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sábado, 6 de junho de 2020

Não há morte




“Não há morte”
por G.R.
Reformador (FEB) 1º de Agosto de 1918
             
            Tendo por “devaneio romântico” o estudo evangélico do Espiritismo, ou seja o estudo do Espiritismo como terceira revelação das verdades divinas, como desenvolvimento da revelação messiânica, o ilustre confrade autor da obra cujo título serve de epígrafe a estas linhas não vê no Espiritismo senão uma ciência experimental, que nos revelará todos os seus arcanos pelo processo da experimentação em larga escala, praticada por toda a gente.
            Temos assim que, enquanto com relação às diversas ciências experimentais estudadas, a generalidade dos homens, para lhes conhecer os princípios e as leis e para os aplicar, se contenta com as experiências que realizam os cientistas, aparelhados para as pesquisas das verdades científicas, em se tratando daquela que objetiva a solução do mais grave e mais transcendente problema de quantos se possam apresentar ao espírito humano - o problema da alma, como bem o disse d’Argonnel, todos devemos ser experimentadores. Não nos podem bastar os fatos observados e analisados por outros, sejam estes embora homens superiores pela sua retidão, pelo seu saber, pelas suas virtudes, e menos ainda nos podem bastar, conseguintemente, as leis que os fatos lhes tenham vindo revelar. É indispensável que cada um veja, observe, apalpe, por assim dizer, para acreditar.
            Não logramos perceber o fundamento dessa diversidade de atitudes, uma vez que tanto de um lado como outro, só há “ciência” a ser estudada, desde que não a atribuamos a uma só causa - a atração do maravilhoso, a curiosidade que empolga o homem sempre que diante de si tenha o que quer que lhe dê pasto à imaginação fantasiosa.  
            Bem triste se nos afigura a condição de todo aquele que só acredita no que vê, que escraviza assim a inteligência e a razão, os mais elevados atributos do ser, atributos verdadeiramente divinos, aos seus precários e acanhadíssimos sentidos físicos. Se já não for, acabará sendo escravo do orgulho que o levará à condição miseranda de olhar mas não ver, porque o forçará, para sua satisfação, a dar explicações falsas de tudo o que lhe caia sob as vistas. Outra nunca foi e não é a origem do negativismo materialista, que resistiu sempre e ainda por algum tempo resistirá às provas mais concludentes de seus erros, de sua carência de base; que arquitetou teorias abstrusas e esdrúxulas para explicar o que, muitas vezes, se explica por si mesmo.
            Vence-lo á o Espiritismo, é fora de dúvida, não esse “espiritismo meramente científico”, que não chegamos a compreender bem o que seja, mas o Espiritismo evangélico, porque só esse conduz à humildade que afugenta o orgulho.
            Menos mal, portanto, fazem os que, relegando para segundo plano a fenomenologia, procuram no Espiritismo, para si e para seus semelhantes, o aperfeiçoamento moral, a conquista dessa virtude da humildade diante da omnisciência, da omnipotência e da misericórdia divinas, chave única que descerra para a inteligência o campo da verdadeira sabedoria, do que os que pretendem só ser digna de atenção, no Espiritismo, a fenomenologia.
            Atente o operoso confrade no espetáculo que oferece o mundo neste momento, busque as causas profundas, não apenas as aparentes, das suas atuais angústias e, quando as encontrar no predomínio das paixões grosseiras, no desenfreiamento das ambições, na obliteração do senso moral pela quase exclusiva preocupação de satisfazer cada um a aspiração mesquinha do bem estar material, verificará que muitos, senão a maioria, só irão pedir ao Espiritismo experimental a aliança de espíritos que os auxiliem na satisfação daquelas paixões, ambições e aspirações.  
            Aliás, o próprio autor de “Não há morte” nos dá inteira razão quando diz:
            O egoísmo insensível aos sofrimentos alheios, que só cuida de si e de sua família e cuja mão dificilmente se eleva para dar um óbolo a um necessitado, e o homem que, só a custa da moeda, sai de sua casa para prestar socorro, um alívio, poderão observar alguns fenômenos, mas que os deixarão sempre na dúvida; porém a prova da sobrevivência dos mortos, afirmo, não conseguirão.”  
            Para o egoísta, portanto, de nenhum proveito será a fenomenologia. Ele permanecerá sempre na dúvida acerca da sobrevivência, diz o confrade. Admitamos, entretanto, que toda dúvida a esse respeito se lhe dissipe. Deixará ele, só por isso, de ser egoísta? Afirmamo-lo, por nossa vez, firmados numa comezinha observação de quase todas as horas, que não.
            E qual o sentimento inferior que, de par com o orgulho e a vaidade, seus irmãos gêmeos, marca o ainda imenso atraso moral da humanidade terrena, senão o egoísmo? Menos intenso e dissimulado fosse ele entre os homens e a fraternidade, síntese das sublimes lições evangélicas, já grande surto teria alcançado na superfície do nosso planeta.
            Mas, se a fenomenologia por si só em nada aproveita ao egoísta, em nada aproveitará à grande maioria dos homens, enquanto, nesta, não baixar o nível desse sentimento que a infelicita.
            Ora, rebaixar, gradualmente, no seio da humanidade, o nível não só do egoísmo como de todos os demais sentimentos que caracteriza a inferioridade moral da criatura, até chegar à eliminação de todos eles, tal precisamente a obra que veio executar na Terra o Espiritismo e que só não executará talvez naqueles que o divorciam do Evangelho, sua mesma essência.
            Página adiante diz o ilustre autor de “Não há morte” que “quando a certeza na sobrevivência invadir os povos, eles terão outras leis, outros costumes, outra moral.”  
            Assim será, sem dúvida, mas essa certeza, há de convir o digno confrade para estar de acordo consigo mesmo, eles só adquirirão quando se houverem libertado, ao menos algum tanto, do egoísmo que ainda os traz escravizados, pois é o próprio confrade quem afirma que os egoístas não conseguirão obter, pelos fenômenos espíritas, a prova da “sobrevivência dos mortos.”
            Sendo assim, está claro que a obra mais urgente que nos cumpre a nós espíritas e executar é a da destruição do egoísmo, a fim de que, escoimados dele os indivíduos, se torne possível aos povos adquirirem a prova completa da sobrevivência e conseguintemente melhorarem suas leis, seus costumes, sua moral.
            Mas, a eliminação do egoísmo do coração humano assinalará precisamente o triunfo das verdades evangélicas.
            Desse modo, o nosso distinto confrade, possivelmente a seu malgrado, vem em apoio dos que, espíritas, proclamam como necessidade máxima para o gênero humano o estado e assimilação dos ensinos evangélicos, tornados claros e acessíveis a todas as inteligências, graças à luz que sobre eles projeta a doutrina dos Espíritos, cujo objetivo máximo é justamente essa.
            Eis-nos, pois, a concluir de novo, como já o fizemos em nosso precedente artigo, que só pode ter a certeza de que não está perdendo tempo quem se aplicar devotadamente ao estudo do Evangelho, em espírito e verdade, o que equivale a dizer - como o explica o Espiritismo, a fim de praticá-lo.
            Disseminemo-lo, portanto, antes de tudo, sem lhe desvirtuarmos o caráter verdadeiro, que é o de revelação divina, complementar da revelação messiânica, sem lhe desfigurarmos o objetivo, sem lhe falsearmos os meios de ação, e a comunicação entre os vivos e o mortos não mais precisará, para verificar-se, de centros ou grupos de experimentação, onde se busque apenas a prova da sobrevivência, porque se terá tornado fenômeno ordinário e comum, decorrente da elevação moral de toda a humanidade, tanto no plano físico, como no plano espiritual.
            Que importa haja dito o espírito “Imperator” a Stainton Moses que o Evangelho fornece armas para todos os combatentes? Ainda que muito respeitável, essa opinião não passa pelo fato de ser de um Espírito, de uma simples opinião individual e denota o superficial que tinha, quem a emitiu, do assunto sobre que se pronunciou.
            O Espiritismo, trazido à humanidade terrena pelos enviados do Cristo, no momento por Ele julgado oportuno, exatamente nos mostra quais as únicas armas que o Evangelho oferece, como nos havemos de servir delas, quais os inimigos que com elas nos cumpre combater e qual o objetivo que devemos mirar nesse combate. Todas as outras, diferentes dessas, se estilhaçam ao primeiro choque, como vemos a todos os instantes. Com o Evangelho tudo, sem o Evangelho nada de verdadeiramente durável conseguiremos. Sejam quais forem as resistências individuais ou coletivas, a humanidade, em época que não vem longe, reconhecerá que nele estão toda a ciência, toda a sabedoria, toda a moral.

Do blog:  G.R. = Guillon Ribeiro?

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