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sexta-feira, 26 de junho de 2020

O Batismo


O Batismo
Redação 
Reformador (FEB) 16 Janeiro 1919

            “- Em verdade em verdade te digo: se um homem não renascer pela água e pelo espírito, não pode entrar no reino de Deus. João, Cap. 11, v.5.

            Foram estas as palavras do Divino Mestre a Nicodemos, que serviram e ainda servem de fulcro à cerimônia que a Igreja Católica instituiu como sacramento imprescritível.
            Nisto, aliás como em tudo que forma o seu cânon, para não falir à a regra de todos os tempos, os teólogos sectários sacrificaram à letra que mata o espírito que vivifica.
            E da exegese apaixonada e tendenciosa surdio (surda?), então, como flor de estação fria, e nebulosa, em sentido inverso, inexpressivo e túrbido (sombrio) o conceito da salvação da alma numa graça toda eventual, subordinada a fórmulas de certo valiosas ao tempo de sua instituição, pelo simbolismo que representavam, mas que hoje perderam, inteiramente, a sua razão de ser.
            Entretanto, da mais rigorosa ortodoxia eclesiástica é a afirmativa de que Deus cria a alma para o corpo que ela deve habitar em uma existência única.
            Não se compreende assim, como da Onisciência Divina possa originar-se um ser inquinado de mácula e, ao demais, desigual ao infinito nos seus predicados essenciais de reabilitação.
            Pecado original?         
            Mas, para admiti-lo como pontifica a Igreja, fora de mister renunciar em bloco àquelas palavras outras do mesmo Cristo no versículo seguinte ao supracitado, que
dizem:

            “o que é nascido da carne é carne e o que é nascido do espírito é espírito.”  

            Logo, portanto, a quem estuda os Evangelhos sem o prejuízo dogmático que tudo relega ao cômodo e absurdo magister dixit, (o mestre o disse) é lícito concluir que não responde o corpo por faltas do espírito, se faltas se pudessem atribuir a este, hereditariamente, quando ex-abrupto (sem preparação) criado à revelia de toda a vontade e consciência próprias.
            Que, dentro das leis biológicas, a hereditariedade seja um fato e o fato comprovado pela ciência, admite-se; mas, que ao espírito inédito, abrolhado à vida por um mistério insondável da Onipotência Divina se irroguem faltas a priori, é coisa que mal se concebe, ou antes que só se pode conceber pela frivolidade de consciências acomodatícias e negligentes no encararem estes problemas transcendentais.  
            A cada época o seu ensino, em linguagem equivalente à sua cultura moral e cientifica, eis o que nos dizem agora os portadores da Boa Nova.
            O Precursor batizava em água, preparando a geração do seu tempo para a compreensão do batismo do espírito em nossos dias.
            E se assim o fazia, acrescentam, é porque nesse tempo, conformemente com as interpretações científica e, para os Hebreus consoante as tradições da Gênese (1), a água era considerada como princípio gerador dos reinos orgânico e inorgânico.
            De notar é também que, ainda hoje, celebres naturalistas como Haekel e outros consideram a monera, (na filosofia de Haeckel, organismo rudimentar que representa a fase de transição entre o reino vegetal e o animal) princípio vital, como germinativo inerente dos meios líquidos.

            Seria o caso do nihil sub sole novum. (nada de novo sob o sol)

            De qualquer forma, porém, a verdade é que o Batista não levava simbolicamente ao Jordão imbeles (temerosas) criancinhas incapazes de compreender o símbolo.
            Aqueles que aceitavam a sua doutrina - a dos essênios - e pela penitência se propiciavam ao batismo do Espírito, isto é, a receberem O Cristo, ele os batizava entornando lhes água sobre a cabeça para que renascessem por ela e pelo espírito e não do Espírito Santo, como afirma a Igreja alterando o texto original das palavras de Jesus.

                (1) Gênese – C.I 2-6-7-9-10-11-20 e Caps. 11-1-4-5-6-7.

          Mas, admitindo-se que o batismo tal como o praticam as seitas neo cristãs, inclusive o catolicismo aberrante tenha a virtude de expungir o estigma do pecado original inconcebível dentro da lógica e do bom senso, ainda assim, pergunta-se: será cristão aquele que, lavado e ungido no batistério, cria-se na impiedade e degenera em fanático por amor a fórmulas vãs, quando as não renega de todo para ser o homem moderno, armado para todo os triunfos e conquistas de um mundo que O Cristo dizia lhe não pertencer?
            Ninguém de boa-fé o dirá, mas a verdade é que todo o mundo continua a considerar pagão e renegado aquele que se não submete a fórmulas arcaicas e balofas de uma liturgia inexpressiva, embora praticando obras de piedade e tolerância.
            E o que mais contrista é ver que espíritas, confrades nossos, ainda vacilam na conduta que se lhes impõe em relação a respectiva prole.
            Isto significa simplesmente a força da tradição e do preconceito secularmente zelados pelo clero suspicaz (que causa suspeita) e cioso de prerrogativas que se criou de épocas em que elas poderiam justificar-se mas que hoje perderam a sua razão de ser e hão de fatalmente anular-se pela nova ordem de coisas que o Espírito Santo (os espíritos elevados) vêm inaugurar, explicando racionalmente o simbolismo evangélico.
            Chegada é a época ele serem ditas aquelas coisas que o Divino Mestre calou, por não estarem os seus coevos (os de sua época) em estado de as compreender e para elucidação das quais enviaria o Consolador. (1)
                 (1) João Cap, XVI v.12
           
            Vejamos portanto, o que nos dizem os Evangelistas:

            “Assim, renascer pela água quer dizer renascer-se em novo corpo, e renascer pelo espinho o habitá-lo.”
             (2) Roustaing – 3º volume pag. 335               

            Era justamente da pluralidade das existências corporais que Jesus falava veladamente a Nicodemos, e isso que era como é, um fato hoje unanimemente proclamado pelos espíritos, tornou-se uma heresia para os que se atribuíram a investidura única de únicos depositários e intérpretes da ciência divina.

            “Tempora mutantur!” (os tempos estão mudando)

            Hoje ninguém concebe privilégios tais de casta e aptidões graciosas; hoje todo o mundo admite que o homem só pode ser responsável por atos praticados livre e conscientemente, mas prossegue-se na subordinação cega a hábitos e costumes de longada praticados, na mesma inconsciência de há vinte séculos, quando não no temor desse mesmo ódio sectário, que planeou a jornada grandiosa do Calvário.
            Espíritas, compenetremo-nos nós outros de que é preciso haver por oportuna ainda, aquela voz que clamava no deserto o-penite (?).  
            Penitenciar-nos é trabalhar, é estudar, é amar, é praticar os ensinos de Jesus.
            É na exemplificação das virtudes domésticas que importa batizar os nossos filhos preparando-os em tarefa de lapidário paciente para o renascimento do espírito, ou seja para a graduação moral do planeta em melhoradas e sucessivas encarnações.
              Lavar um vaso exteriormente não é modificar lhe a essência.
            As cerimônias de caráter material podem, à rigor, valer relativamente, pela significação moral que lhe emprestamos, mas não modificam substancialmente o espírito, e a prova é que depois de vinte séculos de afusões (banhos), unções e aspersões simbólicas, a humanidade se debate em angústias indefiníveis, lembrando aquele fariseu meticuloso e mesureiro (bajulador), requintado no seu formalismo ortodoxo, mas porejando (exudando) orgulho e vanilóquios (falas destituídas de orgulho).
            Batizemos os nossos filhos em nome do Padre, sim, incutindo-lhes o amor de Deus sobre todas as coisas - em nome do Filho, ainda, lançando -lhe na alma, da mais tenra idade o gérmen do amor do próximo, qual viva expressão de toda a Lei e os Profetas e em nome do Espírito Santo também, preparando-os para receber os espíritos de luz que ora se abatem sobre a Terra em revoadas de graças, para levantar a criatura do volutabro (imundície) das próprias paixões, do pecado original do seu orgulho para a compreensão em espírito e verdade das coisas santas, do Verbo de Deus.
            Tudo que não seja isso será iludir-nos à nós mesmos, com a agravante do acréscimo de responsabilidades decorrentes daquela palavra que diz: muito se pedirá a quem muito se houver dado, e ao que pouco tiver tudo se tirará.
            Aquele espirito austero e cristianíssimo que se chamou entre os homens Bittencourt Sampaio, em uma de suas obras mediunicamente lançadas no Grupo Ismael (4) verberando a indecisão e transigência em matéria, de Fé, reproduz a apostrofe dirigida à igreja de Laodicéia; sei as tuas obras: nâo és nem frio nem quente - és morno.
            Não sejamos mornos também.

            (4) “Do Calvário ao Apocalipse” pag. 230.

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