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sábado, 9 de março de 2019

Conspiração dos Sacerdotes



Conspiração dos Sacerdotes

26,1 Quando Jesus acabou todo esses discursos,   disse   a   seus   discípulos:   
26,2  “-Sabeis que daqui a dois dias será a Páscoa e  o  Filho  será traído para ser crucificado.” 
26,3 Então, os sacerdotes e os anciãos do povo reuniram-se no pátio do sumo-sacerdote, chamado Caifás 
26,4 E deliberaram sobre os meios de prender a Jesus por astúcia e de o matar; 
26,5 E diziam: -Sobretudo, não seja durante a festa. Poderá haver tumulto entre o povo.                                                                                    
                    
            Para  Mt (26,1-5)  -Conspiração dos Sacerdotes -  leiamos  Luiz  Sérgio  por   Irene Pacheco Machado em “Dois Mundos Tão Meus”:

            “Buscava eu, ansiosamente, no teatro vivo, os ensinamentos do Senhor. Cristo aparecia vivo, bem vivo, diante dos meus olhos, expulsando do Templo os que o profanavam.
            Via-o, agora, profanado como antes.
             Jesus olhava os animais mortos, inocentes vítimas, e o seu sangue recolhido pelos sacerdotes e derramado sobre o altar, sem compreender como os judeus consentiam que ocorressem essas cenas tão cruéis de derramamento de sangue.
             Aqueles sacerdotes haviam endurecido suas almas pelo egoísmo e pela avareza.
             Eles não estavam preocupados em pregar a palavra de Deus mas sim em transformar aquele lugar num meio de auferir lucro.
             E o Mestre, com olhar tristonho, proferia as palavras de Samuel:

            Tem, porventura, o Senhor tanto prazer em holocaustos e sacrifícios, como em que se obedeça à Palavra do Senhor? Eis que obedecer é melhor do que o sacrifício e o atender melhor do que a gordura de carneiros (I Samuel 15,22)

            E ainda citou Isaías:
            Ouvi a palavra do Senhor, príncipes de Sodoma e Gomorra; prestai ouvidos à lei do nosso Deus, ó povo de Gomorra. De que me serve a multidão de vossos sacrifícios? diz o Senhor. Já estou farto dos holocaustos de carneiros e de gordura de animais; e não folgo com o sangue dos bezerros, nem dos carneiros, nem dos bodes. Quando vindes para comparecerdes diante de mim, quem requereu isto de vossas mãos, que viésseis pisar meu átrio?  Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos, de diante de meus olhos, cessai de fazer o mal, aprendei a fazer o bem; praticai o que é reto, ajudai o oprimido; fazei justiça ao órfão, tratai da causa das viúvas. (Isaías 1,10-12 e 16-17) 
            Os sacerdotes e príncipes voltaram-se para Ele e o penetrante olhar de Jesus percorria todo o pátio do Templo.
            Pouco a pouco, eles foram fugindo, afastando-se sem olhar para trás.
      Os sacerdotes e príncipes ouviam em silêncio as repreensões de Jesus, sem se defender, entretanto, ficaram enfurecidos, decididos a armarem-Lhe ciladas.
          E assim, diante de nossos olhos, continuou Jesus Sua peregrinação, ofertando a cada ser deste Planeta  grandes  exemplos  de  amor  e  humildade.
        No entanto, a Seu lado caminhavam espias que fingiam ser Seus seguidores; eram fariseus e herodianos que ao lado de Jesus dissimulavam amizade, esperando a hora de levar aos sacerdotes algum fato que O incriminasse...”

         Para   Mt  (26,1-5)  -Anúncio de sua Crucificação - repete-se Antônio Luiz Sayão em
“Elucidações Evangélicas”:

            “De novo, neste passo, a seus discípulos anunciou Jesus “sua morte”, segundo a maneira de ver dos homens, e também a sua crucificação.” 

Os Tempos



Os Tempos
por Guilherme Stwillimans
Reformador (FEB)         1925

            A moral vem atravessando uma das crises mais temerosas da história humana.

            No passado do mundo não houve transição mais violenta, nem mais prolongada.

            Os homens, amarfanhados pela dor, batem às portas do desespero e deixam que se apaguem os últimos bruxuleios da fé.

            A razão comedida e clara de antes tornou-se desvairada pelo ódio e egoísmo de agora.

            É tanta a desventura e tão grave, que nenhuma classe social ficou isenta desse doloroso esboroar de virtudes.

            Éolo (deus dos ventos na mitologia grega), irado, sopra sobre as terríveis tubas (instrumento musical) do mal e este vai subvertendo, avassalando, aluindo (sacudindo) e extinguindo nos corações, obnubilando (tornar obscuro) nos Espíritos o cultivo diligente da divina semente do bem. É a crise pavorosa das almas, depois da jornada de sangue de 1914, guiada pelo orgulho e assente na ambição.

            Almas sem rumo, nautas sem roteiro, embarcações sem leme, capitães e homens sem Deus, presas de fúria, levados pelo desespero, entredevoram-se quais feras e a terra e os elementos, possuídos de horror, oscilam nos seus fundamentos, escapam às leis que os regem e completam assim essa imensa e dolorosa tragédia.

            Desventurados obreiros da orgulhosa Babel da terra, o edifício que pretendíeis elevar ao infinito dos céus, a desafiar o omnipotente, treme, parte-se e cai fragorosamente, esbarroando em torno o luto, a dor e a miséria.

            A dourada areja (refrescar) da ciência não é alicerce bastante para a felicidade e finalidade do homem na terra; ei porque os monumentos de seu orgulho são condenados a ruir sempre e só permanecerão eretos através dos tempos, quando firmados na rocha eterna da moral. E, porque a ciência recalcitra, empedernida, mumificada à lei física, vai a desolação ampliando livremente seus domínios.

            Enquanto a ciência pretender pontificar leis do alto do trono que a si mesma construiu, para gáudio do seu orgulho e ostentação de sua heresia, não poderá impor-se aos homens, como força respeitável, capaz de ser admitida e seguida, confiantemente em seus ditames, pois é sabido que os homens são espíritos servidos por órgãos e a ciência pretende que eles são pura e simplesmente uma série de órgãos conjugados, que marcham invariavelmente para a morte que é, segundo eles, o nada eterno.

            Tal monstruosidade repugna a razão mais obtusa porque um universo sem Deus importaria em admitir-se também uma ciência sem regras e sem leis, princípios básicos inerentes e componentes da ciência organizada.

            Se a ciência, para o ser, precisa tornar-se demonstrável, daí concluímos a necessidade da existência real de uma coisa concreta que constitua origem ou alicerce em que pousem as análises, teorias, induções, regras ou leis que sobre ela se formem, se ordenem e se admitam como verdades demonstradas.

            A existência dos fatos, com suas leis próprias, independentes da intervenção científica, deveriam conduzir os sábios ao critério universal da certeza na existência da força ordenadora do fato e da inteligência, presidindo a fixação das leis que o regem, e a curvarem-se perante esse poder, essa força e essa ciência.

            Não o fazem, entretanto, antes se curvam à matéria que lhes permite a ilusão de se julgarem, eles próprios, outros criadores “mignons”, quando conseguem operar a decomposição, a transformação dela.

            O resultado dessa vesânia (loucura) é esse que vemos e sentimos, isto é, a falência que aí vai. O imenso rebanho humano estertora (agoniza), brame, ulula (solta a voz), geme e chora debatendo-se em dores, em ânsias que raiam pelo desespero, vítima de angustias imensas e inenarráveis à ciência, que pretende arrancar-lhe do coração e do entendimento - Deus, para o qual se voltam os aflitos, não acode, não previne, não evita, não extingue, não desfaz essa catástrofe, esse horror.

            A ciência nada faz, nada pode fazer, porque ignora a maneira de enxugar a lágrima, de erguer as energias e a fé, de confortar o desesperado e de conduzir o cego, o que não a impede, aliás, de proibir e condenar aqueles que procuram faze-lo, independente da sua autorização.

            Os discípulos verdadeiros do Nazareno, não se arreceiam das ciladas e maldades dos homens, certos de que só cairão, nas armadilhas feitas para lobos, os próprios lobos.

            Ruge desembestado o vendaval do mal, da dissolução, do egoísmo e do orgulho; fraquejam os pusilâmines (covardes), os tíbios (desanimados) de fé, os inconsistentes de moral e de atitude e deixam-se cair nas garras do príncipe do mundo.

            Cuidado! Cuidado irmãos, a hora é terrível, pois é aquela anunciada da separação dos cabritos das ovelhas e daquele aviso: “e quando ouvires falar de guerras e de tumultos, não vos assusteis: estas coisas devem suceder primeiro, mas não será logo o fim.

            “Então, lhes dizia: levantar-se-á nação contra nação, e reino contra reino.

            “E haverá grandes terremotos por várias partes, e epidemias, e fomes, e aparecerão coisas espantosas, e grandes sinais no céu. (Lucas, XXI, 9, 10,11)

            Será oportuna a leitura do capítulo, até o fim, cuja transcrição aqui não pode ser feita.

            Esta é a época do testemunho: aqueles que permaneceram firmes até ao fim serão salvos.  

            O mestre Jesus, filho de Maria, do alto da espiritualidade e da glória eterna, repete aos discípulos o que outrora lhes aconselhou no monte das Oliveiras; “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O Espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.”

               Do Blog: Um texto quase centenário... Como lê-lo agora?

quinta-feira, 7 de março de 2019

A Parábola das 10 Virgens



A Parábola da 10 Virgens

         25, 1  Então, o reino dos céus será semelhante a dez moças que levando lamparinas de azeite, saíram ao encontro do noivo. 25, 2  Cinco delas eram descuidadas e cinco eram previdentes. 25,3 As descuidadas, ao pegarem as lamparinas, se esqueceram de levar o azeite. 25,4 As previdentes, porém, junto com as lamparinas, levaram vasilhas de azeite. 25,5  Como o noivo demorasse a chegar, todas elas sentiram sono e dormiram. 25,6  Lá pela meia noite, ouviu-se um grito: -O   noivo   está   chegando,   vão   ao seu encontro! 25,7  As dez moças se levantaram prontamente   e  acenderam   as  lamparinas. 25,8  Foi então que as descuidadas disseram às previdentes: Dêem-nos um pouco do seu azeite, pois nossa lamparinas estão querendo se apagar! 25,9 As previdentes, porém, responderam: - Pode ser que o que temos não dê para nós e para vocês. Vão, pois, ao negociante e comprem azeite para vocês. 25,10  Enquanto elas foram comprá-lo , o noivo chegou. As que estavam prontas, entraram com ele no salão de festas  e fechou-se a porta. 25,11  Depois, chegaram as descuidadas e disseram: - Senhor, Senhor, abre as portas para nós! 25,12  E o noivo respondeu: Eu não as conheço nem quero conhecer! 25,13  “Estejam, pois, vigilantes, porque vocês não sabem nem o dia nem a hora!”

            Para Mt (25,1-13) -As 10 Virgens - Parábola, leiamos, com atenção, a Antônio Luiz Sayão, em “Elucidações Evangélicas”:

            “Uns não compreenderam esta parábola e outros lhe falsearam o sentido e o objetivo.
            Dizendo-a, teve Jesus em mente obrigar os homens a estarem sempre alertas, fazer-lhes compreender que não devem deixar para o último momento o cuidado de sua reforma, do seu progresso, porquanto talvez seja tarde.
            Quis mostrar-lhes que as virtudes de uns em nada podem servir para resgatar os vícios de outros: aos nossos irmãos podemos dar o amparo dos nossos conselhos e exemplos, mas não podemos repartir com eles o nosso óleo, isto é: o mérito das nossas obras, mérito que só reverte em benefício daquele que as pratica.
            Trabalhai, pois, cada um pela sua própria reforma, pelo seu próprio adiantamento. O indiferente ou o leviano verá que quando supuser ser chegado o momento de se entregar a este trabalho, quando se estiver dispondo a começá-lo, bem pode acontecer soe a hora do seu comparecimento perante o juiz e ele então será colhido de surpresa.
            Não é o egoísmo o que esta parábola se aconselha, como insensatamente alguns hão pretendido. O que nela se nos aconselha é tão somente que nos resguardemos da indolência, que nos leva a deferir para o dia seguinte o ato que Ele, o Mestre, nos concita a executar no mesmo instante; da negligência, que a muitos induz a descansar no mérito dos “santos”, das intercessões monásticas, das absolvições clericais, como assecuratórias da salvação, quando é certo que só as nossas obras pessoais no-la podem garantir.
            Os que vendem o óleo próprio a encher as lâmpadas vazias são os bons Espíritos, os Espíritos do Senhor.
            Vendem-no, fazendo-nos progredir e progredindo a seu turno. Assim, tudo é comutativo entre eles e nós.
            Portanto, vigiemos, pois não sabemos o dia, nem a hora da regeneração, o dia em que o Senhor virá; nem o dia, nem a hora em que chegará o esposo.
            Jesus é o esposo; a esposa é a sua igreja, a sua doutrina. Em linguagem simbólica, trata-se da fusão de dois corações, numa união conjugal.” 


O Empregado Infiel



O Empregado Fiel

         24,45  “Quem é, pois, o empregado fiel  e prudente que o Senhor colocou à frente de sua família, para dar-lhes o alimento no momento oportuno? 24,46  Bem aventurado aquele empregado a quem seu senhor, na sua volta, encontrar procedendo assim! 24,47  Em verdade vos digo: Ele o colocará como responsável por todos os seus bens. 24,48  O mau empregado, porém, diz em seu coração: - O patrão está demorando, 24,49  e começa a bater nos companheiros, a comer e a beber com os bêbados. 24,50  o patrão desse empregado virá num dia que ele não espera e em hora que ele não sabe 24,51  e o fará em pedaços, dando-lhe o mesmo destino que aos hipócritas. Ali haverá choro e ranger de dentes! 24,52  Por isso, estai também vós preparados porque o Filho virá numa hora em que menos pensares.”


        Para Mt (24,45-51) -O Empregado Fiel - Parábola - leiamos Antônio Luiz Sayão, em “Elucidações Evangélicas”(Ed FEB):

            “Estas palavras do Mestre, apropriadas, com todas as que Ele pronunciou, aos tempos e ás inteligências, se aplicam aos que tomaram o encargo de dirigir seus irmãos, de os conduzir pelo caminho do progresso, de espargir sobre eles a luz. Felizes dos que, servos fiéis e prudentes, distribuírem a tempo e a hora o alimento, dando a cada um a luz e a verdade de que necessitar e que puder receber. Grande recompensa terão, vendo abrir-se cada vez mais, diante de seus passos, a estrada que, levando à perfeição, dá acesso ao trono do Senhor onipotente, que então os fará partícipes de sua inteligência, do seu poder e do seu amor, na vida e na harmonia universal.
            Os que, porém, abusam da sua autoridade, da confiança de que são indignos, para transviar os que deviam ser por eles guiados; para mais apertar a venda nos olhos dos que deviam ser por eles esclarecidos e se entregam às voluptuosidades humanas, lançando mão de bens em que não deveriam tocar, sequer, esses serão severamente punidos. Responderão pelas suas faltas e pelas que tenham induzido outros a cometer.
            Maus servos, eles irão, exilados, para mundos inferiores, para o meio dos “infiéis”, servir de guias a “cegos” e de instrutores a “surdos”. Lamentarão aí amargamente não haverem desempenhado a missão de que se incumbiram, quando se achavam entre seres inteligentes, capazes de os compreender. Sofrerão horrivelmente e tanto mais, quanto mais adiantados tenham sido no planeta terreno.
            É esta uma lição que se aplica a todos os que pediram e obtiveram a missão de dirigir seus irmãos pela senda do progresso físico, moral e intelectual. As palavras do Mestre, de onde essa lição decorre, embora se refiram a coisas de ordem espiritual, também se nos aplicam, no tocante às coisas de ordem temporal, do ponto de vista assim da recompensa, como das consequências dolorosas.”

quarta-feira, 6 de março de 2019

A casa do Pai


                 “O que quiserdes dar-se-vos-á. Na casa do Pai há moradas sempre cheias de luz e de amor, onde os Espíritos voam no puríssimo ambiente da eterna felicidade, onde se realizam todas as harmonias da alma, onde se confundem todo as vontades numa única vontade, todos os sentimentos num só sentimento, todas as felicidades na felicidade inefável do amor, do amor dos amores”.

                                    S. Agostinho, em “Roma e o Evangelho” (Edição FEB)  

segunda-feira, 4 de março de 2019

O Espiritismo




O Espiritismo vem do alto e porque vem do alto, triunfará. É o Evangelho revelado pelos Espíritos que recebem a palavra de Deus e explicado conforme as necessidades morais dos tempos e das gerações. Porque, o Evangelho é o manancial de luz e de vida em todas as idades da humanidade e para todas as humanidades.” 

         por Tomás de Aquino 
                          em “Roma e o Evangelho” Edição FEB.

domingo, 3 de março de 2019

A Paz


A Paz
por Angel Aquarod
Reformador (FEB)         1925

            O de paz é o estado por que mais anseiam os homens que, cansados das lutas da vida, andam sempre em busca de repouso para suas almas. Pela paz, que eles sabem os espera nos cumes da espiritualidade, aspiram todos os Espíritos a cuja frente brilha o foco de luz que lhe ilumina o caminho a percorrer, demandando o ideal da perfeição.

            É altamente cristão o ideal de paz. De modo muito especial o Cristo o infundiu na alma de seus discípulos: “A paz seja entre vós”, dizia-lhes. “A paz vos dou”, Quando entrardes nalguma casa, dizei: “A paz seja nesta casa”. “Bem-Aventurados os pacíficos”. Bem-aventurados os mansos”. Ao que exige que caminhes mil passos carregando-o, caminha dois mil; dá ao que te peça e ao que te pedir emprestado não voltes as costas, etc., etc.”

            São postulados de paz todos esses e outros muitos, que se encontram no Evangelho, sancionando a doutrina toda pacifista do Redentor, d'Aquele que disse a Pedro: “Embainha a tua espada, pois quem com o ferro fere com o ferro será ferido”.

            Talvez, porém, me objetem que também disse o doce Nazareno: “Pensais que vim trazer à terra a paz? Não vim trazer a paz mas a guerra”.

            De fato, embora, como Cristo de Deus, fosse a personificação da paz, ele não trouxe paz ao mundo, porque a sua doutrina vinha ferir não poucos interesses arraigados, vinha bater violentamente às portas do erro e da mentira, vinha clamar com voz potente às consciências adormecidas pelo ópio da corrupção. Todo um mundo, portanto, se havia de rebelar contra ele e seus ensinos.

            E, no seio das próprias famílias era onde os adeptos da nova doutrina haviam de encontrar mais resistência, mais oposição, mais guerra. Por ser natural que assim acontecesse e ainda aconteça, dado o modo de composição da família na Terra foi que o Redentor disse:

            Por mim deixareis pai e mãe, esposo e esposa, filhos, irmãos, bens e até a própria vida. “Quem ama a seu pai e á sua mãe mais do que a mim não é digno de mim”. etc.

            Mas como, esposando o ideal cristão, gozará de paz o discípulo do Cristo, desde que em tais conflitos se possa ver envolvido; desde que haja de abandonar, por seguir a Jesus, o que tenha de mais caro, aquilo que o mundo considera mais sagrado?  

            Essa sentença do Mestre divino responde à afirmação por ele feita, com o maior desassombro, a seus discípulos, para que a divulgassem por todos os âmbitos do mundo: Não vim trazer a paz, mas a guerra; não a união, mas a divisão; porque, de futuro, estarão divididos o esposo da esposa; de seu pai o filho, de sua sogra a nora, sendo vossos inimigos os da vossa própria casa.”

            A doutrina reformadora, profundamente revolucionária do Cristo, não podia, nos tempos em que ele a pregou, dar em resultado senão a divisão, a perseguição, o martírio para os que, revestidos de coragem, a abraçassem e tenazes se mostrassem em praticá-la.

            Dada, repetimos, a maneira por que na terra se constitui a família, impossível era que, em cada uma, salvo as naturais exceções, todos os seus membros adotassem o novo credo. Muitos destes, apegados às velhas ideias que seriam suplantadas, se julgariam feridos nas mais delicadas fibras e tudo fariam por que suas crenças prevalecessem contra as novas. O mesmo presentemente sucede. Disso sabia Jesus, como o sabe todo bom psicólogo.

            Porém, dirão: Se o Cristo trouxe ao mundo um ideal de Paz como é que não aconselhou a seus discípulos que sempre em paz se conservassem, evitando ser pedra de escândalo, submetendo-se, por conseguinte, à vontade alheia, uma vez que a obediência sem restrições tem sido pregada e aconselhada pelos que se dizem vigários de Jesus Cristo na terra?
             
            A obediência tem seus limites naturais. Só pode ser aconselhada quando não força o homem a atraiçoar a própria consciência, ou o não impede de proclamar e professar suas próprias convicções. Por isso é que, pregando, como o Mestre, um ideal de paz, os primitivos cristãos afrontavam as iras de seus perseguidores, negando-lhes a adorar os ídolos do paganismo e contestando a fé que tinham no Deus de Jesus Cristo.

            Como ninguém é profeta em sua terra, também no seio da família, só são, em regra, respeitosamente acatados os que a esta proporcionam bem estar, dignidade, riquezas. Se o não fazem, no próprio lar é onde maior oposição se lhes move.

            Assim se explica e justifica o conselho, mais que isso, a. prescrição do Redentor a seus discípulos, para que por ele, isto é, pela sua doutrina, pela prática da lei de que fora ele o portador, tudo deixassem, ainda o que de mais caro possuíssem.

            Como há de então, dentro da fornalha ardente, que é o mundo, gozar de paz aquele que nos tempos hodiernos, abraça o ideal cristão, restaurado e vivificado pela revelação nova? Como há de gozar de paz, obedecendo o preceito do divino Mestre? Será isso possível? É. Embora metido na fornalha ardente, pode o crente sincero e fervoroso encontrar a paz, servindo a causa de que se fez adapto, porque a paz da consciência, que é a de que se trata, não se conquista pela covardia, nem lisonjeando os tiranos, nem mentindo para evitar os flagelos, nem subordinando-se a todos os preconceitos e convenções mundanas, para não se inimizar com ninguém.

            A paz, para que proporcione o gozo que lhe é peculiar, não deve ser apenas aparente mas real. Aquela facilmente se perde; esta, a da alma, nascida da retidão e da pureza, da consciência, é permanente e indestrutível, porque tem a alimentá-la a nobreza dos sentimentos, a sinceridade, o amor e a lealdade continuamente praticados. Essa a paz que se deve ambicionar e dela pode a criatura gozar, mesmo no fragor do combate, no tumulto do mundo, nas dissensões familiares, na fogueira, nos tormentos e sob o cutelo da guilhotina.

            Todos os que hão professado ideias ou crenças que, por verdadeiras, são revolucionárias no campo das ideias e crenças erôneas ou falsas, foram perseguidos, porque, disputando a presa aos inovadores, sempre se levantam os interesses ameaçados.

            Com o Espiritismo dá-se o mesmo que ocorreu quando do advento do Cristianismo, apenas com a diferença de que as perseguições aos espíritas ainda não se revestiram de caráter cruento. Perseguidos, porém, sob todas as outras formas, eles o têm sido, transformando-se lhes, não raro, em inferno o próprio lar, por graças do confessionário que geralmente é donde vem o combustível para a fogueira a que eles se vêm condenados.

            Nada obstante, os que hão tido e tem a têmpera de verdadeiros discípulos do Cristo resistiram e resistem a todas as oposições e perseguições, sofrendo com resignação e paciência o desprezo, aa injúrias, e calúnias, a fome de Justiça e de amor que os tortura. Lembrados sempre da recomendação do divino Mestre, tudo abandonam para segui-lo, para ser dignos dele, praticando-lhe os ensinos. Encontraram assim sempre e encontram, como outrora os primeiros cristãos, a paz do Espírito, mesmo em meio das dissenções domésticas, das perseguições, na fogueira moral que os requeima, fortalecidos pela fé que depositam em Nosso Senhor Jesus Cristo.

            Essa a paz que todos devem procurar.

            Essa a paz que dá felicidade ao cristão, ao verdadeiro espírita, que só pode ser verdadeiramente feliz quando passa pelo que os que o não são consideram infelicidade e lhes perturba a serenidade da Alma.

            Erro grave é pretender-se alcançar a paz convivendo com os outros ao sabor deles, ainda que com vexame da própria consciência, como grave erro é querer-se que a paz venha do exterior quando unicamente do íntimo da alma pode ela provir.

            A humildade e a mansidão proporcionam a paz mas sob a condição de serem praticadas segundo os ditames de uma consciência reta, saturada de seiva cristã.

            Erro funesto também é o sacrificarem-se as convicções próprias ao afeto filial, paterno, conjugal ou fraternal. Tudo se pode e deve sacrificar pela paz, menos o cumprimento do dever ditado pela consciência.

            Advirta-se, porém, que a perigoso erro conduzirá o compreender-se literalmente, erroneamente, portanto, a recomendação do meigo Nazareno aos que o quisessem seguir. Jamais de certo lhe passou pela mente aconselhar ao homem que abandone a família, os que lhe são caros, apenas no seu lar se manifestem discordâncias em matéria de crenças religiosas. Não.

            Ao cristão e, pois, o espírita, deve sempre mostrar-se digno da sua fé, não a ocultando jamais, proclamando-a em todas as oportunidades, dentro e fora do seu lar. Se daí advier, da parte dos membros de sua família hostilidades, desprezos, malquerenças, humilhações, cumpre-lhe, armado de paciência e resignação, tudo suportar, demonstrando, porém, cada vez maior firmeza na sua fé e na excelência desta, com o esforçar-se incansavelmente, para, por meio da persuasão, do carinho, do amor fraterno, dos exemplos de bondade, de calma e de humildade cristã, levar a luz da verdade aos Espíritos dos que lhe flagelam a existência. Desse modo, sua alma gozará de inalterável paz, dentro mesmo do inferno em que lhe é preciso viver, e terá iniciado a conquista das almas que o rodeiam. Dia virá em estas reconhecerão nele o seu salvador e o bem dirão.

            Este o abandono que Jesus aconselhou: o das ideias, injunções e exigências dos que formam a nossa família e são nossos amigos, se essas ideias, injunções e exigências estiverem em conflito com a doutrina que ele exemplificou e que, esta sim, por coisa alguma, por nenhuma consideração ou conveniência terrena, deve ser abandonada.

            Outro alcance não podia ter e não tem a recomendação do Mestre divino. E, se não, dizei-me: a que viria a preceituar ele, como preceituou, a reconciliação com o adversário, o amor aos inimigos, a prática do bem para com quem praticou o mal, mandando ao mesmo tempo que o homem abandonasse o lar, a família, pelo simples facto de discordar esta do seu modo de pensar ou de crer? Como imaginar-se que ele haja pretendido tenhamos em melhor conta e mais consideração os inimigos estranhos, os que nos fizeram mal e aos quais devemos retribuir com o bem, do que os nossos próprios pais, os nossos filhos, irmãos, ou  cônjuges? Fora absurdo e na doutrina de Jesus não pode haver e não há absurdo, para os que a sabem interpretar e compreender, não segundo a letra que mata, mas segundo o Espírito que vivifica.

            O grande mérito do espírita-cristão está em viver entre os seus maiores inimigos pessoais, entre os inimigos de sua fé, embora sejam membros estes de uma família, sem que se lhe altere a paz do Espírito pelos desprezos e vexames de que o façam objeto. E isso ele o conseguirá, meditando continua e profundamente os ensinos do Redentor e elevando-se espiritualmente, através desses ensinos, às maiores alturas, onde receberá iluminação divina e as energias suficientes para vencer, conservando sempre a paz, a paz verdadeira, que não se compra nem se vende, que só alcançamos quando, plenamente confiantes naquele que é o caminho, a verdade, a vida, tudo por amor dele suportamos, ainda os mais rudes e certeiros golpes desfechados contra nós e a nossa fé.

            Quem persevera no caminho que o Cristo traçou e pratica a sua doutrina, mal grado a todos os obstáculo e sofrimentos, pode estar certo de haver conseguido a paz eterna que a todos desejo.


sábado, 2 de março de 2019

A igreja de Roma





A Igreja de Roma  
por Bezerra de Menezes
Reformador (FEB) Julho 1925

            A igreja romana com a sua interpretação literal das sagradas letras, é a principal causa do materialismo, que, sob várias formas, arrasta uma grande parte da humanidade para as novas lagoas pontinas da incredulidade. Com a Evangelho na mão, mas o Evangelho entendido segundo a letra, ela prendeu o espírito humano à interpretação que só tinha razão de ser para o passado; durante o choque inevitável da razão que progride por lei divina, que aspira, ao infinito, que braceja para o futuro, com a religião transformada pela igreja romana em pedra de sal, a que foi condenada, “a que olhou para trás”. (Max,  Estudos Filosóficos)

Os fenômenos psíquicos e a moralidade do médium





Os fenômenos psíquicos e a moralidade do médium
por Carlos Imbassahy
Reformador (FEB) Agosto 1925

(A propósito de um artigo do Dr. Eugenio Osty.)

            O Dr. Eugenio Osty, ilustrado metapsiquista francês, está fazendo um estudo, em que  indaga das causas psicológicas  que predispõem à mediunidade, que a desenvolvem ou restringem.

            Vêm-se, do seu trabalho, as dúvidas, as incertezas, as vacilações que assaltam o fisiologista,
para dizer com segurança o que indispõe ou predispõe o médium,no desdobramento de sua faculdade.

            Há fatores que, em uns, tornam difíceis as manifestações mediúnicas ou, de alguma sorte, as suprimem; esses mesmos fatores, em outros indivíduos, são de efeitos surpreendentes.

            Há um, porém, onde já não têm cabimento as divergências. Os seus efeitos se apresentam uniformes - e a esse nós chamaríamos de fator moral - aquele que é condicionado pela vida moral do médium, pela sua retidão no cumprimento dos deveres, pelas suas virtudes, pela obediência aos preceitos cristãos.

            Enquanto o Dr. Osty encara o assunto pelo seu lado psicológico, vamos nós tirando as conclusões filosóficas que os fatos nos impõem.  

            Não são os efeitos físicos de uma existência ascética, não é a influência orgânica que exercem ação sobre a mediunidade, as consequências de uma vida virtuosa imperam sobre o ambiente do médium, favorecem o auxílio das potências superiores – e ai temos o surto dos “milagres”.

            Não se poderá negar que a debilidade do corpo facilita o desprendimento do espírito. 
E, daí, muitas vezes, a produção de uma série de fenômenos, que muita gente não sabe explicar. 
Mas, o que também temos por certo, é que eles não se darão, ou, pelo menos, não terão a forma impressionante do milagre, se o médium não for possuidor de elevação de caráter e de procedimento 
nobre, ou não terão durabilidade, se o mesmo médium for arrastado para o mal caminho.

            É o que nos induziram a crer as nossas observações pessoais.

            Num indivíduo de maus costumes, os fenômenos físicos por ele produzidos nunca serão de ordem a beneficiar a humanidade, incluindo entre eles a mediunidade curadora, tão desenvolvida e espalhada entre nós, antes, tomam os fenômenos a forma daquilo que os médicos denominam genericamente de moléstias nervosas e a que chamamos de obsessão.

            Quem priva de perto com os médiuns e, sobretudo, com aqueles que tiveram a alta missão de aliviar as penas do gênero humano, sabe quanto lhes custa a eles o mal uso de suas faculdades 
ou se desviarem de uma digna linha de conduta.

            Em pouco se esgotam os dons e o infeliz, arrastado por uma sorte inexplicável, vai, 
de queda em queda, esbarrar num abismo donde não há levantar.

            O Dr. Osty pode indagar como terminaram seus dias grande número de médiuns europeus que tiveram fama, que produziram fenômenos rigorosamente observados; procure acompanhar-lhes o curso da vida e novo rumo terá que dar, talvez, ao encaminhamento do seu espírito científico 
na nova forma de atividade para que o dirige.

           Entre nós, dois médiuns houve de fama e que produziram trabalhos portentosos.

           Como é de ver, levantou-se grande campanha contra eles. Era a prova, a grande prova a que todos nós temos que sujeitar. Eram ambos médiuns curadores, a mais bela e a mais perigosa das mediunidades.

            Eram reais, positivamente reais, os fenômenos. A imprensa tratou da momentosa questão.
Livros se escreveram sobre esses médiuns. Formou-se lhes em torno a auréola de assombro.

            Os doentes apareciam curados as dezenas, as centenas. Muitos de seus nomes ainda estão na memória de todos.

            Eis que, porém, a cupidez, o egoísmo, a vaidade foram fazendo brecha na alma deles, os médiuns, e minando-as e solapando-as sorrateiramente.
           
            Começaram eles a acreditar no que lhes diziam os homens da ciência, que aquela faculdade era um pode humano; falaram-lhe ao interesse e ao orgulho.

            Tinha sido escalada a fortaleza pelo ponto vulnerável: em pouco lhes desaparecia o dom miraculoso e eles caíam na miséria!

            O que foi o doloroso fim de ambos muita gente ainda se recorda.  

            Cantaram vitória aqueles que o detraíram, supondo que a falência do homem seria a falência da doutrina.

            Parece, porém, que a época ainda é de provas amargas. Todos os médiuns, os bons médiuns, 
não sabem resistir aos ataques com que são postos em experiência.

Para que escapem, para que se furtem às investidas misteriosas que o fazem cair,  é preciso que passem obscuramente,  que não se lhes conheçam os nomes, que não se lhes apontem os feitos.

            Estes devem surgir unicamente nos frutos produzidos.

  O médium, pelo menos em nossos dias, precisa viver desconhecido e humilde. 

Lá, na sua obscuridade, como que só o vêm os que tem muita luz, luz espiritual, luz celeste, e são estes que o assistem e o protegem.

Ai dele, se a tuba da fama o vai buscar, e ai dele, sobretudo, se não procura manter os ouvidos fechados a todas as louvaminhas e a todos os encômios, que são como a arapuca armada à sua experiência.

         Falamos de dois médiuns curadores e do seu triste fim.    

         E falaríamos ainda de um terceiro, cujos fatos são de agora, se não nos fosse faltando espaço. Infelizmente, não podemos dar o cunho de autenticidade aos fatos, por não nos ser permitido citar nomes.

              Como iríamos nomear os que se tem desviado do caminho do bem, como aponta-los destas colunas? Como trazer a público fatos dolorosos, indicando os seus heróis?

              Perca este trabalho o seu valor documental, mas salvem-se os preceitos doutrinários que mantemos com tanto fervor.

              Iremos, portanto, continuar no nosso modesto estudo, citando fatos, sem a preocupação dos nomes.

              E Deus há de permitir que a nossa palavra não seja posta em dúvida.