Pesquisar este blog

domingo, 30 de outubro de 2011

69 Trabalhos do Grupo Ismael





69


SESSÃO DE 13 DE NOVEMBRO DE 1940


Manifestação sonambúlica


            Primeira de mais um ex sacerdote que, atormentado pelo sofrimento a que o haviam condenado o ódio e os crimes que o ódio e a  luxúria o levaram a praticar, ansiava por se livrar desse sofrimento.

Médium: J. CELANI


            Espírito (depois de lançar um olhar de inspeção, pela sala, em tom irônico): - O trabalho está eloquente e o sofrimento é excelente; mas afinal de contas, nada entendi dessa retórica. O livre arbítrio não existe... Se existisse, não veríamos, seguramente, essas criaturas a pretenderem solapar a igreja – única exclusiva depositária dos ensinos do Cristo. Inegável, porém, é que algo existe a embaraçar-nos os planos de ação; mas, o que mais me admira é encontrar aqui representantes da Igreja, categorizados pelas posições que ocuparam no seu cabido... Como compreender esse conluio da verdade e da força com a mentira e a fraqueza?

            (Cala-se, de cenho carregado, parece estar ouvindo a outrem e prossegue):

            - Não! eu não trago intenções malévolas... Porque me embargais a ação? Se assim é, retiro-me... Fizeste-me perder o fio da oração, nada mais, portanto, direi.

            (Depois de longa pausa):

            - Hum! Qual mistificação! Então, aquele que ofende e maltrata não deve ser punido? Estranha teoria! Extravagante mesmo. Se assim fosse, o mundo seria presa fácil dos perversos... (Bate na mesa). Ora, dize-me tu, que és mestre, maioral deste conclave: será pecado adiarmo, vingar-nos, quando vivemos num báratro de trevas, nele jogado pela maldade de um ser? Não odiar, não vingar? Oh! não aceito, não posso conceber semelhante preceito. Rejeito-o com todas as veras da minha alma, por afrontosa ao brio, á dignidade  da criatura humana. Que dizes tu? (dirige-se ao diretor). És porventura mudo?

            (Segue-se uma pausa. O manifestante, pelo jogo da fisionomia do médium denota profunda atenção e surpresa).

            O passado? a que vem ele? Fico na mesma! Então eu te peço uma côdea de pão e dás–me uma pedra? Que bela caridade!!! O passado... Sei lá disso? E, não sabendo o que fui, como saber o que serei? Bolas! Rezar? Hum!... Mas, que fiz eu senão isso, durante longo tempo? Qual proveito, nem meio proveito... Lá, eu tinha claridade dos círios... E aqui? Deixem-se disso... Isso sois vós, isso é para vós: vinde para cá e falai-me depois...

            (Detém-se um instante, como a refletir e prossegue):

            Ah! adormeci no caminho?  Pois olha que estou acordado e bem acordado... Ora, isso é caso perdido... Compensação, compensação... Hum! A Igreja... Que importa se me utilizei dela para o meu introito? O que eu queria era deixar de sofrer e não encontro quem me possa libertar desta aflição horrível... Que dizeis? Pois bem, aceito o remédio; mas onde está ele? Aqui? Voltar aqui, ouvir essa conversa, adquirir sabedoria divina... Coisa difícil, impossível talvez, prestável para eles, para vós, não para mim... Vejo que o meu caso, assim, é incurável... Pois, seja. Agradeço o conselho, vou retirar-me, vou pensar...

            (Faz movimento para levantar-se, mas logo se acomoda).

            - Não posso ir-me embora? Ah! Preciso esperar a palavra dos homens? Então que falem os homens...

            (O diretor dos trabalhos adverte, então, que o livre arbítrio não tem elasticidade absoluta, porque absoluto só Deus o é. Condicionado e proporcional ao desenvolvimento da criatura, faculta-lhe o mérito e o demérito em sua ascese. Outorga divina, inalienável, não é propriamente cassado ou anulado, jamais, senão ao sentido de sua aplicação circunstancial e não substancial. A própria  criatura é que, engendrando e agravando o sofrimento, qual aranha tramando a sua tela, nela se asfixia e, a exemplo do que a ele, manifestante, sucedia, propicia à penitência e à reparação. Que visse, ainda nisso, uma prova não conjetural, mas experimental da consciência e misericórdia divinas...)

            E. - Que diferença há entre orar e rezar?

            D. - Rezar é articular palavras, orar é sentir o que falamos ou pensamos. A reza é convencional, a oração só pode ser emocional e, como tal, espontânea.

            E. - Queres dizer que a missa nada vale e eu concordo.

            D. - Não digo tanto, pois sei que em todas as confissões há crentes sinceros e a intenção é tudo.

            E. - Quem to diz sou eu.

            D. - Não tinhas então, a sinceridade dos teus votos, a abnegação da tua fé?

            E. - Isso não predicados, são gradações do espírito, pois o teu mentor me está aqui sugerido que é preciso perdoar  ‘’não 7, mas 70 vezes 7 vezes’’,  a fim  de poder orar como dizes. Mas, isso é dificilmente; afigurasse-me assim como um rio cauteloso, interposto ao viajante, incapaz de o atravessar e prosseguir.

            D. - Nós, entretanto, te convidamos a experimentar... Quereis?

            E. - Se depende da minha passividade à vossa intenção, aos desejos, experimentai, aceito.

            (É feita uma prece)

            E. - Sim, é algo diferente! E’ extraordinário! Onde está o que me tolhia? Bem. Vou-me e grato à vossa benevolência. Adeus!


*


Comunicação final,  sonambúlica


            Significado e efeito, para os componentes  do Grupo, do trabalho realizado. - Palavras de agradecimento e de glorificação à Virgem.- Exortação ao afervoramento da fé e ao robustecimento da crença no coração dos obreiros da Oficina de Ismael. - Efetividade da proteção à Casa desse glorioso Anjo.


Médium J. CELANI


            Meus caros companheiros.

            Ela! sempre Ela, a Mãe carinhosa, toda amor àqueles que procuram laborar na Seara do seu Filho, desejosos de afeiçoar  o coração aos seus exemplos e virtudes. Que mais quereis, queridos companheiros, para estímulo deste labor que nos vem felicitando, a vós e a nós - os deste lado - bem como a tantos que, mais distanciados, buscam assimilar estes ensinos, que esclarecem o cérebro e enrijam os sentimentos para triunfar das paixões e misérias próprias da inferioridade moral? Bendita doutrina, simples e gloriosa, que permite a um pugilo de coxos redimir almas chaguentas e embotadas pela ignorância e maldade.

            Eu sei, Senhora! E quem mais do que eu - calceta que sofreu uma prova rude e sempre teve no coração a Paz de teu Filho, graças ao amparo da tua mão carinhosa - quem mais do que eu, repito, poderia dize-lo? Glória, pois, a Ti, gloriosa Mãe do meu Senhor, que tocaste os nossos corações com os eflúvios da tua virtude, neles lançando o gérmen dos seus ensinos.

            Ide para os vossos lares, companheiros caros, conscientes de que ganhastes o vosso dia e mais um dia na vossa peregrinação em busca da perfeição.

            Recebei como estímulo todas estas esmolas que chovem sobre vós e afervorai a vossa fé e o vosso amor a esse Espírito excelso, por intercessão do qual tudo recebeis do Mestre e Senhor. Firmai vossa crença no propósito de vos liberardes das paixões inferiores, para assim poderdes afinar  sentimentos com aqueles que, por delegação de N. S. Jesus Cristo, são os sustentáculos desta Casa.
            Ficai certos de que sob estas telhas, dentro da Lei, não cairá um fio de cabelo de vossas cabeças sem que o queira o Pai. Isto vo-lo digo com permissão de Ismael.  Quero animar-vos no prosseguimento da vossa tarefa, com os olhos postos no Divino Modelo, para implantar no mundo a Doutrina salvadora.

            Deus vos abençoe. – Richard.


30 de Outubro



30 Outubro

 Subidas? Vê como sobes
Na pressa que te conduz,
A do Cristo foi aquela –
Martírio, calvário, cruz.


Jovino Guedes
por Chico Xavier
in ‘Mais Vida”  (1ª Ed. Cultura Espírita união 1982)

sábado, 29 de outubro de 2011

68 Trabalhos do Grupo Ismael




68


SESSÃO DE 23 DE OUTUBRO DE 1940


Manifestação sonambúlica

            De um Espírito pessimista, que absolutamente não acreditava na reforma do mundo, nem na eficácia do estado evangélico.

            Estudara-se, pelo Evangelho de João, o preceito de Jesus a seus discípulos, de se amarem uns aos outros, e a definição que Ele dá de quais são seus servos e seus amigos.

             Espírito. - Acreditam vocês que haja alguém capaz de amar aos seus semelhantes tal como prescreve o texto que acabam de ler? Creem, de fato, nesse conto de fadas, excelente para entreter crianças, quando, lançando as vistas para a humanidade, nós daqui só vemos maldades íntimas, inconfessáveis, paixões vis e criminosas? e o ‘’bezerro de ouro’’ dominando, atraindo a cupidez das criaturas sem nenhuma cultura espiritual, nem suscetíveis de agasalhar a palavra meiga dos que se propõem conduzi-las segundo os ditames desse livro? Por mim, penso que vocês perdem um tempo precioso com essas divagações.

            (O diretor obtempera que não é tanto assim, porquanto de todos os tempos houve beneficiários do legado de Jesus. Cita os Apóstolos, homens rústicos e escolhidos; cita Paulo e alude ao sublime martirologio cristão, para concluir que a obra é mesmo essa, longa, difícil e dolorosa, mas de cuja realização não há duvidar, desde que considerada sob o critério da eternidade, pelo prisma das reencarnações iterativas e sucessivas. Que olhasse para cima e veria, no seu plano, os grandes remidos da fé, em todos os tempos).

             E. - Esses não vivem no bulício, buscam a solidão, porque, digo, não há peçonha mais virulenta do que o entrechoque das ambições humanas.

            (O diretor adverte que o planeta Terra é cadinho de regeneração e que as paixões a que alude o manifestante podem considerar-se patrimônio humano de todos os tempos e que, em sentido mais amplo, também se poderá lobrigar uma elevação de nível coletivo).

            E. -  Sim, dizes bem, para compreender-se a vida, faz-se mister analisa-la nos dois planos em que se ela desdobra. O ser liberto, capacitado para executar, é uma coisa; outra, o ser encarcerado, sem as luzes do passado, que lhe esclareçam o presente e o futuro, qual cego em campo raso e largo, sem saber aonde se dirija.

            Não ignoro essa condição; porém, falo como analista da humanidade, através de porfiados estudos e meditações, do que meus olhos cerrados veem e surpreendem nessas almas vis que pululam ai na Terra. Mas... Fiquemo-nos por aqui. As torpezas são de tal vulto, tanto é o fel que as criaturas derramaram em meu espírito, que ao recorda-las, o ódio - fogo terrível - como que tenta novamente empolgar-me e me desvairar. Paremos na análise.

            (O diretor pede permissão para lembrar que todo sofrimento é qual bala que nos vem de ricochete e o manifestante, parecendo acalmado, pondera em tom breve):

            E. - Sois felizes em crer na regeneração das almas e em que dessa crença desabroche a semente da fraternidade entre os homens, de que trata a lição que estudastes.  Não serei eu quem venha dissuadir-vos de prosseguir nessa trilha, em que vos sinto satisfeitos, repousados. E, de vez que não o faço, também não sei o que aqui vim fazer.

            Falaste de Paulo e eu pergunto: conheceis alguém que se lhe possa comparar nos dias que ora viveis? Ele foi soldado, e dos maiores, da milícia cristã, sim, mas hoje, meu amigo, é tudo desolação! As almas estão vazias, a crença foi asfixiada pelo egoísmo e pela maldade humana.

            Contudo, aprendi alguma coisa e, segundo aqui me dizem, será este o ponto de partida para meu esclarecimento sobre o resto. É que o Espírito precisa vir ao teatro dos seus próprios crimes, a fim de compreender porque outras estâncias lhe são defesas. Processo interessante, na verdade, e vocês, como estudantes assíduos do Evangelho, talvez já o conheçam...

            (O diretor concita-o a invocar o esclarecimento dos prepostos de Ismael).

            E. - Sim, tudo pautado, marcado, tabelado em razão do próprio mérito. Daí a minha presença entre vós. Agradeço o vosso concurso e a esmola dos que até aqui me trouxeram, com a mão amiga e fraterna. Obrigado e até à vista.

*

Comunicação final sonambúlica

            Grandeza das esmolas concedidas ao Grupo. - Estimulo ao esforço em prol da autoeducação dos seus membros. - As duas coisas necessárias para a prática do amor ao próximo. - O que sucede ao Espírito que se senta á margem do caminho. -  Qual é esse caminho. - Antídoto ás sugestões pecaminosas. - Distinção entre o crime e a fraqueza.

Médium: J. CELANI


            Paz, meus companheiros e amigos.

            Mais de um motivo temos hoje, para render graças ao Criador e Pai, pelas esmolas que chovem, incessantes, sobre nós e vós.
           
            Quem contempla o vosso mundo, quem lhe recolhe os anseios, quem lhe ouve os estertores, as súplicas, as blasfêmias, partidas em direção às potestades  do infinito, é que pode avaliar quão grandes são as esmolas concedidas por aquele que nos tomou a seu serviço.

           Rendei graças, companheiros e recebei-as como estímulo ao vosso esforço em prol da vossa autoeducação pelo estudo desses Evangelhos em espírito e verdade. Educai, acendrai o vosso sentimento e, feito isso tudo mais vos advirá de acréscimo consoante a palavra do manso rabi da Galileia.

            Para amar o próximo, duas coisas se fazem necessárias: primeiro identificar-se com o Cristo; segundo sentir o sofrimento alheio. Coisas fáceis de realizar? Não, absolutamente. É, sim, obra de educação gradativa, de efeito comparável ao da gota de água sobre a pedra dura.

            Espíritos há, que hoje se acham alcandorados aos mais altos cimos da escala evolutiva, após séculos e séculos de jornadas dolorosas, na colimação desse escopo. Mas, o Espírito que dormita, que se assenta à margem do caminho palmilhado pela caravana, esse não atingirá os cumes que aproximam do Mestre pela identidade do sentimento e, conseguintemente, do Pai, que o Mestre veio revelar a todos as criaturas.

            O caminho é este que percorreis e que – digo-o – já foi mais ríspido, mais pontilhado de urzes e pedrouços, de vez que hoje as conquistas da inteligência e do coração sempre suavizam a caminhada. Se quiserdes transformar em sedosa alfombra  a vossa rota, identificai-vos com o Mestre procurando  atrair os seus legítimos servidores. Neles amparados, tereis o antídoto às sugestões pecaminosas e continuareis firmando a posição de estudante do Evangelho todo pureza, porque reflete a vida de N. S. Jesus Cristo.

            Sabemos distinguir do crime a fraqueza. Se amparamos o fraco, deixando o criminoso entregue aos seus instintos.

            Refleti, companheiros caros, tornemo-nos aptos de coração, para podemos deprecar à Mãe angélica o seu amparo. Roguemos-lhe, sim, que abençoe este colégio e fortaleça todos os seus alunos na compreensão e comprimento dos seus deveres.

            Peçamos-lhe que nos inspire a sua humildade e renúncia, a fim de galgarmos os aclives do nosso calvário, qual ela o fez, rastreando  o Divino Mestre.

            Deus vos abençoe. Encerrei o trabalho, em nome e na paz do Senhor. – Richard.

67 Trabalhos do Grupo Ismael


67


SESSÃO DE 16 DE OUTUBRO DE 1940


Manifestação sonambúlica

            Segunda do Espírito que se manifestara na sessão precedente: enumera alguns ex-servidores da Igreja incorporados ao Colégio de Ismael; compreensão que teve da lição estudada, a da videira; assinala o erro da Igreja, quanto às formulas e dogmas que adotou; a afirmação da existência do inferno, como local determinado, por parte de inteligências cultivadas; a renovação de que precisa a Igreja; o núcleo cuja presença revelara se acha empenhado nessa renovação; moderação necessária de ambos os lados; fala dos intuitos com que se apresentara, tendo bastado a presença das responsabilidades a que aludira, para que esses intuitos se modificam.


Médium: J. CELANI


            Espírito. - Se me houvessem afirmado que entre vós viria encontrar tantos servidores da Igreja, eu não acreditaria; tomaria como farsante aquele que mo disseste.  No entanto, os meus olhos veem Romualdo, Frei José dos Mártires, D. Silvério, Monsenhor Brito, Monsenhor Serpa, ladeando a figura boníssima de Arcoverde e procurando todos adaptar-se às vossas interpretações do Evangelho, do qual foram a seu tempo considerados cultores exímios. Há entre os vossos mentores, um luminar da ciência  evangélica, seguro na interpretação, identificado com o sentir do a que chamais espírito do ensino cristão.

            A vossa lição de hoje, cuja leitura acompanhei, ouvindo atentamente os comentários feitos, é um exemplo de como sendo simples, a palavra evangélica é igualmente difícil para a interpretação do homem culto. O Cristo querendo exprimir o que ele representa com relação à humanidade, tomou uma figura chã  - a do tronco da Vide, cujas raízes recebem da terra a vida sem a qual a ramaria não pode subsistir. O Cristo é o tronco da humanidade terrena, que lhe tem de assimilar o exemplo para obter a prometida vida eterna.

            A Igreja adaptou os ensinos cristãos à interpretação das massas; criou fórmulas e dogmas para lhe facilitar a compreensão; usou e usa de simbolismos, para manter coesas as almas em torno dos seus princípios. O seu erro está em não compreender a necessidade da adaptação dessas fórmulas, desses dogmas, desses simbolismos à evolução da inteligência humana.

            Vemos então inteligências cultivadas, possuidoras de cabedais adquiridos durante séculos, afirmar – sem o sentirem, a existência do Inferno, como local determinado à execução de penas eternas, e quejandas coisas inconcebíveis para o século em que viveis. Mas, por isso, deve a Igreja ser apedrejada e excomungada, aniquilada, de modo a não permanecer pedra sobre pedra? Não!

            Ela precisa ser renovada, impregnando-se do novo espírito que agita o mundo na hora que passa. E o será. O vendaval se agiganta e sopra por toda parte. Não haverá um rincão na terra que não seja sacudido pela fúria transformadora.

            É a hora de agir esse núcleo de renovadores, cuja presença assinalei: eles atuam entre vós;  outros estão atuando em pontos diversos e até no Vaticano grandes Espíritos, cheios de sinceridade, se acham encarregados de inspirar aos guias do Catolicismo os meios de executarem a indispensável reforma. Dizem eles que há necessidade de moderação de ambas as partes, a fim de que se possa realizar esse trabalho de grande proveito para a humanidade e que representará enorme avanço para o advento do Cristianismo em espírito e verdade.

            Aqui vim com outros intuitos; mas, bastou a presença das personalidades a que me referi, para que as minhas intenções se modificassem. Levado para o meio dos vossos, com eles troquei ideias e as conclusões ai tendes nas palavras que acabo de proferir. Agora  vou-me.

(O diretor dos trabalhos agradece).

            Eu é que vos agradeço as vibrações fraternas dos vossos corações. Orai para que eu possa compreender o Cristo como vós, a fim de servi-lo quando soar a hora da minha nova tarefa no Colégio Cristão.

*

Comunicação final, sonambúlica

            O trabalho que se desenvolve no espaço, objetivando o congraçamento dos espiritualistas cristãos. - Tolerância que ele requer, da parte dos discípulos do Evangelho em espírito e verdade. - Cumpre que estes usem da maior fraternidade nas controvérsias com o clero, de modo a não embaraçarem o trabalho dos Espíritos empenhados na renovação da Igreja. – Linguagem imprópria de espíritas. – A serenidade e a humildade são as armas do cristão que queira imitar o Cristo.


Médium: J. CELANI

            Paz, meus caros companheiros.

            Será necessário acrescentar alguma coisa ao que recebestes, quer pelas interpretações do estudo de hoje, através dos comentários feitos, quer pela alocução deste filho de Deus e nosso irmão, que por aqui passou? Entretanto, temos um dever a cumprir junto de vós, o de vos transmitir a palavra dos vossos irmãos do espaço, para encerramento dos vossos trabalhos.

            Quero, porém, chamar a vossa atenção para esse trabalho que se desenvolve no espaço, objetivando o congraçamento dos espiritualistas cristãos, em torno de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele requer da vossa parte a máxima tolerância nas controvérsias com o clero, a maior fraternidade, de modo a não lhes exacerbar o amor próprio, dificultando o trabalho dos Espíritos que pertenceram à Igreja e que, emancipados, esclarecidos e sinceros, querem levantar o templo do Cristianismo, edificando a todos os que amam a Jesus e procuram servi-lo.

            Não é própria de espíritas a linguagem das ruas, na exposição de suas ideias e interpretações dos ensinos do Cristo. A serenidade e a humildade são as armas do cristão, armas que, manejadas com sabedoria, muito produzem a bem da causa que defendeis. Não sendo assim, não imitaremos o Cristo, que sempre usou de mansidão, de fraternidade e de caridade para com os seus opositores.

            Ide para os vossos lares, com os corações confortados pela paz do Divino Mestre. E que o manto da Mãe das mães abriguem esses mesmos lares, a fim de poderdes manter os vossos pensamentos adstritos aos compromissos que assumistes com Ele, o Mestre divino.

            Paz, meus caros companheiros.

            Deus vos abençoe. – Bittencourt.

Na trilha de Allan Kardec


Na Trilha de Allan Kardec

Estudando a vida espiritual além do túmulo, AIlan Kardec, O eminente Codificador da Nova Revelação, apresenta em "O Livro dos Espíritos" algumas definições que será oportuno examinar a fim de que nós outros, tarefeiros encarnados e desencarnados do Espiritismo, estejamos vigilantes nas responsabilidades que o Plano Superior nos conferiu.

*
            Na Pergunta 226 indaga o apóstolo da Codificação:

            "- Poder-se-á dizer que são errantes todos os Espíritos que não estão encarnados?”

            E os seus elevados mentores responderam:

            "- Sim, com relação aos que devam reencarnar. Não são errantes, porém, os Espíritos puros, os que chegaram à perfeição. Esses se encontram em seu estado definitivo.”

            Segundo é fácil deduzir, "Espíritos errantes", na elucidação, não significa Espíritos vagabundos, desocupados, inertes, mas sim sem residência fixa, qual ocorre com todos nós, de vez que, de conformidade com a palavra dos instrutores de Allan Kardec, somente não são considerados "e r r a n te s" aqueles "que chegaram à perfeição", da qual, todos nós, a generalidade das criaturas terrestres, ainda nos  achamos imensamente distantes.

            Na Pergunta 227, inquire o grande servidor da Verdade:

            “- De que modo se instruem os Espíritos errantes? Certo não o fazem do mesmo modo
que vós outros?"

            E o esclarecimento veio, precioso:
           
            "- Estudam e procuram meios de elevar-se. Veem, observam o que ocorre nos lugares aonde vão; ouvem os discursos dos homens doutos e os conselhos dos Espíritos mais elevados e tudo isso lhes incute ideias que antes não tinham."

            A resposta é segura. Os "Espíritos errantes", isto é, nós outros os viajores em demanda da perfeição suprema, inclusive a maioria das almas reencarnadas que permanecem na curta romagem do berço ao túmulo e que ainda voltarão muitas vezes no educandário da carne, encontramos oportunidades de estudo e meios de elevação.

            Ora, quem diz "estudo e elevação" refere-se a esforço e trabalho, disciplina e progresso.
           
            Assim é que tanto na experiência física quanto na experiência espiritual, propriamente consideradas, nós, os viajores da senda evolutiva, não nos achamos órfãos da organização que nos define os méritos e deméritos.

            Compreender-se-á, então, logicamente, que civilização e autoridade, agrupamento e ordem, escola e dignificação, hospital e penitenciária, embora diferenciados na expressão, escalonam-se e vigem para nós, os milhões de encarnados e desencarnados que vivemos ainda tão longe do acrisolamento absoluto.

            Na Pergunta 229, interroga o Codificador:

            - "Porque, deixando a Terra, não deixam aí os Espíritos todas as más paixões, uma vez que lhes reconhecem os inconvenientes?”

            E os orientadores aduziram:

            “- Vês nesse mundo pessoas excessivamente invejosas. Imaginas que, mal o deixam, perdem esse defeito? Acompanha os que da Terra partem, sobretudo os que alimentaram paixões bem acentuadas, uma espécie de atmosfera que os envolve, conservando-lhes o que tem de mau, por não se achar o Espírito inteiramente desprendido da matéria. Só por momentos ele entrevê a verdade, que assim lhe aparece como que para mostrar-lhe o bom caminho."

            A elucidação não deixa dúvidas.

            Carreamos para além do sepulcro a sombra das ações deploráveis em que nos envolvemos, por efeito das paixões que acalentamos no próprio ser.

            Somos prisioneiros das imagens infelizes a que nos afeiçoamos, quando na extensão do mal aos outros e a nós mesmos, imagens essas que se imobilizam, temporariamente, em nossa vida mental, detendo-nos nas grades do remorso e do arrependimento, até que atendamos à expiação necessária.             .

            Em tais condições, a visão das verdades divinas surge em nossa consciência, tão somente à maneira do relâmpago nas trevas que nós mesmos criamos, descerrando-nos o caminho regenerador que nos compele aceitar e seguir.

            A morte física, como é racional, não nos subtrai, de improviso, dos íntimos refolhos do espírito, as consequências dos erros nefastos a que nos precipitamos de vez que os pensamentos oriundos das faltas cometidas nos entrançam a alma às imposições do resgate.

*

            Na Pergunta 230, consulta o notável missionário.

            “- Na erraticidade. o Espírito progride?"

            E os Benfeitores informam:

            "- Pode melhorar-se muito, tais sejam a vontade e o desejo que tenha de consegui-lo. Todavia; na existência corporal é que põe em prática as ideias que adquiriu.”  

            Outra vez reconhecemos os veneráveis mensageiros interessados em destacar a  necessidade de serviço e educação, além túmulo, aclarando, ainda, que todos nós, "os viajores da evolução", despendemos muitos séculos adquirindo ensinamentos na Vida Espiritual e aplicando-os na esfera física," de modo a assimilarmos com segurança" a golpes de trabalho no campo do tempo, os valores da perfeição.

*

            Ainda na Pergunta' 232, Kardec argui, meticuloso:

             "- Podem os Espíritos errantes ir a todos os mundos?"

            E a explicação veio clara:

            - "Conforme. Pelo simples fato de haver deixado o corpo, o Espírito não se acha completamente desprendido da matéria e continua a  pertencer ao mundo onde acabou de viver, ou outro do mesmo grau , a menos que, durante a vida, se tenha elevado, o que, aliás, constitui o objetivo para que devem tender seus esforços, pois, do contrário, não se aperfeiçoaria. Pode, no entanto, ir a alguns mundos superiores, mas na qualidade de estrangeiro. A bem dizer, consegue apenas entreve-los, donde lhe nasce o desejo de melhorar-se para ser digno da felicidade de que gozam os que os habitam, para ser digno também de habitá-los mais tarde."

            A resposta é tão brilhantemente positiva que não requisita comentários .

            Vale, todavia, dizer que, muitas vezes, em desencarnando a alma do veiculo de sangue e ossos, não se liberta mentalmente da experiência a que ainda se prende na vida terrestre, em torno da qual gravita a por tempo indeterminado .

            Ninguém acredite, pois, que o túmulo seja depósito de asas destinadas à elevação de quem não procurou elevar-se durante a passagem pelo seio da Humanidade..

            Ascensão pede leveza.

            Triunfo verdadeiro reclama heroísmo e glória.

            Sublimação exige amor e sabedoria.

            Felicidade não dispensa equilíbrio.  

            O preço da perfeição é trabalho contínuo de engrandecimento da alma.

            Ninguém espere, assim, depois da morte, repouso e bem aventuranças que não soube conquistar por si mesmo.

            Serviço e hierarquia, aprendizado e aprimoramento são imperativos a que não conseguiremos fugir, tanto do berço para o túmulo quanto do túmulo para o berço, se desejamos marchar para a Vida Superior ...

            E enunciando semelhante realidade, não estamos fazendo mais que acompanhar a trilha de Allan Kardec, nas lições que o apóstolo admirável entesourou, em nosso beneficio, há cem anos.

André Luiz

por   Chico Xavier

in Reformador (FEB) Abril1957

  

29 de Outubro


29 Outubro

 Amor quando verdadeiro
Nunca se nega ou desdiz,
Mais apoia o ser amado
Quão menos o vê feliz.


Jovino Guedes
por Chico Xavier
in ‘Mais Vida”  (1ª Ed. Cultura Espírita união 1982)

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Jesus e Kardec



Jesus e Kardec

            Ante a Revelação Divina, assevera Jesus:
            - "Eu não vim destruir a Lei."

            E reafirma Allan Kardec:
            - "Também o Espiritismo diz: - não venho destruir a lei cristã, mas dar-Ihe execução.  

            Perante a grandeza da vida, exclama o Divino Mestre:
            - "Há muitas moradas na casa de meu Pai."

            E Allan Kardec acentua:
            - "A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os mundos que circulam no espaço infinito e oferecem aos Espíritos, que neles reencarnam, moradas correspondentes ao adiantamento que lhes é próprio."

            Exalçando a lei de amor que rege o destino de todas as criaturas, advertiu-nos o Senhor:
            - "Amai-vos uns aos outros como eu vos amei."

            E Allan Kardec proclama:
            - "Fora da caridade não há salvação .“

            Destacando a necessidade de progresso para o conhecimento e para a virtude, recomenda o Cristo:
            - "Não oculteis a candeia sob o alqueire."

            E Allan Kardec acrescenta:
            - "Para ser proveitosa, tem a fé que ser ativa; não deve entorpecer-se."

            Encarecendo o imperativo do esforço próprio, sentencia o Senhor:
            -  “Buscai e achareis:"

            E Allan Kardec dispõe::
            - "Ajuda a ti mesmo que o Céu te ajudará."

            Salientando o impositivo da educação, disse o Excelso Orientador:
            - "Sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai Celestial."

            E Allan Kardec adiciona:
            -"Reconhece-se o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega para domar suas inclinações infelizes:"

            Enaltecendo o espírito de serviço, notificou o Eterno Amigo:
            - "Meu Pai trabalha até hoje e eu trabalho também."

            E Allan Kardec confirma:
            - "Se Deus houvesse isentado o homem do trabalho corpóreo, seus membros ter-se-iam atrofiado, e, se o houvesse isentado do trabalho da inteligência, seu espírito teria permanecido na infância, no estado de intinto animal."          

            Louvando a responsabilidade, ponderou o Senhor:
            - "Muito se pedirá a quem muito recebeu."

‘           E Allan Kardec conclui:
            - "Aos espiritas muito será pedido, porque muito hão recebido,"

            Exaltando a filosofia da evolução, através das existências numerosas que nos aperfeiçoam o ser, na reencarnação necessária, esclarece o Instrutor Sublime:
            - "Ninguém poderá ver o Reino de Deus se não nascer de novo."

            E Allan Kardec conclama:
            - "Nascer, viver, morrer, renascer ainda e  progredir sempre, tal é a lei.

            Consagrando a elevada missão da verdadeira ciência, avisa o Mestre dos mestres:
            - "Conhecereis a verdade e a verdade vos fará livres."

            E Allan Kardec enuncia:
            - "Fé inabalável só é aquela que pode encarar a razão face a face."

            Tão extremamente identificado com o Mestre Divino surge o Apóstolo da Codificação, que os augustos mensageiros, que lhe supervisionaram a obra, foram positivos nesta síntese que recolhemos da Resposta à Pergunta número 627, em “O Livro dos Espíritos" :
            - "Estamos incumbidos de preparar o Reino do Bem que Jesus anunciou."

            Eis porque, ante o primeiro centenário das páginas basiIares da Codificação, saudamos no Espiritismo - Chama da Fé Viva a resplender sobre o combustível da Filosofia e da Ciência - o Cristianismo Restaurado ou a Religião do Amor e da Sabedoria, que, partindo do Espírito ExceIso de Nosso Senhor Jesus-Cristo, encontrou em Allan Kardec o seu fiel refletor para a libertação e ascensão da Humanidade inteira.

             

Emmanuel

por  Chico Xavier 
in Reformador (FEB) Abril 1957


'Festanças e Promoções'



“Festanças e Promoções”
                        
                Aqui a mixórdia já atingiu os limites máximos permitidos pelos mais tolerantes princípios do espiritismo. O atalho, além de tenebroso, é em declive. Promovem-se, à guisa de expansão doutrinária, as mais esdrúxulas iniciativas: churrascadas, shows, chopadas, piqueniques, etc. No item 11 - "Programações ruidosas" -, fiz apenas o enfoque comemorativo das iniciativas; agora entro, como prometi, nas festanças propriamente, nos tipos e gêneros realizados.

                Há tempos, no Rio de Janeiro, uma instituição oferecia um angu à baiana a bom preço por cabeça. No Pacaembu, de São Paulo, foi promovido um big-show com a presença do "homem-Iuz"[1](?!) ... 317 No Roda-Viva, na praia Vermelha (Rio), patrocinaram uma churrascada no capricho, "com direito a três chopes" (!!!). A renda seria destinada à aquisição de casa própria para uma confreira (???). Em Higienópolis, no estado de São Paulo, tivemos um badaladíssimo chá-show. No Méier, aqui no Rio, aconteceu uma espetacular Festa Junina, com tudo a que se tinha direito: canjica, pescaria, teatrinho de fantoches, balõezinhos, etc. Na Bahia, patrocinado por importante entidade local, realizaram um Festival do Sorvete, que alcançou "grande êxito". Em Bauru, SP, também sob os auspícios de conhecida instituição, promoveu-se o "1º Grande Pic-Nic", com refrigerantes, shows, brincadeiras, almoço, ônibus especial e ... viva Jesus! Com atores famosos e muita cantoria, os espíritas de um centro de Jacarepaguá, aqui no Rio, festejaram o Dia das Mães. Num desses carnavais passados, surgiu em plena avenida Rio Branco (Rio) um "bloco espírita". Foi um sucesso, com a apresentação de exímios passistas e foliões.

.............................................................................

..............Numa passagem de ano, certo centro espírita realizou uma concorrida procissão comemorativa do réveillon, pelas ruas da cidade..............................

......Prosseguindo em nosso rosário (este é o termo exato) de realizações: em Paripe, na Bahia, sob os auspícios de prestigiosa entidade, aconteceu um "Arraial Espírita", certamente com muita queima de busca pé fluidificado. Outro centro, naquele mesmo estado, realizou a "Ginkana do Bem", sabendo-se que foi uma farra sem precedente. Bem recentemente, em Santos, SP, um centro espírita local patrocinou a "sua tradicional Noite da Pizza". Para sintonizar o clima napolitano, sugiro que, da próxima vez, incluam em fundo musical o "Magnificat" e, na sobremesa, seja servida a hóstia consagrada, condimentada com orégano. Em Minas Gerais, foi proposta à Câmara local a criação de um museu espírita, com o objetivo declarado
de promover "mais uma atração turística". No ginásio do Pacaembu, foi realizada chocalhada manifestação, que atraiu gente em penca e, segundo os jornais espíritas, "foi, antes de tudo, a consagração da Doutrina Espírita, cujo conceito aumenta, dia a dia, arrebanhando gregos e troianos". (É que nem trem da Central: vai entrando que dá pra todo mundo.) E muitas e muitas outras farras, folias, patuscadas, .....

...... Devo, entretanto, ressalvar que, quanto às atividades recreativas e artísticas, aqui anotadas, todas elas estariam muito bem, se não fossem levadas para dentro das instituições espíritas ou se estas instituições não lhes emprestassem o seu patrocínio. Principalmente se não envolvessem o espiritismo no esquema. Alguém por acaso já viu ou ouviu falar de alguma dessas iniciativas patrocinadas pela Federação Espírita Brasileira? Será que o exemplo não basta?

                Bem, leitor, é nesse pé, infelizmente, que as coisas estão. Porém há eventos ainda mais acachapantes.
                Durante conferências públicas, certa instituição espírita do Rio não perde tempo e vende sem pestanejar (e sem vergonha) tômbolas e rifas para os presentes. Além de ilegal e repetitiva do que fazem os católicos, a prática é perturbadora do clima espiritual dessas horas e, ainda, constrangedora tanto para o público quanto para o orador. Mas pior é ler artigos de quem se julga com autoridade para orientar, inclusive com livros, o movimento espírita, defendendo a prática do jogo do bingo nas instituições, a fim de angariar
recursos. É lastimável tamanha irresponsabilidade ética e religiosa. E por que não roleta, bacará, vinte-e-um, campista? Todos geram cornucópias de cruzeiros e dólares. ......................

.................... Triste, tristÍssimo atalho moral e espiritual.

.....................Continuemos. Uma certa fraternidade espírita se comprometia a abrir possibilidades para as pessoas vencerem na vida através do diagnóstico mediúnico do olhar. Consulta paga, é obvio ... No local do antigo Jardim Zoológico do Rio de Janeiro, em Vila Isabel, foi montada, em 1973, a Feira da Primavera.
Conhecida instituição, genuinamente kardecista, armou a sua barraca. Logo na frente, alinhou uma série de garrafas cujas doses eram vendidas em benefício da instituição. Conteúdo: pinga, cachaça. Olhe o leitor que eu disse tratar-se de instituição genuinamente kardecista ... Desculpa apresentada quando um verdadeiro espírita estranhou aquele comércio: as garrafas foram doadas ...

....................................................................................

             Se fosse para vender livro, vá lá; mas pastel, banana, torta, linguiça ... ah, essa não me desce na garganta. Talvez seja fastio. Fastio principalmente desse alimento putrescente que é o miasma de todos os atalhos. O Reformador de dezembro de 1966, p. 266, publicou valiosa nota condenando os bailes públicos em prol do espiritismo. Vale a pena também reler o artigo estampado na mesma revista de junho de 1948, p. 142, sobre festividades, músicas e bailes nas associações espíritas. Avalio, porém, como a melhor advertência, aquela que se contém na mensagem de Djalma Montenegro de Farias, psicografada por Divaldo Pereira Franco e inserida no Reformador de junho de 1960, pp. 135-136, sob o título "Templo Espírita". Copio dois parágrafos:

          Lentamente, vai-se generalizando nos centros espíritas uma prática que é, positivamente, afrontosa ao lema que ostentamos em memória do Codificador do espiritismo: "Fora da Caridade não há Salvação".
         Desejamos referir-nos aos chamados movimentos financeiros, tais como: apelos de dinheiro, venda de rifas, brincadeiras cômicas para aquisição de moedas, concomitante ao serviço de difusão doutrinária, em casas de pregação e assistência.
        Nesse sentido recordemos a linguagem vibrante de Jesus aos vendilhões do Templo, em Jerusalém, que transformavam o recinto de oração em balcões de comércio.

....................................................................................

Conduta Espírita, André Luiz recomenda, no capítulo 14: "Sustentar a dignidade espírita diante das assembleias, abstendo-se de historietas impróprias ou anedotas reprováveis."
......................................................................................

                Mas existe outro tipo de promoção, já bem ampla nas hostes espíritas, que extrapola qualquer diretriz do bom senso. É a instituição de dias comemorativos, a exemplo do que faz a Igreja Católica com a distribuição dos santos pelo calendário, a fim de serem efusivamente festejados. Não estou me referindo às datas de fundação das entidades, nem as rememorativas de algum acontecimento inquestionavelmente importante, do ponto de vista histórico, como a reencarnação de Allan Kardec, o lançamento de O Livro dos Espíritos, a descida de Jesus à Terra, etc. Isso é outra coisa. Refiro-me às extravagâncias que não passam de meras bajulações ou marcos estapafúrdios. Por exemplo: entidades, consideradas de bom conhecimento doutrinário, já propuseram, e algumas comemoram, religiosamente, o Dia da Mocidade Espírita (14 de
maio), o Dia da Saudade (5 de outubro, para reverenciar a memória dos médiuns), Dia da Doutrina Espírita (31 de março, transformado em lei estadual), Dia do Médium (30 de maio, este para homenagear os que ainda estão encarnados, e cujo documento foi-me presenteado pelo Divaldo Pereira Franco, então horrorizado com a ideia; e há também o Mês do Médium, que é em agosto, com 30 dias de puxa-saquismo), Dia do Espírita (3 de outubro; e eu que pensei que o espírita fosse espírita todos os dias ... ) e, para encerrar esse folclórico calendário, o Dia da Caridade (19 de julho, transformado na lei federal nº 5036, de 4.7.1966). Este último é hilariante e muito digno das religiões que instituíram cronologia para a salvação, mas, sem dúvida, há de ser repudiado pelos espíritas sérios. Caridade com dia marcado? Onde já se viu isso? Caridade é para ser pensada e praticada em qualquer dia, a qualquer hora, sempre que for possível e desejável. E se se tratar apenas de data evocativa, também de nada vale, pois a evocação desse dever é permanente, como o é a do próprio bem. Já pensaram na hipótese de se criar o Dia do Bem, para que nos lembremos de sermos bons? Por favor, freiem a imaginação e poupem-me o riso (ou o pranto!).

..........................................................................

No remate, a advertência de ouro feita por quem tinha verdadeira autoridade - Léon Denis:

                O Espiritismo propagou-se, invadiu o mundo. Desprezado, repelido ao começo, acabou por atrair a atenção e despertar interesse. Todos quantos se não imobilizavam na esfera do preconceito e da rotina e o abordaram desassombradamente, foram por ele conquistados. Agora penetra por toda a parte, instala-se em todas as mesas, tem ingresso em todos os lares. À sua voz, as velhas fortalezas seculares - a Ciência e a própria Igreja, até aqui hermeticamente aferrolhadas - arrasam suas muralhas e entreabrem suas portas. Dentro em pouco se imporá como soberano.

                Que traz ele consigo? Será sempre e por toda a parte a verdade, a luz e a esperança? Ao lado das consolações que caem na alma como o orvalho sobre a flor, de par com o jorro de luz que dissipa as angústias do investigador e ilumina a rota, não haverá também uma parte de erros e decepções?

                O Espiritismo será o que o fizerem os homens. Similia similibus! Ao contato da humanidade as mais altas verdades às vezes se desnaturam e obscurecem. Podem constituir-se uma fonte de abusos. A gota de chuva, conforme o lugar onde cai, continua sendo pérola ou se transforma em lodo.

Fonte: Item 28 deO Atalho - Análise Crítica do Movimento Espírita’
por Luciano dos Anjos

(Ed. Lachatre 1994) com pedido antecipado de desculpas ao Autor face cortes no texto original.


Pergunta do Blogueiro: O Sr. Thobias da 'Vai-Vai' é francês?

[1] É o Chico, coitado.... Nota do Autoir