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quarta-feira, 24 de abril de 2019

Árvore boa não dá maus frutos



Árvore boa não dá maus frutos
Redação 
Reformador (FEB) Janeiro 1952

            Feliz é o semeador que entrega à generosidade da terra a boa semente porque todas as ansiedades da espera da farta colheita se transformam nas alegrias puras que felicitam o trabalho bem concluído. Augusto Elias da Silva, fotógrafo profissional, homem de fé, cujo Espírito vivia banhado nas águas límpidas do Evangelho do Cristo, lançou a semente da esperança no solo fecundo do seu coração. E, em Janeiro de 1883, a semente germinou, surgindo, a 21, o “Reformador”, que agora entra no seu septuagésimo (70º) ano de existência ininterrupta e proveitosa, podendo, destarte, ser qualificado como um dos vanguardeiros da nova Revelação em terras de Santa Cruz. É árvore forte, frondosa e cheia de frutos opimos (produtivos). À sua sombra amiga se acolhem aqueles que desejam festejar a alma com a leitura de trechos sadios, em que o Evangelho se expande através de comentários adequados, onde a Doutrina de Kardec se dissemina em artigos lúcidos e em ensinamentos de Roustaing contribuem para auxiliar e esclarecimento dos homens de boa vontade.

            Quando o “Reformador” começava de alvorecer, numa época de agressiva intolerância, o ultramontanismo tornava temerária qualquer iniciativa de natureza espírita. Mas Augusto Elias da Silva, compreendendo embora a enorme responsabilidade do seu cometimento, decidiu-se a enfrentar a situação, clarins à frente, inspirado tão somente pelo Alto, fundou o “Reformador” e transformou seu atelier fotográfico, localizado no segundo andar do prédio nº 120 da rua da Carioca em redação, sendo interessante assinalar que neste mesmo local é que a FEB nasceu e viveu cerca de um quatriênio.

            “Órgão Evolucionista” é como se subintitulava o novo periódico, cujo primeiro artigo de fundo, datado de 20 de Janeiro de 1883, principiava com a seguinte aleluia: “Abre caminho, saudando os homens do presente, que também o foram do passado e ainda hão de ser os do futuro, mais um batalhador da paz: - o REFORMADOR”.

            Esta folha espírita não caíra em terreno sáfaro (agreste): encontrou simpatia e foi levando aos lares, a toda a parle, a sua palavra serene, fundamentada na ordem e inspirada no Evangelho à luz do Espiritismo. A elevação dos seus argumentos, a coragem tranquila dos seus comentários, asseguraram-lhe lugar de relevo na imprensa do País. Tornou-se uma voz ponderável na Campanha abolicionista afirmando, então, que a nenhum espírita era concedido o direito de ser senhor de escravos. Não sancionava a secular política da acomodação com os poderosos, esse “toma-lá-dá-cá” acomodatício iniciado com Constantino e mantido até aos nossos dias.

            Desfraldando a bandeira imaculadamente branca do Espiritismo cristão, demonstrando que a paz entre os homens pode ser obtida através do Evangelho, Augusto Elias da Silva fez do “Reformador" um bastião da justiça e do amor, e apontou, a escravidão como ofensa aos princípios de fraternidade contido na palavra eterna de Jesus. Não se intimidou com o reacionarismo dominante, porquanto se sentia a serviço do mestre, reivindicando para os escravos o direito a tratamento humano e concitando os homens de consciência a se desfazerem da malsinada herança. E o “Reformador” foi ganhando forças, empenhado na luta incruenta da propaganda doutrinária, da reforma interior do homem, luta que continua e continuará porque a obra de esclarecimento e orientação da Humanidade não para, pois que a vida é imortal. Sob esse ponto de vista, sempre publicou e publica, em todos os números, trabalhos originais ou em traduções caprichadas, versando sobre assuntos essencialmente doutrinários, sob o tríplice aspecto do Espiritismo, ao mesmo tempo inscrevendo os fatos mais assinaláveis que possam contribuir para a comprovação e propaganda da Terceira Revelação, cujo principal objetivo – repetimos - é a reforma moral do “homo sapiens”.

            "Reformador" teve influência decisiva na fundação da Federação Espírita Brasileira que surgiu um ano depois, isto é, em 1884. Coube a esta, juntamente com aquele importantíssimo papel na difusão da Doutrina Espírita no Brasil, lembrando-se que Augusto Elias da Silva foi entre os encarnados dos que mais trabalharam pela criação da Casa de Ismael, de cuja primeira diretoria fez parte, como tesoureiro, ao lado do Marechal Ewerton Quadros, como presidente. Imediatamente doou este órgão à F. E. B. que fez dele o divulgador do seu pensamento e o espelho de sua orientação doutrinária. Tamanho foi o desprendimento e tão grande a dedicação desse confrade, que “Reformador” firmou posição destacada no movimento espiritista nacional. Em suas páginas, vultos venerandos e respeitáveis do Espiritismo daqui e d'além-mar têm feito ouvir suas lições, seus conselhos, suas advertências.

            Ao desencarnar, em 1908, quando contava 52 anos de idade, Augusto Elias da
Silva havia cumprido seu dever de homem espírita-cristão e foram muito justas as palavras publicadas no “Reformador”, recordando a personalidade do companheiro inesquecível: "Sacrificou os seus interesses pessoais, a sua saúde, as suas comodidades, só tendo uma ambição: ver prosperar, com a nossa Sociedade, a Doutrina que lhe dera origem”.

            O transcurso de mais uma etapa, na existência humana, significa maior responsabilidade para o futuro. No caso "Reformador”, que segue uma diretriz determinada pela ética espirita, a responsabilidade cresce progressivamente, a cruz se torna mais pesada mas, em compensação, aumenta a fé que nos anima ao trabalho, pois que estamos realizando, na medida das nossas modestas possibilidades, o máximo esforço para alcançar a convicção de que cumprimos nosso dever de espíritas-cristãos, de discípulos de Jesus.

            “Reformador”, não há negar, tem oferecido leitura atraente, variada e instrutiva aos que cuidam de dilatar sempre mais seus conhecimentos do Espiritismo e de acompanhar a evolução dos ensinos e das revelações inicialmente coordenados pelo insigne missionário - Allan Kardec.

            Em suas páginas, coincidências ávidas de novo entendimento em matéria de crença têm encontrado o roteiro que as levou a esse entendimento, e corações aflitos e chorosos descobriram um oásis de consolação e conforto.

            Bem disse o Cristo: Uma árvore boa não pode dar maus frutos...

            Que Ismael, das sublimes alturas, não cesse de regar esta árvore boa, que é o “Reformador”, a fim de que ela continue a frutificar Verdade e Amor em abundância.

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