento dos pobres, se se a não possui verdadeiramente, isso nada aproveita, como sem ela de nada vale o próprio de sacrifício, induzindo a entregar o corpo às chamas.

            A caridade é, pois, uma virtude antes de tudo moral, paciente, benigna, modesta e indulgente, simples, desinteressada e confiante, isto é, constitui o transunto das perfeições espirituais, o grau supremo da bondade. Por isso, a coloca Paulo acima da própria fé, mesmo avantajada ao ponto de transportar montanhas:

            Ora, que se exige para ser atingido pela graça da salvação por graça? A fé em Jesus Cristo. “Crede em Jesus e serás salvo!”

            Se, porém, acima das excelências da fé, coloca Paulo a soberania da caridade, não torna ele evidente a necessidade das obras para salvar-se?

            Porque, enquanto a fé é uma virtude instintiva ou impulsiva, e a esperança uma virtude, por assim dizes, expectante, como a humildade o é passiva, a caridade é uma virtude essencialmente ativa. É ele que se reparte em desvelos e solicitude por todos os necessitados do corpo e do espírito, levando-lhes o socorro material, mas também e sobretudo o conforto moral, porque sem este de nada serviria aquele. E, numa palavra, o amor em ação, a prática do bem em suas mais delicadas  nuanças, tais como magistralmente as descreveu o grande apóstolo, tornando obrigatório o seu exercício a todos os cristãos.

            Entendem, porém, os reformistas – e com eles o nosso colega do ‘Puritano’ – que a necessidade de tal prática tira a razão de ser do sacrifício, paixão e morte de Jesus. Em que se fundam eles para concluir assim? Em uma falsa compreensão da utilidade, dos méritos e alcance da missão do Divino Mestre e em uma remota e bárbara tradição que pretende para apaziguar a cólera de Deus, irritado contra as iniquidades dos homens, o manso Cordeiro ofereceu-se em holocausto, para que o seu sangue derramado lavasse as culpas do gênero humano...

            E, ainda, na ordem dos costumes grosseiros e materiais, a ideia dos sacrifícios sangrentos, oferecidos à Divindade, de um lado para lisonjear-lhe a crueldade, do outro para acalmar os seus furores.

            Estamos, todavia, já tão distanciados desse estado inferior da mentalidade humana, que se comprazia em rebaixar a soberana Bondade ao nível dos tiranos sanguinários, que nos dispensaríamos de examinar essa grotesca e repulsiva concepção, se não devêssemos uma observação ao ilustrado antagonista que nos proporcionou o afortunado ensejo desta réplica.

            Em duas palavras: como entende ele os benefícios do sacrifício de Jesus? Foi um ato gracioso, em proveito de todo o gênero humano, sem distinção de seitas e de casta, ou nacionalidade? Por esse ato ficou gratuitamente redimida toda a humanidade da morte e do pecado? Em tal caso, mesmo aqueles povoa aos quais ainda não chegou o Evangelho, mesmo às tribos mais ferozes e selvagens, estão dispensados de todo o esforço por sua própria salvação. O sangue de Jesus redimiu a todos, e lhes garantiu ipso facto a bem-aventurança.

            Se, porém, não bastou esse sacrifício, e é necessário um esforço de conversão da parte do que se quer salvar, tanto faz que se exija o ato de fé, como as obras de caridade; de qualquer modo tornou-se inútil, só por só, o sacrifício para a grande maioria.

            De duas uma: ou a redenção é outorgada a todos por graça, e a todos aproveita indistintamente, ou para a salvação é necessária alguma coisa da parte do indivíduo, e, neste caso, se a fé é exigível, nada impede que o seja também a caridade...



inReformador’ (FEB)
Editorial em 15 de Novembro de 1905

administrador
Pedro Richard


[1] Assim se denominava o dom da mediunidade, então, como hoje, bastante generalizada. 



23 de Maio



23 Maio


Espírito que se ajuda.
Espalhando o bem e a  paz,
Entende pelo que estuda
E vale pelo que faz.

Antônio Bezerra 

por Chico Xavier 
in ‘Reformador (FEB) Junho  1974


terça-feira, 22 de maio de 2012

22 de Maio



22 Maio


Perguntei onde morava
A bela Dona Alegria
Ela disse:- Onde o trabalho
É a bênção de cada dia.

Ulisses Bezerra

por Chico Xavier 
in ‘Reformador (FEB) Junho  1974

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Páginas de Saudade e Ternura


Páginas
de saudade
e ternura
Minha querida filha:
Deus abençoe a vocês todos, concedendo-lhes muita saúde, alegria e paz.
Suas preces e pensamentos me buscam, na vida espiritual, como vivos apelos do coração.
Nossas lágrimas de saudade se confundem.
Morrer, minha filha, não é descansar, porque o amor, principalmente das mães, é sempre uma aflição permanente do espírito.
Ainda não pude habituar-me à ideia de que nos separamos, no mundo, apesar de sentir-me amparada, incessantemente, por minha mãe e pelo carinho de seu pai.
Quando você se encontra a sós, pensando... pensando... muitas vezes, sou atraída por suas meditações, e, em sua companhia, revejo nossos dias escuros e difíceis em minha viuvez iniciante. Uma ansiedade dolorosa me constrange o coração, nesses encontros...
É que desejava fazer-me visível aos seus olhos e acariciar seus cabelos, como em outro tempo. Em vão, procuro dizer a você, que estou viva, que a morte é ilusão. Inutilmente busco um meio de arrancá-la das reflexões tristes, arrebatando-a das sombras íntimas, para restituir seu espírito à alegria; mas sou forçada a receber suas perguntas doloridas e esperar...
Filha do meu coração, rogo-lhe que se reanime...
Não estamos separadas para sempre.
O túmulo é apenas uma porta que se abre no caminho da vida, da vida que continua sempre vitoriosa.
Quando você puder, interesse-se pelos estudos da alma eterna.
Guarde a sua fé em Deus, como lâmpada acesa para todos os caminhos do mundo.
Tudo na Terra é passageiro.
Ainda ontem estávamos juntas, conversando, unidas, quanto aos nossos problemas; e, hoje, tão perto pelo coração, mas tão longe pelos olhos da carne, uma da outra, somos obrigadas a colocar a saudade e a recordação no lugar da presença e da comunhão mais íntima, em nossa alma.
Tenha paciência, minha filha, e nunca perca a serenidade.
Estarei com você em todos os seus passos.
Abraçada às suas orações e às lembranças carinhosas, que me fortalecem para a jornada nova, e rogando a você muita tranquilidade e confiança em Deus, sou a mamãe muito amiga, que vive constantemente com você pelo coração.

Noêmia
in “Mãe” – Antologia mediúnica
por Chico  Xavier
Ed O Clarim – 3ª Ed - 1974