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segunda-feira, 5 de março de 2012

19 'Doutrina e Prática do Espiritismo'



19      ***


            Por esses exemplos, que poderíamos multiplicar indefinidamente, se o intuito deste livro não fosse antes doutrinário que de vulgarização de fatos, (1) se vê que não exageramos, afirmando que não está por fazer a prova da sobrevivência.

            (1) Não deixemos, todavia, de mencionar ainda, entre as comunicações de além túmulo, assinaladas por um evidente cunho de identidade, em primeiro lugar, as que em grande número se encontram na obra de E. BOZZANO, DEI CASI D'IDENTIFICAZIONE SPIRITICA, rigorosamente documentada, e em seguida os ditados recebidos pelo médium Fernando de Lacerda e publicados, em três volumes, sob o titulo Do PAIZ DA LUZ, nos quais o estilo próprio de conhecidos escritores, como Eça de Queiroz, Camillo Castello Branco, Júlio Diniz, A. Herculano, João de Deus e tantos outros constitui um testemunho pessoal e inconfundível de seus invisíveis autores. 
                Na mesma categoria se devem incluir os magníficos ensinamentos contidos na obra ROMA E O EVANGELHO, particularmente os subscritos pelo evangelista João, e ainda os de que se compõe o volume JESUS PERANTE A CRJSTANDADE, ditado pelo espírito de Bittencourt Sampaio .

            O valor dessa prova, cientificamente considerada, poderá ser apreciado à luz de um tríplice critério: em relação ao numero dos fatos, à sua qualidade e, finalmente, à honorabilidade e competência dos observadores, ou por outros termos: é preciso, em primeiro lugar, que a massa dos fenômenos observados seja assaz considerável para constituir um rígido suporte da doutrina, que tem por objeto a ciência da imortalidade, assim documentada seguida, que os fatos verificados revistam um cunho de autenticidade positiva, demonstrando a intervenção de entidades extraterrestres ou, como o dizemos em nossa terminologia, de espíritos desencarnados, com exclusão das hipóteses de fraude, sugestão, individual ou coletiva, e subconsciência mediúnica, automatismo psicológico inclusive; e por último, que haja - da parte dos observadores o verdadeiro critério cientifico, duplicado do espírito de análise e de crítica, isenta de ideia preconcebida e de credulidade, em condições, portanto, de se não deixarem tais observadores iludir, sabendo bem observar, nesse tão obscuro e complexo domínio.

            A primeira dessas condições - já o dissemos - se acha satisfatoriamente preenchida. O número de fatos, quer espontâneos, quer provocados, de cinquenta anos para cá observados, por assim dizer, em todas as latitudes do planeta - pela menos entre todos os povos do ocidente -- é de molde a representar o sólido apoio de que ha mister a doutrina, que faz da imortalidade a sua base.

            Dentre esses fatos, nem todos, -  força é confessar - a mingua de uma rigorosa inspeção científica, podem ser atribuídos à intervenção de desencarnados, neles podendo algumas vezes reconhecer-se a intervenção, pelo menos parcial, dos elementos que apontamos - automatismo, sugestão e subconsciência (excluídos os fenômenos fraudulentos, que não devem ser tomados em consideração). Escoimado, porém, dos casos duvidosos o conjunto dessa fenomenologia hemisecular, a parte restante apresenta os desejados caracteres de autenticidade, em condições de demonstrar que o espírito, que vive no homem, sobrevive à decomposição do corpo e pode manifestar a sua presença ostensiva junto aos que deixara neste mundo.

            Dizemos, propositalmente, ostensiva, porque a ação oculta das entidades espirituais extraterrestres, sem que seja dos homens suspeitada, é - e mais adiante nesta obra, teremos ocasião de o demonstrar - muito mais constante e generalizada do que ordinariamente se supõe.

            Resta indagar se a terceira condição para o valor da prova da sobrevivência se acha do mesmo modo preenchida, isto é, se aos observadores de tais fenômenos não tem faltado o requisito de idoneidade indispensável.

            A nosso ver, essa idoneidade não reside exclusivamente na posse de um diploma científico, nem para ela se requer indispensavelmente um renome conquistado nos prélios da ciência. Há indivíduos dotados de um espírito de ponderação e de bom senso, adestrados no estudo e na meditação, que possuem muito mais pronunciada capacidade de observação e um critério analítico muito mais seguro que certos diplomados. Ao demais, como vimos, com o professor Charles Richet (1), poucos homens possuem esse raro talento, esse dom de observação, que não é privativo de nenhuma classe e que permite encontrar e reconhecer o que se desconhece.

                (1) Cap. II, págs. 16.

            Pois bem, entre os observadores dos fenômenos espíritas, mesmo nos casos que ainda há pouco mencionamos, não têm faltado homens de culta inteligência e claro descortino, diplomados ou não, que à sua análise se tenham levado esse curso de aptidões que conferem ao seu depoimentos requerida autoridade.

            Mas - que dizemos? - nem mesmo cientistas de consagrado e universal renome têm recusado, uns a veracidade dos fenômenos, outros, além dessa veracidade, ao conjunto dos incomparáveis ensinamentos doutrinários do Espiritismo, o testemunho de sua convicção publicamente confessada. Incrédulos ao começo, terminaram por se render á evidencia.

            Por mais que nos queiramos subtrair, como argumento à sugestão dos grandes nomes, como dizíamos atrás, não há remédio senão reportar-nos a alguns deles.

            Lembraremos, em primeiro lugar, que o professor J. Hyslop, da Universidade de Colúmbia, observando os fatos que se produziam com o concurso da notável médium Ms. Piper, ao fim de uma longa série de experiências, tornou-se um convencido. Levava ao começo o excesso de precaução de conservar-se incógnito ao ponto de se apresentar nas sessões do doutor Hodgson com uma máscara no rosto, a fim de não saber o médium quem era o interlocutor.

            Tais foram, porém, as provas de identidade que obteve de espíritos seus conhecidos, entre eles de seu próprio pai, que com este por fim conversava desembaraçadamente, por aquele médium, "com tanta facilidade como se estivesse vivo."

            A seu turno, o próprio doutor Richard Hodgson, vice-presidente da Sociedade de Investigações Psíquicas (seção americana), cognominado, por sua sagacidade em desmascarar vários médiuns, "o caçador de fraudes" (fraud Hunter), chegou em tais experiências ao seguinte resultado:

            "Há doze anos - disse ele - que estudo a mediunidade da Sra. Piper, No começo eu só queria nela descobrir a fraude. Entrei em sua casa profundamente materialista, com o intuito de a desmascarar. Hoje, digo simplesmente : eu creio!... A demonstração me foi feita de modo a afastar a possibilidade sequer da menor dúvida."

            Não menos concludente é o testemunho de Sir Oliver Lodge, o ilustre reitor da Universidade de Birmingham (Inglaterra) -e membro da Sociedade Real de Londres, que em reunião especial da aludida Sociedade de Investigações Psíquicas, a 30 de janeiro 1908, comunicando o resultado de observações feitas com outros colegas, mediante o concurso mediúnico das Sras. Piper e Verrall, afirmava a convicção de haver conversado com os espíritos de membros desencarnados daquela associação, como Frederic H. Myers, Edmond Gurney e outros, acentuando :

            "Vemo-los responder às diversas perguntas de um modo característico e próprio de suas personalidades. Exigimos severas provas, tão difíceis de imaginar como de obter." E acrescenta: "Comunicações cruzadas (1), isto é, parte por um médium e parte por outro, foram obtidas, não podendo nenhuma dessas partes por si só, separadamente, ser compreendida pelo médium .

                (1) Em inglês, cross-correspondence, processo ideado pelos próprios espíritos e que consiste em ditarem um trecho truncado de comunicação a um médium e o trecho restante, que lhe completa o sentido, a outro médium.

            "Isto nos parece provar que a mesma inteligência dirigiu os diversos médiuns, e a linguagem  caraterística do  falecido parece me provar suficientemente a continuação da atividade intelectual daquele indivíduo.
                "Se, além disso, nós obtemos dele um trecho de critica literária ia no seu estilo peculiar, então a prova, já convincente, se torna esmagadora." (2).

            (2) Testemunho mais recente, divulgado muito depois de terem sido escritas estas páginas e coligidos esses depoimentos, é o que deu a público esse mesmo Sir O. Lodge no livro intitulado RAYMOND - nome de um filho seu, tenente do exercito, morto em combate na França, durante a conflagração europeia - no qual vem relatadas as numerosas manifestações desse espírito e consignadas interessantes informações acerca da outra vida e de suas peculiaridades.


5 de Março



05 Março


 Perdoa, ampara e esclarece...
Toda migalha de amor
É peça, forma e estrutura
Na construção do Senhor.

Casimiro Cunha 

por Chico Xavier
in ‘Seguindo Juntos”  (1ª Ed GEEM  1982)



domingo, 4 de março de 2012

03/03 Melquisedec e Jesus





03/03  Melquisedec e Jesus

             
Zêus Wantuil

Apêndice sob título ‘Docetismo’
 in “Elos Doutrinários” (FEB)  3ª Ed 1978




            Opiniões e hipóteses sobre Melquisedec - Os antigos rabinos, a fim de explicarem a superioridade do rei de Salem sobre Abraão, identificaram-no com Sem, antepassado do Patriarca e filho de Noé, o qual, segundo seus cálculos cronológicos, ainda vivia na época do Pai das Nações. É assim que no Targum, de Jerusalém, se lê: “Melquisedec, rei de Jerusalém, é Sem, que era sumo-sacerdote do Altíssimo”; o Talmud e o Targum de Jônatas também afirmam o mesmo.

            Disse S. Jerônimo ter sido esta a opinião dos judeus de sua época, e Santo Epifânio acrescentava que ela era igualmente professada entre os samaritanos, ideia que este Padre refuta apoiando-se na cronologia da Versão dos Setenta. Lutero e Melâncton aceitaram-na, porém, no século XVI.

            Muitos outros judeus imaginaram que o rei-sacerdote fora Henoch, ou Cam, ou Mesraim, ou Canaã, ou, então, Job.

            Fílon, o judeu, filósofo do começo do primeiro século, fala de Melquisedec como sendo “o Logos”.

            Alguns livros apócrifos se referem ao rei de Salem, a saber: “A Penitência de Adão” ou “O Testamento de Adão”; “A fiel Sabedoria”, que apenas ligeiramente a ele se refere; o “Livro Etiópico de Adão e Eva”. Em determinado ponto deste último livro, em que se descrevem fatos da vida de Melquisedec, este é saudado pelo Espírito Santo como o “unigênito da criação de Deus”.

            Santo Atanásio, numa de suas produções literárias, registra certas tradições existentes sobre a vida do sacerdote. Segundo elas, toda a cidade de Salem, com exceção do monte Tabor onde Melquisedec orava, desapareceu pela terra a dentro, que se abriu sob um forte tremor. Só restou Melquisedec que, por isso, foi chamado sem pai, sem mãe, sem família, não tendo o começo de seus dias nem o fim de sua vida.

            No século III, dos Monarquianos ou Teodocianos, seita fundada por Teodoto, o Banqueiro, derivou-se um ramo que, baseando-se nas palavras dos Salmos “vós sois sacerdote, segundo a ordem de Melquisedec”, nelas julgou ver uma razão peremptória contra a origem superior de Jesus. Colhendo dados, no Velho e em o Novo Testamentos, que pudessem estabelecer que Melquisedec devia ser colocado acima de Jesus, concluíram não ser o rei de Salem um homem como os demais, que era superior ao próprio Jesus, pois que este tivera princípio e morrera. Melquisedec, elevado então a primeiro pontífice do sacerdócio eterno, tornou-se o objeto de culto daqueles homens, erigido em o verdadeiro mediador entre os homens e Deus. Constituiu-se, assim, a chamada seita dos Melquisedequianos.

            É bom frisar que a tese da Epístola aos Hebreus não é: Cristo superior a Melquisedec, mas, sim, Cristo à semelhança de Melquisedec, e S. Tomás de Aquino faz observar que o versículo dos Salmos não diz ser Melquisedec o principal, e sim o tipo de um sacerdócio particular.

            Sofreram os Melquisedequianos anátemas dos bispos católicos, mas nada fazia cessar a pregação dessas ideias, e eles continuaram, nos séculos IV e V, sustentando que o rei de Salem era como que “uma força ou virtude de Deus”, mais excelsa que o próprio Cristo, assim se exprime o bispo de Salamina num comentário contra eles.

            Outro grupo ensinava que Melquisedec fora o Filho de Deus, conforme se lê nas refutações de Santo Epifânio e Santo Ambrósio.

            Orígenes, o “homem de bronze e diamante”, assim cognominado por sua tenacidade e vigor no trabalho e pela lucidez inexcedível de seu espírito, juntamente com seu discípulo Dídimo, o Cego, constituindo ambos duas grandes culturas das letras sagradas, admitiram que Melquisedec houvera sido um anjo. S. Jerônimo, aluno de Dídimo, procurou refutar esta ideia comumente rejeitada pelos teólogos católicos, ideia que, segundo uma enciclopédia, não foi considerada como “herética”.

            A maioria dos antigos Padres não admitiram as diferentes hipóteses aventadas para a pessoa de Melquisedec e davam-lhe caráter humano, e S. Jerônimo diz, mesmo, numa de suas Epístolas: “Consultei a Hipólito, a Irineu, Eusébio de Cesaréia e Eusébio de Emesa, Apolinário e nosso Eustáquio, e averiguei que todos eles, por argumentos diferentes e caminhos diversos, chegaram à mesma conclusão, isto é, que Melquisedec fora um cananeu, rei da cidade de Jerusalém, que então se chamava Salem.”

            Surgiu, também, naqueles primeiros séculos, um anônimo que, escudando-se na primeira Epístola de Paulo aos Coríntios, a qual diz ter sido o primeiro homem terreno, nascido da terra, e o segundo homem celeste, nascido do céu, desta passagem concluiu haver homens terrestres e homens celestes. Como Paulo afirma que Melquisedec foi semelhante a Jesus, é forçoso - expõe o autor desconhecido - que ele seja também um homem celeste. Isto - prossegue o mesmo expositor, divagando mais além - permite que se explique o estranho aparecimento dos três reis magos, de que tratam os Evangelhos. Como o texto evangélico nada fala a respeito da vida deles, o autor anônimo pretendeu então que os três reis magos foram três homens celestes, do céu, constituindo, respectivamente, Melquisedec, Henoch e Elias.

            Cerca do ano 600, Timóteo, o presbítero de Constantinopla, no seu livro “De receptione Hoereticorum”, no fim da lista dos heréticos que deveriam ser rebatizados, coloca os Melquisedequianos, “agora chamados Athingani (Intangíveis)”, acrescenta ele. Viveram os “intangíveis” na Frígia; guardavam o sábado, mas não eram circuncidados. Tinham horror ao contato com os demais homens e veneravam Melquisedec, e isto é o pouco que se sabe dessa curiosa seita.

            No século IX, diz uma das obras da Bibliografia, distintos estudiosos pretenderam que Melquisedec fora o próprio Jesus aparecido a Abraão sob a forma humana.

            Jacques Auzoles Lapeire publicou em 1621, na cidade de Paris, um Tratado de 214 páginas a fim de estabelecer que “Melquisedec está ainda hoje vivo em corpo e alma, se bem haja mais de 3.700 anos que deu sua bênção a Abraão”. O autor - comenta o expositor católico - apoiando-se em textos cujo sentido ele força, quis prova; que Melquisedec não havia tido pai, nem mãe, porque “tinha sido engendrado por uma nova maneira de criação ou por algum meio extraordinário que nos é desconhecido e ininterpretável”. Ainda segundo este autor, Melquisedec havia sido criado antes de Adão e pertencera a uma raça celeste bem superior àquela que reside na Terra.

            Contrariando a aceitação em voga sobre a existência real de Melquisedec, o Rev. Cheyne acha plausível a conjetura de que seja uma entidade fictícia, imaginária, que talvez houvesse sido introduzida na Bíblia por algum erro de escrita ou devido a uma nota marginal feita por algum leitor anônimo.

            Kaufmann, em “The Jewish Encyclopedia”, contradiz Cheyne e, após discordar de que a história de Melquisedec fosse “invenção ou produto de erro de algum copista”, afirma ser um fato real e conservado por tradição. Com este autor concordam Rõsch, Hommel e Kittel, profundos estudiosos da questão; este último pensa que “a balança da evidência pende em favor do caráter histórico de Melquisedec”.

            Atualmente, assiriólogos, em pacientes estudos, encontraram traços de semelhança entre Melquisedec e um determinado rei de Jerusalém chamado Ebed-Tob ou Abdi-Khiba, mas esses traços, por muito vagos, não permitiram que se chegasse a alguma conclusão.

            Apesar das especulações interessantes e instrutivas que advêm da relação entre Melquisedec e Jesus, aqui finalizamos essa dissertação, de um modo um tanto abrupto, pois já se vai tornando longa. Sentimos não ter satisfeito as possíveis indagações que surgirão à mente dos leitores; aliás, nosso fito foi apenas apresentar humilde colaboração ao programa de esclarecimento geral, sem quaisquer pretensões.

            Que do Alto desça a Luz que nos leve ao Caminho, à Verdade e à Vida.


Bibliografia

Enciclopedia Universal Ilustrada (Espasa).
The Catholic Encyclopedia.
Dictionnaire de la Bible - Vigouroux.
A Dictionary of the Bible - J. Hastings.
Encyclopédie Théologique - M. L'Abbé Migne.
Encyclopoedia Biblica - Rev. Cheyne and Sutherland.
The Jewish Encyclopedia.









02/03 Melquisedec e Jesus



02/03  Melquisedec e Jesus

             
Zêus Wantuil

Apêndice sob título ‘Docetismo’
 in “Elos Doutrinários” (FEB)  3ª Ed 1978


Caráter figurativo - O Livro dos Salmos - 110:4 ou 109:4, segundo alguns tradutores, referindo-se ao Messias futuro, diz: “Tu és sacerdote para sempre segundo a ordem de Melquisedec.”, frase que nos conduz de imediato, sem alternativa, à exclusão de toda e qualquer outra espécie de sacerdócio, inclusive, por conseguinte, o sacerdócio judaico, à maneira de Aarão.

            Os homens, na sua vaidade e pretensão, almejam também o título de messias. Talvez por isso é que, até os dias de hoje, no ritual da ordenação dos sacerdotes da Igreja, o bispo católico declara: “Tu és sacerdote in aeternum, secundum ordinem Melchisedec.”

            O Apóstolo dos Gentios, na Epístola aos Hebreus - 5:6 e 10; 6 :20, transcreveu as palavras de David e expôs largamente no capítulo sétimo, dessa mesma epístola, a semelhança entre Jesus e Melquisedec.

            Desejando positivar, ante os olhos dos judeus, a autoridade e superioridade da pessoa e da missão de Jesus, o inspirado apóstolo de Tarso aproveitou aquela personagem misteriosa, talvez pelas seguintes razões: a) em vista da dupla dignidade de Melquisedec, como sacerdote de Deus e como rei; b) pela aplicação do seu próprio nome: “rei de justiça” e do nome da cidade sobre a qual reinou, intitulando-se “rei de Salem”, isto é, “rei de paz”, aproximando-se, destarte, da revelação transmitida ao profeta Zacarias, concernente a Jesus: “Eis vem a ti o teu rei. Ele é justo e traz a salvação.”  “Ele anunciará a paz às nações.” Dizendo ser Melquisedec “sem pai, nem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida, permanecendo sacerdote para sempre”, anunciou-o Paulo, por conseguinte, “semelhante ao Filho de Deus”.

            A seguir, o apóstolo assinala que o superior que abençoa é quem recebe o dízimo do seu inferior. Ora, Melquisedec abençoou, a Abraão, bem como todos os sacerdotes levíticos descendentes do patriarca, inclusive o próprio Levi, os quais, indiretamente, pagaram dízimos a Melquisedec na pessoa de Abraão. (Hebr., 7:4 a l0).

            Era imperfeito e incompleto o sacerdócio levítico e igualmente a lei moisaica, salvaguarda do mesmo, que apenas estabelecera as bases da Lei divina. O tempo, diante da evolução alcançada pelo homem, exigia uma “melhor esperança”, que foi trazida por Jesus-Cristo, sumo-sacerdote perpétuo e incorruptível, “não feito segundo a lei do mandamento carnal”, não mais da estirpe de Aarão, mas de um sacerdócio superior ao deste último, isto é, da ordem de Melquisedec, conforme revelação pré-anunciada pelos Salmos de David (Hebr., 7:11 a 24).

            O versículo três do capítulo em foco, esclarecem-no os autores católicos, e de maneira inteligente, dizendo que chamando Paulo a Melquisedec – “sem pai, sem mãe, sem genealogia, não tendo princípio de dias nem fim de vida”, quis relacionar estas palavras não propriamente à personalidade de Melquisedec, em si mesma, mas querendo com isto significar que a Escritura intencionalmente lhe não menciona o pai, a mãe, a genealogia, nem nascimento, nem morte, para que deste silêncio das Escrituras resultasse Melquisedec mais semelhante a Jesus, a quem prefigurava.

            A Enciclopédia de Migne explica que o dizer - o rei-sacerdote de Salem não teve princípio nem fim de vida - com esta referência se quis fazer entender que ele não tivera limites marcados nas funções do seu sacerdócio, não possuindo predecessores nem antecessores, podendo-se daí inferir que ele não havia tido nem princípio nem fim de sua vida sacerdotal, prefigurando-se, já antecipadamente, a eternidade do sacerdócio de Jesus.

            A primeira elucidação acima exposta se nos apresenta incompleta sob uma análise minuciosa, pois surge-nos de imediato a interrogação: Quererá o autor afirmar que Jesus apareceu e desapareceu do mundo com aqueles quesitos do versículo?

            Analisemos as razões judiciosas dessa pergunta que encerra em si, ocultamente, inúmeras outras interrogações.

            Vamos dizer que essa revelação paulina se relacione à origem espiritual de Jesus no seio imperscrutável do Criador. Ora, se assim fosse, estaríamos diante de uma revelação sem razão de ser, pois todos os seres igualmente saíram do Criador e eternamente viverão.

            Os espíritas também não podemos compreender e aceitar o Cristo como parte de uma Trindade Divina, igual a Deus, visto que, baseados nas palavras do mesmo Jesus, conservamo-nos monoteístas, só admitindo, por conseguinte, um único Deus, sempiterno e incriado.

            Prossigamos:  Segundo os católicos, o Cristo teve um nascimento sobrenatural, sofrendo, ao fim de sua missão, a morte real consequente à crucificação. Somente três dias após o sepultamento ressuscitou, no mesmo corpo de carne, indo com este envoltório para as altas regiões celestes. Baseados nesse modo de entender, poderiam afirmar que o Mestre não nasceu nem morreu.

            Esta exposição católica, diante das leis naturais a que todos os seres e coisas forçosamente devem obedecer, peca por sua incoerência, irracionalidade e visível infantilidade. É até degradante, mesquinho e misérrimo aos nossos olhos, pensar-se que o Unigênito do Pai se dirigiu aos altos páramos celestiais num corpo de carne pútrida. Graças, porém, às revelações do Espírito Santo, através do Consolador prometido que já vive entre os homens, estamos elucidados de maneira satisfatória quanto a esse fato da vida do Cristo.

            Jesus, aos olhos da quase totalidade dos cristãos, nasceu da virgem Maria, obedecendo sua formação a todo o processo normal da evolução intrauterina, iniciada de maneira desconhecida, anormal, milagrosa. Houve, destarte, para os teólogos, um verdadeiro nascimento humano.

            Agora, se admitirmos concepção, evolução fetal e parto aparentes, sem afetar a pessoa de Maria, já não poderemos dizer que houve nascimento real.

            Tomemos nesse ponto a segunda proposição em estudo, isto é, a morte do Cristo. De antemão, todos sabemos impossível a propalada ressurreição de Jesus, em carne morta, como impossível e desnecessária também será a ressurreição de todos os seres humanos falecidos, nos seus primitivos corpos de carne, no dia do Juízo final.

            Mas - objetarão -, os quatro evangelistas unanimemente afirmam, citando testemunhas, que o corpo do amado Senhor desaparecera do sepulcro previdentemente guardado por soldados das autoridades administrativas, aparecendo depois a inúmeros discípulos.

            Não negamos a autenticidade de tais fatos. As Escrituras merecem-nos todo o respeito e admiração, principalmente à vista de um ponto em que o acordo é perfeito entre diferentes relatores. O que não é concebível é o admitir-se, até hoje, diante do progresso científico e do raciocínio mais iluminado, uma ressurreição em carne e osso.

            O fato de vários espíritas só admitirem que Jesus ressurgiu no corpo perispirítico, que então se tornava visível quando ele o desejasse, deixa, entretanto, no ar, uma interrogação a respeito do que sucedera ao corpo carnal do mesmo Jesus, e, além disto, o maravilhoso e comentadíssimo fato da Ressurreição deixaria de ter a importância que os crentes e descrentes lhe emprestaram e continuam a emprestar; seria um fato corriqueiro, sem interesse algum, pois era sabido dos judeus, baseados em exemplos inúmeros do Velho Testamento, e o é para nós, que todos ressurgiremos num corpo perispirítico, após nossa morte corporal.

            Vemos, pois, que esta última maneira de explicar é incompleta, não só pelas razões acima referidas, como também por estar em desacordo com Paulo, que considera o Mestre sem princípio e sem fim de vida.

            Resta-nos, então - pelo menos provisoriamente -, admitir que o Senhor tivesse um corpo de natureza fluídica, e que, por isso mesmo, não estava sujeito à morte, como a conhecemos. Essa concepção se baseia em fatos inúmeros observados durante a peregrinação do Salvador pelo mundo e diante ainda da sua afirmação aos onze apóstolos, após a sua falada morte, quando lhes disse que ele era ele mesmo e não um espírito: “Vede as minhas mãos e os meus pés; pois um espírito não tem carne nem ossos, como vedes que eu tenho.”

            Assim raciocinando, concluímos que à Terra desceu Jesus o sumo-sacerdote divino, “santo, inocente, imaculado, separado dos pecadores e feito mais sublime que os céus” - não, pois, em carne dos pecados, mas “em semelhança de carne de pecado”, diz-nos a Epístola aos Romanos.

            Não nos dilataremos nessas pobres reflexões, as quais - dizemos lealmente - de maneira alguma queremos dar aspecto inflexível, dogmático, mesmo porque o capítulo referente a Melquisedec pode comportar raciocínios outros. 


01/03 Melquisedec e Jesus


01/03  Melquisedec e Jesus

             
Zêus Wantuil

Apêndice sob título ‘Docetismo’
 in “Elos Doutrinários” (FEB)  3ª Ed 1978


            Lá pelo ano 2000 a.C., quatro reis imperialistas iniciam uma perseguição contra vários povos do país de Canaã. Organizada uma contra ofensiva por cinco reis, esta não obteve êxito, havendo sido desbaratados os seus exércitos. O inimigo invade Sodoma e Gomorra, toma-lhes todos os víveres, bens e mulheres e leva parte do povo, escravizado. Um fugitivo, que escapara àquele inferno de fumo e sangue, consegue chegar ao Hebron, nos terebintos de Mamre, o amoreu, e, encontrando Abrão (mais tarde: Abraão), conta-lhe a desgraça, sobre eles recaída, e anuncia que Lot, sobrinho do Patriarca hebreu, fora também levado como prisioneiro.

            Encendido de surda revolta ante aquelas informações, Abrão organiza um exército regular de homens disciplinados e investe desassombrado os inimigos, ferindo-os e perseguindo-os até às adjacências de Damasco. Torna a reaver tudo o que fora rapinado, inclusive seu “irmão” Lot, e volta triunfante. O rei de Sodoma vai-lhe ao encontro, jubilante. No meio de toda essa recepção festiva, eis que surge Melquisedec, rei de Salem, trazendo pão e vinho. Faz-se religioso silêncio, e o sacerdote do Deus Altíssimo, achegando-se de Abrão, abençoa-o e diz:

            “Bendito seja Abrão pelo Deus Altíssimo, Criador do Céu e da Terra! e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos às tuas mãos!” Abrão, respeitoso, dá a Melquisedec o dízimo dos despojos e, dignamente, nada aceita do que lhe foi oferecido pelo rei de Sodoma.

........................

            Ê assim que o capítulo XIV de “Gênesis” nos relata essa passagem. Adquiriu importância e mereceu atenção mais acurada dos estudiosos das questões bíblicas, pelo fato de posteriormente ser estabelecida a semelhança entre Jesus e Melquisedec. Esta personagem enigmática, cujo nome hebraico - Malki-Sédék significa “rei de justiça”, surgida inesperadamente, como num conto de fadas, era, conforme o texto nos declara, rei da cidade de Salem, situada no país de Canaã.

            De acordo com alguns comentadores, Salem foi provavelmente aquela cidade que mais tarde se chamou Hierosólima, como era nomeada pelos gregos e romanos, parecendo que este último vocábulo não é mais do que corruptela de Hierosalem, a que se atribui uma formação híbrida - do grego hieros, sagrado, e o nome primitivo Salem. Foi aí que reinava, ao tempo da conquista da Terra de Canaã por Josué, um rei amoreu de nome Adonisedec (Josué, 10:1). O historiador Josefo segue essa opinião em sua excelente obra “Antigüidades Judaicas” e acrescenta que Melquisedec “proveu hospitaleiramente o exército de Abraão, deu-lhes provisões em abundância ... e quando o Patriarca repartiu a décima parte dos despojos com o rei, este aceitou a oferta”.

            Salem aparece registrada nas tábuas do Tel el-Amarna (1400 a.C.) como uma das mais importantes cidades de Canaã, sendo conhecida pela denominação de Uru-salim, que os tradutores, baseando-se numa tábua léxica assíria, verificaram ser uru o equivalente do assírio alu, isto é, cidade.

            Nenhuma das Salem posteriormente existentes parece ser a cidade de Melquisedec, é o que pensam os estudiosos.

            Tendo sido Canaã amaldiçoada (Gên., 9:25), afirmou-se que Melquisedec não era cananeu, e sim um semita estrangeiro localizado no País de Canaã. Não há justificativas para essa rígida asserção do dogmatismo religioso, sabendo-se, além do mais, que nem todos os cananeus professavam necessariamente a idolatria, ao tempo de Abraão. Melquisedec era monoteísta e adorador do Deus Altíssimo, “o verdadeiro Deus”, o mesmo a quem igualmente servia Abraão. Além das insígnias de rei, ostentava também as de sacerdote, termo este que, então, pela primeira vez, aparece citado na Bíblia (Gên., 14:18). Todavia, o ofício de abençoar não constituía exclusividade do sacerdote; qualquer que tivesse autoridade, seja paternal, civil ou religiosa, podia fazê-lo.

            “E Melquisedec trouxe pão e vinho”, diz o Antigo Testamento. Por si mesma, a palavra trazer (ou apresentar), seja no hebreu, no grego ou no latim, não significa oferecer a Deus, ou oferecer em sacrifício. Parece que Melquisedec apenas levou o vinho e o pão, sendo que este último termo talvez neste ponto encerre em sua significação toda espécie de alimento. Josefo se inclina para esse modo de entender, conforme já vimos, e diversos interpretadores o seguiram, dizendo não ter feito Melquisedec outra coisa que abastecer os homens que acompanhavam Abraão.

            Entretanto, os explanadores católicos, defendendo seus pontos de vista, insistem que houve um verdadeiro sacrifício, prefigurativo do sacrifício eucarístico. Baseiam-se nessa opinião, servindo-se do período que imediatamente se segue àquele acima registrado entre aspas, o qual período diz: “e este era sacerdote do Deus Altíssimo.” Ora, comentam eles, se esta informação tivesse somente o efeito de caracterizar a personalidade de Melquisedec, melhor ficaria ela no seu devido lugar, isto é, após o título de “rei de Salem”; observa-se, porém, que veio exposta entre a menção do pão e o vinho levados por Melquisedec e a referência da bênção pronunciada sobre Abraão.

            A qualidade de sacerdote, atribuída a Melquisedec - concluem eles -, é então lembrada em razão do ato que a precede, isto é, da oferta do pão e do vinho, como o texto parece insinuar.

            É igualmente presumível - dizem outros explicadores - que Melquisedec, além de exercer sua função sacerdotal, oferecendo a Deus parte dos alimentos levados, distribuiu também mantimentos entre os vencedores.

            Não obstante essas suposições católicas, o texto bíblico nem as confirma nem as contraria, em vista mesmo do quase nenhum esclarecimento dele sobre a origem e a condição de Melquisedec.

            A Epístola aos Hebreus (7:1 a 7), que compara Jesus ao rei de Salem, não faz alusão à oferta deste último. Os autores católicos esclarecem, então, que a Paulo não interessava a referência dessa oblação, visto que o sacerdócio da época do Apóstolo, o de Aarão, igualmente celebrava o sacrifício a Deus, e, desse modo, não lhe interessava qualquer comparação nesse sentido.

            Muitos Padres da Igreja, entre os quais S. Cipriano, S. Jerônimo, Santo Agostinho, S. Crisóstomo, criam expressamente que houve um sacrifício de pão e vinho, apresentado a Deus por Melquisedec, mas a verdade é que pairará a dúvida nesse ponto que, aliás, pouco interessa aos espíritas, já que a última Ceia Pascal se nos afigura claramente elucidada, no seu belo simbolismo, pela Terceira Revelação.







4 de Março




04 Março


 Por fim, depois de orar, busca saber
Na luz viva da fé que nos conduz:
-Se estivesse visível no meu passo,
Que faria Jesus?

Manoel Monteiro 

por Chico Xavier
in ‘Seguindo Juntos”  (1ª Ed GEEM  1982)





sábado, 3 de março de 2012

Possesso e Mudo


Possesso
e Mudo

9,32   Logo que se foram, apresentaram-lhe um mudo, possuído por obsessores.       
9,33   O obsessor foi expulso, o mudo falou e a multidão exclamava com admiração: -Jamais se viu algo semelhante em Israel!
9,34   Os fariseus, porém, diziam: -É por espíritos trevosos que Ele expulsa os obsessores!
                  
         Para  Mt (9,32) - Mudo, possuído por Obsessores - leiamos a Kardec em “O Céu e o Inferno”:

            “Segundo o Espiritismo, nem anjos nem demônios são entidades distintas, por isso que a criação de seres inteligentes é uma só. Unidos a corpos materiais, esses seres constituem a Humanidade que povoa a Terra e as outras esferas habitadas; uma vez libertos do corpo material, constituem o mundo espiritual ou dos Espíritos, que povoam os Espaços. Deus criou-os perfectíveis e deu-lhes por escopo a perfeição, com a felicidade que dela decorre. Não lhe deu, contudo, a perfeição, pois quis que a obtivessem por esforço próprio, a fim de que também e realmente lhes pertencesse o mérito. Desde o momento da sua criação que os seres progridem, quer encarnados, quer no estado espiritual. Atingido o apogeu, tornam-se puros espíritos ou anjos, segundo a expressão vulgar, de sorte que, a partir do embrião do ser inteligente até ao anjo, há uma cadeia na qual cada um dos elos assinala um grau de progresso.

            Do expresso resulta que há espíritos em todos os graus de adiantamento, moral e intelectual, conforme a posição em que se acham, na imensa escala do progresso. Em todos os graus existe, portanto, ignorância e saber, bondade e maldade.”

         Para Mt (9,32-34) -Possesso Mudo / Blasfêmia dos Fariseus- , leiamos a Sayão em “Elucidações Evangélicas”:

            “Era exercendo uma ação fluídica sobre os órgãos da voz, da palavra, que o mau espírito, obsessor daquele homem, a quem chamavam possesso do demônio, o tornava mudo.  Jesus o afastou, cessou a ação fluídica, o mudo falou.

            Quanto à acusação dos fariseus e dos padres da época, que atribuíam o fato à influência de Belzebu, era análoga à que fazem aos espíritas os sacerdotes de hoje, dignos sucessores dos sacerdotes hebreus. Assim sendo, bem é de ver-se que nenhuma atenção nos pode ela merecer.”



3 de Março



03 Março


Não me faças, ó Pai, rico. Não!
Não por mérito e não por virtudes,
mas temendo, quem sabe, altitudes
que, de rojo, me joguem no chão...

Inaldo Lacerda Lima 
in ‘Lira da Redenção”
 (1ª Ed  1998  G E E Paulo de Tarso Goiânia Go)




sexta-feira, 2 de março de 2012

A Cura de Dois Cegos


Cura de dois Cegos

9,27   Partindo Jesus dali, dois cegos O seguiram, gritando: Filho de Davi, tem piedade de nós!
9,28  Jesus entrou numa casa, e os cegos aproximaram-se Dele. Disse-lhes :“ -Credes   que   Eu   posso  fazer  isso? -Sim, Senhor, responderam eles.
9,29  Então, Ele tocou-lhes nos olhos, dizendo: “ -Seja-vos feito conforme vossa fé.”
9,30 No mesmo instante, os seus olhos se abriram. Recomendou-lhes Jesus em tom    severo: “ -Vede que ninguém o saiba!”
9,31 Mas, apenas haviam saído, espalharam a Sua fama por toda a região.

         Para Mt (9,27-31) -Os Milagres do Cristo - , tomemos “Veleiro de Luz” de Bezerra de Menezes por Mª Cecília Paiva:

            “Milagres do Cristo, comentados e admirados na Terra!

            Quem não permanece assombrado, vendo coxos andando, cegos recuperando a visão, leprosos purificados, bênçãos de luzes jorrando sobre a Humanidade!

            Quem ainda não teve uma oportunidade de ver nas páginas do Evangelho esta epopeia de glória, chamada os milagres do Cristo?

            Quem não se admirou, sabendo Lázaro ressurgido do sepulcro três dias após a sua morte? Ou lendo a página belíssima sobre Madalena, a perdida de Magdala, voltar à vida triunfante, aos pés do Cristo? Quem não se entusiasma, vendo o culto assistencial que se estabelece em casa de Zaqueu, o rico perdulário, ao encontrar em Cristo o Caminho seguro do amor aos semelhantes?

            E, como ficamos pasmados ainda, conhecendo o milagre do Tabor, a formosa ressurreição, a comunhão dos apóstolos que em fraternal aconchego erguem a árvore carinhosa do Cristianismo!

            Milagres do Cristo!

            Quem ainda não se embebeu, atônito, nas fulgurações do Livro Imortal, tentando desvendar os suaves e retumbantes atos do Cristo, chamando-os milagrosos?

            Entretanto, Jesus veio nos ensinar o caminho das conquistas superiores, o meio de praticarmos atos iguais, dando-nos forças para a concretização do “sois deuses”.

            A ciência terrena, pela mão do homem, vem realizando verdadeiros milagres que contados aos nossos selvagens, nos levariam a santificação dos altares de Tupã! E aí temos a eletricidade como símbolo de um progresso tangível, realizado miraculosamente pelo homem. O avião que corta célere o espaço, qual gigantesca águia em busca de luz! O telefone, o rádio, a televisão, milhões de conquistas no campo da ciência, e quantas ainda a acenarem para o espírito realizador da criatura imortal!

            Se o homem já realiza os seus verdadeiros milagres, porque não volta os olhos para dentro de si mesmo, para realizar o milagre de sua sublimação?

            O tempo permanece como dádiva divina e a alma errante, ainda olha para as múltiplas religiões, procurando o Deus verdadeiro, o Deus Milagroso, ou o Deus melhor ou pior.

            Homens, irmãos! Em nós está a centelha divina para a ressurreição milagrosa e gloriosa do homem - anjo. Em nós está a possibilidade de aquisição da luz, para os grandes voos aos píncaros azulados do éden distante.

            Cristo também espera o milagre da germinação do amor em nossos corações.

            O Consolador nos traz a chave para o milagre da nossa renovação, e como o Cristo, o Filho de Deus Altíssimo nos repetiu, o suave, o milagroso, o inesperado e divino - sois deuses - deverá ser a nossa realização.

            A ciência efetuou o milagre do progresso, é preciso que os espíritos realizem o milagre de sua ascensão para a Luz Eterna!”    


2 de Março



02 Março


Quanto mais se civiliza
Mais o Espírito cresce,
Seu sofrimento suaviza
E a vida vira uma prece.

 Octávio Caúmo Serrano 

in ‘Trovas da Codificação” 
(1ª Ed Sal da Terra  1998)



quinta-feira, 1 de março de 2012

No Exercício da Palavra



No exercício da palavra

Tu, porém, prega o que esteja em harmonia com a sã doutrina. 
– Paulo (Tito – 2:1)

          Dizem os sábios da Antiguidade: És senhor da palavra que não disseste e escrevo da que proferiste.

          Sendo assim, cuida bem de teus discursos.

          Há palavras que, embora nascidas de bons intentos, surgem revestidas com o fel do azedume, criando em quem as ouve a sensação de angústia.

          Outras há que expressam a justiça, mas surgem revestidas com o fel do azedume, criando em quem as ouve a sensação de angústia...

          Outras há que expressam a justiça, mas surgem envolvidas no véu escuro das cobranças, criando em quem as registra, o sentimento de culpa...

          Outras, ainda, aparentam concordância, mas chegam recheadas de dúvidas, dando origem à desconfianças.

          Alerta, igualmente, para a tua voz, a fim de que ela não se apresente como um ingrediente avinagrado, descaracterizando a tua mensagem de estímulo ou de concórdia.

          Observa o momento em que falas, para que não se torne em fator de repulsão, porquanto para tudo há um momento certo.

          Toma, por princípio, a vigilância, procurando analisar como te sentirias interiormente, se fossem os teus ouvidos que assinalassem o que teus lábios lançam nos ouvidos alheios.

          Mede as conseqüências do que pretendes dizer,  para que o arrependimento não te surpreenda mais adiante, arrancando-te lágrimas de compunção.

          Domina o teu primeiro impulso, evitando que, pela precipitação, não venhas a destruir o valor do que tens a dizer.

          Reflete antes, fala depois.

          Calar é sempre melhor, quando não conseguires conter teu pensamento nem clarificar teu sentimento.

          Falar, sim, mas apenas como recomenda a sã doutrina, isto é, só falar quando seja o Amor que nos inspire, levando quem nos ouve aos caminhos da Paz.
         
                                                                                        Icléia (Espírito) (1996)
                                                                 in “Evangelho e Vida” – Diversos Espíritos –
(Ed. Lar de Tereza RJ RJ)






1 de Março


01 Março


  Quem ama não conta mágoas
E nem procura entende-las,
Tem a cabeça no mundo
E o coração nas estrelas...


 Pedro Silva 

por Chico Xavier
in ‘Reformador”  (FEB) Outubro 1970