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quinta-feira, 4 de abril de 2019

Palavras de Ocasião



Palavras de Ocasião
Editorial
Reformador (FEB) Setembro 1919

            Há manifesto engano em Supor-se que do conjunto de regras ditadas pelos Espíritos, formando um corpo de Doutrina que se denomina A Terceira Revelação, possa originar-se um sectarismo religioso na acepção vulgar do conceito, reivindicando para si exclusivamente a posse da Verdade Absoluta e, por ela e com ela, o absoluto domínio das consciências.

            Esse conceito é tanto menos autorizado quanto, o caráter da Revelação Espírita já aplicado ao aclaramento do passado, já adstrito à observação do presente, já pressuposto à sequência do futuro e afirmou desde logo indefinidamente progressivo e capaz, portanto, de satisfazer sem limites de tempo e condição ás consciências mais exigentes e perquiridoras.

            Ao espírito evoluído que, porventura houvesse atingido a meta dos conhecimentos possíveis, no estado desta nossa humanidade, não faltariam intuições perceptivas de mais dilatados planos sem infirmação das leis básicas que decalcam a vida universal, expostas na Doutrina Espírita.

            Em outros termos dizendo: com os elementos de ponderação e experimentação que lhe oferece o Espiritismo, o homem pode realizar todas as aspirações da inteligência e do coração, sem necessidade de teorias novas que, todas por bizarras e minudentes, por complicadas e sibilinas, não teriam a única vantagem que as poderia justificar o entendimento e melhoramento das massas.

            Porque o ascendente da Verdade não está, pensamos nós, na sua individualização como património de inteligências privilegiadas regredindo à meia luz dos Templos com iniciações misteriosas e difíceis, mas na sua singeleza e naturalidade, no seu poder de generalização, ao alcance relativo de todos os homens de boa vontade.

            Assim, aquilo que se justificaria no passado, formando a parte esotérica de todos os cultos, já se não casa com o espírito da nossa época de universalidade e comunismo de ideias.

            O Espiritismo veio justamente combater e abrogar privilégios dogmáticos, ensinando a todos os homens que eles podem e devem ser por si os artífices da sua evolução para Deus e que essa evolução se faz com amor e por amor, à revelia de quaisquer doutrinas, cultos e teogonias.

            Na sua doutrina se encontra a razão de todos esses cultos, que o espirita consciencioso lastima quando inutilmente praticados e tem obrigação de tolerar quando, devocionalmente seguidos, fazem a relativa felicidade dos seus sectários.

            Não vemos, destarte, razão para assinalados esmorecimentos e defecções apadrinhados ao conceito de que a nossa doutrina não tem progredido, produzindo maior derrama de luz nas consciências, e, de modo geral, aquela elevação de nível moral que é o seu mais legítimo apanágio.

            Os que assim pensam, esquecem que essa elevação só pode ser feita parcelada e seriadamente dentro da lei de afinidade, e, portanto, também só deve ser julgada de conjunto, com vistas ao plano de evolução planetária, que não de individualidades ou grupos subsidiários esparsos, e, - porque não dize-lo? -muitas vezes desviados do seu objetivo, por efeito dessa outra lei de liberdade, que é licito esclarecer antes que malsinar, por isso que as suas aberrações, parecendo maléficas, tem a virtude de melhor contrastar a Verdade, como a sombra que melhor realça os efeitos da Iuz.

            Revelações novas, ampliações das existentes também quereriam aqueles que estão julgando improfícua a fórmula espírita para o progresso das almas...

            Mas, perguntamos: que novos problemas se defrontam à consciência humana que não possam ser resolvidos por essa fórmula? A existência de Deus, acaso a Teosofia melhor a define?

            A Vida, o Cosmos, através dos atuais conhecimentos científicos serão acaso e alhures melhor definidos do que na cosmogonia espírita?

            E que o fossem, perguntaríamos ainda: conhece a humanidade na sua maioria a Revelação Espírita e, conhecendo-a, está apta para tirar dela os proveitos de ordem intelectual e moral que lhe são consentâneos?

            Pensamos que não, absolutamente e o que se verifica é que há um pouco por toda parte, incompreensão dos superiores desígnios doutrinários.

            A isto poder-se-ia objetar que os Espíritos desencarnados deveriam corrigir anomalias e deturpações, suprindo e completando as deficiências humanas.

            É verdade e eles o fazem, mas dentro da ordem natural, sem violentar jamais as consciências.

            Nem o Espiritismo se resume na manifestação singular de Espíritos sapientes e bons, mas na de todos os Espíritos no plano de evolução planetária, para que cada qual tire dela o melhor partido compatível com a sua inteligência.

            Antes, portanto, de atribuir lacunas ao Espiritismo, importa investigar até que limite de critério são levados o seu estudo e a sua prática.

            A nós, em que pesem todos os desvios de um empirismo apaixonado, não nos chegou, nem chegará - esperamos em Deus - a vez de trocar os seus ensinamentos lógicos, simples e claros, a manifestação dos Espíritos concorde com a tradição de todos os tempos, a perspectiva consoladora de uma ascenção indefinida mas reta, a afirmação ostensiva de uma solidariedade original e final pelas tortuosidades de sistemas filosóficos outros que, afora a confirmação do fato espírita, velho quanto o mundo, nada mais nos oferecem de sólido com a só engenhosa textura de hipóteses sobre hipóteses.

            Se a Doutrina Espírita tão clara, tão simples, tão lógica, ao demais comprovada por fatos, não tem produzido benefícios de ordem moral-social mais intensivos, quer isto apenas dizer que a maior parte dos espíritas ainda permanece incapaz de praticá-lo estreme (limitado por) de seus pessoais prejuízos e terrenas convenções.

            O mal, a falha, o defeito, estão no homem e não na doutrina.

            Melhora-lo a ele - homem – pela difusão dos verdadeiros princípios dela -Doutrina, é o que compete aos legionários esclarecidos, opondo sólido dique a essa avalanche de personalismo a cuja sombra o espírito das trevas edita e lança a semente da separatividade com o rótulo fulgurante de novas escolas filosóficas, cheias de presunções científicas, mas, em tese, baldas de amor.

            Estas simples considerações são de molde a provar que o ideal espírita ainda está por concretizar-se na prática, prática essa que, para corresponder ao espírito superior da Revelação, corroborado constantemente pelos nossos Guias, depende da reforma moral do homem...

            Esta reforma, nós a propugnamos aqui em moldes que não podem ser excedidos, por vazado nos Evangelhos de Jesus.

            Havendo-O por Único Mestre e Senhor, sentimo-nos bem para ficar onde estamos e aplaudir quantos não importa sob que bandeira, o buscarem com sinceridade.

            O nosso lugar, porém, queremo-lo definido com todas as responsabilidades decorrentes da consciência felicitada pelo cumprimento de um dever sagrado, no máximo esforço da Fé, da Esperança e da Caridade.

            Estudantes do Evangelho em espírito e verdade, não nos surpreendem nem alarmam essas flutuações da consciência humana, até que chegue o dia de seu pleno advento para este mundículo que habitamos.

            É que lá,  naquelas páginas do Mestre Incomparável, encontramos estas significativas palavras: haverá profetas e falsos profetas, e mais - felizes dos que perseverarem até o fim.  


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