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quarta-feira, 17 de abril de 2019

Mediunidade mercenária



Mediunidade Mercenária
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1952

            É estranha a moral seguida por alguns médiuns que advogam a remuneração do trabalho mediúnico. Atribuem-se um direito falso, ilógico e ao mesmo tempo perigoso. Regra geral são Indivíduos sem orientação evangélica e doutrinária, expostos a desagradáveis surpresas da parte de espíritos de evolução retardada. Por seu turno, expõem também aqueles que se valem do seu serviço mediúnico a desapontamentos e riscos. Vale a pena insistir neste ponto: "Os médiuns atuais - pois que também os apóstolos tinham mediunidade - igualmente receberam de Deus um dom gratuito: o de serem intérpretes dos Espíritos, para instrução dos homens, para lhes mostrar o caminho do bem e conduzi-los à fé, não para lhes vender palavras que não são frutos de suas concepções, nem de suas pesquisas, nem de seus trabalhos pessoais. Deus quer que a luz chegue a todos; não quer que o mais pobre fique dela privado e possa dizer: Não tenho fé porque não a pude pagar; não tive o consolo de receber os encorajamentos e os testemunhos de afeição dos que pranteio, porque sou pobre. Tal a razão por que a mediunidade não constitui privilégio e se encontra por toda parte. Fazê-la paga seria, pois, desviá-la do seu providencial objetivo." (Allan Kardec, O Evangelho segundo o Espiritismo)

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            Por vício de educação moral ou doutrinária, os médiuns que procuram compensação material pelo desempenho do trabalho mediúnico, semelham-se aos traficantes de coisas santas, aos simoníacos que realizam atos parecidos com a troca de santos por dinheiro, como se a simples omissão do vocábulo "vender" expungisse de pecado a ação lamentável. Querem contundir a ação profissional do magnetizador ou do hipnotizador, com a ação realmente mediúnica. É sofisma. “O magnetizador dá o seu próprio fluido, por vezes até a sua saúde. Pode por-lhe preço. O médium curador transmite o fluido salutar dos bons Espíritos: não tem o direito de vendê-lo. Jesus e os apóstolos, ainda que pobres, nada cobravam pelas curas que operavam" (ob. cit.). “A mediunidade séria não pode ser e não o será nunca uma profissão, não só porque se desacreditaria moralmente, identificada para logo com a dos ledores da boa sorte, como também porque um obstáculo a isso se opõe. É que se trata de uma faculdade essencialmente móvel, fugidia e mutável, com cuja perenidade, pois, ninguém pode contar" (ob. cit.).

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            Exemplos inúmeros de médiuns que realizaram curas sensacionais temos tido neste país. Não importam nomes, porquanto os fatos estão na memória de todos, muitos dos quais recentíssimos. Centenas de pessoas buscaram cura para os seus males, desde as mais .humildes às mais abastadas, No começo, os médiuns cumpriram razoavelmente sua tarefa; depois, solicitados de todas as partes, cederam alguns à tentação da recompensa material, e não tardaram a ficar desmoralizados. Um deles, após um período de êxito sensacional, passou a mistificar, na ânsia de recolher dinheiro, mais dinheiro. Para justificar tal ação, alegava que eram muitos os consulentes, de modo que não tinha sequer tempo para tratar da própria subsistência. Assim, para atender os que necessitavam da “sua” proteção, sacrificava as horas que antes dedicava ao trabalho e levava da manhã à noite “mediunizado”, recolhendo moedas e distribuindo “milagres”. Tempos depois, coitado, andava por ai, ao léu, carpindo a provação decorrente dos erros praticados...
  
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            Jesus condenou até as “preces pagas”. Lá está no Evangelho: "Restituí a saúde aos doentes, ressuscitai os mortos, curai os leprosos, expulsai os demônios. “DAI GRATUITAMENTE O QUE GRATUITAMENTE HAVEIS RECEBlDO”. Disse em seguida a seus discípulos, diante de todo o povo que o escutava: "Precatai-vos dos escribas que se exibem a passear com longas túnicas, que gostam de ser saudados nas praças públicas e de ocupar os primeiros assentos nas sinagogas e os primeiros lugares nos festins: que, A PRETEXTO DE EXTENSAS PRECES, DEVORAM AS CASAS DAS VIÚVAS. Essas pessoas receberão condenação mais rigorosa”. Daí se depreende que as preces pagas são uma forma de simonia (compra ou venda ilícita de coisas espirituais (como indulgências e sacramentos) ou temporais ligadas às espirituais (como os benefícios eclesiásticos). Que devemos fazer, portanto, nós, espíritas? - Evitar a deturpação dos nossos princípios doutrinários por hábito ou práticas originárias de outros credos, que se desprestigiaram justamente por haverem fugido dos preceitos estabelecidos por Jesus.

            Espiritismo é Espiritismo, apenas Espiritismo, Tem Doutrina, tem normas de trabalho, tem orientação definida. Há inovadores sem formação doutrinária, sem critério evangélico, que desejam granjear aplausos de pessoas ainda não esclarecidas. Eis porque se torna indispensável, em todos os conglomerados espíritas, a cultura evangélica, o estudo metódico e raciocinado do Evangelho, a par de um conhecimento cada vez mais profundo e inteligente dos ensinos básicos da Doutrina dos Espíritos.


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