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sábado, 21 de fevereiro de 2015

A Negação de Pedro



A Negação de Pedro
Martins Peralva
Reformador (FEB)   Abril  1956

"Mas Pedro negava, dizendo:
Mulher, não o conheço."
Lucas, 22 :57.

            A negação de Pedro, o venerando apóstolo galileu, contém em si mesma um dos mais expressivos ensinamentos do Evangelho.

            É acontecimento que não deve ser considerado por acidental dentro das narrativas evangélicas, merecendo, por isso, acurada meditação de quantos se interessam pelo estudo da Boa Nova do Reino.

            Todos sabem como se deu a ocorrência, sendo desnecessários, portanto, os pequenos detalhes da recapitulação.

            Foi nas horas finais da presença tangível do Divino Emissário na paisagem terrestre, quando, desprezado por quase todos, buscava no martírio e na coroa de espinhos o combustível com que acenderia para toda a Humanidade planetária a luz da redenção espiritual.

            Apontado, três vezes, como um dos acompanhantes do Senhor, o velho Cefas, receando represálias de romanos e judeus, afirmou, referindo-se ao Divino Crucificado: “Não o conheço”.

            A negação de Pedro, antes de tudo, “serve para significar a fragilidade das almas humanas”, conforme acentua Emmanuel, ao focalizar o episódio.

            É, também, um convite a que estejamos sempre em vigilância, guardando sincera humildade, não pretendendo ultrapassar o âmbito de nossas possibilidades, não querendo ser o que na verdade não somos.

            A negação de "Pedro induz-nos a situarmo-nos na condição espiritual que nos é própria.

            Lembra-nos, claramente, as nossas fraquezas e o perigo a que, pelas imperfeições de nossas almas, estamos frequentemente sujeitos.

            Nenhum dos apóstolos foi maior, na dedicação, do que Pedro.

            Amava profundamente o Mestre e nenhum dos companheiros o superou na fé e na humildade.

            Nenhum era mais prudente e sensato do que o rústico pescador de Cafarnaum.

            Permanecia sempre ao lado do Senhor, zeloso e devotado, ouvindo-lhe dos próprios lábios lições edificantes; todavia, nos últimos instantes, exatamente quando Jesus sofria a incompreensão geral, Pedro, amedrontado e bem humano, declara: “Não o conheço!”

            Ora, se Pedro, o Príncipe dos Apóstolos, sendo mesmo aquele a quem o Mestre diria, depois, reabilitando-o amorosamente: “Se me amas, Pedro, apascenta as minhas ovelhas”, se o valoroso pescador da Galileia negou o Cristo no extremo, que esperar-se de nós, que não privamos do convívio pessoal e tangível do Mestre?

            A lembrança da negação de Pedro, registrada pelos evangelistas, evitar-nos-á uma série de atitudes incompatíveis com a humildade cristã: seremos menos vaidosos, não teremos a pretensão de ser os ‘maiores’, não sobreestimaremos as nossas possibilidades no campo das edificações espirituais.

            Sobretudo, não entronizaremos o coração na ilusória torre que o nosso milenário orgulho costuma construir.

            A negação de Pedro será, no curso dos séculos, uma espécie de: “olha para dentro de ti mesma, criatura humana e frágil; vê a tua indigência espiritual e entrega ao Pai Celestial a autoria de todas as boas obras que consegues materializar na Terra!


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