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terça-feira, 6 de outubro de 2020

Conclusão da pesquisa

 


Conclusão da pesquisa

Ignácio Bittencourt por W. Vieira         Reformador (FEB) Março 1963

 

            Companheiro espírita, que não entendes ainda nos princípios do Espiritismo?

            A singela pergunta surge com imensa importância, porque sem o necessário entendimento do Espiritismo há sempre falhas na utilização do estágio terrestre.

            É imprescindível assimilar a Doutrina Espírita, nas entranhas da própria alma, para que seja vivida nas ações cotidianas.

            Para senti-la, porém, urge compreendê-la, raciocinando.

            Com todos os ensinamentos excepcionais divulgados pelas ciências e pelas filosofias da atualidade, não encontrarás a explicação das Leis que orientam a Vida Eterna, tanto quanto na intimidade da fé positiva que esposamos.

            Quase todos os setores da existência humana já foram motivos para revelações espirituais.

            Quase todos os fenômenos que sensibilizam a consciência já receberam na Terra essa ou aquela palavra esclarecedora do Mais Além.

            Mas o ideal espírita só abrasará o mundo se o acendermos no imo do próprio ser. Evitemos a derrota prévia das almas amodorradas na rotina e construamos o tempo do estudo.

            Ócio é coágulo da vida.          

            Não te contentes em declarar que conheces os postulados que abraças. Aprendizado não decorre de geração espontânea.

            Analisa o teu conhecimento doutrinário nas horas de decisão. Em tais circunstâncias é que demonstrarás para ti mesmo e para os outros como se te gradua o brilho do Espiritismo no âmago da razão.

            E faze testes rigorosos contigo, medindo a própria aplicação: abre indiscriminadamente um compêndio básico de Doutrina e verifica se dominas o assunto tratado nas páginas descerradas.

            Visita uma biblioteca espírita e observa quantos volumes já analisaste com atento.

            Ouve um orador e repara se estás percebendo o conteúdo das palavras pronunciadas.

            Considera qual o esforço que despendes por dia, por semana ou por mês, para realizar esse ou aquele estudo pessoal dos princípios que esposas.

            Sopesa como e quanto já favoreceste, sem imposição, a benéfica renovação dos parentes, amigos e colegas que te cercam.

            O homem não deve ser espírita apenas por inclinação.

            Os Emissários Espirituais dos Planos Divinos não ditam mensagens, desde os albores da Codificação Kardequiana, somente com interesse literário. Visam a elevado fim: a instrução da Humanidade.

            Por esses e outros motivos, reconhecemos o acerto da opinião indiscutível dos Excelsos Dirigentes do Espiritismo, nas Esferas Superiores, que, após minuciosa pesquisa, chegaram à conclusão de que, junto às calamitosas quedas morais e às deserções deploráveis de numerosos companheiros responsáveis pelo serviço libertador, entre todas as causas que dificultam a marcha da Nova Revelação na Terra, destaca-se, em posição de espetacular e doloroso relevo, a preguiça mental.


O Problema do Mal

 


O problema do Mal

por Rodolfo Caligaris  Reformador (FEB) Janeiro 1966

             Desde as mais priscas eras o homem tem observado que, a par das boas coisas que tornam a vida deleitável, outras existem ou acontecem que são o reverso da medalha, isto é, só causam aflições, dores e prejuízos.

             Foi, por isso, induzido a crer seja o governo do mundo partilhado por duas potestades rivais: - Deus, fonte do Bem, e Satanás, agente do Mal.

             Essa crença nos dois princípios antagônicos em luta pela hegemonia foi e contínua sendo a base das doutrinas religiosas de todos os povos.

             Entre estes, a ideia de que uns se salvam e outros se perdem para todo o sempre é geral, havendo até quem afirme que o número dos perdidos é muito maior do que a cifra dos bem-aventurados.

             Quer isso dizer que o Mal seria mais forte que o Bem, e que Satanás estaria conseguindo derrotar a Deus, frustrando lhe os desígnios de salvação universal.

             Em que pese à ancianidade de tais conceitos, são falsos e insustentáveis, diríamos mesmo heréticos.

             Com efeito, admitir o triunfo do Maligno, a dano da Humanidade, é o mesmo que negar ao Pai Celestial os atributos da onisciência e da onipotência, sem os quais não poderia ser verdadeiramente Deus.

             O Espiritismo, que é o Paracleto anunciado pelo Cristo, contrariando os ensinos da Teologia tradicional, esclarece-nos que o Bem é a única realidade eterna e absoluta em todo o Universo, sendo o mal apenas um estado transitório, tanto no plano físico, como no campo social e na esfera espiritual.

             Para que se compreenda isto, é preciso, entretanto, considerar, não as consequências imediatas de tudo quanto observamos, mas sim os seus efeitos mediatos, futuros, porque só estes, ao longo dos anos, dos séculos ou dos milênios, é que farão ressaltar, nitidamente, a infalibilidade da Providência Divina frente aos destinos da Criação.

            Certos fenômenos geológicos, por exemplo, podem ter sido considerados catastróficos à época em que se deram; foram eles, porém, que compuseram os continentes e formaram os oceanos, emprestando-lhes os aspectos maravilhosos que hoje nos extasiam, provocando-nos arroubos de admiração.

             Muitas guerras internacionais e outras tantas revoluções intestinas, embora se constituam, como de fato se constituem, dolorosos flagelos para as gerações que nelas são envolvidas, dão ensejo, por seu turno, à queda de tiranos e opressores, à extinção de preconceitos e privilégios iníquos, à mudança de costumes arcaicos, ao progresso teológico e quejandos, resultando daí, em favor dos pósteros (que seremos nós mesmos, em novas reencarnações) a melhoria das instituições, maior liberdade de pensamento e de expressão, uma justiça mais perfeita, maior conforto nos sistemas de transporte, de comunicações, nos lares, etc.

             Quando não, é por meio delas que os maus se castigam reciprocamente, consoante o ensinamento: “quem com ferro fere com ferro será ferido”. Um dia, ainda que longínquo, cansadas de sofrer o choque de retorno de suas crueldades, ditadas pelo egoísmo, pelo orgulho e outros sentimentos que tais, as nações aprenderão a valorizar a paz, buscando-a, então, sincera e veementemente, através da fraternidade e do solidarismo cristão.

             Assim também acontece com nossas almas.

             Criadas simples e ignorantes, mas dotadas de a1ptidões para o desenvolvimento de todas as virtudes e a aquisição de toda a sabedoria, hão mister de, vida pós vida, neste orbe e em outros, passar por um processo de burilamento que muito as fará sofrer.

             É a Juta pela subsistência. São as enfermidades. As insatisfações. Os conflitos emocionais. Os desenganos. As imperfeições próprias e daqueles com os quais convivemos. Enfim, as mil e uma vicissitudes da existência.

             Nesse autêntico entrevero, usando e abusando do livre arbítrio, cada qual vai colhendo vitórias ou amargando derrotas, segundo o grau de experiência conquistada. Uns riem hoje, para chorarem amanhã, e outros que agora se exaltam, serão humilhados depois.

             Tudo, porém, concorre para enriquecer nossa sensibilidade, aprimorar nosso caráter, fazer que se nos desabrochem novas faculdades, o que vale dizer, se dilatem nossos gozos e aumente nossa felicidade.

             Bendito seja, pois, o Espiritismo, pela revelação dessa verdade, à luz da qual se nos patenteia, esplendorosamente, a Bondade infinita de Deus!

 


segunda-feira, 5 de outubro de 2020

Derrocada do Catolicismo

 



Derrocada do Catolicismo

por Luciano dos Anjos

Reformador (FEB) Março 1963

 

            A menos de meio século do Terceiro Milênio e em pleno correr do II Concílio do Vaticano não seria impertinência nem extemporaneidade tornar pública a indagação que certamente ocorre ao mundo espírita em geral: que será da Igreja Católica Apostólica Romana? Não há porque duvidar, antes que tudo, da sua extraordinária capacidade de adaptar-se e readaptar-se. Seus atributos camaleônicos são comprovados, tanto quanto sua ductilidade ante aqueles de que eventualmente carece para subsistir. Ingenuidade seria supor que ela, por propalar e decantar, visa de fato à harmonia sincera entre todos os credos religiosos. A Igreja sabe bem - não pelo que se possa deduzir do seu clericalismo moribundo, mas pela essência teológica da sua doutrina - que é inexequível a coexistência, dada a sua pretensa e sempre pretendida hegemonia sobre a consciência universal. O conteúdo católico (aquele que a Santa Madre não gosta de popularizar para não se atrapalhar) é incompatível com uma série de fatores inerentes a qualquer coexistência, como, por exemplo, tolerância, liberalismo, igualdade e falibilidade. Para que haja harmonia entre todos os credos, seria mister preliminarmente que a Igreja renunciasse à escola dogmática e ao sistema ultramontano, no que respeita aos seus postulados filosóficos. Afanosa por conquistar, dominar e submeter, a Igreja Romana abriu para si mesma o pélago da autodestruição; o instituto do dogma. Alicerçada sobre o dogma, robustecida sobre o dogma, secularizada sobre o dogma, será tragada pelo próprio dogma.

             É preciso analisar bem esse aspecto da teologia católica para enxergar a inadmissibilidade do seu ajuste a outras doutrinas. O dogma, depois de proclamado, é considerado verdade eterna e indiscutível. Notem isto: eterna. Nada o modifica; nem mesmo outro dogma. Isto quer dizer, a grosso modo, que se um Papa houvera dogmatizado a indivisibilidade do átomo, este seria indivisível eternamente, contra a Ciência, sem a Ciência ou apesar da Ciência. Trata-se, evidentemente, de mero exemplo, pois que os Papas não podem dogmatizar senão em artigos de fé, de disciplina e de moral.

             A questão da coexistência, pois, ao contrário do que veicula a própria, Igreja, não é apenas de forma; é acima de tudo de conteúdo. E por isso o problema se dificultará sempre, em que pese a todas as boas intensões de que possam estar movidos, insuladamente, muitos clérigos respeitáveis. Temos por ingenuidade, portanto, o doce anelo dos que, fora da Igreja, também acham possível essa harmonia universal de todas as crenças lado a lado com o catolicismo, por proposta e trabalho deste. Tal conversa conciliária a transpirar ultimamente de dentro do Vaticano, é antes um novo e desesperado movimento da Igreja objetivando mais uma vez recuperar o prestígio que lhe vai escapando pelos desvãos dos tentáculos cúpidos de ouro e de poder. Autêntica manobra política, muito a seu gosto, para sustentar-se um pouco mais nesse final de século XX, véspera provável do século da redenção universal, limiar do Terceiro Milênio.

             Mas, o grande inimigo da Igreja não é propriamente esse separativismo nascido com o desligamento do I Bispado de Roma, por obra de Constantino, o “monomaco”, (Cisma do Oriente, 857-1054), (a coroa de monômaco seria a comprovação material da possível unicidade de terras russas sob o domínio de Vassíli III (1505-1533), justificando guerras de anexação) – teriam apelado a esses tipos de símbolos para ressaltar alguma antiga reivindicação de poder absoluto e que culminou em 1529 com a Dieta de Espira, (Da Wikipedia - uma assembleia de nobres, laicos e religiosos que tinha funções legislativas. A Dieta reuniu-se em Espira em 1526 e resolveu, com o consenso do Rei Fernando I enviado por Carlos V, que "a cada Estado deverá viver, governar e crer como deseje e confie, respondendo ante Deus e sua Majestade Imperial”) advento do Protestantismo. Não chega a ser também o materialismo, praticamente minado nos tempos atuais depois que a própria Ciência de laboratório começou a topar com enigmas insolúveis pelo prisma da dialética negativista. Anote-se que os recentes trabalhos de Max Planck sobre os saltos quânticos e a descrição da massa, por Einstein, como a corporificação da energia, identificando-a, na teoria da relatividade, como igual uma à outra, multiplicada esta pelo quadrado da velocidade da luz, destruíram todo o embasamento físico e filosófico do materialismo e do mecanicismo. A revelação da descontinuidade da matéria ao lado dos teorias planckianas do parcelamento quântico da radiação invadiram a atomicidade e a. filosofia moderna. A eletrôníca acabou, pois, de derruir as últimas presunções do materialismo e de repudiar a concepção mecanicista do Universo. Na Câmara de Wilson, partículas atômicas se fundem e se desmaterializam através de fenômeno que romperia as trincheiras de mecanicistas e vitalistas. George Thomson proclama a instabilidade do comportamento molecular em face de leis inconstantes, antes acreditadas rígidas e absolutas, enquanto se esvanecia, pouco a pouco, a inabordabilidade da matéria, simultaneamente com a derrocada de todo o materialismo, doutrina terrível que teve seu fastígio no século XIX.

             A Igreja, de certo modo, extraiu dos acontecimentos a sua parcela de vitória e por isso mesmo já não teme esse pobre agonizante. Seu terror, doutra forma, não se encontra também no Judaísmo, assaz ultrapassado e destituído do seu antigo poder, pelo menos no campo religioso. Assim, o maior “inimigo” da Igreja, seu grande adversário de morte é, sem dúvida, o Espiritismo! Não que a doutrina de Kardec guarde nos seus postulados a peçonha da destruição inconsequente, mas porque tem sido capaz de consolar e sustentar melhor os que sofrem ou os que têm sede de fé e de conhecimento. O Espiritismo é Capitulado pela Igreja, desde os primórdios de sua codificação como “a maior praga que já apareceu no mundo”... É o Espiritismo que mais tem afastado da Igreja Romana os seus fiéis desnorteados; o Espiritismo é a Religião que mais tem medrado em todos os tempos. Era preciso, pois, solapa-lo e contra ele todos os métodos foram seguidamente empregados, desde os mais sub-reptícios aos mais escandalosos e solertes.

             A partir dos memoráveis fenômenos de Hydesville, em 1848, e mais tarde, após a missão kardequiana de 1857 a 1869 a guerra fez-se aberta contra a Nova Revelação. E somente a sua estrutura e o seu fundamento extra humanos lograram assegurar ao Espiritismo gloriosas vitórias sobre seus terrulentos detratores. Nenhuma doutrina foi tão perseguida no terreno das ameaças físicas e no campo das ideias, considerada evidentemente a relatividade dos processos aplicados, tendo em vista a época e o progresso moral e intelectual das civilizações. Se o Espiritismo sobreviveu é porque, conforme atestara Kardec, não era uma mentira, mas, ao revés, vinha sinetado pelos autênticos mentores da Verdade e chancelado nas suas diretrizes básicas pelo próprio Senhor da Vida, na pessoa do Governador do Planeta. A tudo resistiu o Espiritismo, inclusive à aliança sórdida que, tácita ou ostensivamente, às vezes era assinada entre o catolicismo e o materialismo, no desespero dos seus corifeus fanáticos para desarraigar a ideia espírita-cristã da face da Terra. Como o Cristianismo quando era perseguido nos seus albores, também o Espiritismo se agigantava na medida em que os seus adeptos eram sacrificados. Não foi à-toa que o consideraram a maior ameaça ao Clero organizado!

             Podemos classificar em número de três os principais movimentos que, no campo da dialética, para gáudio da Igreja, se registraram contra o Espiritismo, depois que este granjeou respeito entre sábios, autoridades e cientistas. O primeiro, através do renomado filósofo alemão Eduardo von Hartmann, continuador de Schopenhauner, quando fez publicar, em 1885, a sua obra intitulada “O Espiritismo”. Julgou-se então que a doutrina de Allan Kardec recebera o seu tiro de misericórdia. Toda a base fenomenológica essencial em que se assentava parecia ruir fragorosamente sob o peso esmagador da tremenda argumentação de um dos mais hábeis raciocinadores da época. À pág. 117 do seu livro ele concluiria: “É assim que toda a hipótese espirítica ficou reduzida a nada, em primeiro lugar quando foi provado que as manifestações físicas atribuídas aos Espíritos emanam do médium, em segundo lugar porque os fenômenos de materialização e finalmente a produção do conteúdo intelectual das comunicações tem à mesma fonte”, o fantasma do animismo passou a amedrontar alguns espíritas menos seguros da sua crença e todo o conjunto dos fenômenos medianímicos parecia confinar-se a meras expressões humanas, geradas das próprias células orgânico-mentais. Era a chamada “explicação natural” dos fenômenos, ora através duma força nervosa ou de alucinações duplas dessa força, ora uma consciência sonambúlica latente com faculdades extraordinárias. A Igreja regozijou-se com a obra de Hartmann e creu que seu grande e maior obstáculo estava afinal superado.

             Foi entretanto das terras onde hoje o materialismo ainda mostra algum resquício de vigor maior - a Rússia - que se ouviu o brado em defesa do Espiritismo, conhecendo-se então a mais notável confutacão que se haveria de oferecer ao trabalho de Hartmann: “Animismo e Espiritismo” do conspícuo Alexandre Aksakof. Conselheiro do Tzar e lente da Academia de Leipzig. Nesta obra, aparecida em 1890, é feita uma criteriosa seleção dos fenômenos chamados sobrenaturais que passariam a constituir três classes distintas: personismo, animismo e espiritismo. Assim, no dizer de Ernesto Bozzano, o animismo viria antes confirmar o fenômeno espírita do que negá-lo, porque “nem um, nem outro, separadamente, explica o conjunto dos fenômenos supranormais”, já que ambos são indispensáveis a tal fim e não podem separar-se, pois que são efeitos de uma causa única e esta causa é o espírito humano que, quando se manifesta em momentos fugazes, durante a encarnação, determina os fenômenos anímicos e quando se manifesta mediunicamente, durante a existência “desencarnada”, determina os fenômenos espiríticos” (“Animismo ou Espiritismo?” pág., 9, 2ª edição da FEB).

             O problema ficou tão excelente e nimiamente posto que nada sobrou do trabalho de Eduardo von Hartmann senão a prova derradeira do fenômeno puro (Hartmann felizmente não negou a autenticidade dos fatos mas apenas as interpretações que lhes davam) e alguns raros efeitos secundários das suas ilações sobre insignificante grupo de clericalistas renitentes. Atualmente, citar Hartmann para negar o genuíno Espiritismo equivale a citar Lavoisier para negar os aerólitos... “Animismo e Espiritismo” em que pese a algumas poucas interpretações divergentes da Revelação Espírita, é obra que imortaliza o autor e representa marco indelével na história do Neo-Espiritualismo. B. Sandow, ao prefaciar a tradução francesa, afirmara: “A leitura deste livro produzirá certamente impressão profunda no espírito de todos aqueles que se preocupam com o problema da vida e meditam sobre os destinos humanos. Sem dúvida os espíritas só encontrarão aqui a confirmação, cientificamente formulada, de suas crenças; os incrédulos, quer o sejam de caso pensado, quer repousem apenas no quietismo de um ceticismo indiferente, ao menos serão levados à DÚVIDA, que resume, apesar de tudo, a suprema prudência no homem, quando este não tem, para sancionar as suas convicções, uma certeza absoluta”. (pág. 15 da 2ª edição brasileira da FEB). Com sua divulgação, perdia a Igreja Católica sua primeira grande batalha que, por sinal, nem era sua, mas no rasto da qual pretendera atingir seu inimigo mortal.

             Em 1905, porém, ela vê nascer sua segunda oportunidade e mais uma vez tenta o golpe de misericórdia contra a filosofia de Allan Kardec. O famosíssimo fisiologista francês Cbarles Riehet, depois de históricas sessões ao lado de não menos famosos investigadores, funda uma nova ciência, a Metapsíquica, e lança ao público o seu “Tratado de Metapsíquica” volumosa obra de quase mil páginas, com larga terminologia própria e surpreendentes informações. A metapsíquica, em suas linhas gerais, parece querer reduzir ao campo restrito do psiquismo humano todos os fenômenos chamados preternaturais, eliminando, pela exclusão, a intervenção de Espíritos desencarnados na sua causalidade. Alguns fatos entretanto vieram demonstrar ao próprio Richet a insuficiência das suas hipóteses, razão por que, a exemplo de Pascal, o grande fisiologista oscilava tontamente entre a dúvida e a certeza da sobrevivência da alma ou do retorno dos desencarnados. Richet não chegou de fato a ser objetivo nas suas ilações filosóficas. É bem verdade que tendeu sempre muito mais para a hipótese espírita, especialmente quando, mais tarde, fez publicar “A Grande Esperança”, ou quando, no declínio da vida, quase no portal da Eternidade, escreveu confidencialmente a seu amigo Ernesto Bozzano, confessando sua posição consciencial ante os fatos pesquisados, sem dúvida favorável à teoria kardecista. Essa carta foi publicada postumamente na revista londrina “Psychic News”, de 30 de Maio de 1936 e nela, dentre outras coisas, Richet afirma categórico: “E agora, abro-me a você, de modo absolutamente confidencial. O que você supunha é verdade. Aquilo que não alcançaram Myers, Hodgson, Hyslop e Sir Olíver Lodge, obteve-o você por meio de suas magistrais monografias, que sempre li com religiosa atenção. Elas contrastam, estranhamente com as teorias obscuras que atravancam a nossa ciência.” De resto, não seria preciso o beneplácito confesso de Richet à parte doutrinária do Espiritlsmo. Seu denodado trabalho de laboratório e de pesquisa científica, sedimentando em bases sólidas a fenomenologia metapsíquica, creditou-lhe benesses consoladoras da parte do Grande Juiz. De qualquer forma ele viria contribuir para a grandeza da Terceira Revelação. É oportuno lembrar aqui aquela crônica de Humberto de Campos, ditada a Chico Xavier, sobre “a passagem de Richet”, inserta às págs. 102-10S do livro “Crônicas de Além-Túmulo”, e na qual se apreende bem a instabilidade interior do grande médico francês ante os fatos por ele mesmo pesquisados, mas longe de lhe apagar todos os méritos conquistados. Concordemos em que seria difícil sua renunciação total a muitos anos de estudos, de práticas e conceituações puramente vitalistas, à luz dos quais haveria de buscar sempre as explicações para todos os comportamentos da alma humana, De qualquer forma, a intuição e a própria inteligência obrigaram-no a derivar para a hipótese espírita, ora vagamente como no “Tratado de Metapsíquica” e em “A Grande Esperança”, ora objetivamente como na carta a Bozzano, onde confessa, como já vimos, que este tinha razão quanto às origens dos fenômenos.

             A Igreja dos Papas, passando por alto os trechos do seu “Tratado de Metapsíquica” onde as razões espíritas são aventadas e desprezando completamente o principal conteúdo de “A Grande Esperança”, fingiu ignorar a carta de Richet e cuidou de proclamar uma vez mais a derrocada do Espiritismo. O nome do imortal cientista serviu durante muito tempo e ainda serve hoje em dia a alguns tolos intransigentes para corroborar, à moda católica, a incomunicabilidade entre vivos e mortos. Mas ambos os livros, principalmente o segundo, foram sendo mais divulgados e mais lidos (mercê de Deus os espíritas podem, gostam e querem estudar), e desmascarou-se essa segunda vil tentativa do clero destinada a impedir o progresso e a propagação do Espiritismo, através desse novo movimento de ideias, pautado na subversão dos fatos históricos, na distorção de pensamentos claros ou na inversão de atitudes indefectíveis. Ainda há, embora escassamente, mentalidades tacanhas que apelam para Richet no sentido não da comprovação dos fatos espíritas, mas, ao contrário, da sua negação. Que fazer senão ignorá-los e lamentá-los...?

             A Igreja, todavia, não se conformaria. Assim é que nova arremetida seria preparada e esta, aproveitando os mais recentes acontecimentos do mundo psíquico. Hartmann já não convence ninguém e Richet não pode mais ser deturpado. Faça-se pois da Parapsicologia a tábua de salvação dessa Igreja moralmente falida e chafurdada na sua própria intolerância religiosa. E aí temos os doutores da Igreja de 1963 a hastear o vexilário de Rhine na batalha inglória contra os seguidores de Allan Kardec! Antes, tudo era animismo; depois, passou tudo a ser metapsíquica; agora, tudo não passa de parapsicologia. E os agoniados “ministros de Deus fazem conferências, publicam livros, dão aulas e confabulam anunciando o enterro definitivo do Espiritismo, abaixo dos sete palmos de terra, e guindando aos mais altos píncaros do conhecimento científico a explicação parapsicológica dos fenômenos cognominados espíritas. Um pouco antes, logo após a segunda tentativa, houve ainda os que tentaram vãmente, com discreto apoio das cúpulas eclesiásticas, buscar no hipnotismo e na letargia as explanações que os consolassem. Logo, porém, se reconheceu a insegurança dos argumentos e não chegaram a representar um autêntico movimento organizado contra o Espiritismo. O sóbrio mas muito bem documentado livrinho de José Lapponi, protomédico de Leão XIII e Pio X (“Hipnotismo e Espiritismo”, haveria de ser suficiente para desmoralizar no nascedouro mais essa inconsistente apelação, para não falarmos noutros trabalhos de maior substância. Desta maneira, o verdadeiro movimento católico constitutivo da terceira tentativa de tumultuar a mente dos seguidores de Allan Kardec e de garantir a fidelidade dos seus próprios seguidores, está mesmo na parapsicologia. Representa, sem dúvida, o desesperado esforço de aluir a Doutrina Espírita; mas, tudo indica, mais uma vez, fracassado e possivelmente representativo do irredimível descrédito da Igreja Católica Apostólica Romana.

             Em princípio - registremos - a parapsicologia não passa da metapsíquica com nova rotulaçâo terminológica. O critério experimental tem sido o mesmo e até menos eficiente e menos suficiente, em determinados ângulos, do que o dos melhores metapsiquistas. As conclusões têm sido paralelas e os problemas suscitados são quase os mesmos. No ritmo em que as investigações se vinham desenvolvendo, a Igreja dos Papas estava de parabéns, Sua euforia se reeditava e já era possível passar novo atestado de óbito à Doutrina Espírita. Não havia nenhuma manifestação de defuntos e tudo não passava até então de meras “percepções extra-sensorais”. (ESP), restando apenas, para selar o assunto, provar-se a possibilidade da exteriorização objetiva do psiquismo do sensitivo. Nós, os profitentes do kardecismo, apoiamos sempre as investigações de Rhine na Universidade de Duke, pois não duvidávamos da verdade que cedo ou tarde desabrolharia. Rhine, tanto quanto Crookes, Lombroso, Richet e outros mais, toparia certamente com a grande realidade do Além e haveria de entender o sentido daquela “grande esperança” suscitada pelo fundador da metapsíquica. Seria uma questão de tempo apenas, durante o qual, já se esperava, não faltariam as explorações - sempre levianas - da secular Igreja Católica Apostólica Romana. Mas parece que tais explorações já começam a ter seus efeitos aplacados. As coisas caminham numa direção absolutamente imprevista para os pais da Igreja. Rhine, recentemente, segundo notícias - agora esparsas - que nos chegam dos Estados Unidos, começou a inclinar-se para outro caminho dedutivo, num comportamento que, inclusive, ao que se diz, lhe teria valido o rompimento da parte ele seu assistente, Dr. J. G. Pratt. No seu primeiro livro, publicado em 1953 e intitulado “New World of the Mind” (em francês, “Le Nouveau Monde de l'Esprit”), ele critica o materialismo cego e, embora confessando não ser espírita nem espiritualiata (pág. 213) admite “uma realidade que domina o Universo em toda a sua importância e não há outro recurso senão chamar a essa realidade espírito humano”. Também à página 231 reconhece a existência duma “lei imaterial ou espiritual” regulando fenômenos que transcendem às leis da matéria.

             Até aqui o golpe contra o materialismo científico. Mais adiante Rhine golpearia também as pretensões da Igreja que já lhe buscava recursos para atacar o Espiritismo. “Muitos fatos - diz Rhine corajosamente - não parecem explicáveis, tal como estão relatados, senão por um agente desencarnado.” “A intenção manifesta (Rhine comenta um desses fatos) através do efeito provocado é tão própria duma pessoa defunta que não saberíamos razoavelmente atribuir-lhe outra origem. “Casos dessa natureza fazem pensar um agente pessoal dum gênero que não pertence verossimilhantemente a nenhum indivíduo vivo. Eles levam a perguntar se um comportamento “post-mortem” ou espiritual é mesmo possível” (págs. 306 e 310). Às páginas finais, comenta Rhine: “Seja o que se possa pensar hoje, o movimento espírita contribuiu poderosamente para a organização do estudo dos fenômenos psíquicos e para a fundação de sociedades que se têm ocupado disso, desde o último quartel do século XIX...

             Em 1956 o professor-catedrático J. B. Rhine publicou outro livro: “The Reach of the Mind”, onde também se refere, se bem que desta feita muito discretamente, à sobrevivência do Espírito. Nesse mesmo ano o “The Journal of Parapsychology”, no seu exemplar de Junho, voI. 20, nº 2, publicava também um artigo de sua autoria intitulado “Research on Spirit Survival Re-examined” através do qual afirmaria que “um dos tipos relativamente comum de experiência psíquica é aquele no qual é dada a impressão de que o agente é um amigo ou parente morto”.

             Finalmente, no ano seguinte, em 1957, Rhine faz publicar, de parceria com seu antigo colaborador, o Dr. J. G. Pratt, o livro “Parapsychology - Frontier Science of the Mind”. Aqui, sua crença na sobrevivência da alma se corporifica enquanto avoluma seu consenso à possibilidade da comunicação dos mortos. Eis como se expressa a certa altura: “Casos espontâneos, sugerindo a sobrevivência, têm apresentado várias possibilidades que despertam interesse no pesquisador. Um bloco de tais experiências humanas selecionadas indica um fio de motivação pessoal, de objetivo individual tão peculiar a certo identificado indivíduo falecido, que a espécie de mensagem comunicada não poderia, sob tais condições, ser logicamente (ou psicologicamente) atribuída a qualquer outra pessoa viva ou morta,”

             Para conhecimento e estudo mais minuciosos dos trabalhos de J. B. Rhine, remetemos o leitor à série de artigos publicados durante o ano de 1959, no “Reformador”, pelo nosso brilhante confrade Hermínio de Miranda.

             Detivemo-nos adrede nesses aspectos em torno da parapsicologia por se tratar, esta nova ciência, exatamente do recurso de que, nos tempos presentes, a Igreja mais se tem valido para negar a base explicativa da fenomenologia do Espiritismo. Tão entusiasmados ficaram e ainda se mostram com a parapsicologia que chegaram a fundar a Sociedade Internacional de Parapsicólogos Católicos, destinada a estudar os fenômenos psíquicos e na esperança de vê-Ios reduzidos, todos eles, a manifestações puramente sensoriais. Fundou-a o jornalista e editor Josef Kral, fervoroso católico romano, tendo entregue a presidência da entidade ao conhecido professor suíço Gebhard Frei, colaborador dum jornal suíço de parapsicologia. Mas, que será dessa gente quando, de permeio às investigações, descobrirem as interferências de personalidades já mortas, como vem ocorrendo com o próprio Rhíne?

             O tempo marcha inexorável e enquanto a Santa Madre vê ruir esse seu novo castelo de papelão o Terceiro Milênio desponta nos horizontes da civilização terrícola. Uma grande reforma moral, filosófica, científica, técnica e religiosa há de marcar a sua passagem ainda que imperceptivelmente, sem grandes escândalos ou acontecimentos espetaculares. A Igreja de Roma falhou em grande parte, senão completamente, na sua missão doutrinária e tem de dar lugar a outro sistema religioso, Sua luta ingrata contra a Terceira Revelação acabou de prostrá-la exangue e inválida. Finge querer a coexistência com outros credos para prolongar seus próprios estertores. Todavia, agora que nem a parapsicologia é capaz de lhe galvanizar as forças na guerra aberta contra o Espiritismo, seu “inimigo” letal, mais do que nunca nos ocorre, e a todo o mundo espírita, a dolorosa pergunta: que será da Igreja Católica Apostólica Romana? Contudo, talvez possamos colher dentro dos próprios Evangelhos a resposta ideal a tal indagação:

             “Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto, é cortada e lançada ao fogo.” - Jesus (Mateus, 3:10)


domingo, 4 de outubro de 2020

Trovas do mais além

 


Trovas do mais além

Reformador (FEB) Março 1963

Médium: W. Vieira

 

 

“Ternura, bênção, perfume,

Grandeza, glória e esplendor,

Tudo isso Deus resume

Nas quatro letras do amor.”

Eufrásio de Almeida

 

“Há uma alegria que cobra

Duas penas no caminho,

É aquela de ter de sobra

O pão que falta ao vizinho.”

Oscar Baptista

 

“Quando a morte o olhar nos cerra

Não sei, efetivamente,

Se a gente fica na Terra,

Se a Terra fica na gente.”

Toninho Bittencourt

 

“As coroas de finados,

Na campa de quem morreu,

São grandes zeros dourados

Se a vida nada valeu.”

Cornélio Pires

 

“O mal é o mesmo em ofensas

De obsessões infelizes,

Quando dizes e não pensas,

Quando pensas e não dizes.”

Marcelo Gama

 

 

“Em todo e qualquer caminho,

O Bem que jamais se cansa,

Na ponta de cada espinho,

Põe a rosa da esperança.”

Eugênio Savard

 

“Depois da morte é que vi,

Nas cenas de toda hora,

Muita tristeza que ri,

Muita alegria que chora.

Sebastião Rios

 

“Há duas coisas na gente

Por onde o mal se intromete:

Raciocínio que não sente,

Coração que não reflete.

Carlos Estevam

 

 

“No mundo, ninguém conhece

A força da redenção

De uma lágrima que desce

Dos olhos ao coração.”

Carlos Ferreira

 

Vai o berço, vem a cova;

Sai o prazer, surge a dor...

O tempo tudo renova,

Mas o amor é sempre o amor...

José Bartolotta


Amigos, não servos

 

   Amigos, não Servos         

15,9   “- Como o Pai me Ama, assim, também, Eu vos amo. Perseverai no Meu Amor. 

15,10 Se guardares os Meus mandamentos, sereis constantes no Meu amor, como também Eu guardei os mandamentos de Meu Pai e persisto no Seu amor.     

15,11  Disse-vos essas coisas para que a Minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja completa 

15,12 Este é o Meu Mandamento: Amai-vos uns aos outros, como Eu vos amo.  

15,13  Ninguém tem maior amor do que este: de dar a sua vida pelos seus amigos. 

15,14 Vós sois Meus amigos, se fazeis o que vos instruo. 

15,15  Não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o Senhor. Mas, chamo-os amigos, pois vos dei a conhecer tudo quanto ouvi de Meu Pai. 

15,16  Não fostes vós que me escolhestes, mas Eu vos escolhi a vós e vos constituí para que vades e produzais frutos, e o vosso fruto permaneça. Eu assim vos constituí, a fim de que tudo quando pedirdes ao Pai em Meu nome, Ele vos conceda. 

15,17 O que vos mando é que ameis uns aos outros.”

          Para Jo (15,13) -Ninguém tem maior amor do que este: de dar a vida pelos seus amigos -  leiamos  “Caminho, Verdade e Vida”, (Ed. FEB), de Emmanuel, por psicografia de Chico  Xavier:

             “Na localização histórica do Cristo, impressiona-nos a realidade de sua imensa afeição pela Humanidade.

             Pelos homens, fez tudo o que era possível em renúncia e dedicação.

      Seus atos foram celebrados em assembleias de confraternização  e de amor. A primeira manifestação de seu apostolado verificou-se na festa jubilosa de um lar. Fez companhia aos publicanos, sentiu sede da perfeita compreensão de seus discípulos. Era amigo fiel dos necessitados que se socorriam de suas virtudes imortais. Através das lições evangélicas, nota-se-lhe o esforço para ser entendido em sua infinita capacidade de amar. A última ceia representa uma paisagem completa de afetividade integral. Lava os pés aos discípulos, ora pela felicidade de cada um...

            Entretanto, ao primeiro embate com as forças destruidoras, experimenta o Mestre o supremo abandono. Em vão, seus olhos procuram a multidão dos afeiçoados, beneficiados e seguidores. Os leprosos e cegos, curados por suas mãos, haviam desaparecido.

            Judas entregou-o com um beijo. Simão, que lhe gozara a convivência doméstica, negou-o três vezes. João e Tiago preferiram estacionar em acordos apressados com as acusações injustas. Mesmo depois da Ressurreição, Tomé exigiu-lhe sinais.

            Quando estiveres na “porta estreita”, dilatando as conquistas da vida eterna, irás também só. Não aguardes teus amigos. Não te compreenderiam; no entanto, não deixes de amá-los. São crianças. E toda criança teme e exige muito.”              

             Para Jo (15,14) -Vós sereis meus amigos se fizerdes o que vos mando -  leiamos, uma vez mais, “Palavras de Vida Eterna”(Ed. FEB)  de Emmanuel por Chico Xavier:

             “Aspirando ao título de amigos do Senhor, urge não lhe perdermos as instruções.

            Imbuídos de entusiasmo, somos pródigos em manifestações exteriores, quanto a esse propósito, acrescentando notar que quase todas elas se caracterizam por alto valor indutivo.

            Esforçamo-nos por estudar-lhe palavras e atitudes; e, claramente, não dispomos de quaisquer recursos outros para penetrar-lhes o luminoso sentido.

            Administramos conselhos preciosos, em nome dele, sem que nos seja permitido manejar veículo mais adequado às circunstâncias, a fim de que irmãos nossos consigam encontrar a direção ou o caminho de que se mostram carecedores.

            Escrevemos páginas que lhe expressam as diretrizes; e não nos cabe agir de outro modo para que se nos amplie, na Terra, a cultura de espírito.

            Levantamos tribunas, em que lhe retratamos o ensino  pelo verbo bem posto, sendo necessário que assim procedamos, difundindo esclarecimentos edificantes que nos favoreçam a educação dos sentimentos.

       Realizamos pesquisas laboriosas, ajustando as elucidações inspiradas por ele aos preceitos gramaticais em voga, competindo-nos reconhecer que não existe outra via senão essa para fazer-lhe a orientação respeitada nas assembléias humanas.

            Entretanto isso não basta.

         Ele mesmo não se limitou a induzir. Demonstrando a própria união com o Eterno Bem, consagrou-se a substancializá-lo na construção do bem de todos.

        Em verdade, podemos reverenciar o Cristo, aqui e ali, dessa ou daquela forma, resultando, invariavelmente, alguma vantagem de semelhante norma externa; mas, para sabermos como usufruir-lhe a sublime intimidade, é forçoso lhe ouçamos a afirmação categórica:

            -Vós sois meus amigos se fizerdes o que vos mando.”

 


sábado, 3 de outubro de 2020

Pão

 


Pão

Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Abril 1963

           “Eu sou o pão da vida – Jesus (João, 6:48)

             Importante considerar a afirmativa de Jesus, comparando-se ao pão.

            Todos os povos, em todos os tempos, se ufanam dos pratos nacionais.

            As mesas festivas, em todas as épocas, banqueteiam-se com viandas exóticas. Condimentação excitante, misturas complicadas, conteúdos extravagantes, grande cópia de animais sacrificados.

            Às vezes, depois das iguarias tóxicas, as libações de entontecer.

            O pão, no entanto, é o alimento popular.

            Ainda mesmo quando varie nos ingredientes que o compõem e nos métodos de confecção em que se configura, é constituído de farinha amassada e vulgarmente fermentada e que, depois de submetida ao calor do forno, se transforma em fator do sustento mundial. Sempre o mesmo, na avenida ou na favela, na escola ou no hospital.

            Se lhe adicionam outra espécie de quitute, entre duas fatias, deixa de ser pão. É sanduíche.

            Se lançado à formação de acepipe que o absorva, naturalmente desaparece.

            O pão é invariavelmente pão.

            Quando alguém te envolva no confete da lisonja, insuflando-te vaidade, não te dês à superestimação dos próprios valores. Não te acredites em condições excepcionais e nem te situes acima dos outros.

            Abraça nos deveres diários o caminho da ascensão, recordando que Jesus - o Enviado

            Divino e Governador Espiritual da Terra - não achou para si mesmo outra imagem mais nobre e mais alta que a do pão puro e simples.


sexta-feira, 2 de outubro de 2020

Em torno da liberdade

 


Em torno da liberdade

Emmanuel por Chico Xavier

Reformador (FEB) Abril 1963

 

            “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade. Mas não useis da liberdade para dar ocasião à carne; antes, pelo amor, servi-vos uns aos outros." - Paulo. (Gálatas 5:13).

             Quanto mais se agiganta a evolução intelectual da Terra, mais se propalam reclamos em torno da liberdade.

            Há povos que se batem por liberdade mais ampla.

            Aparecem os chamados campeões da liberdade, levantando quartéis de opressão e esfogueadas legendas de rebeldia.

            Fala-se em mais liberdade para a juventude.

            Pede-se liberdade para a criança.

            No entanto, basta uma vista de olhos, nas máquinas aperfeiçoadas do mundo moderno, para que se reconheça o imperativo inevitável da disciplina.

            O automóvel chispa, vencendo barreiras, mas, se o motorista foge do equilíbrio ao volante ou se desobedece aos sinais do trânsito, o acidente sobrevém.

            O avião devora distâncias, transportando o homem, através de todos os continentes, no espaço de poucas horas; todavia, se o piloto não atende aos planos traçados na direção, o desastre não se faz retardio.

             Louvemos a liberdade, sim, mas a liberdade de construir, melhorar, auxiliar, elevar...

             Ninguém, na Terra, foi mais livre que o Divino Mestre. Livre até mesmo da posse, da tradição, da parentela, da autoridade. Entretanto, ninguém mais do que ele se fez escravo dos Desígnios Superiores para beneficiar e iluminar a comunidade.

             Eis porque nos adverte o apóstolo, sensatamente: “Fostes chamados à liberdade, mas não useis a liberdade, favorecendo a devassidão; ao invés disso, santifiquemos a liberdade, através do amor, procurando servir.”


O homem constrói o seu destino

 

O homem constrói seu destino

Boanerges da Rocha (Indalício Mendes)       Reformador (FEB) Abril 1963

             Ninguém pode viver segregado de seus semelhantes sem animalizar-se. O homem é animal gregário por excelência e tem de solidarizar-se com os outros homens, se pretender sobreviver.

            O Espiritismo ensina-nos a procurar a convívio social, ensina-nos a participar dos problemas cotidianos da vida humana, relacionados também com a existência dos outros seres. O homem tem de ser solidário com tudo quanto o cerca, seja o seu semelhante, sejam os animais, sejam os componentes do reino vegetal. Seu destino é viver num ambiente de absoluta solidariedade, de maneira a poder encarar e resolver, sempre que possa, os problemas que defrontar.

             Quando o Espiritismo aconselha a humildade, não está pretendendo seja o homem servil instrumento de outros homens. A humildade é digna, discreta, mas vigilante . É a atitude de quem não se enfeita com os ouropéis do orgulho tolo. O servilismo, pelo contrário, é uma falsa humildade e representa a renúncia do homem à sua própria dignidade. Ele desmerece a pessoa humana, por identificá-la com a ausência do mínimo de respeito a nós mesmos, respeito que devemos preservar.

             Ao pregar a resignação, o Espiritismo tem em mira fortalecer o espirito humano, não o deixando escravizar-se ao desespero e ao desalento. Mas, assim mesmo, só recomenda a resignação em face do irremediável, porque o homem deve sempre usar da sua vontade para sobrepujar o desânimo. O Espiritismo é uma religião dinâmica, nunca, porém, uma religião de vencidos, de mortos em vida. Receba em seu seio os vencidos para que eles, seguindo sua Doutrina, possam, um dia, tornar-se vencedores. Mas, para isto, todos têm de vencer primeiramente a si mesmos. Ninguém pode vencer espiriticamente, na vida terrena, sem primeiro vencer-se a si mesmo.

             Para muitos, triunfar na vida é enriquecer, alcançar destacada e folgada posição social e econômica, ser, enfim, criatura abastada. Para o Espiritismo o vencer na vida terrena é, fundamentalmente, adquirir pureza de sentimentos, fortaleza de coração, profundo e prático espírito de solidariedade, exercendo a filantropia sem arrogância nem vaidade, fazendo da legítima modéstia a pauta do comportamento diário.

             O Espiritismo jamais ensinou ou ensinará, a quem quer que seja o tomar-se inútil, servil e apático diante do insucesso e do infortúnio. O espírita tem de ser uma criatura de coragem, de ânimo forte, sempre pronta a lutar com denodo contra as surpresas desagradáveis que às vezes a vida apresenta, Ceder diante de qualquer acontecimento decepcionante, quando ainda há possibilidade de superá-lo, não é ser espírita, mas covarde.

             Qualquer um de nós deve reagir e lutar corajosamente, com elevação, contra o que quer que seja suscetível de afetar a nossa segurança, a nossa sobrevivência e bem-estar, desde que não lesemos os interesses de ninguém nem causarmos mal a quem nos obstaculize o caminho.

                       Ninguém deve ferir direitos alheios, mas todos têm obrigação normal de defender os seus, com lisura, sem perder de vista, portanto, os deveres de lealdade, indulgência, caridade e amor ao próximo. Há ocasiões em que seremos mais felizes renunciando a direitos líquidos do que, para defendê-los, termos de tripudiar sobre alguém. Antes de todos os deveres, porém, estão os de salvaguardar o lar e a família, a subsistência dos filhos e a garantia de que eles precisam, para poderem usufruir uma vida decente, escrupulosa. e calma, subordinada a regras convenientes.

             Não é tão fácil ser espírita, como muitos supõem. As responsabilidades são maiores, bem maiores. O espírita tem de ser bem-humorado sem se tornar ridiculamente apalhaçado; jovial, confiante, corajoso, dotado de iniciativa, prestativo, pertinaz e, sobretudo, discreto. A esperança e a confiança devem ser seus escudos para que suporte galhardamente os entrechoques da existência terrena. Desde que conheça a razão de ser da sua presença no mundo terráqueo; se sabe porque nele se encontra e o que o aguarda na vida de Além-Túmulo, tem já o suficiente para confiar em si mesmo, para encorajar-se e encorajar os seus semelhantes. Não se apavora com a morte, que é uma destinação biológica de que não se livrará nenhum ser vivente.

             Diante de tudo isso, não desconhece que o seu futuro espiritual depende principalmente do que pensar e fizer. O homem é quase sempre o obreiro do seu próprio destino. Constrói, hoje, a vida de amanhã.

             Se não somos felizes nesta encarnação, podemos atribuir o fato à herança do passado e também, muitas vezes, ao procedimento que adotamos na vida presente. Ninguém sofre por erros alheios, mas todos respondem pelas próprias faltas na encarnação atual ou em futuras encarnações, conforme a espessura e o volume do seu carma.

             Em vez de, após a morte, termos como prêmio certo o suposto Paraíso, só por nos confessarmos a sacerdotes ou fazermos parte de irmandades, ou, ainda, por haver adquirido a bom preço certas “indulgências”, espécie de salvo--conduto para a bem-aventurança eterna, de entrada numerada para o Paraíso, - em vez disso, teremos de lutar pelo nosso próprio destino. Em nós estará ter um futuro espiritual elevado ou inferior, de luzes ou de trevas, pois a misericórdia e a onisciência da Inteligência Suprema nos oferece a possibilidade de realizarmos itinerário compatível com o nosso mérito ou demérito. Estamos, como tudo no Universo, sujeitos a um determinismo evolucionista. Nada de prêmios e castigos eternos.

             O Espírito encarnado ou não, é senhor da sua própria sorte. Ninguém pode, normalmente, alterar o seu rumo, porque este depende da sua própria conduta. Como ninguém pode fugir à lei do progresso, que é imperativa e fatal, conclui-se que tudo quanto somos devemos exclusivamente a nós mesmos. As encarnações se encarregam de quebrar teimosias e resistências maléficas, para que se colime o ideal de perfeição que coroa todas as obras da Suprema Inteligência.


quinta-feira, 1 de outubro de 2020

Esclarecendo dúvidas

 Esclarecendo Dúvidas

A Redação          Reformador (FEB) Junho 1953 

             O Espiritismo, conforme reconhece o Conselho Federativo Nacional, órgão da Federação Espírita Brasileira, é a Revelação prometida pelo Cristo de Deus para os séculos em que a Humanidade alcançasse um grau de assimilação mais elevado.         

             Os fenômenos psíquicos, tão velhos quanto o mundo, só atraíram a atenção dos intelectuais, quando surgiram os ocorridos em Hydesville, em 1848.

             Em 1857, após observá-los e catalogá-los com o mais meticuloso rigor científico, AlIan Kardec Iançou ao mundo o primeiro livro da codificação dessa nova Revelação - O Livro dos Espíritos, criando o vocábulo Espiritismo para designar essa Revelação, então chamada e ainda conhecida em outros países pelo nome de Neo-Espiritualismo.

             Difere o Espiritismo de todas as religiões conhecidas por demonstrar a lógica dos seus ensinos através de experiências científicas e por apresentar uma filosofia também baseada em experimentos e observações e documentada por uma legião de sábios de renome universal.

             Religião científico-filosófica, confirmando os ensinamentos básicos de todas as religiões, não pretende demolir as que a precederam, antes reconhece a necessidade da existência delas para grande parte da Humanidade, cuja evolução se processará lenta e inevitavelmente.

             Doutrina religiosa, sem dogmas propriamente ditos, sem liturgia, sem símbolos, sem sacerdócio organizado, ao contrário de quase todas as demais religiões, não adota em suas reuniões e em suas práticas:

a)         - paramentos, ou quaisquer outras vestes especiais;

b)         - vinho ou qualquer bebida alcoólica;

c)         - incenso, mirra, fumo ou substâncias outras que produzam fumaça;        

d)         - altares, imagens, andores, velas e quaisquer objetos materiais como auxiliares de atração do público;

e)         - hinos cantos em línguas mortas ou exóticas, só os admitindo, na língua do país, exclusivamente em reuniões festivas realizadas pela infância e pela juventude em sessões ditas de efeitos físicos;

l)          - danças, procissões e atos análogos;  

m)       - atender a interesses materiais terra-a-terra, rasteiros e mundanos;

n)         - pagamento por toda e qualquer graça conseguida para o próximo;

o)         - talismãs, amuletos, orações miraculosas, bentinhos, escapulários ou quaisquer objetos e coisas semelhantes;

j)          - administração de sacramentos, concessão de indulgências, distribuição de títulos nobiliárquicos;

k)         - confeccionar horóscopos, exercer a cartomancia, a quiromancia, a astromancia e outras “mancias”;

I)          - rituais e encenações extravagantes de modo a impressionar público;

m)       - termos exóticos ou heteróclitos para a designação de seres e coisas;

n)         - fazer promessas e despachos, riscar cruzes e pontos, praticar, enfim, a longa série de atos materiais oriundos das velhas e primitivas concepções religiosas.

             O fenômeno psíquico pode surgir em qualquer meio religioso ou irreligioso e seu aparecimento pode conduzir a criatura ao Espiritismo, mas a consolidação da crença, o conhecimento das leis que presidem os destinos do homem e a perfeita assimilação da Doutrina Espirita só se conseguem através do estudo das obras de Allan Kardec e das que lhes são subsidiárias.