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domingo, 7 de abril de 2013

Histórias do Chico...



01 Histórias do Chico...

            Escusado é dizer que consideramos o nosso querido Chico Xavier como parte integrante da MEDIUNIDADE GLORIOSA e um dos SEAREIROS considerados da PRIMEIRA HORA e, felizmente, ainda entre nós[1].

            Em nosso livro sobre ele, relatando-lhe os Lindos Casos, já o biografamos ainda que palidamente.

            Sabemos que ele não gosta quando lhe ressaltamos as virtudes da humildade, do seu amor ao próximo, da sua gratidão constante a Deus, da sua renúncia pelos bens materiais.

            É natural. Quem possui virtudes ignora que as tem.

            Mostra-se sensibilizado e até um pouco entristecido quando alguém lhe pede para autografar o livro que lhe traz os Casos Lindos da sua romagem vestida de sofrimentos e de lágrimas.

            Mas se esquece de que, relatando-os, procuramos, acima de tudo, focar os Ensinos do Senhor que dali nos vem e que precisam ser conhecidos para que, mesmo canhestramente, possamos também realizá-los.

            Depois, os Casos Lindos do Chico, hoje conhecido em todo Brasil, uns contados por ele, sem nenhum intuito de se vangloriar, outros e muitos outros por familiares e amigos seus, que lhe testemunharam e testemunham a sua maneira de viver e conviver, se não os registrássemos como os fizemos, agora, poderiam, mais tarde, quando o querido Médium estiver no Mundo Maior, ser deturpados e até contados à moda de Lendas ...

            Que o prezado irmão nos perdoe: mais tanto quanto podemos, em nossas palestras, citamos e citaremos seus Casos, colaborando sempre com a nossa tese em predicação.

            É o Evangelho Segundo o Espiritismo, com Suas Imorredouras e sublimes Lições, que dilucidamos, que propagamos, que traduzimos, que ressaltamos, e sempre com agrado geral dos que nos ouvem.

            Já temos colecionados Casos de Chico Xavier, isto é de Confrades que, ouvindo ou lendo os testemunhos de Francisco Cândido Xavier, procuram imitá-lo e, às vezes, com resultados auspiciosos, como o em que, bastantemente ofendido, conseguiu perdoar seu ofensor e tirar de dentro de si quaisquer mágoas ou infelizes ressentimentos.

            Dos muitos Casos Lindos que ainda temos em nossos arquivos, apenas alguns publicaremos abaixo.

            Como o caro leitor vai observar são Lindos Casos, leves, pequenos, nos quais Jesus é homenageado através das virtudes da humildade, do perdão, da renúncia, da resignação e obediência às Leis do Pai e Criador.

  A Coisa mais difícil...

            Ter dentro de si a Senhora Humildade. Aí está a prenda maior e mais difícil de se obter. Calar-se quando alguém nos ofende. Silenciar quando, no meio dos que maldizem, é vitoriada a maledicência. Tudo isso é revelador de luz na alma. E seu autor já tem Jesus no coração.

            O Chico foi ofendido e nada respondeu. E o ofensor, surpreso e até arrependido, exclamou-lhe:

            - Você será mesmo, Chico, de carne e osso? Por que não revida a ofensa?

            - Porque, respondeu-lhe o Chico, depois o sofrimento virá em dobro para mim...

            A Senhora Humildade, vestindo-lhe o Espírito, deu-lhe força para resistir e inspiração para traduzir a vitória que nos advém quando temos a felicidade de testemunhá-la.

            O ofensor desabafa seu ódio e pensa-se vitorioso...

            O ofendido, calando-se, sofre, no momento para, depois, sentir-se, sim, que ele é que foi o vitorioso com Jesus.

            E, aos nossos ouvidos, ecoam as palavras santas do Divino Mestre, quando, ofendido e incompreendido, sofreu o maior dos martírios: EU VENCI O MUNDO, PORQUE FUI E SOU O AMOR!

Ramiro Gama
in ‘Irmãos do Bom Combate’
Edição G E Regeneração RJ RJ - 1969







[1] Estávamos em 1969... Saudades! Do Blog


quarta-feira, 3 de abril de 2013

13. Ciência Religião Fanatismo



13

Ciência   Religião   Fanatismo

por  MINIMUS  (A. Wantuil de Freitas)
Ed. FEB


   Para o ignorante, senhores, um raio de luz é coisa simples e banal, enquanto para os sábios é a maravilha que desconhecem.

Se para os sofômanos, o Espiritismo é assunto néscio e frívolo, para os sábios é objeto de meticulosos estudos.

Foi a luz que primeiro defendeu os homens primitivos da ferocidade dos animais selvagens. É o Espiritismo quem ampara os homens modernos contra a fereza das religiões Jeóvicas.

A luz propaga-se em linha reta, em todas as direções. O Espiritismo anuncia-se retilineamente sobre todos os povos.

A luz produz sombra invertida, quando o orifício da câmara escura é pequenino. O Espiritismo só é mal interpretado, quando o poder de assimilação do homem é insignificante. A luz, sendo branca, decompõe-se nas cores prismáticas. O Espiritismo, sendo Foco Luminoso de Amor, esparge-se em resplendores de virtudes.

E "O LIVRO DOS ESPIRITOS", esse Evangelho do século que por ordem do Cristo nos foi enviado, manando Sabedoria e Verdade, é o jorro de Luz Celígena que ilumina os cérebros obumbrados; é a Estrela dos Magos que conduzirá a Humanidade pela estrada espiritual por onde caminhamos - o CRISTIANISMO.

12. Ciência Religião Fanatismo




12

Ciência   Religião   Fanatismo

por  MINIMUS  (A. Wantuil de Freitas)
Ed. FEB


E apesar disso, senhores, evangelicamente retribuamos: - Amaldiçoam-nos e nós abençoemo-los; perseguem-nos e nós soframos; dizem-nos injúrias: respondamos-lhes com preces. E se à outra face não lhes apresentamos, é porque seus companheiros, os materialistas, dela precisam para esbofetear-nos.

Penalizamo-nos das suas atitudes, porquanto sabemos que cada um há de, por força, sofrer a lei do efeito; anelamos que não aumentem suas faltas vendendo as bênçãos de Jesus Cristo, mas, assim como o Messias, não nos podemos calar, porque Jesus, o Amor máximo que passou pelo planeta, nos deu o preceito, apontando ao povo os vendilhões do Templo que desrespeitavam o Pai.

Bemqueiramo-nos uns aos outros, porém não levemos a nossa afeição ao ponto de tolerar que um grupo de cegos conduza a humanidade por caminhos, onde ela se elanguesce no amor das coisas materiais, continuando sujeita às ondas de dor, que constantemente descem para regenerar os rebeldes.

Esclareçamos o povo, demonstrando-lhe que o Espiritismo não é o montoamento de cenas burlescas que o clero lhe expõe, confundindo, maldosamente, Espiritismo com religiões de origem africana. A Terceira Revelação se caracteriza, visivelmente, pela ausência absoluta de ritos, de ídolos, de velas, de liturgia, de tudo enfim que é material.

O Espiritismo está mais distanciado da macumba, do que o Catolicismo das cerimônias, profundamente romanas, com as quais Lampião prepara diabólicos planos de assalto, rezando e fazendo donativos a Igrejas.

Para nós, a humanidade é oriunda da mesma fonte e a essa origem deverá regressar, sem que se lhe perca uma única criatura. Não dogmatizamos a nossa Doutrina, não temos privilégios nem títulos para distribuir e nem, tão pouco, reconhecemos a superioridade anímica da raça italiana, para que dela exclusivamente pudessem nascer os antropolátricos e infalíveis de Roma.

Não vemos diferenças de raças e de homens. É, para nós, mais cristão o ateu caridoso que os rezadores egoístas de qualquer religião. Aquele levará para o Além a fortuna do cristão, enquanto o pietista carregará a matéria dos os bentinhos, das verônicas, dos escapulários e dos ídolos de argila.

Expomos a nossa Filosofia ao estudo dos que a desejam conhecer e quem quer que a examine, com sinceridade, concluirá, como tantos outros materialistas: - "De todas é a única racional, a única que não argumenta com paralogismos".

Os fenômenos físicos, que afirmamos existir, não são apresentados em clausuras; não são anunciados para canonizações de médiuns; não se realizam a troco de espórtulas; não se produzem pela nossa ou pela vontade do médium; não nos trazem lucros materiais; não são reservados para uso interno; não exploram a tecla das penas aquerônticas; não têm para nós senão pequena e relativa importância, não são interpretados como sobrenaturais; não são praticados em nossas reuniões; não são efetuados por Espíritos Superiores; não foram por nós criados, contudo, eles existem, existiram e existirão sempre.

E não somos nós somente que asseveramos a veracidade dos fenômenos. Os sábios, os gênios da Física, da Química, da Medicina, da Engenharia e do Direito, que os estudaram, durante dezenas de anos, no desejo de provar-nos a sua irrealidade, criando teorias complexas e nomes abstrusos para explicá-los à luz dos conhecimentos acadêmicos, acabaram rendendo-se à Verdade e afirmando que existem e que são produzidos pelos Espíritos desencarnados.

- Sábios, não concluíram sem observá-los; doutos, não tinham interesse direto em comprová-los; peritos usaram de todas as precauções e meios científicos; gênios, não se preocuparam com o riso sardônico dos coetâneos, e, finalmente, como sábios e gênios, contribuíram para o progresso da humanidade.

Não foi meia dúzia de gênios que os verificaram, foram centenas, e de todos os países do globo terráqueo, com imparcialidade e sem a menor ambição material. Não eram espíritas, não estavam ligados ao Espiritismo, não tencionavam favorecê-lo, e, sobretudo, tinham a responsabilidade da auréola de sábios com a qual o mundo lhes ornara a cabeça.

Basearem-se os nossos contraditores em afirmativas do clero, interessado mor de que a Luz da Verdade não apareça, para não lhes perturbar o funcionamento da "guitarra" purgatorial; apoiarem-se em conclusões de dois ou três sábios ligados diretamente às arcas dos benzedores de canhões; fundamentarem-se na ginástica de palavras dos que jamais procuraram tomar conhecimento dessa parte do Espiritismo, reconhecida já pelos sábios como científica e capaz de revolucionar os conhecimentos atuais da humanidade, é fossilizarem o desenvolvimento da cultura dos povos, é, como ontem, acreditarem em Roma, desprezando Galileu.

Queríamos, dizem outros, que nos apresentassem um fenômeno. Conseguido o primeiro, ainda outros julgariam necessários, e depois de muitos observarem, afastar-se-iam, porque acima da Verdade, que favorece a espécie humana, colocam as. convenções e os preconceitos sociais que mais diretamente lhes interessam. Como nos seria possível atender a esses milhões de curiosos, a essa multidão de novos Tomés, se os médiuns de efeitos físicos são relativamente poucos e só um pequeno número se submete a essas experiências, principalmente para satisfazer a curiosidades de pessoas ineptas para estudos científicos.

Como acreditam em tantas conclusões da Ciência astronômica, se nunca viram sequer um telescópio! Como se contentam com a palavra dos sábios em milhares de assuntos que não compreendem, e negam a possibilidade dos fenômenos espíritas que eles asseveram!

Entretanto, ao Espiritismo, que demonstra ser a morte a origem da vida real; que ensina não estar a alma destinada a umbráticos lugares denominados inferno, purgatório e limbo; que prova o nenhum valor das turificações e das hissopadas na matéria; que evidencia nada valerem os amuletos e os bentinhos; que não pratica cerimônias materializadoras do que é divino; ao Espiritismo chamam-lhe conjunto de explorações e de mentiras, quando essas características pertencem às religiões acamptas, que há dois mil anos vêm embelecando a humanidade. 


Questão de Valor



Questão de Valor

            " Ninguém pode alegar insignificância ou desvalia para fugir aos deveres que lhe competem, na obra de elevação do mundo.

            A pedra quase impermeável serve aos alicerces.

            A areia áspera é valioso elemento na construção.

            O remédio amargo é instrumento da cura.

            O mal de agora pode ser simplesmente um véu de sombra, ocultando o bem de amanhã.

            Há pessoas que se confessam inaptas para qualquer serviço do Evangelho, entretanto, isso acontece porque vivem esquecidas de que a direção da vida, entre os filhos da fé, não pertence à vontade humana...

            O bloco de mármore, perdido no matagal, é simples calhau sem valor, mas, nas mãos do artista, é a fonte de que sairá a obra-prima.

            Uma enxada ao abandono é traste inútil, entretanto, nos braços do bom lavrador, é precioso instrumento na garantia do pão.

            O pântano, em si, é pestilência e ruína, contudo, se recebe a assistência do pomicultor, dá lugar a vegetais que enriquecem a vida.

            Um fio de cobre, perdido na via pública, é resíduo destinado à lata de lixo, mas se for ligado entre a usina e a lâmpada é o condutor imponente da luz e da energia, que sustentam o progresso.

            Se contamos exclusivamente conosco, na realidade somos meros átomos pensantes, todavia, se aceitarmos a direção de Jesus para a nossa vida, cada experiência ser-nos-á indubitavelmente rica de bênçãos do Divino Mestre.

            Pelo nosso passado, somos simples sombras, mas se o nosso presente procura imanar-se com o Cristo, nossa bússola indicará os horizontes da verdadeira luz em nosso favor.

            Não te consideres tão somente pelo que és.

            Vejamo-nos em companhia do Cristo, para que o Senhor esteja em nós.

            O zero à esquerda do número será sempre nada, mas, à direita do algarismo, é valor substancial em ascensão crescente para o Infinito.  

            Lembremo-nos de que Jesus é a Divina Unidade e situemos nossa existência à direita do Nosso Senhor e Mestre.

 Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB)
Fevereiro 1947

terça-feira, 2 de abril de 2013

A Resignação é Força Espiritual




A  Resignação
é Força Espiritual


            Constitui assunto interessante o problema da resignação. Para muitos, resignar-se significa adotar atitude passiva em face da vida, renunciar a qualquer espírito de reação justa e digna, numa tentativa de reequilíbrio moral ou material, conforme o caso. Entre a resignação ativa e a resignação passiva, é grande a distância. Há necessidade de penetrar bem o sentido evangélico dessa atitude de conformação, para bem se assimilar o legítimo pensamento de Jesus. Aqueles que, iludidos por errôneas interpretações dadas ao Cristianismo do Cristo, não puderam ainda vislumbrar as fulgurações do pensamento cristão, ficaram estacionados na letra dos textos, incapazes de perceber a expressão do espírito que ela encobre. Jesus jamais pregou o desânimo e a passividade. Sempre foi sereno na fé, corajoso na serenidade e senhor de si. Em ocasião alguma deixou de reagir, ainda mesmo quando desdobrava sobre seus atos o manto diáfano da resignação. Pode parecer paradoxal o que dizemos, mas a verdade é que Jesus ensinou às criaturas que a resignação não é o desânimo, assim como a reação não é a revolta nem o desespero. Sua passagem pela Terra foi maravilhoso exemplo de energia fecunda e de atividade realizadora.

            Através da bela linguagem parabólica, confirmou sua dinâmica atividade no trabalho pela iluminação do espírito humano. Sua ação foi sempre positiva, ainda mesmo quando, no suplício da cruz, convocou as últimas energias que lhe restavam naquele transe supremo, para, em sublime forma de resignação ativa, pedir a Deus que perdoasse aos que o sacrificaram, porque não sabiam o que estavam fazendo. E os séculos têm provado que, efetivamente, eles ignoravam a enormidade do crime que consumaram no Gólgota sombrio...

            Nós, os espíritas, há muito que nos habituamos a ver e a sentir o Mestre longe da macabra visão da cruz, mas em toda a plenitude do seu poder espiritual, tal como ele deve ser visto e deve ser sentido: visto através da sua legítima posição no Evangelho, realizando a semeadura dos preciosos ensinamentos que ficaram como inestimável tesouro da Humanidade, e, sentido pelo coração, consoante o caminho do estudo e da meditação, Jesus não filosofou, pregando teorias complexas ou confundindo os que o ouviram e aqueles que, ainda hoje, se rejubilam com as lições evangélicas, em complicadas dissertações: Não foi confuso na explanação metafísica dos seus ensinamentos: foi simples e claro. Tão simples e tão claro que soube usar da linguagem que, simultaneamente, chega ao cérebro e ao coração dos homens de boa vontade.

            Ao indicar ao homem o rumo da resignação, não estabeleceu itinerário para a passividade. Tanto assim que - apontemos apenas um exemplo - na parábola da ovelha perdida, perguntou: “Se um homem tiver cem ovelhas, e uma delas se extraviar, não deixa as noventa e nove e vai aos montes procurar a que se extraviou? Se acontecer acha-la, em verdade vos digo que se regozija mais por causa desta, do que pelas noventa e nove que não se extraviaram.” Deixemos de parte a interpretação comum dada a esse trecho evangélico e apreciemos outro aspecto dessa linda parábola. Se Jesus houvesse feito da passividade uma forma de resignação, o homem se conformaria com o extravio da ovelha e ficaria satisfeito por ainda poder contar com noventa e nove. Entretanto, Jesus apontou como fato saliente da parábola a particularidade de o homem haver deixado as noventa e nove e pôr-se a caminho, nos montes, em busca da ovelha perdida. Em vez da resignação passiva, a energia realizadora.        
      
            Precisamos aprender a resignação evangélica, tão longe da passividade e do desânimo que marcam, geralmente, o raciocínio dos que não se detêm no exame sereno de tão delicado problema da vida humana, A resignação consciente é uma modalidade de ação. O homem resigna-se em face do irremediável. Enquanto não se capacita de que tudo está consumado, deve lutar sadiamente pela recuperação de sua ovelha perdida. Mesmo a conformação em face do fato irremediável, sua atitude não deve ser de estéril desalento. É prova de perfeita identificação com os princípios espirítico evangélicos, o cultivo da coragem em face das vicissitudes.

            Em “O Evangelho segundo o Espiritismo”, lê-se numa comunicação do Espírito de Lázaro (Paris, 1863): “A doutrina de Jesus ensina, em todos os seus pontos, a obediência e a resignação, duas virtudes companheiras da doçura e muito ativas, se bem que os homens erradamente as confundam com a negação do sentimento e da vontade. A obediência é o consentimento da razão; a resignação é o consentimento do coração, forças ativas ambas, porquanto carregam o fardo das provações, que a revolta insensata deixa cair. O pusilânime não pode ser resignado, do mesmo modo que o orgulhoso e o egoísta não podem ser obedientes. Jesus foi a encarnação dessas virtudes que a antiguidade material desprezava.”

            É dever da criatura humana reagir nobremente em face das vicissitudes. É essencial não confundir resignação com covardia. Esta é uma “resignação” compulsória, imposta pela incapacidade de convocar todas as energias para enfrentar corajosamente as situações graves. A verdadeira resignação é serena e consciente. Ela assume o controle da situação em que se vê envolvida a criatura, dando-lhe meios de raciocinar e aceitar o fato consumado, desde que, efetivamente, não possua elementos para desfazê-lo. Mesmo assim, a resignação, e não o desânimo, pode revestir-se do caráter ativo, reagindo. Como reagir? Fortalecendo-se na prece e exemplificando as lições evangélicas, com o fito de superar a provação que lhe foi imposta pela lei cármica.

            Em outro ponto do Evangelho, Jesus ensina que a resignação não deve ser passiva. Na parábola do amigo importuno, demonstra que este "conseguiu ser atendido em virtude da insistência com que procedeu, indiferente à negativa inicial que encontrara. Se não, vejamos: “Se um de vós tiver um amigo e for procurá-lo à meia-noite e lhe disser: Amigo, empresta-me três pães, porque um amigo meu acaba de chegar a minha casa de uma viagem, e nada tenho para lhe oferecer; e se do interior o outro lhe responder: Não me incomodes, a porta já está fechada, eu e meus filhos estamos deitados; não posso levantar-me para tos dar. Digo-vos: Embora não se levante para lhos dar por ser seu amigo, ao menos por causa da sua importunação se levantará e lhe dará quantos pães precisar.” Se o solicitante se resignasse com a primeira negativa e se retirasse, teria assumido uma resignação passiva. Entretanto, insistiu, pôs energia para reagir contra o obstáculo e, afinal, triunfou. O mesmo acontece, na vida comum. Muitas vezes somos feridos por um golpe sério e ficamos como que atordoados, Se o que aprendemos no Espiritismo possui força dentro de nós, começamos a reagir, realizando esforços para conter o desespero que, de outro modo, de nós se apossaria. Essa reação benéfica deixa um lastro de serenidade que nos permitirá, ainda que paulatinamente, reconquistar o domínio de nós mesmos. Ainda que em face do irremediável, temos o recurso da reação através da prece.

            Portanto, é falso o conceito de que resignar-se alguém constitui entregar-se ao desânimo, numa atitude passiva. Está no Evangelho: “O homem pode suavizar ou aumentar o amargor de suas provas, conforme a marcha por que encare a vida terrena. Tanto mais sofre ele, quanto mais longa se lhe afigura a duração do sofrimento.” A resignação real não exclui a possibilidade de a criatura reagir para sobrepor-se à desventura. Tudo depende, evidentemente, da preparação espiritual de cada um, das reservas morais que possua para resguardar-se do desânimo que precede ou sucede ao desespero, quando este parece em condições de adquirir forma. Esclarece o Espírito de Lacordaire (Havre, 1863, em “O Evangelho segundo o Espiritismo”: “Quando o Cristo disse: «Bem-aventurados os aflitos, o reino dos céus lhes pertence”, não se referia, de modo geral, aos que sofrem, visto que sofrem todos os que se encontram na Terra, quer ocupem tronos, quer jazam sobre a palha. Mas, ah! poucos sofrem bem; poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzi-los ao reino de Deus. O desânimo é uma falta. Deus vos recusa consolações, desde que vos falte coragem. A prece é um apoio para a alma; porém, não basta: é preciso tenha por base uma fé viva na bondade de Deus. Todos sabemos que o Pai não coloca fardos pesados em ombros fracos. O fardo é proporcional às forças, como a recompensa o será à resignação e à coragem. Mais opulenta será a recompensa, do que penosa a aflição. Cumpre, porém, merecê-la, e, para isso, é que a vida se apresenta cheia de tribulações.”

            A Doutrina Espírita, que vem de Jesus, pois é o Consolador Prometido pelo Mestre, prova exuberantemente que a resignação em face das vicissitudes não deve estar isenta da coragem para reagir contra o desânimo. Se assim não fora, as oportunidades proporcionadas pela reencarnação não teriam lugar na vida humana e na vida espiritual. Entretanto, em cada encarnação o Espírito enfrenta possibilidades magníficas de reagir contra os erros do passado, preparando-se para as alvoradas de luz do futuro. Seja qual for a situação, a criatura humana pode amparar-se na resignação ativa, buscando para si mesma, no Evangelho ou na Doutrina codificada por Allan Kardec, o bálsamo para as suas dores, o refrigério para as suas
tribulações, a luz que lhe iluminará a trajetória.

            Para aqueles que possuem o coração puro e o espírito humilde, as dificuldades da caminhada serão progressivamente atenuadas. Já o disse Jesus: “Bem-aventurados os que têm puro o coração, porque verão a Deus.” O caminho mais curto para alcançar a humildade é a resignação consciente, a resignação que reage pela fé, pela energia que fortalece a compreensão do destino humano e pelo trabalho de reerguimento, após cada vicissitude, que revigoriza a trajetória espiritual.

            Bem mais fácil é aqueles que não estão alanceados pela dor dar conselhos sobre a resignação; bem mais difícil se torna a recomposição rápida dos que são surpreendidos pelo sofrimento, se seu espírito não se encontra fecundado pelas sublimes lições do Evangelho. Os ensinamentos de Jesus não são expressões supérfluas de uma literatura mística. Eles representam o conteúdo de uma sabedoria que se consolidou no exemplo do Mestre, através do apodo dos ignorantes, das injúrias dos maus, das injustiças dos poderosos, da traição dos pusilânimes e do ódio dos que se enfermaram em cultos incompatíveis com os princípios de amor, de paz e de caridade. Sabedoria que se fortaleceu com a sinceridade dos crentes, com a prece dos que compreenderam os ensinos e as lágrimas daqueles que tiveram sua sensibilidade solicitada no testemunho das horas de amarga provação.

            A resignação consciente é a arma da criatura que tem fé, pois que nela se resguarda das tempestades do desespero. Nos momentos cruciais da dor é que se evidencia a potencialidade da fé. Nem foi por outro motivo que Jesus, nas bem-aventuranças a que se referiu no Sermão da Montanha, o poema por Ele composto com o sentimento, disse: “Bem-aventurados os aflitos, pois que serão consolados.” Essa consolação sé estende a todos, indistintamente, mas aqueles que possuem a virtude da resignação consciente, da resignação ativa, são os que mais depressa recebem o conforto do Alto. Portanto, não se diga que o Cristianismo do Cristo prega o desânimo, porque, na verdade, ele institui a coragem moral como base da obra cristã, ao lado do amor e da caridade. Resignar-se conscientemente é compreender os desígnios da Vida e aceitá-los como se aceita a Verdade. A resignação consciente não despreza a luta pela própria recuperação, não abandona a energia estimulada pela fé racional. Ela trabalha, ativa-se, dinamiza-se, quer através da prece, quer através das ações verticais, porque é uma força espiritual positiva. Não é desalento, mas paciência e confiança nas leis que regem a vida humana e a vida espiritual. Resignação é força, é coragem e, sobretudo, fé, quando não se desvitaliza na passividade doentia nem se destrói no desespero inútil. Resignação consciente significa compreensão lúcida. Foi para os que sabem resignar-se, sem se perderem no tremedal da desesperação, que o Cristo Jesus ensinou à Humanidade, no episódio maravilhoso do “Sermão da Montanha”:  “Bem-aventurados os humildes de espírito, porque deles é o reino dos céus; bem-aventurados os que choram, porque eles serão consolados; bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a Terra; bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque eles serão fartos; bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia; bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus; bem-aventurados os pacificadores, porque eles serão chamados filhos de Deus; bem-aventurados os que têm sido perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. Bem-aventurados sois, quando vos injuriarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós, por minha causa. Alegrai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que existiram antes de vós.”

            Os humildes de espírito sabem, intuitivamente, a importância da resignação esclarecida, porque esta decorre da sua própria humildade, o mesmo sucedendo quanto aos mansos e limpos de coração. Os que choram realizam a prece das lágrimas, mas não devem permitir que estas afoguem a capacidade de reagir, a fim de não se tornarem presas inermes do desalento. Os que têm fome e sede de justiça, os perseguidos e injuriados podem e devem colocar-se espiritualmente em condições de salvaguardar os direitos que lhes são próprios, fugindo à violência, mas fortalecendo-se intimamente para resistir às iniquidades. Os bem-aventurados e misericordiosos, os pacificadores e os justos, estes já se encontram tocados pela graça divina, tanto que externam, pelos atos e pelas palavras, o prêmio que já lhes condecora o espírito.

            A resignação tem seu poder espiritual. Todavia, é preciso não permitir que ela se azinhavre ao contato com o desânimo, porque este é um aspecto da resignação passiva e inútil, enquanto a reconquista do ânimo, a luta pela recuperação da esperança, significam um aspecto da resignação ativa e útil, porque consciente. Entendendo-se assim a resignação, nela encontraremos meios de atenuar, pelo menos, as provações da vida terrena, evitando nos abismemos na desesperança e na desorientação. Peçamos sempre ao Alto que nos dê, nas ocasiões propícias, essa elevada compreensão, a fim de que não falhemos no testemunho.  
  
Vinélio DI Marco

(Indalício Mendes)
in Reformador (FEB) Fevereiro 1955


segunda-feira, 1 de abril de 2013

'Considerações Críticas'



Considerações 
Críticas – parte 3


José Amigó y Pellicer
Reformador (FEB) Outubro 1956

III - A Onda Sobe

            Zamora não foi tomada em uma hora, (refere-se às disputas por territórios entre espanhóis e muçulmanos e que duraram séculos) e não pode ser obra de alguns anos derrubar com a palavra uma instituição que já conta tantos séculos de existência.

            Para as grandes demolições exige-se, além do perseverante martelo de inumeráveis operários inteligentes, a lenta, mas segura ação dos tempos, desse grande demolidor que tudo gasta e pulveriza, salvo o que nunca foi instituído e que é, por isso, indestrutível e imortal.

            Sabemos disso, e por isso não alimentamos a ilusão de presenciar em curtíssimo prazo o desaparecimento definitivo da poderosa igreja ultramontana, nem construímos castelos de pura fantasia acreditando em imediata renovação do sentimento religioso.

            O ultramontanismo (refere-se à doutrina política católica que busca em Roma a sua principal referência. Este movimento surgiu na França na primeira metade do século XIX. Reforça e defende o poder e as prerrogativas do papa em matéria de disciplina e fé.) está irrevogavelmente condenado por sua corrupção, por suas infâmias, por seus erros, pela odiosidade que despertam seus negros fins, a sucumbir, esmagado pelo progresso, em sua majestosa corrente; mas ainda dispõe de elementos e forças, não já para recuperar a sua perdida onipotência, mas, sim, para resistir e perturbar.

            Um novo símbolo, submetido primeiro ao grande concílio ecumênico das ciências e da razão, virá encher o vazio que houverem deixado na consciência humana os velhos erros, os dogmas caducos, as superstições herdadas; mas ainda a indiferença e o ceticismo, densas névoas da razão e do sentimento, levantadas dos antigos ensinos, interceptarão por algum tempo a luz da nova fé.

            Teremos, pois, de renunciar ao legítimo desejo de assistir em nosso século ao desaparecimento do despotismo teocrático, verdugo das consciências, filho espúrio do Cristianismo, e à doce, à consoladora esperança de saudar a primavera de uma civilização expansiva, harmônica, fundada na liberdade, na justiça e na fraternidade humana, na fé racional que emana da contemplação científica do Universo, e que nos impele a dobrar o joelho e beijar a mão de Deus na infalibilidade de suas leis e na magnificência de suas obras?

            Não, certamente Quase todo o trabalho de demolição já está feito; o alicerce do Catolicismo convencional está perfeitamente minado, e com um seguido esforço supremo da parte dos amantes da verdade a torre babilônica pode ficar reduzida a escombros, sobre os quais abrirá profundos sulcos o arado da Civilização, filha da filosofia e da consciência livre.          

            Desde Orígenes e Ario até Fócio, desde Fócio até Lutero, desde Lutero até a Enciclopédia francesa e desde a Enciclopédia até o racionalismo de nossos dias, o pseudocristianismo, mescla informe de religião, filosofia e política, encontrou sempre em sua frente ilustres gênios para combatê-lo e solapar o seu tenebroso domínio.

            Foi a perpétua cruzada da razão contra a perpétua opressão do pensamento. E a onda que arrastará e sepultará nos abismos a frota ultramontana, foi subindo com os séculos, cheia de maldições e engrossada com o sangue de milhares e milhares de vítimas e de mártires.

            O século atual parece ser o designado pela Providência para nele consumar-se a grande ruína de todo um sistema religioso, que teve a sua razão na ignorância e no atraso moral das idades passadas.

            Não é isso uma afirmação gratuita, expressão infundada de um desejo, mas o anúncio de um acontecimento de cuja proximidade nenhuma consciência duvida.

            Que é feito daquele poder incontestável da seita ultramontana, daquela sua decisiva influência na política dos Estados, daquele seu despótico domínio nos costumes, daquela sua indiscutível infalibilidade na declaração do dogma? De tudo isso não resta mais que pálido reflexo; e em breve, a julgar pelo encadeamento e a lógica dos sucessos, só restará a sua memória, para ser amaldiçoada, como a do maior dos crimes históricos, como a de uma grande miséria social, espécie de asquerosa lepra moral que contagiou todas as consciências, mergulhando-as ou num desespero acerbo ou numa vergonhosa servidão.

            Houve um tempo em que sua força era superior a dos imperadores e reis; em que sua vontade prevalecia na política dos Estados; em que seu espírito era o único que formava os costumes; em que seus dogmas fixavam à Filosofia e a todas as ciências a norma de seus desenvolvimentos; hoje ela vive de esmolas, e da interessada proteção dos governos, sem a qual a Ciência teria destruído o dogma, e a consciência humana o jugo teocrático.

            A onda da indignação dos povos sobe ameaçadora; se a barca ultramontana ainda flutua sobre as águas, é por ser rebocada pelos poderes públicos, que ainda não julgam oportuno abandoná-la a si mesma à mercê da tormenta.

            A igreja ultramontana em nossos dias é uma instituição anacrônica; é o quietismo religioso no meio do movimento, do vapor, da eletricidade; é o firmamento teológico de cristal pretendendo recuperar a perdida posse do Céu, arrebatado a ela pelos milhões de mundos descobertos pela Ciência, terrível inimiga da teologia dogmática.

            Mas o vapor e a eletricidade do pensamento emancipado triunfarão da inércia religiosa, e os mundos e as humanidades se apossarão do Universo, apesar da lenda adâmica e da acanhada criação teológica.            

            Quem não sorri ao ouvir assegurar-se, com teológico aprumo, que Deus confiou a certos homens a posse da verdade absoluta? Quem não olha com lástima para os pretendidos intérpretes da Providência, de cujas mãos afirmam haver recebido diretamente as chaves do Céu e dos abismos? A quem hoje persuadirão mais com a indigente e irracional geringonça de que para ver com clareza as coisas espirituais seja necessário cerrar os olhos do espírito?

            Medite-se sobre o que tem perdido o ultramontanismo nos últimos trinta anos, sua atual notória decadência, a importância de seus reveses políticos, o descrédito em que vão caindo seus ensinos, a frieza com que a consciência pública acolhe, tanto as suas impotentes ameaças como as suas ridículas promessas; tenha-se ainda em conta que o bom senso dos povos aponta-o como causador das discórdias civis e das agitações incessantes que perturbam a paz dos Estados, entorpecendo a marcha ordenada do progresso; e compreender-se-á que, com o que resta do século, há tempo de sobra para que possamos presenciar os últimos momentos de seu império.

            Agora se vive muito do passado; a julgar pela rapidez com que os acontecimentos se sucedem, cada lustro vale uma centúria.  

            Oh! igreja ultramontana, dos dogmas absurdos, da feroz intolerância, do sacrílego comércio! alimentarás ainda a soberba pretensão de jungir uma vez as sociedades ao jugo de teus erros? Tua sede de domínio e de riquezas é inextinguível; mas o mundo te conheceu, e o dia do teu poder declina rapidamente. Erigiste o teu trono sobre a ignorância; mas a ignorância foi vencida pelas caudais de luz que a Ciência esparge; a razão humana toma posse de si mesma, envergonhando-se do seu longo cativeiro.

            Como - pergunta ela maravilhada - como pude dar crédito à palavra desses homens que, pregando a pobreza, se fazem ricos; recomendando a humildade, são orgulhosos; falando de amor e paz, avivam os ódios e as guerras; blasonando de fiéis discípulos de Jesus, são a contradição viva da moral evangélica?

            Eles querem terraplenar, com a fé cega; o abismo que os separa do Cristianismo; mas esse abismo cada dia se torna mais profundo, e já não há ignorância nem fanatismo que bastem para enche-lo. Passam-se em bandos os fanáticos para o campo dos cépticos, ao mesmo tempo que os homens pensadores se agrupam para derrubar os ídolos, para denunciar as fraudes, para opor aos dogmas da Teologia os da Natureza e da Razão, que hão de ser os fundamentos da Igreja Universal. Soou a hora de quebrar os moldes das antigas aberrações religiosas, substituindo-os pelos que a Filosofia e as ciências nos oferecem já feitos. Acentua-se nesse sentido uma evolução, que não pode passar despercebida, por pouco que se estude o movimento intelectual e moral da nossa época.

            No seio das famílias, nos saraus, nos círculos ilustrados, nos ateneus científicos, onde quer que se reúnam pessoas estudiosas para a permuta de suas observações e ideias, fazendo-se eco, tanto dos grandes ensinos da História como das necessidades e aspirações humanas; em toda a parte, como se um espírito invisível associasse em um mesmo pensamento todas as inteligências, a atual crise religiosa é um dos temas preferidos, talvez o que provoque as mais frequentes e renhidas discussões.

            A imprensa de todos os matizes, esse novo poder das sociedades modernas, órgão da opinião, barômetro da cultura e do progresso, chama também a juízo a fé e a tradição e, refletindo fielmente o estado dos ânimos, atesta a necessidade de uma renovação nas crenças, que ponha termo ao tráfico imoral das mercadorias espirituais.

            Milhares de livros entregues à voracidade do livre exame e nos quais se ventilam todos os problemas da filosofia religiosa, avivam nas almas o desejo de estudar a Natureza para nela buscar a chave dos destinos humanos.

            Ponhamos a nossa confiança nesse movimento regenerador, nessa agitação incessante dos espíritos. A inércia é a enfermidade e a morte; o movimento, a saúde e a vida. Assistimos à gênese de uma transformação moral que há de ser o ponto de partida de uma nova civilização.

            Quem não fica assombrado ao considerar as mudanças operadas neste século? Quem poderá duvidar de estarmos atravessando um período de rápida transição? Quem não prevê que a Humanidade vai assentar a sua planta em um mundo novo, nutrir-se com outros alimentos, acariciar outras ideias, fundar outras instituições e substituir por outros mais perfeitos os velhos organismos sociais?

            Sorri-nos a esperança de que em breve o racionalismo cristão alumiará o mundo inteiro, e que da igreja ultramontana não restará pedra sobre pedra.