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terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Leviana afirmativa

 


Leviana afirmativa

Percival Antunes (Indalício Mendes)   Reformador (FEB) Julho 1963

             Parece inacreditável, pelo absurdo contido na afirmativa sem dúvida alguma inverídica, que alguém ousasse dizer que os líderes espíritas pregam o ódio. Entretanto, isso tem sido dito pelo rádio com o evidente propósito de fazer crer, àqueles que desconhecem o verdadeiro ambiente kardequista, que a moral evangélica é para nós um mito. Ora, quem prega o ódio não é de modo algum espírita.

            A nossa religião é visceralmente democrática.

            Aceita qualquer pessoa, sem cogitar do seu passado, do seu presente, da sua nacionalidade, do seu idioma, da sua raça e da cor da sua pele ou se é física ou mentalmente perfeita ou imperfeita. A todos acolhe com o mesmo espirito fraterno, procurando atender a quantos a procuram, em busca de uma esperança ou atrás de um lenitivo. É uma religião universalista, se assim podemos dizer, que se preocupa exclusivamente com os problemas humanos em face do Espírito, mostrando ao homem os seus deveres morais e espirituais, as suas obrigações terrenas, os meios de alcançar o aprimoramento indispensável à sua ascensão na escala evolutiva.

            O Espiritismo não faz seleções, não envereda pelo tortuoso caminho das discriminações. Sua ação acolhedora se exerce principalmente sobre aqueles que se mostrem mais retardados na pauta da evolução moral. 0s sãos não precisam de assistência, mas os enfermos. É natural, portanto, que pessoas que vieram para a nossa religião, egressas de outros credos ou sem credo algum, ainda não tenham podido assimilar bem os ensinamentos do Espiritismo e, assim sendo, às vezes se manifestem descaridosamente a respeito de outras criaturas com as quais não tenham afinidade de nenhuma ordem superior.

            Todavia, a afirmativa de que são líderes espirituais que pregam o ódio é mais específica. Se há alguém que se rotule de líder e proceda assim, está “ab initio” provando que não é líder de coisa alguma. Ninguém que possua qualquer parcela de responsabilidade real, dentro do movimento espírita kardequista, será capaz de abrigar sentimentos tão rasteiros, que anulam a mais mínima presunção de respeito à Doutrina codificada por Allan Kardec. E quem o faça, não é espirita.

            É sempre perigosa, pelas injustiças que produz, a generalização de conceitos dessa natureza. Não desejamos remontar à origem de uma asserção tão leviana, mas apenas lamentar que se busque combater o Espiritismo e os espíritas com processos incompatíveis com os mais corriqueiros princípios da verdade. Já o iluminado Léon Denis, em “O Problema do Ser, do Destino e da Dor”, obra maravilhosa que ninguém deve deixar de reler, pontifica Somos o que pensamos, com a condição de pensarmos com força, vontade e persistência. Mas, quase sempre, nossos pensamentos passam constantemente de um a outro assunto. Pensamos raras vezes por nós mesmos, refletimos os mil pensamentos incoerentes do meio em que vivemos. Poucos homens sabem viver do próprio pensamento, beber nas fontes profundas, nesse grande reservatório da inspiração que cada um traz consigo, mas que a maior parte ignora. Primeiro que tudo, é preciso aprender a fiscalizar os pensamentos, a discipliná-los, a imprimir-lhes uma  direção determinada um fim nobre e digno.          

            “A fiscalização dos pensamentos implica a fiscalização dos atos, porque, se uns são bons, os outros sê-lo-ão igualmente, e todo o nosso procedimento achar-se-á regulado por uma concatenação harmônica. Ao passo que, se nossos atos são bons e nossos pensamentos maus, apenas haverá uma falsa aparência do bem e continuaremos a trazer em nós um foco malfazejo, cujas influências mais cedo ou mais tarde se derramarão fatalmente sobre nossa vida.”

            Pior ainda é o processo de alguém procurar valorizar suas próprias opiniões à custa de afirmações malevolentes e sem fundamento.

            Léon Denis pondera com segurança: “o homem só é grande, só tem valor, pelo seu pensamento.”


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