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sábado, 27 de agosto de 2011

28 de Agosto



28 Agosto



   Quem não suporta mudança,
Nem padece grandes provas,
Não se eleva, nem avança
No rumo de estradas novas.


 Jésus Gonçalves
por  Chico Xavier
in ‘Pássaros Humanos’  (1ª Ed. GEEM 1993)



sexta-feira, 26 de agosto de 2011

06 / 09 Textos do Centenário


Kardec
e a aristocracia intelecto-moral
por   Ismael Gomes Braga
in Reformador (FEB) Abril 1957

     Ao comemorarmos o primeiro Centenário da Codificação Kardequiana, muito natural é nos determos no primeiro livro de Allan Kardec sobre a Doutrina, pois que justamente este é que completa cem anos;  os outros vieram depois e ainda não são seculares neste momento; mas, por outro lado, ficaria deformada a Codificação mesma se não passasse do primeiro e não chegasse ao último dos livros do Mestre.

     Vamos, pois, neste número comemorativo de Reformador, colher e registrar pensamentos instrutivos que nos legou o Codificador no último de seus livros, Obras Póstumas, que encerra igualmente preciosos ensinamentos.

     Escolhemos para este breve estudo o sábio capítulo “As Aristocracias”, porque, escoados quase cem anos de distância, já o podemos hoje ler sob a Luz de outros acontecimentos da História que confirmam os ensinos lógicos do Mestre. Mas antes de chegarmos propriamente ao nosso estudo, vamos transcrever palavras de uma mensagem anterior à publicação de “O Livro dos Espíritos”:

     Foi recebida em 30 de Abril de 1856, e se acha no pequeno capítulo “Primeira revelação de minha missão”. Diz:

     “Cada um no posto que lhe foi preparado, porque se precisará de tudo, pois que tudo será destruído, pelo menos temporariamente.. Não haverá mais religião, e será necessário haver uma, porém verdadeira, grande, bela e digna do Criador...Os primeiros alicerces dela já estão assentados... Tu, Rivail, tens nisso tua missão.”

     Em 1856 seria difícil, senão mesmo impossível fantasiar-se tudo que ocorreu nestes quarenta anos mais recentes no sentido do arrasamento de tudo, na destruição da religião em territórios imensos; nas ligações políticas da Igreja; na expansão do materialismo e da irreligiosidade de nossos dias. Vejamos agora as predições de Allan Kardec sobre o futuro advento da aristocracia intelecto-moral.

     Passa ele em revista a formação das aristocracias que tem governado o mundo. Primeiramente era o domínio do pai de família, o patriarcado, o governo dos mais velhos e mais experientes.  Mas surgiram as primeiras lutas com tribos vizinhas e os mais velhos não eram o mais aptos para a guerra. O poder passou para os mais valentes; surgiu o domínio dos guerreiros ou militares que pela força se apoderavam das coisas e dos homens vencidos, reduzindo-os à escravidão; dividiu-se a sociedade humana entre senhores e escravos ou vassalos.

     A fim de dar estabilidade aos seus privilégios, os senhores criaram leis de proteção de seus próprios interesses, e nessas leis estabeleceram a herança de seus direitos pelos filhos. Para dar mais força a suas leis, atribuíram a si poder divino; surgiu a fidalguia apoiada pela casta sacerdotal. O homem nascia para senhor de outros homens ou para escravo de outros homens, por predestinação divina (!?).

     A classe dos senhores era ociosa e foi-se degenerando pela falta de esforços, enquanto a classe inferior, obrigada a trabalhar e ganhar meios de subsistência para si mesma e ainda para seus senhores, foi desenvolvendo inteligência, energia, progredindo, enfim, e nisso se manifestava o dedo da Providência. A fidalguia foi ficando com seus títulos, e a plebe foi-se apoderando dos bens.

    Chegaram os títulos a nada valerem de positivo, porque o dinheiro com que se adquiriam as coisas necessárias à vida passara insensivelmente para outra classe que foi emergindo da plebe: surgiu o capitalismo, o predomínio do dinheiro, e chegou a uma quase onipotência.

     Os esforços para ganhar dinheiro, para se tornar mais apto na luta pela vida, exigiram o desenvolvimento sempre crescente da inteligência. Chegamos então à aristocracia intelectual, ensina Kardec, porque o homem simples da rua pode galgar todas as posições sociais, desde que possua inteligência e cultura para tanto.

     Estamos governados pela aristocracia intelectual, sem importar saber o título que a política dê aos regimes. Chamem-se eles monarquias, democracias, fascismo, comunismo, teocracia ou qualquer outro nome, sempre há uma classe dos mais inteligentes governando as massas.

     Mas a inteligência pode ser destituída de moral, frisa Kardec, e produzir as coisas mais detestáveis. Realmente assim é: mas a inteligência mesma descobre a necessidade da moral para criar felicidade, percebe que a só conquista do poder político não significa posse da felicidade.

     Assim, a inteligência tende a moralizar-se e criar essa futura força a que ele chama aristocracia intelecto-moral, que terá de governar as massas no porvir e será o sinal do advento do reinado do bem na Terra.

     A inteligência e o poder por esta conquistado deixam o coração vazio; produzem no fim o desencantamento por tudo. Verifica o homem que todos os bens adquiridos são materiais e muito passageiros. A força política e riqueza não o abrigam contra a enfermidade e a morte dos seres amados, contra o envelhecimento, a moléstia, e a sua própria morte.  Então ele anseia por uma coisa muito maior e mais bela do que tudo que obteve: sente ânsia de vida eterna, de juventude indestrutível, de amor sincero e imperecível. É chegado o momento em que só o Espiritismo lhe dá a chave da felicidade.

     Interroga, pesquisa, indaga e vem a verificar que a obra divina é muito mais bela do que ele poderia imaginar; que ele próprio é parte bela dessa obra divina, conquanto seja produto em elaboração, ainda bem longe do acabamento para o qual se acha numa das secções da oficina eterna que diviniza os seres mais rudes.

     Começa a compreender a lei de causa e efeito e estuda a teratologia para descobrir as causas remotas de tantas anomalias. Lê as primeiras letras do livro da Natureza. Aberto sob seus olhos; passa as páginas pesadas da paleontologia, sempre embevecido pelas milagrosas transformações para o melhor, o mais belo; abre uma página da botânica e vê na semente, com o mistério da vida oculto em seu pequeno ventre, uma árvore imensa e bela. Abre outras páginas e vai encontrando na zoologia os mesmos mistérios da renovação da vida em eterna evolução.

     Ouve o mavioso sabiá e lembra-se de que um dia este cantor já foi simples lagarto mudo e triste, arrastando-se penosamente por entre as pedras, depois foi arqueoptérix e hoje é bela ave.

    Contempla a borboleta saltitante e leve no ar e recorda-se que há poucas semanas ela era uma lagarta rastejante.

     Começa a encontrar Deus dentro e fora de si, na Natureza toda, e a perceber quão pequenas e desprezíveis eram as coisas que tanto o seduziam na infância espiritual.

     Descobre suas próprias limitações, mas sabe que elas serão vencidas pelo esforço, pelo estudo, pelo trabalho, pelo amor. Já entrou na vida eterna. Já tem consciência de habitar numa estrela do céu infinito e ter Deus em seu próprio coração.
     Como bem afirmou Kardec, “a vulgarização universal do Espiritismo dará em resultado, necessariamente, uma elevação sensível do nível moral da atualidade”, sendo, por isso mesmo, um dos mais fortes precursores da aristocracia do futuro – a aristocracia intelecto-moral, que só se levantará e governará o mundo, após este passar por muitos erros e muitas dores.

     Nesse porvir, ainda longe, a Doutrina Espírita triunfará afinal em todas as consciências.

     E só então os resíduos das aristocracias do passado terão que desaparecer totalmente. Cada uma delas deixou elementos mais ou menos fortes ligando o passado ao presente; os antigos patriarcas ainda são os senadores de hoje; os guerreiros estão transformados na casta militar com muitos privilégios; os fidalgos ainda pretendem direitos hereditários, prerrogativas de família. As teocracias nos legaram os cleros político-religiosos de hoje; a aristocracia do dinheiro ou plutocracia ainda nos governa com o máximo despotismo. Mas todas essas aristocracias têm que ceder o campo à aristocracia intelecto-moral, tão fatalmente como depois das trevas da noite terá que vir a alvorada, porque o progresso é lei divina e fatal.


27 de Agosto


27 Agosto

   Reencarnara pobretão
Mas fora nobreza antiga...
Por isso, dava a impressão
De ter um rei na barriga.

 Cornélio Pires
por  Chico Xavier
in ‘Pássaros Humanos’  (1ª Ed. GEEM 1993)


'A Oração'


A Oração
6,9 Eis como deveis rezar: Pai Nosso que estais no céu, santificado seja o Vosso nome.
6,10 Venha a nós o Vosso reino; seja feita a Vossa vontade, assim na Terra como no céu. 
6,11 O pão nosso de cada dia nos dai hoje. 
6,12 Perdoai-nos as nossas ofensas, à medida que  nós perdoemos aos que nos ofenderem.
6,13 E não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do mal pois Vosso é o Reino, o Poder e a Glória. 
6,14 Se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai Celestial vos perdoará 6,15 Mas, se não perdoardes aos homens, tampouco vosso Pai vos perdoará.  

          Para  Mt (6,9) - Pai Nosso... - temos, em “Fonte Viva”, de Emmanuel por Chico Xavier, a linda mensagem que se segue:

            A grandeza da prece dominical nunca será devidamente compreendida entre nós que lhe recebemos as lições divinas. Cada palavra, dentro dela, tem a fulguração de sublime luz.
            De início, o Mestre Divino lança-lhe os fundamentos em Deus, ensinando que o Supremo Doador da Vida deve constituir, para todos nós, o princípio e a finalidade de nossas tarefas.
            É necessário começar e continuar em Deus, associando nossos impulsos ao plano divino, a fim de que nosso trabalho não se perca no movimento ruinoso ou inútil.
            O Espírito Universal do Pai há de presidir-nos o mais humilde esforço, na ação de pensar e falar, ensinar e fazer. Em seguida, com um simples pronome possessivo, o Mestre exalta a comunidade. Depois de Deus, a Humanidade será o tema fundamental de nossas vidas.
            Compreenderemos as necessidades e as aflições, os males e as lutas de todos os que nos cercam ou estaremos segregados no egoísmo primitivista. Todos os triunfos e fracassos a que iluminam e obscurecem a Terra pertencem-nos, de algum modo.
            Os soluços de um hemisfério repercutem no outro. A dor do vizinho é uma advertência para a nossa casa. O erro de um irmão, examinado nos fundamentos, é igualmente nosso, porque somos componentes imperfeitos de uma sociedade menos perfeita, gerando causas perigosas e, por isso, tragédias e falhas dos outros afetam-nos por dentro.
            Quando entendemos semelhante realidade, o “império do eu” passa a incorporar-se por célula bendita à vida santificante.
            Sem amor a Deus e à Humanidade, não estamos suficientemente seguros na oração.
            Pai nosso... - disse Jesus para começar. Pai do Universo... Nosso mundo...
            Sem nos associarmos aos propósitos do Pai, na pequenina tarefa que nos foi permitido executar, nossa prece será, muitas vezes, simples repetição do “eu quero”, invariavelmente cheio de desejos, mas quase sempre vazia de sensatez e de amor.”         

            Para,  Mt (6,10) - Seja feita a vossa vontade... - leiamos o “Livro da Esperança” de Emmanuel por Chico Xavier:
           
            “Nas lides do cotidiano, é imperioso recordes que a existência terrestre é a grande escola, em que a dor comparece por essência do aprendizado e o obstáculo por lição.
            E, portas a dentro do educandário, a prece, por flama viva, será sempre fio luminoso, possibilitando-te assimilar a inspiração do Mestre, a fim de que não faltem discernimento e fortaleza, paz e luz.
            Não transformes, porém, a tua rogativa em constrangimento para os outros. Ao invés disso, faze dela meio de tua própria renovação.
            Em muitas circunstâncias, solicitas a cooperação daqueles que mais amas, na solução dos problemas que te apoquentam a vida e recebes indiferença ou perturbação por resposta.
            Não desfaleças, nem te magoes.
            Ora e segue adiante, rogando ao Senhor te auxilie a compreender sem desesperar.
            Às vezes, nas agressivas dificuldades em que te encontras, aguardas a vinda de alguém capaz de aliviar o fardo que te pesa nos ombros e apenas surge quem te proponha dissabores e experimentos amargos.
            Não te aflijas, nem te perturbes.
            Ora e segue adiante, rogando ao Senhor te auxilie a sofrer sem ferir.
            Deste longo tempo de abnegação aos familiares queridos, na convicção de recolher carinho e repouso na época do cansaço, e ouves, a cada hora, novas intimidações à luta e ao sacrifício.
            Não te revoltes, nem desanimes.
            Ora e segue adiante, rogando ao Senhor te auxilie a servir sem reclamar.
            Assumiste atitudes para fixar a verdade, no respeito ao bem de todos, contando, por isso, com o entendimento daqueles que te rodeiam e viste a desconfiança sombreando a face de muitos dos melhores companheiros que te conhecem a marcha.
            Não chores, nem esmoreças.
            Ora e segue adiante, rogando ao Senhor te auxilie a esperar sem exigir.
            Em todas as provações,
             ora e segue adiante, rogando ao Senhor te auxilie a sustentar a consciência tranqüila, no desempenho dos deveres que te competem.
            E, se pedradas e humilhações te constituem o prato descabido no momento que passa,
            ora e segue adiante, lembrando que a criança pode revolver hoje o pó da terra, em formas de fantasia e agitações de brinquedo, no entanto, de futuro, nos dias de madureza, há de tratá-lo com responsabilidade e suor, se quiser obter agasalho e pão, que lhe garantam a vida.
            Isso porque Deus é a força do tempo, tanto quanto o tempo é a força de Deus.”
                                   
         Para Mt (6,12), - O Perdão das Ofensas - lemos em “O Evangelho...”, de Alan Kardec, o que se segue:
           
            “...o ódio e o rancor denotam uma alma sem elevação, sem grandeza; o esquecimento das ofensas é próprio da alma elevada que está acima dos insultos que se lhe possa dirigir; uma é sempre ansiosa, de uma suscetibilidade desconfiada e cheia de fel; a outra é calma, cheia de mansuetude e de caridade.”    
           
            Para  Mt  (6,14) -Desculpa sempre...- lemos,  em “Fonte Viva”, de Emmanuel por Chico Xavier:

            “Por mais graves te pareçam as faltas do próximo, não te detenhas na reprovação. Condenar é cristalizar as trevas, opondo barreiras ao serviço da luz.
            Procura nas vítimas da maldade algum bem com que possas soerguê-las, assim como a vida opera o milagres do reverdecimento nas árvores aparentemente mortas. Antes de tudo, lembra quão difícil é julgar as decisões de criaturas em experiências que divergem da nossa!
            Como refletir, apropriando-nos da consciência alheia, e como sentir a realidade, usando um coração que não nos pertence? Se o mundo, hoje, grita alarmado, em derredor de teus passos, faze silêncio e espera... A observação justa é impraticável quando a neblina nos cerca. Amanhã, quando o equilíbrio for restaurado, conseguirás suficiente clareza para que a sombra te não altere o entendimento. Além disso, nos problemas de crítica, não te suponhas isento dela. Através da nociva complacência para contigo mesmo, não percebes quantas vezes te mostras menos simpático aos semelhantes! Se há quem ajude, exaltando-nos o porvir luminoso, há quem nos perturbe, constrangendo-nos à revisão do passado escuro. Usa, pois, a bondade, e desculpa incessantemente.
            Ensina-nos a Boa Nova que o Amor cobre a multidão dos pecados.
            Quem perdoa, esquecendo o mal e avivando o bem, recebe do Pai Celestial, na simpatia e na cooperação do próximo, o alvará da libertação de si mesmo, habilitando-se a sublimes renovações.
                        



26 de Agosto


26 Agosto

   Embora servindo a todos,
Recorda quem te auxilia
A gratidão verdadeira
Paga juros todo dia.

 Casimiro Cunha
por  Chico Xavier
in ‘Pássaros Humanos’  (1ª Ed. GEEM 1993)




quarta-feira, 24 de agosto de 2011

05 / 09 Textos do Centenário


A Codificação
e as ideias do Mundo atual
Parte  2  /  2

in Reformador (FEB) Abril, 1957

     Kardec nos ensina que  a Natureza é o livro de Deus, sempre aberto à leitura do homem que tem aí lições a aprender por toda a eternidade. Livro maravilhoso, sem dúvida, poema grandioso que nos lançaria de joelhos, em êxtase de adoração, se os soubéssemos ler. Quantas maravilhas em cada página desse livro!

     Uma simples semente fecundada, encerando a futura árvore de sua espécie, conta-nos uma bela história de seu passado: quando a flor feminina recebeu do vento ou nas asas de um inseto, de mistura com muitos outros diferentes, e escolheu castamente o pólen que lhe pertencia e fechou-se a todos os outros, é o poema de sua juventude; na semente agora madura e fecunda se acha escrita a missão futura: vai ser plantinha tenra, árvore com folhas, flores, fruto e nova semente para perpetuar sua espécie numa evolução lenta, multissecular.

     No organismo minúsculo de um inseto se revela tanto engenho, tanta previsão e sabedoria divina! No corpo humano quanto de maravilhoso sabemos hoje, revelando uma formação lenta através de milhões de anos, e quantos mistérios ainda a se revelarem no futuro, com a evolução que se há de realizar!

     A ciência humana está estudando com afinco a letra encantadora desse livro de Deus; mas por enquanto apenas a letra que mata; ainda não penetrou no espírito que vivifica e revela o Autor espiritual da obra.  Por enquanto temos visto apenas o lado exterior das coisas que se acham escritas nesse livro maravilhoso. O Espiritismo nos irá ensinando a descobrir o espírito, a vida, a eternidade que se oculta por trás da letra, além da forma e do fenômeno, dentro, na essência mesma das coisas que o Livro de Deus põe sob nossos olhos.

     Não será só com os olhos físicos, mesmo ajudados pelos mais poderosos microscópios e telescópios que viremos a compreender toda a beleza desse poema. Serão necessários olhos espirituais que estamos desenvolvendo muito lentamente: intuição poderosa, amor profundo, inspiração superior, humildade perfeita e fé robusta serão os novos sentidos que teremos de adquirir para compreender a Natureza.

     Por enquanto nos achamos na situação de quem abra um poema belíssimo, mas em língua estranha, da qual só conhecemos algumas poucas palavras de uso mais corrente e material. Por estes poucos vocábulos que apanhamos numa ou noutra estrofe, não podemos receber o espírito do poeta que anima os versos; quase tudo nos escapa. Assim também ocorre com o Livro de Deus. No estudo que fazemos das ciências naturais não entra o espírito, entram só palavras, só a letra que mata.

     Vemos uma anomalia anatômica, um defeito orgânico, e ousamos dizer: “a natureza também erra; a natureza produz também monstros”, e não podemos ir além; mas a pouco e pouco o Espiritismo nos vai revelando a existência de um molde sobre o qual se formou o corpo, e, para trás desse modelo, a força espiritual que engendrou a beleza, a harmonia, a perfeição, ou as anomalias, as deficiências, as monstruosidades. Tudo foi plasmado por um pretérito e o presente está plasmando um porvir.

     O livro está aberto, mas ainda não temos olhos de ver. Virá o dia em que saberemos lê-lo, enlevados de amor pelo Poeta que o escreveu.

     A Terceira Revelação nos ensinará a buscar a essência mesma das coisas e dos seres para entendermos as formas; a encontrarmos o Relojoeiro por cima do relógio que se manifesta sob os nossos olhos e a dizermos com Xenócrates:

“Pode rugir a carne... Embora! Dela acima
Paira o espírito ideal que a purifica e anima;
Cobrem nuvens o espaço, e, acima do atro véu
Das nuvens, brilha a estrela iluminando o Céu!”

*

     Nestes cem anos decorridos depois do aparecimento de “O Livro dos Espíritos”, o progresso da Humanidade terrestre se tornou vertiginosamente rápido, ocasionando transformações inconcebíveis e perturbações apavorantes pela falta de tempo para adaptações.

     As ciências fizeram descobertas e aprimoramentos extraordinários e em muito maior número do que em milênios anteriores.

     As questões econômico-sociais deram arrancadas fabulosas e transformaram as concepções de direitos e deveres, alterando fundamentalmente toda a legislação, e isso num ritmo tão acelerado que desajustou a vida dos homens e causou rios de sangue, pavor, morte e sobressaltos nos espíritos mais serenos.

     A técnica aplicou conhecimentos, que pareciam apenas teóricos, de ciência pura, determinando conquistas titânicas, com as quais não se poderia sequer sonhar: surgiram a fonografia, a telefonia, a aviação, a cinematografia, o rádio, a televisão, o radar, a desagregação atômica, e o mundo velho desapareceu magicamente, dolorosamente, abrindo campo ao novo ainda inexperto e capaz dos maiores erros.

     Todo este miraculoso progresso foi de ordem puramente material, sem levar em conta a moral nem o espírito. Foram explosões lógicas da evolução do materialismo. Da Terceira Revelação só pequena parte da Humanidade tomou conhecimento. Dir-se-ia que o Plano Divino está por um certo tempo alterado pelo livre arbítrio humano, porque, para este empregar com verdadeiro proveito todas aquelas conquistas, cumpria primeiramente conhecer a vida e as leis morais que regem no corpo e fora dele, mas a Humanidade continua ignorando o que é a vida e quais são as leis morais.

     Essas leis foram reveladas pelas religiões orientais, pelos filósofos gregos, por Moisés, pelos profetas de Israel, por Jesus Cristo, e ficaram entregues às igrejas, porém os responsáveis pela sua guarda e execução esqueceram-se de exemplificá-las, foram envolvidos pelo materialismo e passaram a obedecer ao determinismo econômico e às injunções políticas que dele decorrem.

     Como traço de união entre o materialismo científico e o otimismo espiritualista, trinta anos depois de “O Livro dos Espíritos” surgiu no mundo o Esperanto, que igualmente empolgou um número pequeno de idealistas, mas teve a mesmo sorte do Espiritismo: permaneceu vivo, ardoroso e belo, porém em rodas pequenas e sem  influência na administração do mundo.
  

    Inconscientemente, o homem preferiu o caminho da dor para realizar sua evolução; seguiu o método direto em vez de seguir o analítico, como se diz no ensino de línguas. Assim ficou de posse de forças poderosíssimas que ele ainda não sabe empregar em seu verdadeiro interesse, para engendrarem felicidade, paz, harmonia e beleza.

     Como seria diferente e melhor se o Plano Divino da evolução houvesse sido rigorosamente obedecido na sintonia perfeita das conquistas morais e das científicas!

     Estudando e aceitando respeitosamente as leis morais que lhe foram apresentadas na Codificação, o homem teria sabido empregar todas essas forças para o bem; ter-se-ia apropriado do grande instrumento da compreensão mundial – do Esperanto -, para entrar em colaboração harmoniosa com os habitantes de todas as regiões; teria feito pacificamente a transformação do mundo de expiações e provas em mundo regenerador.

     As paixões cegaram o homem e não lhe permitiram compreender humildemente o Plano Divino. Por certo tempo tudo parece alterado; mas por fim tudo há de reajustar-se: desencantado das conquistas apenas materiais, o homem se voltará com humildade para a vida espiritual e começará a corrigir seus erros passados.

     O que se deveria ter feito em trinta nos, far-se-á em trezentos, com muito mais dor, mas será feito.

     Para descermos da visão mundial para a doméstica, permitam-nos lembrar que este órgão está silenciosamente comemorando seu Jubileu de Diamante, que completam agora dois decênios de trabalhos da Casa de Ismael em favor do Esperanto, e que, a despeito de todas as deficiências dos instrumentos humanos, o órgão cresceu sempre e o trabalho pelo Esperanto vem produzindo frutos já proclamados como grandes pelos nossos adversários ideológicos. É inegável que esta Casa está recebendo as bênçãos do Alto para suprir nossas falhas e levar a bom termo a missão que lhe foi diferida.

     Nenhum mérito nos pode ser atribuído, porque a parte boa da obra realmente não é nossa: já nos vem traçada do Alto. Apenas temos procurado executar ordens recebidas dos verdadeiros Dirigentes da Casa.

     A forma mais concisa que eles nos deram como programa de nosso trabalho é simbolizada em um triângulo que representa três afirmações: é, é, é, que equivaleria a existe, existe, existe, escrito assim:

E
E  E

     Evangelho, Espiritismo, Esperanto. São três afirmações, sem nenhuma negação. Nada temos que negar, nem destruir, nem desfazer, mas somente afirmar, construir e fazer.

     Ao comemorarmos um primeiro centenário estamos festejando o alvorecer de outro: o fim de um século e o começo de outro. Neste novo centenário que estamos iniciando, nossos sucessores terão falhas nossas a corrigir, mas encontrarão assentadas as bases para uma obra gloriosa edificação nestes próximos cem anos.

     A dor e a repetição paciente dos fenômenos não permitirão ao homem permanecer sempre em fria indiferença pela beleza da vida, pela sabedoria da Codificação.

     Uma das grandes diferenças no trabalho da FEB, neste segundo centenário que estamos iniciando, é que ela passará a trabalhar mais intensamente além fronteiras, em escala planetária. Vamos permitir-nos mencionar apenas um índice dessa nova fase.

     Em carta de 5 de janeiro deste ano, escreveu-nos o Sr. N. Esumi, em nome de uma grande editora japonesa, pedindo nossa permissão para traduzir e publicar, primeiramente numa grande revista que atinge um milhão de leitores, e depois em forma de livros, nossas edições em Esperanto de “O Livros dos Espíritos” e “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

     Não conhecem essas obras em francês nem teriam facilidade em traduzi-las do original, quando as edições em Esperanto lhes são perfeitamente acessíveis. Os dois livros de Allan Kardec vão ter logo de início elevadíssimo número de leitores em japonês, porque a grande tiragem da revista alcança um público imenso, não só nas ilhas nipônicas, como nas colônias japonesas espalhadas pelo mundo.

     Nossa edição de “O Livro dos Espíritos” em Esperanto foi lançada precisamente há 11 anos, em 18-4-46, e a primeira edição de “O Evangelho segundo o Espiritismo”, em 3-10-47, há quase dez anos. Ambas foram recebidas encomiasticamente pela crítica literária, como modelos clássicos de estilo. Estão destinadas a um grande futuro.

     Há mais de uma centena de livros preciosos que cumpre traduzir e publicar em Esperanto, para que o Esperanto lhes sirva de ponte a alcançarem edições em todas as línguas do Oriente e do Ocidente. Esta é uma das belas tarefas para os nossos sucessores no segundo centenário, com mais recursos do que tivemos nós nesses primeiros cem anos.

     Além das edições em forma de livro, disporão eles, os nossos sucessores, de edições fonográficas e de rádio e televisão para realizarem uma pregação que atinja realmente toda da Humanidade.

     Felizes, porém, nos sintamos com o que nos foi possível realizar nesse primeiro século e aos Céus agradeçamos a graça de nos haver permitido colaborar na obra de espiritualização dos povos, pedindo que nos seja concedida a alegria de voltarmos a esse mesmo trabalho, em nossas futuras reencarnações.



04 / 09 Textos do Centenário


A Codificação
e as ideias do Mundo atual
Parte  1  /  2

in Reformador (FEB) Abril, 1957

     Ao comemoramos o primeiro centenário da Codificação, seria interessante fazermos uma síntese dos pontos em que a Doutrina Kardequiana difere das doutrinas e práticas correntes que governam o mundo em nossos dias.

     O primeiro ponto básico é a demonstração científica, clara, inconcussa da sobrevivência e da responsabilidade individual e coletiva.

     A concepção espiritualista da vida foi asfixiada pelas necessidades materiais, e os membros das igrejas passaram a viver esquecidos da vida eterna e só cuidadosos da vida material.

     Passou-se a chamar “real” apenas ao material e a considerar a vida da mesma como mero “ideal” nebuloso e secundário.

     Baseando-se em fatos bem verificados, Kardec repôs as coisas em seus lugares: demonstrou que a matéria é passageiro agregado, por vezes ilusório, e a grande certeza é a eternidade da vida manifestando-se em formas progressivas, sempre melhorando e embelezando-se em todos os seus aspectos morais e intelectuais.  Desta verdade básica parte todo o sistema filosófico de Allan Kardec, com todas as suas consequências e responsabilidades. Ele restaurou a convicção espiritualista fundamental que forma a essência mesma de todas as grandes religiões da Humanidade.

     Ainda com alicerce sobre fatos repetidos e comprovados, provou velhos ensinamentos sobre a certeza da salvação universal, em oposição aos dogmas materialistas do nada além da morte e dos ensinos eclesiásticos sobre a condenação eterna de grande parte da Humanidade e do aniquilamento total e eterno de todos os demais seres vivos. Ao contrário de tudo isso, Kardec confirma a doutrina científica da evolução universal que abrange todos os reinos da Natureza, elevando-os à espiritualização através dos tempos e dos mundos; confirma e explica a doutrina religiosa da predestinação para o bem, e nega a predestinação para o mal. Chegando passo a passo à Doutrina do mais absoluto otimismo e anulando o pessimismo de outras crenças e escolas, umas com etiqueta materialista e que ensinam a evolução das espécies pela aniquilação dos indivíduos menos aptos, demonstra Kardec o progresso e o aproveitamento igualmente dos ineptos e desajustados.

     Demonstra o erro da doutrina que reconhece o progresso só da sociedade humana e o nega para o indivíduo, e demonstra que o progresso social não é senão o efeito do progresso individual através das encarnações sucessivas.

     Condena toda e qualquer forma de retribuição material por serviços espirituais prestados por médiuns, doutrinadores, servidores religiosos de qualquer confissão, e estabelece que tais serviços só podem realmente existir quando prestados por amor e com abnegação, mas nunca contra pagamento de qualquer espécie. Consequentemente só pode prestar tais serviços quem possua alguma meio de subsistência, e só enquanto, impulsionado pela convicção, pela fé, pelo amor, quiser prestar tais serviços, jamais por dever profissional.

     Lança por terra o determinismo econômico que tem escravizado o homem através dos milênios e engendrado males incalculáveis em todas as civilizações do passado.

     A sede de propriedade, e com ela a de autoridade e predomínio, criou a escravidão com todos os seus horrores; ocasionou guerras apavorantes, revoluções odiosas.  Formaram-se castas com privilégios econômicos contra as massas humanas humilhadas e cheias de ódios. Essas castas sempre lutaram para manter seus privilégios; são fidalgos, senhores feudais, sacerdotes, militares despóticos, etc.

     O sacerdote, por exemplo, que teria de servir à Humanidade por amor a Deus e ao próximo, tornando-se profissional da religião, passa a servir unicamente a si mesmo. Em tal situação de egoísmo a que é levado pelos interesses econômicos pessoais ou de casta, fica quase sempre abandonado pelos Espíritos superiores e entregue a Espíritos tenebrosos que o levam a todos os crimes como às guerras das Cruzadas, à Santa Inquisição, aos crimes de genocídio contra povos mais fracos ou grupos de convicções diferentes das suas, etc.

     Entenda-se que não são os Espíritos superiores que o abandonam e desprezam, é ele mesmo que se atira contra as influências superiores.

     Nessa decadência a que é levado pelo interesse econômico, o sacerdote cria partidos políticos, conquista ardilosamente o poder material, filia-se a qualquer forma de governo que lhe assegure o bem-estar material, ainda que seja ao regime fascista.

*

     Interpretando muito bem os ensinamentos dos Espíritos superiores, a Codificação proíbe qualquer forma de remuneração aos médiuns. Só pode exercer a mediunidade quem tenha alguma profissão e só no tempo livre de seus deveres profissionais. Como todos os homens são médiuns e dependem de inspiração superior, nossos doutrinadores, redatores, escritores e dirigentes de sociedades sentem-se incluídos na proibição e só trabalham por amor. Os poucos que têm tentado violar essa proibição, tem sofrido quedas tremendas que a caridade manda silenciar, mas que todos conhecemos.

     O desapego material e absoluto em assuntos de missão espírita já se tornou pedra de toque para distinguir o espírita do mistificador que proceda em nome do Espiritismo.

     Todos os grandes médiuns são pessoas extremamente pobres, que exercem profissão modestíssima, mas não aceitam nenhuma espécie de remuneração econômica, mesmo quando esta surja brilhantemente disfarçada.

     Os doutrinadores e dirigentes de sociedades exercem as mais diferentes profissões, desde as mais obscuras até as mais elevadas da sociedade, e sempre encontram recursos e meios próprios para ajudarem ao próximo e à divulgação da Doutrina.

     Não queremos com isso dizer que haja espíritos perfeitos no mundo hodierno. Justamente o contrário é a verdade: a sociedade humana atual é constituída sobre a propriedade e é mantida pela força. Nenhum homem é livre no meio em que vive. Vivemos contraditoriamente entre duas legislações opostas: a lei moral que manda amar incondicionalmente até o sacrifício, perdoar todas as faltas a todos; e a lei civil, que separa entre bons e maus, nacionais e estrangeiros, empregadores e empregados, pune, faz a guerra e etc.

     Não há nem pode haver espírita ou cristão perfeito na sociedade atual. Mas o Espiritismo não é uma revelação limitada ao nosso tempo; é a Revelação progressiva e eterna que terá sua perfeita execução numa sociedade futura que ele mesmo tem de criar, pela compreensão em cada século mais nítida dos verdadeiros interesses do homem.
     Um dos princípios da Codificação proclama essa progressividade da Revelação. Kardec a define dizendo que o Espiritismo é a Ciência do Infinito e do Eterno, da qual estamos apenas no A B C.

     Os espíritas que tomamos hoje por modelo, os que se consagram inteiramente ao serviço do próximo, com sacrifício próprio, estão ainda sujeitos às contingências do meio que lhes estabelece muitas limitações: não possuem a liberdade nem a possibilidade de fazerem tudo o que desejam. Só num futuro remoto realizarão eles seu próprio ideal de se dedicarem 100% ao serviço da Humanidade, sem injunções do meio em que vivem. Eles anseiam por auxiliar a verdadeiras multidões de sofredores, mas na realidade só prestam serviços e auxilia a um número limitadíssimo de pessoas. Não fazem um milésimo do que seu coração deseja, porque o meio social não os compreendo, é frio e indiferente, quando não mesmo hostil aos seus exemplos e apelos.

     Imaginemos um Bezerra de Menezes, recebendo diariamente centenas de doentes paupérrimos que não dispunham de recursos para adquirir remédios nem alimentos de vital necessidade para seu alívio. Receitar drogas, prescrever alimentação e repouso indispensável à restauração da saúde de tais necessitados, sabendo que eles nada poderiam fazer, deveria ser o maior tormento do Médico dos Pobres.

     Entretanto nas penitenciárias, o espírita sofre o horror de ver ali as vítimas da sociedade de que ele mesmo faz parte, sociedade que não reconhece nem cumpre seus deveres para com essa multidão de infelizes que nascem nos meios mais viciosos, colhendo em torno de si diariamente exemplos de crimes, sem nenhuma outra educação além daqueles exemplos, sem amparo algum da sociedade. A primeira vez que esta toma conhecimento da existência de cada um deles é para julgá-lo e metê-lo numa enxovia, sem refletir um só momento que o infeliz é produto do abandono em que ela mesma o deixou, que ela é a primeira culpada das desditas dos encarcerados.

     A Codificação mostra-nos a responsabilidade social sempre solidária com todos os crimes individuais, porque deixamos o homem sem instrução, sem educação, sem trabalho, sem ideal.

     Estudando a lei de trabalho, Kardec nos demonstra que o trabalho é processo absolutamente necessário à evolução normal do espírito. Sem trabalho fica ele estacionário e decai para o vício, para o crime. Daí os perigos da prova da riqueza. O rico recebe meios de trabalhar mais do que os outros nos interesses sociais; mas pode iludir-se e cair na ociosidade, nos gozos, sentindo-se privilegiado detentor dos bens que estão por empréstimo em suas mãos por um curto prazo e que se tornarão sua desventura.

     Considerada a necessidade imperiosa de submeter-se o espírito à lei de trabalho, ele peca toda vez que faça uma apropriação sem trabalho: por furto, fraude, jogo, negociatas, sinecuras, exploração do trabalho alheio ou outras formas. Peca contra si mesmo, porque fica estacionado, não progride; e contra a coletividade humana, porque a priva do fruto do trabalho que ele tem o dever de produzir.

     O dever do serviço ao próximo que o Espiritismo coloca em primeiro plano, não fica limitado à vida do homem, como em outras doutrinas: vai muito além da morte; Cumpre-lhe recuperar o criminoso desencarnado, reconciliar inimizades, desfazer ódio, estabelecer o amor e harmonia, por meio da educação feita com paciência e abnegação. Aí entram em atividade as sessões de caridade ou socorro a desencarnados, às quais os ingleses dão o nome de rescue circles (círculos de salvação). Ensina a doutrina que os espíritos em baixo nível vibratório, os grandes sofredores, não ouvem nem compreendem a voz dos Espíritos desencarnados que os poderiam educar; só ouvem palavras materiais, porque estão ainda com todas as ilusões da matéria.

     Nas sessões bem orientadas são esclarecidos, doutrinados, salvos de situações tormentosas e depois encaminhados a esferas de instrução mais elevadas do que a nossa, verdadeiras multidões de infelizes que se sentiam num inferno.

     Nesse domínio há um infinito a fazer-se no mundo. É um serviço de assistência a sofredores e de preciosos ensinamentos para todos nós. Dentre os sofredores que são trazidos a sessões de caridade para receber benefícios, têm saído luminosos trabalhadores, guias espirituais esclarecidos e caridosos.

     Desse convívio com os sofredores que recebem esclarecimentos e afeto têm surgido amizades imperecíveis. Há nesse sentido um infinito de trabalho a realizar-se pelos séculos vindouros.  Necessitamos de grupos por toda a parte, dirigidos com paciência, amor, abnegação, por pessoas de alto nível moral.

     Soubemos da fundação de um grupo destinado a orar exclusivamente pelos suicidas, por serem os maiores sofredores, os mais necessitados de caridade. É uma louvável iniciativa e praza a Deus que o exemplo frutifique por toda a parte.

     Os suicidas são inquestionavelmente os mais necessitados, mas há um infinito de outros Espíritos em perturbação, inconscientes de seu estado de desencarnados e que reclamam assistência humana. Quantos milhões de pessoas desencarnam sem conhecimento algum da vida espiritual, ou cheias de ilusões religiosas que se vão transformar em decepções no Além-Túmulo!




25 de Agosto


25 Agosto

 Por solução aos problemas
E às dores de toda idade
Não olvides que o remédio
Será sempre caridade.


 Casimiro Cunha
por  Chico Xavier
in ‘Pássaros Humanos’  (1ª Ed. GEEM 1993)


'Por que o mal existe?'


‘Por que o mal existe?’
‘Rumos Doutrinários’ (pg. 31 da 1ª Ed. FEB - 1994)
Autor:  Indalício Mendes
            
  ... O mal só existe porque ainda há Espíritos ignorantes de seus deveres morais. Pode-se conhecer a envergadura moral do homem através da exteriorização do seu sentimento. Todo homem bom é naturalmente sábio, mas nem todos os sábios são homens bons. A bondade é dom divino, tanto que no Evangelho encontramos todo um tratado de edificação moral. Ninguém melhor do que Jesus cultivou a ciência do bem, que é a ciência do coração. Por consequência, o homem bom é um homem sábio, porque exerce o mais belo e fecundo mandamento divino. Só o sentimento plasma e define a personalidade real do homem - dissemos. Somente ele revela as aquisições de ordem moral. Estas é que vão lapidando a individualidade humana, tornando-a mais sensível às tribulações alheias e, concomitantemente, mais integrada nos elevados princípios evangélicos.



'Como Orar'



Como Orar
         6,5 Quando orardes, não façais como os hipócritas que gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam sua recompensa. 6,6 Quando orardes, entra no teu quarto, fecha a porta e ora ao teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que se passa em segredo, recompensar-te-á. 6,7 Nas vossas orações, não multipliqueis as palavras, como fazem os pagãos que julgam que serão ouvidos à força de muitas palavras. 6,8 Não os imiteis porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós lho peçais.

                
                Para   Mt (6,5-8), -Como Orar - reproduzimos trecho de “O Evangelho...”, de A. Kardec, em seu Cap. XXVII:
           
            “A prece é uma invocação; por ela um ser se coloca em comunicação mental com outro ser ao qual se dirige. Ela pode ter por objeto um pedido, um agradecimento ou uma glorificação. Pode-se orar por si mesmo ou por outrem, pelos vivos ou pelos mortos. As preces dirigidas a Deus são ouvidas pelos Espíritos encarregados da execução das suas vontades; aquelas que são dirigidas aos bons Espíritos são levadas a Deus. Quando se ora a outros seres, senão a Deus, é apenas na qualidade de intermediários, intercessores, porque nada se pode fazer sem a vontade de Deus.”

            “O poder da prece está no pensamento; ela não se prende nem às palavras, nem ao lugar, nem ao momento em que é feita. Pode-se, pois, orar em toda parte, a qualquer hora, sozinho ou em comum.”

            Para  Mt  (6,6) - Oração e cooperação - leiamos “Palavras de Vida Eterna” de Emmanuel por Chico Xavier:

            Se a resposta que esperamos à oração parece tardia, habitualmente nos destemperamos em amargura. Proclamamos haver hipotecado todas as forças de espírito à confiança na Providência Divina e gritamos, ao mesmo tempo, que as tribulações ficaram maiores.

            Dizemo-nos fiéis a Deus e afirmamo-nos esquecidos. Convém observar, porém, que a provação não nos alcança de maneira exclusiva. As nossas dificuldades são as dificuldades de nosso grupo. Familiares e companheiros sofrem conosco o impacto das ocorrências desagradáveis, tanto quanto a fricção do cotidiano pela sustentação da harmonia comum.

            Se para nós, que nos asseveramos alicerçados em conhecimento superior, as mortificações do caminho assumem a feição de suplícios lentos, que não serão elas para aqueles  nossos entes queridos, ainda inseguros da própria formação espiritual?

             Compreendemos que, se na extinção dos nossos problemas pequeninos, requisitamos a máximo de proteção ao Senhor, é natural que o Senhor nos peça o mínimo de concurso na supressão dos grandes infortúnios que abatem o próximo.

            Em quantos lances embaraçosos, somos, de fato, a pessoa indicada à paciência e à tolerância, ao entendimento e ao serviço? Com semelhante raciocínio, reconhecemos que a pior atitude, em qualquer adversidade, será sempre aquela da dúvida ou da inquietação que venhamos a demonstrar.

            Em supondo que a solução do Alto demora a caminho, depois de havermos rogado o favor da Infinita Bondade, recordemos que se a hora de crise é o tempo de luta, é também a ocasião para o amparo do Senhor, em nosso benefício, é perfeitamente justo que o Senhor nos solicite algum amparo, em favor dos que se afligem, junto de nós.”

            Para  Mt  (6,8) - O Pai sabe o que nos é necessário, antes mesmo de lho pedirmos - atentemos ao “Livro da Esperança”, de Emmanuel por Chico Xavier:

            Lembra-te dos mortos, auxiliando...

            Indiscutivelmente, todos eles agradecem a flor de saudade que lhes atiras, mas redivivos qual se encontram, se pudessem te rogariam diretamente mais decisiva cooperação, além do preito de superfície.

            Supõe-te no lugar deles, de quando em quando, notadamente daqueles que se ausentaram da Terra, carregando dívidas e aflições. Imagina-te largando a convivência dos filhos recém chegados do berço crivado de privações e pensa na gratidão que te faria beijar os próprios pés dos amigos que se dispusessem a socorrer-lhes o estômago torturado e a pele desprotegida. Prefigura-te na condição dos que se despediram de pais desvalidos e enfermos, por decreto de anapelável separação, e pondera a felicidade que te tangeria todas a s cordas do sentimento, diante dos irmãos que te substituíssem o carinho, ungindo-lhes a existência de esperança e consolo. Julga-te no agoniado conflito dos que partiram violentamente, sob mágoas ferozes, legando à família atiçados braseiros de aversão e reflete no alívio que te sossegaria a mente fatigada, perante os corações generosos que te ajudassem a perdoar e servir, apagando o fogo do sofrimento. Considera-te na posição dos que se afastaram à força, deixando ao lar aflitivos problemas e medita no agradecimento que sentirias ante os companheiros abnegados que lhe patrocinassem a solução.

            Presume-te no círculo obscuro dos que passaram na Terra, dementados por terríveis enganos, a suspirarem no Além por renovação e progresso, e mentaliza o teu débito de amor para com todos os irmãos que te desculpassem os erros, propiciando-te vida nova, em bases de esquecimento.

            Podes, sim, trabalhar em favor dos supostos extintos, lenindo-lhes o espírito com a frase benevolente e com o bálsamo da prece ou removendo as dificuldades e empeços que lhes marcam a retaguarda.

            Lembra-te dos mortos, auxiliando...

            Não apenas os vivos precisam de caridade, mas os mortos também.”