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domingo, 13 de outubro de 2013

A Deus e a César

Júlio César


A Deus e a César
Editorial
Reformador (FEB) Novembro-Dezembro 1974

            Pelo menos alguma coisa diferente da craveira comum os espíritas são chamados a fazer na Terra, numa demonstração mínima de que o Evangelho, entendido em espírito e verdade, é apelo para que ele entranhe em si a noção precisa de que é um Espírito encarnado, valendo-se temporariamente dos bens materiais e transitórios com o precípuo objetivo de incorporar definitivamente em seu patrimônio íntimo os bens eternos e imperecíveis.

            A posição acomodatícia do meio termo não resolve a questão, como aquela dos que se escudam na lição evangélica do “dai a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus”, para justificar o desfrute das posições de relevo no mundo sem detrimento do gozo das coisas celestiais. Meditado à luz dos esclarecimentos da Doutrina Espírita, esse mandamento faz apenas perceber que o homem deve atender com diligência as exigências que fazem parte, normalmente, do programa de reabilitação espiritual que o traz ao palco do mundo. Mas, atender não quer dizer entregar-se, nem muito menos disputar. A palavra do Evangelho deve levar ao desprendimento das coisas terrenas, a entendê-las como meios abençoados para alcançar os fins implícitos na imortalidade. Ninguém pode servir a dois senhores, ou porque aborrecerá a um e amará a outro, ou porque se devotará a um e desprezará o outro; isto é, ninguém pode servir a Deus e às riquezas, ao mesmo tempo. Ou serve a Deus, ou serve a César.

            Tais reflexões se apresentam muito oportunas nesta hora em que o país realiza mais uma etapa inerente ao processo de governança das coisas de César, visto que o espírita, atento ao mandamento evangélico, há que desincumbir-se prudentemente não só dos direitos como das obrigações que a condição de cidadão lhe confere, buscando concorrer na escolha daqueles que se mostrem os mais dignos a exercerem os mandatos eletivos no país. Porém, atento igualmente à recomendação de não servir às riquezas, há de abster-se de crer que sua profissão de fé se constitua em título honorífico para candidatar-se a semelhantes postos, e de pensar que o exercício de cargos de mando sejam galardões para a Doutrina.

            Os mentores espirituais tem sido de clareza meridiana, quando dizem que trocar a missão da Doutrina “por um lugar no banquete dos Estados é inverter o valor dos ensinos, porque todas as organizações humanas são passageiras”. Não é que ao espírita esteja vedado assumir responsabilidades nas administrações transitórias do mundo; porém, ele não deverá perder de vista que a realização definitiva e real somente se processa dentro dos padrões do Evangelho e, portanto, “não deve provocar uma situação de evidência para si mesmo”. Desse modo, quando alçado a ela, por “força das circunstâncias, deve aceitá-la como provação imperiosa e árdua, onde todo êxito é sempre difícil”.

            Não é difícil concordar com essas ponderações, pois realmente o Espiritismo não veio para dotar seus profitentes de habilitações que lhes facultem o senhorio do mundo, mas sim “para vencerem o mundo”. E se se inflamarem da pretensão de consertar o mundo, mais imperioso se torna recordar que a missão da Doutrina é consolar e instruir, ensejando a iluminação das consciências.

            Jamais a política do mundo para a iluminação de qualquer consciência, nem o Espiritismo veio forjar “políticos espíritas”. Ao revés, o que é necessário é a formação de “espíritas políticos”, capazes de porem em função a política de Deus...



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