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domingo, 30 de junho de 2013

23. Revelação dos Papas - Xisto II


23

‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29
1918


Xisto II, papa

O médium vê um homem claro, de feições regulares,
cabelos brancos e olhos azuis, vestindo hábito roxo e circundado de luz brilhante.
_____________
         

          Saúdo-vos daqui, pedindo vênia para vos dirigir algumas palavras de amizade e simpatia.

          Quem está presente é um dos papas mais culpados de falta de fé e perseverança no caminho da verdadeira religião de Jesus Cristo.

          Quem vos fala agora é um daqueles em quem faltou sempre a verdadeiro espírito cristão. É o mais impiedoso dos papas, o único, talvez, que se deixou dominar por falsos sentimentos de grandeza, orgulho e vaidade e que mais afastado viveu de Deus e da humanidade.

          Na hora presente sinto-me bastante feliz e experimento verdadeira alegria ao comunicar-me com os homens, para cujo atraso e heresia concorria com a minha conduta papal. Conduzi mal o espírito religioso do meu tempo, não me compenetrando das responsabilidades que tomara sobre meus ombros ao sentar-me na cadeira pontificada.

          Abandonei os conselhos e as lições sublimes de Jesus e orientei-me pelos meus instintos baixos, pelas minhas tendências perversas, pelas minhas ambições de mando e domínio.

          Esqueci-me completamente que - “Os últimos serão os primeiros”. - Os que se humilham serão exaltados e os que se exaltarem serão humilhados” — como disse Jesus.

          Eu vos dou provas da justeza e verdade destas duas sentenças que acabo de citar, no que vou relatar para mostrar-vos que muito mal procede todo aquele que se afasta dos ensinamentos do Mestre.

          Como papa, fui um impenitente gozador dos bens e prazeres terrenos, pelos quais esqueci sempre os meus deveres, desprezei o que era moral e útil à fé aos homens e a mim. Engolfei-me na vida material, na qual encontrava doçuras e encantos que, erradamente, supus não existisse outros que os pudessem igualar; pensava, convictamente, que os bens, as felicidades e os gozos do céu eram apenas promessa vã, meio de que se servira Jesus para conter a intemperança e a fúria dos homens; não compreendia pudesse existir alguma coisa de positivo e absolutamente verdadeiro nessas promessas, que julguei não passarem de egoísmo, quimera com que Jesus, os santos e os profetas acenavam aos homens, tendo apena em mira desviá-los dos prazeres da Terra, conte-los nos excessos a que se entregavam quando o grande Rabino da Galileia, percorria os campos e as cidades.

          Tive a presunção de conhecer a verdade toda inteira no que diz respeito a gozos e bens terrenos, à felicidade, galardões e prêmios celestes.

          Imaginava que fora do mundo, a alma se entregasse a uma vida puramente benéfica, contemplativa, vivendo num êxtase eterno, do qual jamais seria despertada; não admitindo pudesse existir na eternidade uma vida ativa, cheia de sensações e emoções tão vivas e fortes variando até o infinito, atingindo a um grau de intensidade a que as impressões da vida terrena não podem atingir.

          Julguei sempre nada mais poderia seduzir e encantar o espírito, uma vez despido dos órgãos pelos quais as sensações chegam à alma durante o tempo em que se acha ligada ao corpo.

          Não podia, pois, imaginar prazeres e gozos definidos, alegria e sensações mais intensas e mais deliciosas que as do mundo material e, por isso, deixava-me arrastar pelas seduções mundanas. Os prazeres da mesa, o encanto da beleza que se manifesta debaixo da forma feminina, a volúpia e as sensações produzidas pelo som e pela cor, perfumes e essências, que põem em atividades os sentidos externos do homem; tudo isso eu buscava gozar de uma maneira completa, requintando de gosto e sentimento, apurando cada vez mais os sentidos, tornando-os mais sensíveis às delicadas e sutis manifestações do mundo exterior. Não me preocupei com as consequências que porventura pudessem advir para o meu espírito após a morte do corpo. Ficava estupefato ao contemplar os grandes quadros dos mártires da fé, aplicando cilícios para dilacere lhes as carnes, cobrindo o corpo de chagas, jejuando, vivendo ao relento, expondo-se aos maiores perigos, entregando-se dia e noite a exercícios espirituais, com o fim de amortecer, suprimir a sensibilidade nervosa e assim, tornarem-se puros, castos e santos. Tudo isso me impressionava, causando horror, fazendo-me pensar na loucura desses entes, que desprezavam os verdadeiros prazeres, os gozos positivos e sedutores da carne pelas doçuras e encantos de um céu que não conheciam, e, portanto, não podiam compreender o que nele se passava e, muito menos, conceber os seus encantos e as suas delicias.

          Para mim semelhante gente não passava de uma legião de sonhadores, fanatizados pelos ensinos do Cristo e pelas leituras do Antigo Testamento. Não me conformava com essas orientações - isso desde a minha ordenação a simples padre, e, ao sentar-me na cadeira papal, tinha enraizadas no meu espírito ideias contrárias àquela maneira de ver. Entendia que a fé nada tinha que ver com os atos mundanos e que o homem podia e devia desforrar-se nesta vida, de modo que, ao entrar na eternidade, não mais o afligissem as saudades deste mundo, donde se retirara farto, satisfeito por ter gozado todas as delícias que ele proporciona àqueles que se identificam de corpo e alma com a vida material. Apesar de papa, não podia admitir abstenções, limitações, restrições e proibições do que, pensava eu, fora criado unicamente para aumentar o encanto da existência terrena e suavizar os tormentos e as dores que a vida humana inflige as criaturas.

         Imaginava eu que se devia gozar preocupação das consequências futuras, que não devíamos mortificar a carne tão apetecida, essa carne adorada que nos proporcionava gozos indizíveis, dando-nos sensações paradisíacas no mundo dos enganos e das ilusões.

          Foi pensando assim que me esqueci dos deveres que tinha que cumprir, abandonando-me aos prazeres materiais que não me deixaram tempo, calma e sossego para cuidar das coisas sagradas confiadas à minha guarda. Os negócios do Estado eu os encarava como coisas secundárias; abandonando-os, encaminhando-os mal. Conduzindo-os para o caminho falso dos conchavos em que presidia mais o espírito da cobiça, vaidade e orgulho que o interesse religioso, sincero, honesto e puro que devia caracterizar todos os atos do papa.

          As questões do Vaticano, aquelas cujas soluções deviam ser inspiradas no bem, na verdade, na justiça e na razão, eram resolvidas de afogadilho, às pressas, sem o estudo e a reflexão que requeriam essas altas questões, que diziam respeito à boa marcha dos interesses da fé cristã e tinham por fim cooperar para que cada vez mais se radicassem na alma dos povos os verdadeiros e puros sentimentos religiosos.

          A minha corte, exceção feita de alguns sacerdotes estudiosos, sinceros e dedicados às coisas da Igreja, era composta de nulos e gozadores que, como eu, procuravam apenas a satisfação das necessidades da vida material e conquistar títulos e honrarias, esquecidos sempre da sua nobre e santa missão de orientar e dirigir as almas.

          Com tais elementos, jamais se poderia esperar que eu fizesse um governo que preenchesse as exigências da época, correspondendo, aos mesmo tempo, as necessidades do momento que atravessava a Igreja Católica.

          Separei-me dos altos deveres cristãos, divorciei-me das sábias lições do Mestre, escusando-me ao cumprimento do dever, furtando-me à prática dos atos de piedade e clemência; exonerei-me de obrigações e encargos dos quais tinha o dever de desempenhar-me com honra e dignidade; lancei-me no caminho oposto à caridade, enveredando por atalhos que, longe de adiantarem a minha marcha para Deus, ao contrário, retardaram-na grandemente, de modo que, depois da morte, me achei na mais desoladora situação em que uma alma pode encontrar-se no mundo espiritual.

          Sofri ali duras provações, cruéis desilusões, insuportáveis vexames, tremendas humilhações, quando verifiquei serem inteiramente diversas todas as coisas que imaginara, constatando o absurdo das minhas reflexões e improcedência das afirmações feitas pela Igreja com relação aos bens e gozos celestes. Chorei amargamente ao ver que me enganara de modo absoluto, supondo serem os gozos e prazeres da vida espiritual mais efêmeros que os do mundo, nos quais me afundara e que por isso experimentava tão critica e aflitiva situações ao entrar na vida espiritual. Senti-me profundamente abatido perante os quadros que se desenrolavam aos meus olhos; fiquei perplexo, arrebatado, ao contemplar a majestade das coisas, cuja beleza e esplendor excediam de uma maneira infinitamente grande as concepções humanas relativas a essas coisas. Sofri durante muito tempo o horror das trevas, senti ali os apetites carnais me devorarem as entranhas, me correrem o espírito; experimentei as mesmas necessidades e desejos que me assaltaram durante a vida e que, para satisfazê-los, comprometi a minha alma, lançando-a nesse inferno em que se transformou a minha consciência logo após o desprendimento do espírito.

          Foram desesperadores os primeiros tempos da minha vida espiritual; horríveis essas horas que sucederam à morte do corpo.

          O meu despertar na eternidade foi tremendo, custou-me muitas dores, lágrimas, imprecações, gemidos, ânsias, desalentos, angustias; potentíssimos espinhos penetraram-me na alma, feriram o meu espírito; terríveis serpentes morderam-me a consciência, envenenaram-me a alma; monstros horríveis pareciam querer devorar-me, tragar o meu espírito! Foram horas, dias, anos, séculos de sofrimento e amargura!..

          Grandes, imensas, foram as responsabilidades que acarretei sobre mim, os compromissos que assumi perante Deus, que, não obstante as minhas grandes culpas, se mostrou para mim Pai misericordioso e infinitamente bom, pois, desde que o arrependimento sincero penetrou na minha alma, logo comecei a orar, a repudiar o que adorara em vida, Ele, o Pai Celestial, começou a perdoar-me, a dar-me alívio e sossego; e, quando formulei desejos de reparar o mal que praticara, a Sua misericórdia se derramou sobre mim, inundou-me a alma, lavou o meu espírito, libertou-o por completo das impurezas que nele ainda existiam, salvando-o, iluminando-o com a luz da sua graça infinita. Deus salvou-me, deu-me a paz, aliviou-me o espírito, mas eu me comprometi com Ele a apagar em sucessivas existências todo o mal feito, praticado duramente o tempo que tive nas mãos as rédeas do governo sagrado da cristandade. Já cumpri parte do que prometi ao Senhor, em existências sucessivas depois de haver sido papa. Cumpri dignamente a minha promessa, satisfiz o meu compromisso com brilho e honra, passando por provas e experiências amargas, cruéis, mais tive coragem para enfrentá-la, suportando lhes o peso.

          Venho completar o pagamento da dívida, dando esta prova de humildade perante o meu Pai Celestial e os homens que me escutam neste momento.

          Colaboro hoje na “Revelação dos Papas”, e termino esta mensagem rogando aos meus irmãos da Terra, outrora meus filhos espirituais, que me perdoem o mal que lhes fiz, o falso rumo por onde conduzi os cristãos, acarretando-lhes os desgostos e prejuízos que hoje sofrem aqui neste mundo; suplicando-lhes também a esmola de uma prece para o espírito do papa criminoso que nesta mensagem confessou os seus erros e a suas loucuras e que, ao terminar, faz votos pelo avanço e progresso da humanidade terrena. Tenho dito.
 
Xisto II
Setembro de 1915


Papado de Agosto de 257 a 6 de Agosto de 258.

Informações complementares

            Curto papado do grego de Atenas que se intitulou Xisto II.  À época, todos os chefes das igrejas  cristãs eram chamados papas reconhecida porém a relevância (não a autoridade) maior do chefe da igreja de Roma. Conflitos por distintas interpretações relativas à Trindade católica recrudesceram.  No período deste papado, os cristãos estiveram sob perseguição severa de parte do imperador Valeriano inclusive  Xisto II que foi preso e supliciado.
Fonte:  ‘Os Crimes dos Papas’ por Maurice Lachatre
2005    Ed. Madras SP SP

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