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quinta-feira, 6 de junho de 2013

5. 'Revelação dos Papas' - Paulo




5
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)

- Comunicações d’Além Túmulo -


Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier

Officinas Graphicas d’A Noite
Rua do Carmo, 29         1918

Pedro, o apóstolo


O médium vê um homem de barba e cabelo brancos, envolto em luz também branca.
 A irradiação luminosa impede que ele distinga as suas vestes.
                                                            _________________


           Meus irmãos, quem vos visita hoje é Pedro, a quem chamais apóstolo e guarda das portas do céu.

          O humilde espírito que ora baixa à Terra para vos falar, em nome de Deus e de Jesus, é aquele a quem denominais santo e proclamais fundador da Igreja, que dizeis ser do Nosso Senhor Jesus Cristo.

           Tendes hoje, junto a vós outros, o espírito de Pedro — o humilde pescador da Galileia, que vem a vossa presença para dissipar as trevas que ainda envolvem a vossa consciência, impedindo-vos a visão clara e perfeita das coisas a que chamais sagradas.

           Deus, meus irmãos, coloca-me nesta hora perante a cristandade para que lhe fale em Seu nome, desmentindo tudo quanto de falso e absurdo se afirma a Seu e a meu respeito.

          Ides ouvir a palavra do humilde e obscuro pescador da Galileia, do mais fraco e pequeno discípulo do Mestre, que neste momento olha para mim e me ordena que diga a verdade inteira e pura, como pura é a consciência do meu amado Mestre, em cuja presença falo.

          Jesus está me acenando e dizendo: “Pedro, fala como falei, prega como eu preguei, ensina como ensinei, guia como guiei, nega como neguei, afirma como afirmei, ama como o teu Mestre amou e perdoa como ele perdoou. Pedro, fala, proclama, anuncia, profetiza, promete, garante em nome do teu Pai e abençoa em nome do teu Mestre”.

          O pescador vai, pois falar, declarar o que sabe; vai dizer o que todos precisam saber desde já; vai confiar as palavras do Mestre e destruir o erro e a mentira ensinando em nome de Jesus e também no seu.

          Fui discípulo de Jesus e ouvi dos seus lábios a verdade que hoje proclamo: recebi dele os ensinamentos que ora divulgo pelos homens; bebi na fonte inesgotável, que é o Evangelho do Mestre, todas as lições que vos venho trazer.

          Fui humilde e obscuro pescador, jamais recebi a luz das instruções que, no meu tempo, era difundida pelos homens.
          Os meus pais me destinaram no mar e o mar exigia de mim apenas duas coisas: robustez física e coragem para lutar contra a fúria dos elementos. A minha inteligência era, por isso, inculta e acanhada, vida do marujo, e eu era dos mais audazes e resolutos.

          Todo o meu saber se limitava às coisas do mar, às necessidades da vida do marujo, e eu era dos mais audazes e resolutos.

          Nada compreendia do que dizia respeito à filosofia, às superiores cogitações a que se entregavam os doutores nas sinagogas, onde eu assistia, absorto, aos atos religiosos e divinos, unicamente levando até ali pela fé simples e ingênua do homem do mar. Nada sabia das coisas sublimes de que se ocupavam os doutores da Lei; nada percebia do que estava escrito no Antigo Testamento, que o meu mestre pescador lia a tardinha, sentado na proa da nossa barca, explicando-nos aquilo que a sua inteligência, também precária e desprovida de luzes e do preparo com que a instrução aperfeiçoa o nosso entendimento e esclarece a nossa razão, mal podia compreender.

          Nada, portanto, sabia eu das verdades eternas e dos ensinamentos trazidos ao mundo pelos profetas de Israel.

          Leigo, obscuro, ignorante e simples, vivi até o dia em que fui ouvir o Mestre, que, então, falava aos pescadores da Galileia, ensinando-lhes a interpretar o Decálogo que Moises recebera no alto do Sinai.

          Jesus falava mansamente; a sua voz, pausada e firme, era cheia de ternura e encanto e abalava os corações dos que ouviam, arrebatados de assombro, as grandes verdades expostas, com tanta simplicidade e clareza por aquele homem moreno, de tez lisa e ampla, cabelos cor de vinho claro que bebíamos a hora do repasto.

          Jesus sentara-se sobre o bordo da barca de Luís, e dali dizia aos pescadores, agachados no fundo das suas barcas, a verdade emanada de Deus, que o incumbira de trazê-la aos homens para libertá-los das trevas do obscurantismo.

          Quando Jesus terminou era noite já, e, ao clarão dos fachos que acedemos para acompanhá-lo até a margem, escolheu os que desejavam aprender dele - que era bom e manso - as sublimes verdades da vida eterna, da bondade infinita de Deus e também da Sua infinita misericórdia.

          Jesus disse: “Quereis acompanhar-me, vinde. Dar-vos-ei outro ofício, outra tarefa, outro trabalho, mas não pagarei salário, como faz o vosso mestre pescador, porque sou muito pobre, nada tenho para mim e muito menos para dar. Meu Pai, entretanto, vos pagará um dia, e, garanto-vos, aquele dentre vós que mais se esforçar para servi-lo Ele pagará generosa e fraternamente.”

          “São estas as condições em que ides trabalhar; se vos agradam, aceitai-as, se não, deixai-me ir só, ficai com o vosso mestre pescador”.

          Eu e Thiago fomos os primeiros que bradaram: “Não mais vos abandonaremos Senhor; morreremos ao vosso lado.”

          Jesus sorriu e acrescentou: “Refleti bem no que ides fazer, pois eu venho para sofrer e todos aqueles que me pertencem sofrerão também.”

          Tomamos o compromisso de comer o mesmo pão e beber a mesma água que o nosso Mestre.

          Partimos. Caminhamos dia e noite para chegar a Palestina, onde o esperavam ansiosos para ouvi-lo.

          Ali chegados, embora cansados e famintos, sentiam-nos satisfeitos, contentes e confortados, sem que soubéssemos porque.

          Nada do que nos ofereciam para matar a fome e mitigar a sede foi devorado com sofreguidão, avidez.

          Alguns bocados foram suficientes para refazer as forças perdidas durante a marcha penosa, através dos campos e das cidades que percorremos.

          Jesus tocou apenas num bocado de pão e bebeu um pouco d’água, que lhe ofereceu uma mulher que se aproximara para beijar-lhe a mão e ofertar-lhe aquela água do seu poço, por ser - dizia ela - a mais fresca do lugar. Daí por diante, começou para mim nova vida, nova era: tudo se me afigurava claro e risonho; toda a dificuldade que até então encontrava para compreender o porquê e a razão de ser das coisas desapareceu e, dentro de alguns dias, eu explicava aos que procuravam o Mestre, durante o seu repouso, as grandes verdades que ouvira dele durante a jornada.

          Quando se me perguntava onde havia estudado para falar assim, com tanto acerto, ficava embaraçado para responder, e era sempre Thiago que me socorria, dizendo: “Foi o Mestre quem nos ensinou a falar assim.”

          Tinha então adquirido tanta facilidade de raciocínio e exposição, que a mim mesmo causava assombro.

          Jesus dizia-me: “Tu és fraco, não tens a coragem e a energia de João, a coragem e a resignação de Simão; não obstante, a tua palavra medrará, a tua boca derramará as claridades divinas sobre os teus irmãos. Mas, olha lá, não te deixes levar pelo teu gênio inquieto, sôfrego, altivo e intolerante.”

          “Tu não és homem para a firmeza e para o sacrifício. Possuis virtudes, mas não tens ainda a fé bem enraizada no fundo da tua alma.  Toma cuidado, pois, contigo mesmo; o teu inimigo está na tua própria alma, vê se te livras dele.”

           Pensava, meditava sobre estas palavras do Mestre e dizia comigo mesmo: Onde irei buscar a força e a coragem de que me fala sempre o mestre? E desatava a chorar copiosamente, pedindo a Deus me tornasse digno da missão que eu tomara sobre os ombros, concedendo-me a graça de ser um verdadeiro discípulo do Seu Filho.

          Continuamos sempre unidos, sempre juntos - Mestre e discípulos, caminhando de terra em terra, espalhando a luz da verdade que Jesus punha nos nossos lábios.

          Por toda a parte éramos ouvidos com atenção e respeito, chegando a receber em alguns lugares, aplausos extraordinários, que se traduziam nas ofertas trazidas ao mestre e a nós, no agasalho e conforto que nos ofereciam povos inteiros.

          Correram assim os dias, os meses e os anos, até chegar o momento do sacrifício do Mestre. Todos os discípulos se resignaram a ver aproximar-se a hora do martírio de Jesus, conformando-se com a afronta que publicamente ia suportar nosso Senhor Jesus Cristo.

          Pedro era o único que não se conformava com a idéia de ver o seu Mestre sacrificado; mas, quando lhe diziam - “Se não queres vê-lo torturado, humilhado e morto, dá a tua vida por ele” - a minha resposta era o silêncio.

          Recolhia-me dentro de mim mesmo, apavorado ante a idéia de me deixar imolar pelo Mestre.

          Jesus fitava-me sempre e dizia:

          “Meu Pedro, meu filho, és fraco, mas a tua palavra terá força; continua, pois.”

          Chegara a hora da condenação de Jesus e o galo cantara já duas vezes, pois duas vezes eu fora interrogado sobre as minhas relações íntimas com o Rabino da Galileia e o negara, declarando jamais tê-lo visto, sequer de relance.

          À terceira pergunta respondi negativamente, como às outras, mas desta vez Jesus apresentou-se na minha frente e disse: “ - És fraco, Pedro, mas eu te perdoo.”

          Olhei em volta e não mais encontrei o Mestre. Chorei toda a noite; não dormia, não comia, não tinha sossego, não encontrava alívio em parte alguma; a cada passo parecia-me ouvir o Mestre: “És fraco Pedro, mas eu te perdoo.”

          Aqui tendes o que fui enquanto estive junto de Jesus: fraco e vacilante, tendo fé pouco firme e confiança muito limitada na Infinita Sabedoria e na Misericórdia Divina.

          Jesus me perdoou, dando-me esta luz que trago e intercedendo junto ao Seu Pai pelo pescador da Galileia, fraco e vacilante.

          Após a morte, o espírito de Pedro ficou errante, confuso, ouvindo sempre a voz do Mestre ecoar-se nos ouvidos: “És fraco Pedro, mas eu te perdoo.”

          Fui, pois, dos discípulos de Jesus o mais fraco e o menos crente.

          Por que razão havia de caber-me uma tarefa tão espinhosa, qual a de defender a sua doutrina após a desencarnação do Mestre?

          Por que havia de merecer o espírito que está na vossa presença a graça de ser no mundo o esteio da doutrina de Jesus, defendendo-a dos golpes desferidos contra ela e os seus adeptos pelos grandes da Terra, que procuravam, pelo ultraje e massacre, abafar a voz do Messias ainda ecoando dos lábios dos discípulos e dos crentes?

          Para que me chamais príncipe dos apóstolos, quando fui o último deles?

          Por que haveis de acreditar tenha sido eu o organizador da Igreja, se, por ocasião da sua fundação, Pedro já se achava na eternidade, de onde sai hoje para vir dizer-vos estas grandes verdades?

          Nosso Senhor Jesus Cristo me confia hoje a magna tarefa de vir dizer-vos que a verdade está toda inteira no Espiritismo, que é o seu Evangelho em espírito e verdade, anunciando-vos ao mesmo tempo, que o Mestre mandará ao mundo muitos espíritos bem-aventurados para vos ensinarem as verdades eternas e as restabelecerem onde os homens as desvirtuaram, comprometendo a sua doutrina, procurando apagar o nome do seu Pai e o seu no coração da criatura eterna.

          Pedro vem, assim dizer-vos que não acrediteis seja ele o porteiro do céu - que não existe senão na imaginação dos fracos e embusteiros, interessados em afastar-vos do caminho da verdade e da luz.

          O céu, que só existe na paz das consciências dos bons e dos puros, tem uma única chave, e esta está na vossa própria mão - a caridade.

          Vós mesmos é que sois porteiros do céu, onde haveis de viver um dia, quando terminardes a vossa provação terrena. Pedro, meus amigos, foi fraco e vacilante ao lado do Mestre e não teve a resignação, a coragem e a confiança dos seus companheiros; para que, pois emprestar ao humilde pescador da Galileia honras e títulos que não merece?

          Ficai certos e seguros de que tudo quanto vos contam a seu respeito são criações dos homens. Pedro foi grande, eloquente e sábio enquanto esteve ao lado do Mestre, recebendo as irradiações sublimes do seu espírito divino.

          Tudo isso desaparece, porém, no momento em que negou o Mestre, na hora em que abandonou o compromisso de acompanhá-lo até a morte, comer o mesmo pão e beber a mesma água que o Mestre, faltando deste modo à sua palavra e confirmando as de Jesus: “És fraco, Pedro; não serves para o martírio e para o sacrifício. És fraco, Pedro, mas eu te perdoo”.

          E perdoou-me, o meu querido Mestre, o meu divino Jesus, e vai conceder-me novamente a graça de voltar à Terra, para continuar a sua obra, concluir o que há mil e novecentos anos não tive forças para sustentar.

          Volto, e desta vez o galo não mais cantará e não mais ouvirei aquelas terríveis palavras que tantas vezes me escaldaram os ouvidos: “És fraco, Pedro, mas eu te perdoo”.

          Jesus me falará e ouvirei sempre a sua voz; mas esta será um incitamento, um conforto que me alentará na luta em prol da verdade eterna, que voltei a defender.

          Ficai, porquanto, certos, meus irmão, que Pedro voltará entre vós, porém mais forte, mais enérgico, mais firme na sua crença, mais inabalável na sua fé, confiando, em absoluto, no seu Deus e no seu Jesus, que o enviaram aqui para dizer-vos estas verdades e ainda mais - que será Pedro o escolhido para dizer-vos muitas outras verdades em ocasiões diversas, em emergências difíceis, em situações perigosas nas quais vos achareis um dia na Terra.

          Pedro vem, pois, à vossa presença declarar que não é santo, nem príncipe dos apóstolos; de todos os espíritos que acompanharam Jesus na Terra, foi ele o que mais se perturbou após a sua desencarnação, e isso por ter sido o mais fraco e o menos crente de todos.

         Pedro já teve outras missões após aquela em que esteve entre vós. O seu espírito evoluiu, caminhou para poder hoje falar-vos humildemente, dizendo: “ Sou pequeno e fraco, conservo ainda a simplicidade e a rudeza do pescador dos mares tempestuosos da Galileia; estou em meio do caminho e tenho muito que andar para chegar à perfeição. Nada sei, muito me falta aprender ainda, muito tenho que estudar para alcançar o título de espírito sábio. Nada, pois, deveis conferir-me, nenhum título deveis dar-me, nenhuma honra deveis tributar ao meu nome, quando vos referirdes a mim, dizei sempre - o pescador da Galileia. Isto me honrará muito mais que o principado que injustamente me ofereceis.

          Aconselho-vos à prática do bem e da caridade, da justiça e do amor ao vosso semelhante e também o respeito à lei de Deus e a observância rigorosa dos ensinamentos de Jesus.

          Agradeço-vos a todos o ouvirem-me com atenção e afeto. Que Deus vos proteja e Jesus vos acompanhe em todos os atos da vida.

          Adeus, até breve.
Pedro, o pescador da Galileia.
Junho de 1916


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