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sábado, 25 de fevereiro de 2012

25 de Fevereiro



25 Fevereiro

 Você não pode ser pai,
Mas pode fazer o bem.
Jesus não era casado
E serviu como ninguém.

 Cornélio Pires 
por Chico Xavier
in ‘Amanhece”  (GEEM  8ª Edição 2005)


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

A Mulher Hemorrágica



A Mulher Hemorrágica
        
9,20   Ora, uma mulher atormentada por um fluxo de sangue, havia doze anos, aproximou-se Dele por trás e tocou-lhe a orla do manto.
9,21 Dizia consigo: - Se eu somente tocar na Sua vestimenta, serei curada.
9,22   Jesus virou-se, viu-a e disse-lhe: “ -Tem bom ânimo, filha, a tua fé te salvou. Vai em paz!” E a mulher ficou completamente curada.
           
                Para Mt(9,20-22) -A Mulher Hemorrágica-, tomemos o Cap. XV   de   “A Gênese”,  de  Kardec:
           
            “É de notar-se que o efeito não foi provocado por nenhum ato da vontade de Jesus; não houve magnetização, nem imposição das mãos. Bastou a irradiação fluídica normal para realizar a cura.

            Mas, por que essa irradiação se dirigiu para aquela mulher e não para outras pessoas, uma vez que  Jesus não pensava nela e tinha a cercá-lo a multidão? É bem simples a razão.

            Considerado como matéria terapêutica, o fluido tem que atingir a matéria orgânica, a fim de repará-la; pode então ser dirigido sobre o mal pela vontade do curador, ou atraído pelo desejo ardente, pela confiança, numa palavra: pela fé do doente. Com relação à corrente fluídica, o primeiro age como uma bomba calcante e o segundo como uma bomba aspirante. Algumas vezes, é necessária a simultaneidade das duas ações; doutras, basta uma só. O segundo caso foi o que ocorreu na circunstância de que tratamos.

            Razão tinha pois Jesus para  dizer:   “Tua fé te salvou!”  Compreende-se que a fé a que ele se referia não é uma virtude mística, qual a entendem muitas pessoas, mas uma verdadeira força atrativa, de sorte que aquele que não a possui opõe à corrente fluídica uma força repulsiva, ou, pelo menos, uma força de inércia, que paralisa a ação. Assim sendo, também se compreende que, apresentando-se ao curador dois doentes da mesma enfermidade, possa um ser curado e outro não. É este um dos mais importantes princípios da mediunidade curadora e que explica certas anomalias aparentes, apontando-lhes uma causa muito natural.”
             
            Para Mt (9,21), - Tua fé te salvou... - busquemos ainda “Pão Nosso” de Emmanuel por Chico Xavier:

            “É importante observar que o Divino Mestre, após o benefício dispensado, sempre se reporta ao prodígio da fé, patrimônio sublime daqueles que O procuram.

            Diversas vezes, ouvimo-Lo na expressiva afirmação - “A tua fé te salvou.” Doentes do corpo e da alma, depois do alívio ou da cura, escutam a frase generosa. É que a vontade e a confiança do homem são poderosos fatores no desenvolvimento e iluminação da vida.

            O navegante sem rumo e que em nada confia, somente poderá atingir algum porto em virtude do jogo das forças sobre as quais se equilibra, desconhecendo, porém, de maneira absoluta, o que lhe possa ocorrer.

             O enfermo, descrente da ação de todos os remédios, é o primeiro a trabalhar contra a própria segurança. O homem que se mostra desalentado em todas as coisas, não deverá aguardar a cooperação útil de coisa alguma.

            As almas vazias embalde reclamam o quinhão em que perambulam, transformam-nas, perante a vida, em zonas de amortecimento, quais isoladores em eletricidade. Passa corrente vitalizante, mas permanecem insensíveis.

            Nos empreendimentos e necessidades de teu caminho, não te isoles nas posições negativas. Jesus pode tudo, teus amigos verdadeiros farão o possível por ti; contudo, nem o Mestre e nem os companheiros realizarão em sentido integral a felicidade que ambicionas, sem o concurso de tua fé, porque também tu és filho do mesmo Deus, com as mesmas possibilidades de elevação.”  




16 'Doutrina e Prática do Espiritismo'





16      ***


           
            Reveste o mesmo cunho de autenticidade o seguinte fato que, com os imediatos, extraímos da obra verdadeiramente monumental de Alexander Aksakof, ‘ANIMISMO E ESPIRITISMO', opulento repositório dos mais variados fenômenos e de inexpugnáveis raciocínios, pelo autor sub intitulada ‘Ensaio de um exame crítico dos fenômenos mediúnicos, especialmente em relação com as hipóteses da "força nervosa", da "alucinação " e do "inconsciente", como resposta à obra do Dr. Ed. von Hartmann, intitulada O ESPIRITISMO ", sendo assim uma vitoriosa refutação das críticas formuladas, a propósito das manifestações espíritas, por esse eminente pensador germânico.

            O caso que em primeiro legar escolhemos, é dos mais interessantes e característicos. Trata-se do romance THE MYSTERY OF EDWIN DROOD, interrompido em 1870 pela morte de seu autor, o ilustre romancista inglês Charles Dickens, e concluído dois anos mais tarde, na América do Norte, pelo médium James, um rapaz de menos que medíiocre instrução, simples mecânico que era.

            "Quando se espalhou o boato - diz Aksakof (1) - de que o romance de Dickens ia ser terminado por tão extraordinário e inusitado processo, o SPRINGFIELD DAILY UNION enviou um de seus collaboradores a Brattleborough (Vermont) , onde residia o mÉdium, a fim de se informar, no próprio local, de todas as particularidades desse estranho empreendimento literário."

            (1) Ver ANIMISME ET SPIRITISME (edição francesa) , págs. 326 e seguintes.

            Resumamos, entretanto, os pormenores.

            Convidado por uns amigos a tomar parte numa sessão espírita, James, que não tomava a sério tais fenômenos, considerando-os mero embuste, foi surpreendido com a revelação de que ele proprio era médium. Voltando no dia seguinte, caiu espontaneamente em trance e, tomando um lápis, traçou um ditado dirigido a um dos assistentes pelo espírito de um filho deste, cuja existência ignorava inteiramente.

            Em fins de outubro de 1872 escreveu James uma comunicação a ele próprio dirigida, assinada com o nome de Charles Dickens, que lhe pedia uma sessão especial para 15 de novembro, o que foi feito, recebendo então um longo ditado daquele espírito, que lhe dizia haver durante muito tempo procurado um médium, com cujo concurso pudesse concluir o seu romance interrompido, e convidava James a se encarregar dessa tarefa, à qual consagraria o tempo disponível de suas ocupações habituais.

            Aceito o convite, foi o primeiro ditado transmitido na véspera do Natal, a que Dickens votava particular veneração, repetindo-se esse trabalho por sete meses consecutivos, de modo que em julho de 1873 James havia redigido mil e duzentas laudas de manuscrito, representando um volume in-8º de 400 páginas.

             O processo era dos mais simples: preparados dois lápis, bem aparados, e uma grande quantidade de papel cortado em meias folhas, James recolhido ao quarto e sentado à mesa, tendo diante de si aqueles materiais, esperava tranquilamente -"tranquilidade relativa, diz o aludido colaborador do SPRINGFIELD DAILY UNION , porque, apesar de haverem os fenômenos perdido o cunho de novidade e se ter a eles habituado, o médium confessa que se não podia subtrair a um certo sentimento de medo, durante tais sessões."

            Ao fim de alguns minutos de espera, ia perdendo gradualmente a noção das coisas e, nesse estado de trance, escrevia durante meia hora ou uma hora, tendo uma vez chegado a escrever durante hora e meia, sempre sem se lembrar, ao tornar a si, de outra coisa a não ser da visão de Dickens, que se sentava ao seu lado e apoiava a cabeça nas mãos, como imerso em profundo recolhimento, tendo na fisionomia uma expressão grave e  algum tanto melancólica. Não proferia uma só palavra;  apenas lançava algumas vezes ao médium um olhar sugestivo e penetrante.

            As sessões se efetuavam ora ás 6 horas da manhã, ora ás 7 1/2 da tarde, prolongando-se neste caso além das 8 1/2, no escuro, portanto - como acontecia no inverno - sem que tal circunstância prejudicasse a nitidez da escrita; e quando o ditado estava concluído, Dickens apoiava a mão pesada e fria sobre a do médium, para lho indicar, o que o fazia despertar do trance, permanecendo, porém, algum tempo com as mãos como pregadas à mesa por uma força que se lhe afigurava magnética.

            As folhas escritas, esparsas pelo chão, não estavam numeradas e James tinha que as pôr em ordem, guiando-se pela continuidade do sentido.

            Ao começo, o médium escrevia apenas três vezes por semana e não mais que três ou quatro paginas de cada vez; a seguir, porém, as sessões se tornaram bi quotidianas e ele escrevia afinal dez a doze paginas: e até mesmo vinte. A letra tinha alguma semelhança com a de Dickens. No princípio do ditado era bela, elegante, quase feminina; mas, à medida que prosseguia o trabalho, ia aumentando de dimensão, a tal ponto que nas últimas páginas era cinco vezes maior que no começo. Algumas folhas principiavam por sinais estenográficos, de que o médium não possuía o menor conhecimento, e a escrita era tão rápida que dificilmente se podia decifrar.

            Assim foi concluída a segunda parte do célebre romance, a cerca de cujo mérito, depois de relatar as circunstâncias que pessoalmente verificara e que acabamos de resumir, o correspondente do SPRINGFJELD DAILY UNION emitiu as seguintes apreciações:


            "Achamo-nos aqui em presença de um grupo de personagens, cada um dos quais apresenta sinais característicos próprios, devendo os papeis de todos esses personagens ser sustentados até ao fim, o que constitui um trabalho considerável para quem jamais em sua vida escrevera três paginas sobre qualquer assunto ; ficamos, portanto, surpreendido, ao verificar, desde o primeiro capítulo, uma semelhança completa com a parte editada do romance.  A narrativa é reatada precisamente no lugar em que a morte do autor a deixara interrompida, e isso com uma concordância tão perfeita que o mais experimentado crítico, que ignorasse o lugar da interrupção, não seria capaz de dizer em que momento cessara Dickens de escrever por sua própria mão.

            "Cada um dos personagens do Iivro continua a ser tão vivo, tão típico, tão bem sustentado na segunda como na primeira parte. Não é tudo ainda. Aparecem novos personagens (Dickens tinha o costume de introduzir novos atores até nas ultimas cenas de suas obras), os quais não são absolutamente duplicações dos heróis da primeira parte; não são manequins, mas caracteres apreendidos ao vivo, são verdadeiras criações. Criações de quem? ...”

            O corresponde continua:

            "Eis algumas particularidades de incontestável interesse. Examinando o manuscrito, notei que a palavra traveller (viajante) estava sempre escrita com ‘l’ dobrado (ll), como se usa na Inglaterra, ao passo que entre nós, na América, não se escreve geralmente senão com um ‘l’ só.

            "A palavra coal (carvão) está sempre escrita coals, com um ‘s’, como se faz na Inglaterra. É também interessante notar, no emprego das letras maiúsculas, as mesmas particularidades que nos manuscritos de Dickens se observam, como, por exemplo, quando ele designa o Sr. Grewgious como an angular man (um homem anguloso). Notável é também o conhecimento topográfico de Londres, de que dá prova o misterioso autor em numerosas passagens do livro. Há igualmente muitas construções de frases usadas na Inglaterra, mas desconhecidas na América. Cumpre mencionar ainda a súbita mudança do tempo passado em presente, sobretudo em uma animada narrativa, transição muito frequente em Dickens, principalmente em seus últimos romances. Essas particularidades e outras ainda que poderiam ser citadas são de mínima importância; mas é com semelhantes bagatelas que se teria feito malograr qualquer tentativa de fraude."

            E o correspondente assim termina o. seu artigo:

            "Cheguei a Brattleborough com a convicção de que essa obra póstuma não seria mais que uma bolha de sabão, facílima de estourar. Após dois dias de atento exame, regressei e, devo confessa-lo, achava-me indeciso. Neguei ao princípio - como qualquer o faria, depois de o examinar - que esse manuscrito houvesse sido traçado pela mão do jovem médium; ele me afirmou nunca ler lido o primeiro volume - particularidade, a meu ver, insignificante, plenamente convencido como estou de que ele não era capaz de escrever uma única página do segundo volume. Não vai ofensa nisso; porque não há muitas pessoas em condições de reatar uma obra inacabada de Dickens!

                "Vejo-me, por conseguinte, colocado nesta alternativa: ou um homem de gênio qualquer empregou o médium como instrumento para apresentar ao publico uma obra extraordinária, de um modo igualmente extraordinário, ou esse livro, como o pretende seu invisível autor, foi efetivamente ditado. pelo próprio Dickens.

                "A primeira suposição não é menos maravilhosa que a segunda. Se existe em Vermont um homem, desconhecido até agora, capaz de escrever como Dickens, não tem certamente motivo algum de recorrer a subterfugio semelhante. Se, por outro lado, é o próprio Dickens "que fala, estando embora morto," para que surpresas nos devemos preparar?"

            Ao bom senso - observaremos por nossa parte -- cabe decidir da alternativa.



24 de Fevereiro



24 Fevereiro

Liberdade faz o gesto,
Consequência vem após
O perdão nasce da vida
A punição vem de nós.

Cornélio Pires 
por Chico Xavier 
in ‘Coisas deste Mundo”  
(Casa Editora ‘O Clarim’ 2ª Ed 1982)


quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A Filha de Jairo ( em Mateus)



A Filha de Jairo

9,18   Falava ele ainda, quando  apresentou-se alguém da sinagoga .Prostrou -se diante Dele e Lhe disse: -Senhor, minha filha acaba de morrer, mas, vem, impõe-lhe as mãos e ela viverá.
9,19 Jesus levantou-se e o foi seguindo com seus discípulos.
....................................................................
9,23   Chegando à casa, viu Jesus os tocadores de flauta e uma multidão alvoroçada. Disse-lhes:
9,24 “ -Retirai-vos, porque a menina não está morta: Ela dorme.”  Eles,  porém,  zombavam  dele.
9,25 Tendo saído a multidão, Ele entrou, tomou a menina pela mão e ela levantou-se. 9,26 Esta notícia espalhou-se por toda a região.




         Para Mt (9,18-19 et 9,23-26) -A Filha de Jairo - , tomemos o  Cap. XV de  “A Gênese”, de Alan Kardec:

            “Contrário seria às leis da Natureza e, portanto, milagroso, o fato de voltar à vida corpórea um indivíduo que se achasse realmente morto. Ora, não há mister se recorra a essa ordem de fatos, para ter-se a explicação das ressurreições que Jesus operou.

            Se, mesmo na atualidade, as aparências enganam por vezes os profissionais, quão mais frequentes não haviam de ser os acidentes daquela natureza, num país onde nenhuma precaução se tomava contra eles e onde o sepultamento era imediato (Vide transcrição de Nota de Rodapé!). É, pois, de todo provável a que, no caso acima, apenas síncope ou letargia houvesse. O próprio Jesus declara positivamente, com relação à filha de Jairo: Esta menina , disse ele, não está morta, está apenas adormecida.

            Dado o poder fluídico que ele possuía, nada de espantoso há em que esse fluido vivificante, acionado por uma vontade forte, haja reanimado os sentidos em torpor; que haja mesmo feito voltar ao corpo o Espírito, prestes a abandoná-lo, uma vez que o laço perispirítico ainda se não rompera definitivamente. Para os homens daquela época, que consideravam morto o indivíduo desde que deixara de respirar, havia ressurreição em casos tais; mas o que na realidade havia era cura e não ressurreição, na acepção legítima do termo.

Nota de Rodapé - Os judeus não tinham o costume de velar seus mortos!

            Uma prova desse costume se nos depara nos Atos dos Apóstolos. cap. V, vv. 5 e seguintes:

            “Ananias, tendo ouvido aquelas palavras, caiu e rendeu o Espírito e todos os que ouviram falar disso foram presas de grande temor. - Logo, alguns rapazes lhe vieram buscar o corpo, tendo-o levado, o enterraram. - Passadas umas três horas, sua mulher (Safira) que nada sabia do que se dera, entrou - E Pedro lhe disse...etc.- No mesmo instante, ela lhe caiu aos pés e rendeu o Espírito. Aqueles rapazes, voltando, a encontraram morta e, levando-a, enterraram-na junto do marido.” 


23 de Fevereiro


23 Fevereiro

Na Divina Lei do carma,
Perante a força do Bem,
O amor é que nos desarma
De todo mal que se tem.


Américo Falcão 

por Chico Xavier
in ‘Amanhece”  (GEEM  8ª Ed. 2005)




quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

06 (e Final) Ana Prado e os Figner


06 e final  Ana Prado
e os Fígner
Nogueira de Faria
inO Trabalho dos Mortos’ (FEB) 5ª  Ed.  1990


”Os Sensacionais Fenômenos Espíritas”


Duas horas e 40 minutos materializada! - Pais que reveem a filha falecida –
Muitos Espíritos materializados na mesma sessão - O que nos disse o Sr. Fred Fígner


            Em uma das vezes em que veio a público, pela imprensa, o Sr. Fred Fígner, chefe da Casa Edison, do Rio de Janeiro, afirmou ter visto sua filha, falecida há muitos meses, completamente materializada, por virtude da medi unidade da Sra. Eurípedes Prado, nesta Capital.

            Depois desta declaração, e, aliás, antes dela, começaram a circular na cidade diversas narrativas dos sensacionais acontecimentos. Resolvemo-nos, pois, obter do Sr. Fred Fígner, hospedado no Grande Hotel, uma entrevista, na qual pudéssemos informar aos nossos leitores, com absoluta segurança, o que de verdade havia naquelas narrativas.

            Dirigimo-nos, assim, àquele hotel, onde fomos recebidos cavalheirosamente pelo Sr. Fígner.

            Formulado nosso desejo, S. Sª. falou:

            - Deseja o senhor que lhe relate os fenômenos por mim presenciados e produzidos com a privilegiada mediunidade da Sra. Eurípedes Prado? Pois não, Sr. Redator, com muito prazer. Vou dar-lhe alguns pormenores que presenciamos, eu e minha família, em três sessões riquíssimas de fenômenos.

            Começarei por lhe dizer que aqui vim, não por curiosidade minha, visto que sabia ser a materialização um fato comprovado por Crookes, em primeiro lugar, em Londres, desde o ano de 1871, quando começou, então, a hoje célebre materialização de Katie King, servindo de médium a Srta. Florence Cook, e, seguidamente, experiências idênticas relatadas por tantas outras sumidades científicas.

            Vim com o fito único de minorar a tristeza e a dor que acabrunhavam minha esposa, por haver desencarnado uma filha nossa muito amada.

            Aqui chegando, tive a desilusão de não encontrar a família Prado. Recebido pelos meus confrades, prontificaram-se eles a telegrafar ao Sr. Prado, participando-lhe minha chegada com a família, e pediram, se fosse possível, viesse até aqui. A despeito de adoentada sua esposa, resolveu ele aceder ao apelo, aqui chegando no “Pais de Carvalho”, no dia 28 de Abril, depois de uma penosa viagem de 7 dias.

            No dia 1º de Maio, fez-se uma sessão preliminar, a que estiveram presentes, além da família Prado, a família Manoel Tavares, a família Bosio e o Dr. Mata Bacelar.

            Materializaram-se João e um Espírito denominado Evangelista. Havia bastante luz e distinguiam-se os Espíritos perfeitamente, como se fossem homens com vestes brancas que andassem de um lado para outro. Demorou-se João bastante tempo conosco, de forma que bem o pudemos ver e sentir. Minha esposa, dirigindo-se a João, contou-lhe seu sofrimento, o que atento ele ouvia. Recebeu de minha senhora umas flores que ela levara, as quais João passou para a mão esquerda. Em seguida estendeu João a mão direita à minha senhora, fazendo ela o mesmo; João passou sua mão sobre a dela, fazendo-lhe sentir que estava perfeitamente materializado.

            Por fim, João, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou na câmara, começou a desmaterializar-se às nossas vistas, como o fizera quando se materializou. Daí a pouco, ouvíamos umas pequenas pancadas que ele dava no rosto da médium para a despertar.

            Esta primeira sessão me deixou completamente frio, visto que eu vira tão somente aquilo que esperava.

            Tudo aquilo era coisa muito natural para mim, quanto à sua realidade.

            Minha esposa, porém, apesar de também conhecer, de leitura, os fenômenos, ficou muito satisfeita, começando a nutrir esperanças de ver nossa filha, moça de 21 anos, desencarnada a 30 de Março de 1920.

            A segunda sessão, realizada a 2 de Maio, foi, realmente, muito mais importante.

            Havia nessa ocasião pessoas que não conheciam os fenômenos, bem como a Doutrina Espírita, entre elas o Dr.  Remígio Fernandez, o Sr. Barbosa e a Sra. Pernambuco.

            Materializaram-se muitos Espíritos de diversas estaturas, entre eles a nossa cara filha RacheI.

            Mas, devido talvez ao excessivo número de materializações, que absorveram muitos fluidos, e entre os Espíritos materializados um de nome Diana que, creio, se apresentou com um brilhante diadema na cabeça, a materialização da nossa RacheI não era tão perfeita como esperávamos; no entanto, era bastante para ser reconhecida por todos nós. Nessa sessão, ela perguntou, à sua mãe, “porque aquele vestuário preto, visto que ela se sentia muito feliz”.

            No dia 4 de Maio fizemos outra sessão, e nesta a materialização de nossa filha foi a mais perfeita possível. Rachel apresentou-se com tanta perfeição, com tanta graça e tão ela mesma, com os mesmos gestos e modos, que não pudemos conter nossa emoção e todos, chorando, de joelhos, rendemos graças a Deus, por tamanha esmola.

            Era RacheI viva, pronta para ir a uma festa. A sua cabeça erguida, os seus braços redondos, o seu sorriso habitual, as suas bonitas mãos e até a posição destas, toda sua exatamente como era na Terra. Falou à mãe, pedindo-lhe exatamente que na próxima sessão viesse toda de branco como desejava e aí estava materializada.

            Rachel tocou todos nós com sua mão; sentimos todos o seu calor natural e, à observação de minha esposa: “Rachelzinha, tu tinhas os cabelos tão bonitos, mostra-nos os teus cabelos”, ela entrou no gabinete e, voltando instantes depois, virou-se duas vezes, mostrando-nos seus cabelos compridos e ondulados. Aceitando as flores que lhe oferecemos, fez sua mãe sentar-se em uma cadeira junto ao gabinete e de costas para este. Abraçou-a e beijou-a muito carinhosamente, depois lhe colocou uma rosa na blusa branca, que minha esposa vestira para ser agradável à filha, que na véspera não gostara de vê-Ia de preto. Na ocasião em que lhe colocou a rosa, falou-lhe de seus próprios lábios, dizendo-lhe: “Não quero que ande de preto, ouviu? Quero que venha toda de branco, assim como eu estou.”

            Toda essa frase minha filha a pronunciou tão clara e distintamente que todos, além de minha esposa, a ouvimos.

            Depois, sentando-me eu na mesma cadeira por ordem sua, acariciou-me como fizera à sua mãe, colocou uma angélica na lapela de meu paletó, apoiando-se com todo o peso de seu corpo sobre meus ombros. Por fim, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete e desapareceu.

            Puxei o relógio, Rachel tinha estado aí 40 minutos. Depois saiu o João e cantou, muito satisfeito com a materialização de sua discípula.

            A 6 de Maio fizemos a última sessão,

            O resultado foi o mesmo da anterior, com acréscimo de RacheI fazer diante de nós uma luva em parafina de sua mão esquerda, consultando muitas vezes João, que se achava no gabinete, porém à nossa vista, durante todo o tempo em que ela trabalhava com a parafina. Logo ao se materializar, RacheI, saltando e batendo palmas, demonstrou sua satisfação por ver sua mãe toda de branco; e ao despedir-se, pediu-lhe que levasse sua irmã Leontina às festas e ao teatro, como fazia com ela. RacheI esteve conosco, nessa ocasião, durante duas horas.

            Por fim,  pedi a RacheI que me permitisse beijar-lhe a mão. O mesmo pedido foi feito por minha esposa e mais duas filhas aí presentes, além de umas 10 pessoas. Ela deu a mão a beijar à sua mãe e à menor das suas irmãs; e, aproximando-se de mim, num gesto rápido, todo seu; pegou minha mão com bastante força e beijou-a. E, sacudindo um lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete. Não sentimos sua partida, pois estamos certos de que não será esta a última vez que a veremos. Rachel vive! disto estava certo antes de aqui vir e continuo na mesma certeza.

            Tenho entretanto de confessar que estas duas horas e 40 minutos foram para todos nós o tempo mais feliz de nossa existência.

            E permita-me que, por seu intermédio, uma vez mais agradeça ao Sr. e à Sra. Prado o sacrifício que fizeram de vir aqui, e ao maestro Bosio e senhora as gentilezas de que nos cumularam, assim como a todos os confrades e amigos o acolhimento que nos fizeram. Agradeço também à “Folha do Norte” pela cessão de suas colunas, Que Deus lhes pague!”


Nota Oficial

            Eis finda a nossa tarefa. De bom grado reuniríamos em apêndice tudo quanto se escreveu na imprensa de Belém sobre os fenômenos espíritas observados pelo Sr. Eurípedes Prado, desde os artigos do reverendo padre Florêncio Dubois às notícias mais simples. Isso, porém, daria a este volume proporções que ele não comporta.

            Parece-nos ter colhido o que houve de mais útil e mais esclarecedor sobre o caso.

            Resta-nos um conforto: sentimos bem que não nos afastamos da linha de absoluta imparcialidade e justiça.

            Isso nos basta.




05 Ana Prado e os Figner



05 Ana Prado
e os Fígner

inO Trabalho dos Mortos  (o livro do João)” (FEB)
 de Nogueira de Faria (FEB)  5ª Ed.  1990


Quarta sessão a 6 de maio de 1921


            Na noite de 5 para 6, D. Nicota, a médium, sonhou que João lhe dizia que no dia seguinte, 6, haveria sessão de materialização e que Rachel faria sua mão em parafina líquida, à vista de todos; imergiria duas vezes a mão na parafina e em seguida iria tocar em seus pais para lhes mostrar e fazer sentir o calor da parafina.

            Ao amanhecer, D. Nicota referiu ao Sr. Eurípedes, seu marido, o que sonhara. Depois, dirigindo-se a João, pediu-lhe que confirmasse o sonho. Imediatamente, um álbum, pelo qual dá ele sinal da sua presença, se moveu saindo da posição em que estava. Colocaram-no de novo no lugar donde saíra e D. Nicota disse: “Move-o outra vez para termos confirmação.” Logo o álbum se moveu à vista dos presentes. Estava, portanto, confirmada a veracidade do sonho.

            À noite houve a sessão de que João falara à sua médium. Foi, porém, muito íntima, pois João desejava que os fenômenos se produzissem muito perfeitos e, na sua opinião, a presença de incrédulos na assistência poderia prejudicá-los .

            Marcou a sessão para as 8 horas da noite. Mas, como algumas pessoas só poderiam chegar depois das 8 horas, o Sr. Eurípedes procurou convencê-Io de que melhor seria começar um pouco mais tarde. Ele respondeu: “Não; deve ser às 8 horas em ponto. Depois verás justificada a minha insistência por principiar a essa hora.” E tinha razão, pois que a sessão só terminou quase à meia-noite.

            Às 8 horas em ponto, portanto, foi ela aberta, estando presentes o Sr. Eurípedes e senhora (a médium), Dr. Mata Bacelar, senhor e senhora Manoel Tavares, maestro Bosio e senhora, Fígner, senhora e filhas Leontina e Helena.

            Satisfazendo aos desejos manifestados por minha filha na sessão anterior, apresentei-me toda de branco.

            Apagaram-se as luzes e instantes depois observamos que a materialização começava. Logo que esta tomou forma, reconhecemos a nossa adorada Rachel , Assim saiu da câmara, o seu primeiro gesto foi, como sempre, o de se ajoelhar e orar, no que a acompanhamos. Apenas viu que eu me achava de branco, manifestou grande satisfação. Falava, batia palmas e pulava de alegria, como costumava fazer na Terra, quando experimentava um vivo contentamento , Dizia: “Que bom! Estou muito contente! Mamãe está toda de branco! Está tão bonitinha!!”

            Dizer da minha felicidade, por poder uma vez mais ver minha filha, perfeita como era e dando mostras de alegria, tal qual fazia aqui na Terra, é coisa impossível. À criatura faltam palavras para definir o que sente nesses momentos de suprema ventura. Prossigamos.

            Depois dessa demonstração de alegria, a minha Rachel começou o trabalho da moldagem da sua mãozinha em parafina líquida e quente. Cumpre notar que João me mandara dizer pela médium o seguinte: “Diga-lhe que, quando a filha puser a mão na parafina, não deve exclamar - coitadinha! -- pois que Rachel não sente dor alguma.”

            Conforme ele havia anunciado, RacheI começou o trabalho imergindo duas vezes a mão na parafina e em água fria. Em seguida, veio a mim e colocou a sua mãozinha enluvada de parafina dentro da minha. Depois, retirando-a, colocou a outra que estava com luva de parafina, a fim de eu sentisse e notasse a diferença da temperatura. O mesmo fez com o pai.

            Ao colocar a sua na minha mão, ela estava bem defronte de mim e muito perto, de sorte que, não só eu lhe sentia e via a mão, como via perfeitamente o rosto. Era a minha RacheI, tal qual eu a tivera na Terra. O rosto, o pescoço, o colo eram os seus. Não havia para mim possibilidade de ter a menor dúvida de que fosse a minha muito querida filha. Aproveitei assim as duas sensações ao mesmo tempo: via e sentia a minha filha. Só Deus me poderia dar tamanha felicidade, treze meses após a desencarnação dela.

            Depois de se mostrar bem a todos, Rachel voltou aos baldes de parafina e água fria e quente, continuando o trabalho durante umas duas horas. Víamos minuciosamente esse trabalho, porquanto a luz era bastante forte e nos permitia distinguir tudo. Metia a mão na parafina fervendo, depois na água fria, examinava o molde e de quando em quando ia à câmara consultar o João que se conservava dentro desta e que, ao que suponho, lhe dava instruções. Durou tanto tempo esse trabalho que a água e a parafina esfriaram. Verificado isso, Rachel entrou na câmara e João, pela médium, deu ordem para que novamente aquecessem a água e a parafina. Como demorassem  para apanhar as vasilhas, disse ele pela médium:  ”Deixem, vou materializar-me para entregar as vasilhas. ”Em seguida saiu da câmara, tomou a panela de água e a colocou defronte dos assistentes. Pegou depois do balde de parafina, que é bastante pesado e, suspendendo-o com o braço estendido e firme, o foi colocar junto da panela. Provou assim a sua completa materialização, exibindo a força da sua musculatura perfeitamente humana. Enquanto aqueciam a água e a parafina, pôs-se ele a brincar conosco.

            Em dado momento, esbarrou na tampa da panela, que ficara no chão. A Sra. Tavares disse: “O João não viu a tampa, coitado!” Ele imediatamente se abaixou, apanhou a tampa e a entregou àquela senhora, como que a lhe dizer: Vejo muito bem.

            Os Espíritos se materializam tão perfeitamente, ficam tão humanizados que, como nos acontece a nós, esbarram nos objetos que se acham em seu caminho. Não se tem a menor impressão de um fantasma.

            Doutra vez, ele esbarrou numa garrafa de aguarrás que também estava no chão e fê-Ia cair. Ato contínuo, abaixou-se, apanhou a garrafa e foi colocá-Ia num lugar afastado de seu caminho. É simplesmente assombroso! Não há palavras que o descrevam.    

            Enquanto esperávamos as vasilhas, João pediu lápis e papel. Frederico foi buscar o que ele pedia e entregou à Sra. Tavares para que lhe passasse uma folha de papel e dois lápis, um deles numa lapiseira de metal. João experimentou no papel qual dos dois lhe convinha mais e preferiu o da lapiseira. Disse então alguém: “Vamos ver que surpresa João nos vai fazer.” Ao que ele respondeu pela médium: “Não é agora. Só depois de concluído o trabalho da parafina.”

            A Sra. Tavares, pilheriando, disse: “Ganhei do João um presente” - referindo-se à tampa da panela que ele lhe dera para segurar. João, a gracejar, respondeu pela médium: “Isto não é sério.” Depois, ainda pela médium, pediu trouxessem as vasilhas que estavam demorando muito. Daí a pouco desceram as vasilhas e foram colocadas sobre os bancos que lhes eram destinados. Ele, a conversar conosco enquanto as arrumava, disse com seus próprios lábios: “Agora virei cozinheiro.”

            Em seguida, entrou na câmara e logo surgiu a nossa querida Rachel, que ainda por muito tempo continuou o trabalho que começara. Ouvia-se o mergulhar da sua mãozinha na parafina e na água fria. De vez em quando derramava água e parafina no chão. Isso acontecia sempre que retirava bruscamente a mão de dentro da vasilha. De espaço a espaço pegava uma ponta do vestido e passava no molde, como que para secar ou alisar. Por mais de uma vez no curso do trabalho, João, pela médium, pedia que tivéssemos paciência, por isso que aqueles trabalhos são demorados.

            Era ela, sempre ela, que ali estava diante dos nossos olhos. Já durava tanto a sua materialização, que tive a ilusão de se achar minha filha aqui na Terra sem haver desencarnado. Depois de muito trabalhar, a minha Rachel deixou o molde dentro do balde de água fria e entrou na câmara.

            Disse então, João, pela médium, que a nossa irmã Anita viria fazer umas flores de parafina em a nossa presença. Veio Anita, tirou a vasilha de água quente, que estava em cima do banco, colocou-a no chão, e, puxando o banco, sentou-se junto à vasilha e começou o seu rápido trabalho. Esteve uns dez ou quinze minutos a fazer a flor, Uma vez pronta, imergiu-a no balde de água onde estava o molde e João disse, pela médium, que Anita havia feito a flor, para que a irmã Rachei a entregasse juntamente com o molde.

            Efetivamente, logo apareceu Rachei e tirou com muito cuidado o molde e a flor de dentro de água. Trouxe o primeiro e o depositou em minha mão, Recebi-o com todo o respeito e cheia da mais viva satisfação, Entregou a flor a Frederico. Emocionadíssimos, agradecemos, pedindo-lhe nos desse suas mãozinhas para beijar. Deu-me a mão, que beijei com muito amor e carinho, Helena pediu que também lhe deixasse beijar a mão e ela deixou. Frederico fez o mesmo pedido, Ela lhe estendeu a mão, mas não consentiu que ele beijasse, até que, em certo momento, rapidamente se ajoelhou e, puxando fortemente a mão do pai, deu-lhe um beijo estalado, que toda a assistência ouviu.

            Leontina igualmente lhe pediu que a deixasse beijar-lhe a mão, ao que ela não acedeu. Mas, voltando-se para mim, como se tivesse a intenção de provar à irmã que não se esquecia dela, disse-me pelos seus próprios lábios:  “Mamãe, leva minha irmã às festas e ao teatro, como fazias comigo. Leontina, tão bonitinha!” Leontina, chorando, muito comovida, agradecia.

            RacheI conservava-se bem defronte de nós, mostrando--nos completamente o semblante, de acordo com o que já nos havia dito anteriormente numa sessão de tiptologia, antes de partirmos para o Pará. A todas as pessoas presentes mostrou nitidamente o seu rosto, seu colo, seus braços. Mostrou-se, enfim, perfeitamente materializada, como se estivesse viva na Terra.

            Certa vez em que ela estava diante de mim, perguntei-lhe: “Minha filha, foi Aluízio ou Gabriel que aqui veio na última sessão?» Ela me respondeu de seus próprios lábios: “Bilé”. Prova magnífica foi essa da sua identidade, pois ali só ela e nós conhecíamos o apelido do nosso Gabriel. Rachel disse isso numa ocasião em que desfolhava rosas sobre as nossas cabeças.

            Tendo tirado o lenço que trazia no decote do vestido e depois de se ter mostrado muito claramente, sob o máximo de luz que os aparelhos preparados podiam dar, ela se retirou para a câmara e, saindo de novo, ia, com aquele mesmo lenço, começar os acenos de despedida, quando lhe pedi: “Minha filha, espera um pouco. Temos aqui umas flores que trouxemos para te dar.” (As flores não tinham sido entregues antes, por haver João dito que só o fizéssemos depois do trabalho de parafina.)

            RacheI voltou-se para o interior da câmara, como que a pedir instruções, ou a transmitir o pedido, penso que a João. Logo, porém, voltou, recebeu de nossas mãos os flores, distribuiu-as conosco e com os demais assistentes. Conforme costumava fazer aqui na Terra, nos dias de aniversário meu e do pai, desfolhou algumas rosas e espargiu sobre as nossas cabeças e sobre as das irmãs, dando-nos uma impressão viva à sua personalidade terrena. Foi uma cena emocionante. Todos choravam!!! Depois, erguendo as mãos para o céu, disse, de sua própria boca: “Graças a Deus. Sinto-me contente por ter vencido a dor de mamãe. Vou subir muito alto!!!” Tomou de novo o lenço e acenou com ele durante muito tempo, a despedir-se.

            Comovidíssímos, nós lhe diziamos: “Adeus, adeus, filha adorada. Deus te abençoe, Deus te pague.” Eu não me podia conformar com a ideia de que a minha filha partisse de junto de mim, pois que a sua presença não foi uma simples materialização; foi uma perfeita ressurreição. Todos os que hão assistido aos fenômenos, inclusive o Sr. Prado, marido da médium, ficaram maravilhados, dizendo nunca terem visto tanta perfeição. Os espíritas do Pará sentem-se felizes por essa grande graça de Deus. Tornamo-nos todos membros de uma só família.

            Deus de bondade, Deus de misericórdia, perdoa os momentos de desespero que tive e dá que eu possa praticar atos dignos da grande esmola que do teu infinito amor recebi.

            Após a despedida de RacheI, veio João, como sempre perfeitamente materializado, e, puxando um dos bancos em que estiveram os baldes, pôs-se a escrever, dando-nos portanto a surpresa que nos prometera para depois do trabalho de parafina.

            Quando começou a escrever, debruçado sobre o banquinho, a ponta do lápis quebrou. Então, ele se levantou e pediu um outro lápis, dizendo que o primeiro se havia quebrado. Frederico passou-lhe um outro, como o faria a uma criatura da Terra, João o tomou e, virando o papel do outro lado, escreveu à nossa vista o seguinte, que se acha reproduzido na gravura 46.

            “Saudades vou assistir a fotografia no girar.”

            Depois, acenando com o lenço em sinal de despedida, entrou no gabinete e se desmaterializou, como o fizera das outras vezes.

Esther Fígner
            







22 de fevereiro



22 Fevereiro

 E o assunto é esse aí...
Se você quer triunfar,
Não escute corpo mole,
Nem pare de trabalhar.

Cornélio Pires   

por Chico Xavier
in ‘Baú de Casos”  (IDEAL 1ª Edição 1977 ?)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

04 Ana Prado e os Figner


04 Ana Prado
e os Fígner

inO Trabalho dos Mortos  (o livro do João)” (FEB)
 de Nogueira de Faria (FEB)  5ª Ed.  1990


Terceira sessão a 4 de maio de 1921

            Pessoas presentes: Sr. Eurípedes Prado e senhora (a médium), maestro Bosio e senhora, Dr. Mata Bacelar, senhor e senhora Manoel Tavares, Frederico Fígner, senhora e filha Leontina.

            Feito o círculo para a produção dos fenômenos de efeitos físicos, apagaram-se as luzes. Frederico e eu colocamos sobre as pernas seis lenços, dos quais quatro estavam comigo. Começaram os fenômenos tocando o Espírito João no Dr. Mata Bacelar e depois no maestro Bosio. Senti, em seguida, que me tocavam no colo. Passados alguns momentos, senti que me colocavam qualquer coisa no colo. Nisto diz a médium que João mandava que acendessem as luzes, feito o que, verificou-se que eu tinha no colo um lenço amarrado em forma de flor.

            Apagadas de novo as luzes, João continuou a fazer o mesmo trabalho com os lenços, mas amarrando cada um de uma forma diversa. Fez isso com um dos de Frederico, sem tocar no outro.

            Da primeira vez que tirou os lenços do meu colo, levou dois e restituiu um amarrado. Tirou depois os outros dois que haviam ficado e logo mos restituiu amarrados também. Um dos dois primeiros, porém, ele conservou consigo e só mo deu no fim da sessão, trabalhado igualmente, como os demais.

            De repente, Leontina soltou um grito e disse que alguém lhe havia tocado na perna. Quase ao mesmo tempo, senti e disse alto que alguém colocava a mão sobre o meu ombro esquerdo. Julgamos fosse João. Logo, entretanto, D. Nicota (a médium) disse: “João está dizendo que não foi ele e sim a irmã de Leontina que a tocou, assim como em D. Esther.”  Vindo a saber desse modo que minha filha se achava presente, se bem que invisível, dirigi-me a ela. Imediatamente Raehel se fez sentir atrás de mim, tocou-me o rosto e passou
a mão sobre a minha cabeça, acariciando-me. Eu lhe dizia:

            - Vem, minha filha, beija-me, abraça-me; vem junto de mim, bem sabes que não tenho receio. Vem, minha adorada Rachel, vem bem junto da tua mãezinha.

            À medida que lhe falava[1], mais Rachelzinha se fazia sentir. Beijou-me muito, fortemente, dando-me beijos estalados que a assistência ouvia. Apertava meu rosto contra seus lábios, tal como se aqui estivesse. Beijei-lhe as mãozinhas, toquei-lhe as unhas, verificando que estavam como as usava, pontudas e polidas. Quando ela assim me abraçava, perguntei-Ihe : “Minha filhinha, és feliz?”  Ela me enlaçou então de tal forma com seus braços que não mais senti o espaldar da cadeira em que estava sentada. Sentia unicamente o contato muito vivo do seu corpinho, seu calor, sua respiração, seu hálito. Era perfeitamente minha filha a me dizer ao ouvido: “Sim.” Perguntei-lhe ainda: “Estás contente com tua mãe? Vim de blusa branca.” Minha RacheI pegou das duas abas da blusa e as sacudiu num gesto de contentamento, demonstrando que bem estava vendo.

            Avaliem os que lerem estas linhas sinceras a minha alegria, a minha felicidade, o meu reconhecimento a Deus, por me haver permitido, ainda uma vez, sentir, ouvir, tocar a minha filha muito amada!! Ela me tomou de novo o rosto e, puxando-o para o lado, como era seu costume, beijou-me seguidamente muitas vezes, com grande amor.

            Sempre a conversar com o meu anjo querido, disse-lhe: “Minha filhinha, vai beijar, vai acariciar teu paizinho.” No mesmo instante ela se fez sentir atrás do pai e se pôs a beijá-Io e a acariciá-Io da mesma forma que fizera comigo.

            Por fim, deu-lhe um beijo estalado no ouvido.

            É uma maravilha, que não se pode descrever. Ante tanto poder, a criatura de carne desaparece.

            Nessa altura dos trabalhos, disse João : “Terminem esta sessão, pois que a médium está perdendo muitos fluidos, o que pode vir a prejudicar a sessão de materialização.” Antes, porém, que a sessão fosse encerrada, disse ele ainda: “Tirem o tímpano que está no chão, entre Fígner e Leontina, e coloquem-no entre os pés do Fígner. Leontina que tire os pés do caminho, pois posso esbarrar nela.” Isto disse por brincar com Leontina, que estava com medo.

            Cumpridas as ordens de João, todos lhe sentimos a presença. Tirou o tímpano que estava no chão, entre os pés de Frederico, andou, fazendo-o ressoar no espaço, por cima das nossas cabeças e tocando com ele em todos, especialmente em mim. Tudo isso era feito, apertando João sempre o botão do tímpano, de sorte que pelo som sabíamos a todo momento onde ele estava. As vezes o som vinha do teto. Pedi-lhe repetidamente que colocasse o tímpano na minha mão. Afinal, mandou que eu estendesse a mão e nela depositou o tímpano. Ordenou que acendessem as luzes, o que feito, todos viram que aquele objeto estava na minha mão.

            Terminada essa sessão, preparamo-nos para a de materlalização .

            Acenderam-se as luzes, arrumaram-se as cadeiras diante da câmara escura, a médium se sentou numa cadeira de balanço dentro da câmara, sempre na mesma posição, tapando os olhos com o lenço. Uma vez tudo disposto, apagaram-se as luzes mais fortes, ficando a sala mergulhada na semiobscuridade em que ficam os cinemas quando a fita está sendo passada.

            Começaram a condensar-se os fluidos e daí a pouco aparecia um vulto no qual, à medida que se formava, íamos eu, meu marido e minha filha, reconhecendo a nossa querida Rachel , E, de fato, o era. RacheI nos apareceu em toda a perfeição de suas formas, tal qual fora, absolutamente reconhecível. Ali estava viva e palpitante.

            Antes que houvessem apagado as luzes, João mandou que uma cadeira fosse colocada entre a assistência e a câmara. Quando minha filha saiu, perfeitíssima, da câmara, ajoelhou-se e levantou as mãozinhas para o céu. Ajoelhei-me também e todos os que estávamos presentes a acompanhamos na prece que dirigia ao Senhor. Depois, levantou-se e foi sentar-se na cadeira vazia, tomando exatamente a posição em que está numa fotografia, da qual pouco antes eu falara, dizendo que nesse retrato se lhe viam bem os braços e as mãos. (Gravura 43.) [2]

            Tomou com a maior exatidão a pose em que se vê na aludida fotografia. Fez, portanto, uma coisa que só ela podia fazer. Todos os da sua família, que ali nos achávamos, exclamamos ao mesmo tempo: “Olhem a nossa Rachel perfeitinha, igualzinha ao retrato .” E ela viva, perfeita, deixava que a víssemos bem e a reconhecêssemos. Não havia dúvida, nem podia haver, era a nossa Rachel .

            Eu lhe falava e ela me prestava toda a atenção. Em seguida, levantou-se, veio até junto de mim, colocou-se bem à minha frente, recebeu das minhas mãos umas flores que levara e que suas irmãzinhas Lélia e Helena lhe mandavam. Disse-lhe Leontina : “O Sr. Amábile também mandou lembranças e um abraço.” Ao que ela respondeu levantando as mãozinhas para o céu, como que oferecendo a Deus. Recebeu flores também das mãos de seu pai e de sua irmã Leontina. Enfim, RacheI estava diante de mim tão perfeita e tão viva que se não podia ter a mínima dúvida. Eram os mesmos braços alvos, as mesmas lindas mãos que tinha aqui na Terra.  Em tudo, nas maneiras, nas formas, no rosto, era a minha adorada filha.

            Voltando ela à câmara escura, disse a médium: “Rachel pede que sua mãe se sente na cadeira em que ela esteve.” Sentei-me imediatamente nessa cadeira, porém de frente para a câmara. Logo disse RacheI pela médium: “Mamãe deve voltar as costas para a câmara e ficar muito quieta.” Assim fiz e disse: “Pronto, minha filha. Estou impassível. Podes vir sem receio.” Logo ouvi uns passos e senti minha filha a meu lado, abraçando-me muito apertadamente e dando-me beijos tão estalados que toda a assistência escutava. Encostava seu rosto ao meu com extremo carinho. Depois de muito me acariciar, de me dar todas as provas de amor e de que era bem a minha RacheI, disse-me distintamente, com voz forte, que todos ouviram: “Não quero que ande mais de preto, ouviu? Quero que venha toda de branco, assim como eu estou.” Respondi-lhe: “Sim, minha filha, far-te-ei a vontade, farei tudo o que quiseres. Já o fazia quando estavas na Terra: hoje, que não farei para te ser agradável? Sim, meu anjo, não usarei mais roupa preta.”

            De novo me beijou muito e, com os braços passados por trás do meu pescoço, tirou, das flores que lhe havíamos dado, uma rosa vermelha e a enfiou no decote da minha blusa branca. Vi nitidamente suas mãozinhas, seus dedos. Era positivamente sua aquela maneira de fazer as coisas, eram indubitavelmente seus aqueles gestos. Estávamos todos vendo a nossa Rachel exatamente como era.

            Foi novamente à câmara escura, isto é, ficou de pé à porta desta e voltada para dentro como se falasse com alguém. Como eu continuasse na cadeira, a médium falou assim: “Diga a mamãe que saia da cadeira. É' papai que deve sentar-se agora.” Imediatamente me levantei e Fred sentou-se na mesma posição em que eu estivera. RacheI chegou-se a ele, abraçou-o, beijou-o, acariciou-o muito, do mesmo modo que fizera comigo. Passou o braço esquerdo sobre o ombro esquerdo do pai, de forma que se lhe via a mão caída sobre o peito deste, aquela mão lindíssima que eu tão bem conhecia e que não podia deixar de reconhecer ali ser inteiramente a mesma da minha RacheI. Estendeu o braço direito tomando uma posição muito graciosa, formando com o seu querido pai, presa da mais viva emoção, um grupo admirável. Não cessávamos de soltar exclamações e de agradecer a Deus tanta misericórdia. Dizíamos: “Filhinha adorada, Deus te abençoe. Deus te pague.”

            É' impossível descrever tudo, pois são inúmeras as minúcias. Separando-se de seu pai, depois de muito o acariciar, RacheI tomou de um galho de angélicas e, pelas costas dele, o colocou na lapela de seu paletó. Fez isso com a mais absoluta naturalidade, notando-se-lhe o esforço a que se viu obrigada para passar o talo um pouco grosso da flor na casa meio fechada. Nos gestos, que então fez, como em todos os outros, era a RacheI que conhecíamos.

            Reproduziu por duas vezes a posição da fotografia, puxando, antes de se sentar, a cadeira, para po-Ia como desejava. Repetidas vezes veio até junto de nós, distribuiu com os assistentes o ramo de flores que lhe havíamos oferecido, ouvindo-se distintamente o ruído que faziam as folhas quando ela separava as flores. Deu-me com muito carinho um ramo de jasmins do Cabo. Quando assim, diante de nós, virava-se de um lado para outro, a fim de que bem a reconhecêssemos e nenhuma dúvida nos ficasse nos espíritos. Frederico e Leontina choravam, soluçando convulsivamente. Ela, então, parando defronte de nós, disse, com voz firme, que notoriamente partia de sua boca: “Não chorem.” Todos caímos de joelhos diante da nossa querida RacheI. Em dado momento; Leontina perguntou-lhe se seus irmãozinhos Aluízio e Gabriel estavam
presentes e ela respondeu clara e distintamente: “Não.” Esteve algum tempo a andar de um lado para outro, mostrando-se bem.

            Como trouxesse os cabelos suspensos, eu disse: “Minha Rachel, ainda não vi os teus cabelos. Mostra-nos a tua linda cabeleira .” Ela foi à câmara e logo voltou, trazendo os cabelos a lhe caírem soltos sobre os ombros, lindos quais eram na Terra. Punha-se de frente e de costas para nós, a fim de que bem a pudéssemos apreciar.

            Depois, foi à câmara escura e de lá veio trazendo um pano branco, com o qual se pôs a acenar em sinal de adeus. Que emoção! Todos exclamavam: “Adeus, Rachelzinha! Adeus, meu amor! Deus te abençoe!” Enfim, de nossos lábios saíam todas as exclamações de carinho que se podem dirigir a uma criatura adorada e saudosa quanto o é a nossa inesquecível RacheI!! Não há na vida coisa mais sublime. A misericórdia de Deus é tão grande que não há palavras nem sentimentos com que se lhe agradeça. De puro amor se nos enche o coração.

            Depois de Rachel, veio o nosso bom irmão João, que ainda não aparecera naquela noite. Não apareceu, disse-o ele, por ter querido deixar todos os fluidos para Rachel, a fim de que ela pudesse materializar-se bem, como de fato aconteceu.

            A música, no andar de cima, tocava sempre, desde o início da sessão, João aproximou-se de nós e disse que ia fazer, materializado e em nossa presença, o que não fizera anteriormente, isto é, trabalhar um dos lenços de Frederico, aquele que na sessão anterior ficara sem ter sido atado. E assim fez. Fe-Io da maneira mais linda que se possa imaginar. Todos o víamos perfeitamente bem, em pé defronte de Frederico, a trabalhar o lenço e cantando ao mesmo tempo. Prestei muita atenção, para ver se aprendia a atar o lenço daquele modo; porém, ele o fez tão depressa que não me foi possível perceber. Concluído o trabalho e sempre a cantar, entregou o lenço a Frederico, tal qual o faria um homem.

            Pela médium disse qualquer coisa sobre a música que estavam tocando. Como não houvéssemos ouvido bem, perguntou-se-lhe se queria que tocassem outra música. Ao que ele respondeu com voz máscula: “Não.” Interessante é que canta às vezes num perfeito falsete e doutras vezes em tom grave.

            Depois de estar João aí algum tempo conosco, vimos um vulto pequeno que se encostava à cadeira colocada no meio da sala e falava com voz muito fraquinha. Eu e as demais pessoas presentes procurámos ouvir o que dizia e escutamos distintamente: “Mamãe, mamãe.” Perguntei: “Será um de meus filhinhos?” Respondeu-me: “Sim.” Vi perfeitamente que era uma criança, que tinha cabelos louros e que repousava um dos bracinhos sobre a barriga. Também os nossos filhinhos não nos haviam esquecido. Não pude saber ao certo, se era Aluízio ou Gabriel. Suponho fosse Gabriel, que era louro, ao passo que Aluizio tinha os cabelos castanho-escuro.

            Voltou João, que se despediu de nós. Quando estava despertando a médium, fez que esta dissesse: “Causa-me tristeza ver a minha médium ir embora.” Ele queria que ela ficasse em Belém.

            Numa das sessões, disse João: “Ah! se vocês tivessem isto lá no Rio!”





[1] Em negrito, destaques do blogueiro.
[2] A foto da ‘morta’ – Raquel -   já foi copiada e aparece nesta série.