Pesquisar este blog

sexta-feira, 19 de abril de 2019

Autodomínio



Autodomínio
por Vinícius  (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Janeiro 1952


"Pela paciência possuireis as vossas almas."

            Os homens incidem em muitas faltas e cometem mesmo delitos graves, não propriamente por maldade ou instintos perversos, mas por fraqueza. Após consumado o ato pecaminoso, advêm naturalmente as consequências funestas, as quais, recaindo sobre o agente, despertam-lhe o senso de responsabilidade fazendo refletir sobre o sucedido.

            Se o indivíduo já possui certa dose de discernimento, tira das primeiras experiências a devida lição, precavendo-se para o futuro. Caso contrário, as quedas se repetem em caráter progressivo, agravando suas condições, precipitando-o, de ruína em ruína, às profundezas do abismo, de onde não sairá senão mediante inauditos e penosos esforços.

            Conhecedor desses percalços relativos aos vários processos de operar-se a evolução humana, o sábio Mestre de Nazaré preconiza o culto da paciência, virtude essa mediante a qual o homem chega a possuir-se a si mesmo, realizando, destarte, a maior das conquistas, aquela que lhe assegurará, a vitória sobre os arrastamentos da matéria e de todas as paixões inconfessáveis que procedem da animalidade.

            Paciência é perseverança, é ânimo sereno nas contingências difíceis, é energia moral capaz de nos manter equilibrados diante das conjunturas adversas, sejam elas quais forem. Tais predicados só se logra mediante a educação da vontade, metódica e continua, esse atributo do espírito, infelizmente, muito desdenhado em nosso meio.

            É comum vermos os indivíduos irritarem-se e até mesmo perderem de todo a compostura, alegando em seguida que tiraram-lhe a paciência, ou, então, que esta se esgotou em vista de certo conjunto de circunstâncias em que se acharam envolvidos.

            A justificativa invocada, no entanto, não procede. Paciência é autodomínio, condição esta que, uma vez adquirida, não se esgota, nem é possível perder-se. O impaciente, o irritadiço é um fraco cuja vontade não prevalece sobre os desejos desordenados e sobre os gestos impulsivos.

            É lamentável que deixe de figurar nos programas oficiais de ensino a educação da Vontade, assim como a instrução cívica e moral.

            Mas, ainda mais lamentável é a lacuna que se verifica em nosso setor de divulgação propaganda doutrinária, onde pouco se tem cogitado da criação de escolas e educandários espíritas ao lado das obras de assistência social, tão justificada e carinhosamente cuidadas, quando aquela é a modalidade por excelência dentre todas as demais. Esse descuido explica o motivo por que o Espiritismo vai, dia a dia, estendendo-se em superfície sem ganhar profundidade.

            No entanto, já é tempo de considerar que as ideias e as doutrinas são como as plantas: enquanto as raízes não aprofundam o solo onde nascem, não oferecem estabilidade nem podem assegurar messes promissoras.

*

            Quanto ao subido valor do autodomínio, vamos transcrever, como fecho desta crônica, as palavras de Amado Nervo:

            "Se volveres os olhos aos que te cercam; se souberes contemplá-los, verás que alcançaram alguns bens, alguns aparentes favores da vida, porém que nenhum logrou o bem por excelência, a saber - a conquista de si mesmo. Este deseja, aquele se encoleriza, outro está escravizado a certos vícios.
            Eu mesmo, que ora escrevo sobre o assunto, não tenho conseguido aquela conquista.
Se tu puderes realizá-la, se fores senhor absoluto de ti mesmo, já nada mais te será difícil.
            Onde puseres teus intentos, a obra se consumará. Onde semeares tua vontade, o milagre se produzirá.
            Queres ser rei e o serás, certamente. Queres ser milionário, e o serás. Queres possuir o mundo e o possuirás!
            Porém, seguramente, uma vez que tenhas conseguido a plena posse de ti mesmo, já nada desejarias e terias um imenso desprezo por todas aquelas coisas!"

Nenhum comentário:

Postar um comentário