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quinta-feira, 28 de julho de 2011

'A cura do filho do Oficial'


Cura do Filho de um Oficial             

         4,43  Passados dois dias, Jesus partiu para a Galileia 4,44 (Ele mesmo havia declarado que um profeta não é honrado na sua pátria) 4,45  Chegando à Galileia, acolheram-No os galileus, porque tinham visto tudo o que fizera durante a festa em Jerusalém; pois também eles tinham ido à festa, 4,46  Ele voltou, pois, a Canã da Galiléia, onde transformara água em vinho. Havia então, em Cafarnaum, um oficial do rei  Herodes Antipas, cujo filho estava doente. 4,47 Ao ouvir que Jesus vinha da Judéia para a Galiléia, foi a Ele e rogou-Lhe que viesse e curasse seu filho, que estava prestes a morrer.4,48 Disse-Lhe Jesus: “ - Se não virdes milagres e prodígios, não credes!”
4,49  Pediu-Lhe o oficial: - Senhor, venha antes que meu filho morra! 4,50 “ -Vai!”, disse-lhe Jesus, “o teu filho  está passando bem!” O homem acreditou na palavra de Jesus e partiu. 4,51 Enquanto já ia descendo, os criados vieram-lhe ao encontro e lhes disseram - Teu filho está passando bem! 4,52  Indagou, então, deles, a hora em que se sentira melhor. Responderam-Lhe: -Ontem, à hora sétima, a febre o deixou! 4,53 Reconheceu o pai ser a mesma hora em que Jesus lhe dissera: “ - Teu filho está passando bem!”, e creu tanto ele, como toda a sua casa.4,54  Este foi a segunda cura que Jesus fez, depois de voltar da Judéia para a Galileia.

            Para  Jo (4,50) -Acreditar na palavra de Jesus - leiamos Kardec em “O Evangelho...”:

         “Do ponto de vista religioso, a fé é a crença nos dogmas particulares que constituem as diferentes religiões; todas as religiões têm os seus artigos de fé. Sob esse aspecto, a fé pode ser raciocinada ou cega. A fé cega, não examinando nada, aceita sem controle o falso como verdadeiro, e se choca, a cada passo, contra a evidência e a razão; levada ao excesso, produz o fanatismo. Quando a fé repousa sobre o erro, ela se destroi, cedo ou tarde; a que tem por base a verdade é a única segura do futuro, porque não tem nada a temer do progresso das luzes, já que o que é verdadeiro na obscuridade, o é igualmente em plena luz. Cada religião pretende estar na posse exclusiva da verdade; preconizar a fé cega sobre um ponto de crença, é confessar impotência em demonstrar que se tem razão.”

                Os destaques são nossos...


         Para  Jo (4,53), -E creu tanto Nele...,  leiamos a Luiz Sérgio em “Cascata de Luz”:

            “Existem os que seguem e os que param. Os que dizem “não tenho nada com isso”, e os que se sentem responsáveis por tudo e por todos.
            Os que só sabem criticar e os que estão presentes no sofrimento que hoje invade a Terra. Os que não matam esperanças, que não fazem mal a ninguém, e aqueles que só criticam e maltratam. Os que são covardes, por isso contra a caridade, e os que se ocupam com o sofrimento alheio. Há também os que procuram os livros doutrinários e os que os ignoram, porque os levam à verdade. Os que seguem, seguem e seguem... buscando sempre aprender, e os que julgam que tudo sabem. A vida é uma estrada de quilômetros e mais quilômetros, mais do que suficientes para dividir os homens em duas categorias: os que seguem e os que param...”   




quarta-feira, 27 de julho de 2011

Leão I, papa


Leão  I,   papa

Um homem alto de rosto cheio,
vestido túnica de rendas e trazendo à cabeça um grande resplendor,
é distinguido, entre outros espíritos que o cercam, pelo médium  vidente.

___________

        
          Compareço hoje perante o grande tribunal da cristandade para responder pelos erros e faltas que cometi durante o meu pontificado.

          Leão I, papa e cristão, que se dizia outrora devotado cultor da fé e dos ensinamentos do Cristo, vem trazer-vos, o seu depoimento contra os seus próprios atos.

          Tem a consciência aberta como um livro, onde podeis ler tudo quanto nela se contém escrito e que os anos e os séculos não puderam apagar; a sua alma, neste instante, curva-se perante DEUS e agradece a graça e o favor que lhe foram concedidos, permitindo-lhe comunicar-se com os homens e diante deles penitenciar-se das suas fraquezas e dos seus desvios no desempenho do elevado cargo que exerceu na Terra. Sente-se feliz o papa, que ora se declara culpado e arrependido de haver falseado os santos princípios e as sábias lições recebidas do Calvário, de ter concorrido para o ofuscamento da luz que jorrou do alto da cruz sobre a cristandade, sequiosa da verdade, ansioso, ascender para a perfeição e atingir o seu glorioso e imortal destino.

          Vem o mais obscuro dos representantes do Cristo na Terra pedir o vosso perdão, a vossa benevolência para as suas faltas e culpas, rogando-vos também a piedade e o conforto da vossa caridade para as suas fraquezas e os seus atos de impiedade e orgulho.

          Eu vos contarei a minha vida de papa sem ocultar nada do que fiz, sem omitir uma falta, um pecado, um erro, uma apostasia, uma fraude, uma miséria, enfim, narrarei diante dos homens todas as minhas leviandades, todas as minhas vilanias e todas as minhas crueldades.

          Não sou mais da Terra, não pertenço ao mundo das ilusões, dos sonhos e das fantasias; vivo a vida eterna dos espíritos; pertenço ao número dos que já não tem interesses de ordem inferior e material e, por isso, colocam a verdade acima de todas as coisas; não temo proferi-la, ainda contra mim mesmo, para condenar-me, humilhar-me perante aos cristãos.
                                         
          Fui um papa criminoso. Pratiquei atos que não se coadunavam com a nobreza e elevação moral do cargo que exerci entre vós.

          Cometi erros que nenhum homem de estado, quer leigo, quer religioso, deve praticar.

          Sou, portanto, culpado e responsável também pelo caminho que tem seguido a cristandade. 

          Errei desde o começo do meu pontificado, desde o início do meu reinado religioso, inaugurando um governo despótico e absoluto, não trepidando em dilapidar as consciências, em prostituir caracteres, aviltar
Sentimentos e perverter costumes, implantar abusos, fomentar crimes, acoreçoar discórdias e atear guerra no seio da cristandade, contribuindo, assim para o descrédito e desrespeito daquilo que eu tinha o direito de defender e fazer respeitar, ainda mesmo empregando a força material.

          Fui um mal papa e um péssimo cristão. Duvidei da verdade ensinada por Jesus; descri na justiça de DEUS, na qual devia ter confiado, quando mais não fosse, para exemplo dos que rodeavam. Fui um grande gozador das horas e prerrogativas que a investidura papal dá aos que tomam sobre si a árdua tarefa de dirigir o mundo cristão. Sacrifiquei direitos, calquei com os pés o que antecessores meus edificaram com as mãos. Aviltei o culto cristão, permitindo que aí se introduzissem praticas e fórmulas de outros ritos condenados pela Igreja, repudiados pelos doutores desta. Falsifiquei documentos, violei as leis sagradas, consentindo a presença, o templo de S. Pedro, de pessoas cuja vida moral as incompatibilizava com a pureza e a moralidade do cargo que eu exercia.

          Coloquei os maus elementos dominantes na época em contato com as coisas sagradas e comprometi a fé cristã, deixando que falsos sacerdotes assumissem a direção de institutos religiosos e ali profanassem a lei de DEUS, cometendo abusos e violências, verdadeiros atentados contra a fé, a moral e a religião de Jesus Cristo.

          Pratiquei atos de puro orgulho e de requintada vaidade, dando honras e galardões a quem não os merecia, somente porque essas criaturas podiam e sabiam alimentar a minha vaidade e exaltar o meu orgulho.

          Criei em torno de mim uma atmosfera de ambições, vaidades e falsos orgulhos e da mais desenfreada corrupção.

          Não me preocupei com outra coisa que não fosse a satisfação de apetites brutais e desejos venais e da mais franca dissolução. Arrogue-me direitos  e poderes que não devia possuir sem quebra da minha dignidade pessoa e da instituição da qual era o chefe supremo.

          Fui ao extremo dos abusos e violações, entreguei-me apaixonadamente aos prazeres e desregramentos maiores, à vida sensual e criminosa dos ímpios e pagãos.

          Contrariei as leis cristãs, infligindo castigos desunamos aqueles que me contrariavam os caprichos, procurando sustar a fúria das paixões que me dominavam, dos maus instintos que eu acalentava na alma, onde os afogava com o mesmo carinho com que as mães acariciavam os filhinhos que trazem no regaço.
          Fui depredador e padrasto da cristandade, por cuja felicidade nada fiz. Corrompi os costumes políticos, depravei e abastardei as consciências, barateei os caracteres, manchei as mãos com o sangue generoso de adversários, aos quais fiz eliminar pela gente assalariada do Vaticano, incumbida de executar as minhas ordens, ainda mesmo as mais absurdas e criminosas.

          Desforrei-me sempre que pude dos meus inimigos, muito dos quais foram por mim desterrados e perseguidos até no seio da família, onde a minha cólera ia buscá-lo.

          Provoquei lutas entre os Estados que então formavam a Itália, influindo para que muitos soberanos fossem apeados dos seus cargos. Animei revoltas, aliciei elementos para guerrear o que me degradava e embaraçava a realização dos meus desejos.

          Comunguei com os perturbados e causadores das grandes desordens que abalaram a Europa no tempo em que pontifiquei. Assumi a chefia da igreja cercado das simpatias gerais dos que depositavam na minha gestão todas as esperanças da justiça e de reformas úteis e liberais. Levei a descrença a todos os corações e implantei a desconfiança em todas as almas.

          Substitui a cordura e a calma pela violência e o despotismo; transformei a ação papal em espada de dois gumes: um que feria o adversário e outro que magoava aquele que desferia o golpe. Impus silêncio aos que procuravam pensar livremente, raciocinar, pensando à luz da razão de acordo com a verdade natural que se patenteia no fundo de todas as coisas; sacrifiquei interesses do Cristianismo à cupidez e voracidade, à gula desenfreada que me não deixava saciar de uma só vez todos os maus apetites. Fui a um só tempo déspota e traiçoeiro, falso e prevaricador, dissimulado e sagaz, crente e apostata, orgulhoso e humilde, conforme os interesses da ocasião ditavam a atitude que devia assumir; autoritário com os fracos, dissimulado e manhoso com os fortes; violento com os que mostravam temer as minhas investidas, brando e calculadamente atencioso com os que possuíam algum poder, os que enfeixavam nas mãos o prestígio e a força.

          Não mostrava as minhas garras, senão quando bem seguro da fraqueza e pusilanimidade do adverso, tendo, portanto, a certeza de poder esmagá-lo.

          Não posso narrar minuciosamente todos os pequenos fatos desse funesto pontificado, cujas linhas gerais deixo traçadas, sem, entretanto ter olvidado nenhuma circunstância denunciante da minha culpabilidade, sem omitir nenhum traço cuja ausência pudesse diminuir a minha responsabilidade.

          Apontei-me criminoso sob todos os pontos de vista; acusei-me de todos os erros e crimes que pratiquei, embora sem entrar em minúcias que tiraram a grandeza desta “Revelação”. Fui aqui juiz de mim mesmo, acusando-me, condenando-me publicamente perante DEUS e os homens.

          Já vos falei do homem, agora quero falar-vos do espírito desencarnado, da alma sofredora, das suas reencarnações, da sua evolução através dos tempos, para chegar a ser o que hoje é; espírito lúcido e feliz.

                                * * * * *

          A morte trouxe-me muitas perturbações, aflições e lágrimas.

          Logo ao desencarnar, achei-me, em trevas tão densas que me fizeram chorar amargamente a minha desdita, sem ouvir ali, no meio do horror, uma voz que me consolasse, isto durante um tempo que não posso medir nem calcular, pois, como sabeis, no espaço, onde ficam as almas sofredoras, suportando os horrores das trevas, não existe tempo, o que faz parecer eterno o sofrimento; por isso é que não vos posso precisar a duração do meu tormento.

          Ali fiquei nessa situação dolorosa, nesse desespero que não vos posso descrever; ali permaneci sem ter noção do que se passava no mundo; era como se houvesse para sempre mergulhado no fundo de um abismo, onde todas as esperanças, todos os ideais, todas as aparições, todos os desejos e todos os sentimentos tivessem também apagado para sempre.

          Caminhava sem rumo, sem norte, pois tanto fazia marchar para frente, recuar ou deslizar para a esquerda ou para a direita, nada alterava, era sempre a mesma a minha situação.

          Era um caminho sem saída, um problema sem solução.

          Para variar tinha apenas uma coisa, única: a visão constante dos meus erros, dos meus crimes e das minhas torpezas.

          As minhas vítimas eram as únicas almas que me visitavam no meio desse desespero, e vinham somente para agravar a minha situação, aumentar o meu martírio.

          Chorava copiosamente, implorava que me arrancassem daquele lugar, me furtassem a essa escuridão maldita que tanto me fazia sofrer!gritava e, de tanto gritar e imprecar, sentia-me fatigado e caia em delíquio que, por instantes, me fazia esquecer o sofrimento e as dores que me atormentavam. Assim continuei: assim vivi sem poder encontrar alívio para o meu desespero.

          Comecei depois de muito sofre, a recordar-me das palavras de Jesus e repeti-las constantemente.
          Sentia então um grande e indefinido prazer em recordar certos atos bons que praticara, e um desejo ardente de orar, de  penitenciar-me começou a invadir minha alma.

          Orei de fato, e com fervor.

          Comecei a sentir os efeitos que a prece sincera de arrependimento, que fazia, ia produzindo em torno de mim, aliviando-me, tornando menos densa a treva, permitindo-me avisar, embora a furto, os famosos semblantes do espírito guia, dos protetores e amigos, que ansiavam por me verem liberto e arrependido das minhas culpas.

          O meu fervor aumentava, progredia, avolumava-se, e uma alegria, um gozo que não posso definir, começou a substituir o desespero e a aflição em que me achava  e que me pareciam eternos.

          A prece e o arrependimento me deram paz e sossego, e pude recuperar luz para o meu pobre espírito; aos poucos, achei-me em plena claridade, cercando dos espíritos que me procuravam confortar com os conselhos e explicações que vinham trazer por ordem superior e que eu aceitava com viva satisfação, ouvindo-os com desmedido interesse.

          Foi uma aurora que rompeu para mim, um novo dia que raiou para o meu espírito; foi o começo de uma nova era, na qual entrou minha alma alegre e satisfeita!

          Vi daí por diante todas as coisas espirituais por um prisma muito diverso daquele pelo qual as encarava em vida.

          Compreendi quanto fora culpado, toda a grandeza da responsabilidade que pesara sobre mim, senti-me enfastiado, aborrecido, enojado desse passado negro, dessa vida inútil, na qual eu só procurava comprometer o meu espírito, lançando-o no horror das trevas que me envolveram logo após a morte.

          Direis vós: - estivestes então no inferno a sofrer todos esses tormentos? Eu vos responderei: - não; o inferno não existe, jamais existiu, jamais existirá; estive dentro da minha consciência, esse abismo onde fui mergulhado e de onde dificilmente saí: era ela a minha própria consciência envolta nas trevas criadas pelos meus erros, formadas pelos meus crimes, acumuladas aí pelas minhas torpezas. Foi a minha própria consciência que me castigou; foi aí que encontrei o inferno e as torturas atrozes que suportei.

          O inferno não existe, assim como também não existe o céu.

          O que há no mundo dos espíritos são consciências - sombrias umas, luminosas,  radiantes da claridades eternas outras: aí tendes o inferno e o céu.

          Abandonai essa crença retrógrada; convencei-vos de que vós mesmos podeis criar o vosso céu ou construir o vosso inferno, e , um dia haveis de sofrer os horrores das trevas que fordes, desde já, condensando desde hoje, construindo com a prática do bem e da caridade, com as virtudes que cultivardes na vida terrena.

          Eu vos recomendo cuidado, firmeza, honestidade, fé, tolerância, caridade, justiça, amor ao próximo, abnegação e sacrifício por tudo que é nobre e santo, respeito as leis de DEUS, zelo pelas cosias sagradas e desprendimento do bens e gozos terrenos, pois não são eles os únicos que existem.

          Aconselho que vos prepareis para a vida de amanhã, gloriosa e eterna, para a vida espiritual, onde são felizes unicamente os que na Terra cumprem o seu dever sacrificando-se pelo bem, pela verdade, pela justiça e pelo amor.

          Sejam as minhas palavras um aviso, o toque de rebate nas fileiras cristãs, para que fiquem a postos, alerta, afim de poderem enfrentar os inimigos da alma, que hão de procurar conduzindo-vos para o caminho do mal, da desgraça, da ruína e das trevas.

          Que possais resistir às tentações e ao apelo constante da maldade do crime e do pecado, são os desejos de
    
                                             Leão I  (setembro de 1915)


Leão I   45º papa
Nascimento: Toscana, 400
Eleição: 29 de Setembro de 440
Fim do pontificado: 10 de Novembro de 461

Antecessor: Sisto III
Sucessor: Hilário

O Papa Leão I ou São Leão Magno foi papa de 29 de setembro de 440 até 10 de novembro de 461. É um doutor da Igreja e um dos Padres latinos. Leão I é conhecido por ter convencido Átila, o Huno em Roma, em 452, a voltar atrás de sua invasão da Europa Ocidental.

Vida
  De acordo com o Liber Pontificalis era natural da Toscânia. Em 431, como um diácono, ocupando uma posição suficientemente importante para trocar cartas com Cirilo de Alexandria e o Papa Celestino I. Quando o Papa Sixto III morreu (11 de agosto de 440), Leão foi unanimemente eleito pelo povo para sucedê-lo.
 O seu pontificado, de rara longevidade nos tempos iniciais da Igreja, foi pródigo em importantes acontecimentos, de entre os quais se destacam o encontro em 452 com Átila. Em 451, os hunos assolaram o norte da Península Itálica, saqueando e matando. O imperador do Ocidente não logrou defender o seu território. Leão enfrentou decididamente Átila, o rei dos hunos, em 452. No encontro com ele em Mântua, pelo poder da sua personalidade, conseguiu que Átila, finalmente, firmasse um acordo de paz.

 No entanto, Roma foi pilhada depois pelos Vândalos. Quando, em 455, os vândalos, comandados pelo rei Genserico, se encontraram às portas de Roma, sem que nenhum exército imperial trouxesse ajuda, os olhares se voltaram para Leão Magno. Ele se dirigiu ao acampamento dos inimigos. Embora não lograsse impedir de todo o saque da cidade, alcançou, contudo, que ficasse preservada a vida da população. Leão conseguiu impedir a tortura de muitos cidadãos romanos nessa invasão.

Em 446 o Papa Leão I declarou que "o cuidado da Igreja universal, deve convergir para a cadeira de Pedro, e nada (…) deve ser separado de sua cabeça".[1] Esta doutrina foi reafirmada no Concílio de Calcedónia em 451 por Leão I (através de seus emissários). Leão I impôs a uniformidade da prática pastoral, corrigiu abusos e resolveu disputas. Igualmente fica marcado pela defesa do conceito teológico fundamental de que Jesus Cristo teve duas naturezas distintas, a humana e a divina.

Fonte: Esboço encontrado na Wikipédia, a enciclopédia livre, Seguramente  desenvolvido por um católico.

Caridade: Solução



Caridade: Solução

Diante do dever, pensa na caridade, serve e passa.
Diante da dor, pensa na caridade, socorre e passa.
Diante do infortúnio, pensa na caridade, auxilia e passa.
Diante da aflição, pensa na caridade, consola e passa.
Diante da sombra, pensa na caridade, ilumina e passa.
Diante da perturbação, pensa na caridade, esclarece e passa.
Diante da ignorância, pensa na caridade, ensina e passa.
Diante da injúria, pensa na caridade, perdoa e passa.
Diante do golpe, pensa na caridade, tolera e passa.
Diante da tentação, pensa na caridade, ora e passa.
Diante do obstáculo, pensa na caridade, espera e passa.
Diante da negação, pensa na caridade, ajuda e passa.
Diante do desânimo, pensa na caridade, ajuda e passa.
Diante da luta, pensa na caridade, abençoa e passa.
Diante do desequilíbrio, pensa na caridade, remedia e passa.
Diante da tristeza, pensa na caridade, reconforta e passa.
Diante de todo o mal, pensa na caridade, 
faze todo bem ao alcance de tuas mãos e segue adiante.
“A cada dia basta o seu próprio trabalho”
– diz-nos a sabedoria do Evangelho.
Toda criatura, a caminho da perfeição, 
segue na estrada bendita da experiência.
Toda experiência é uma prova.
Toda prova configura um problema.
Caridade é a solução.
                                         Fabiano de Cristo
                                                             'Ideal Espírita' (1982 - 8ª Ed CEC) / por Chico Xavier 

terça-feira, 26 de julho de 2011

'O Atalho' - Apresentação, Introito e Proêmio - Luciano dos Anjos



‘O Atalho’
 por Luciano dos Anjos

Ed. Lachâtre 1ª Edição – 1995


Os Caminhos do Atalho

     Certa feita, estávamos participando de uma reunião na Comunhão Espírita Cristã, em Uberaba (MG), com o querido médium Francisco Cândido Xavier. A fila dos que desejavam falar com ele era muito grande, mas o aprendizado era tanto que ninguém arredava pé das proximidades para melhor absorver os conceitos luminares que ele ia expendendo.
     Aproxima-se então, um senhor de meia-idade que lhe diz:
     - Chico, trago-lhe este livro que considero um dos melhores na abordagem da questão espiritual!
     E passou um exemplar às mãos do médium.
     O Chico acolheu a oferta e muito agradeceu. Disse-lhe, imediatamente, o ofertante:
     - Chico, você conhece a obra? O que você me diz?
     Com toda a polidez que lhe é característica, o Chico lhe respondeu:
     - Meu amigo, sou-lhe grato pelo presente, que vou guardar com carinho. Quanto à obra, digo-lhe que quem tem a estrada reta da doutrina espírita não pode perder tempo andando pelo atalho. (Evidentemente que transcrevemos as palavras que a memória conseguiu guardar, restando-nos, porém, a certeza de que a idéia central está preservada.)
     Esta história que narramos vem a propósito do que está escrito neste livro, mais um da lavra do jornalista Luciano dos Anjos, tão no seu estilo combativo, mas escrito dentro de um profundo respeito e com toda a sinceridade que lhe vai na alma.
     Não é um libelo acusatório.  Não visa a pessoas! É, antes, um alerta para todos nós. Não acusa a doutrina espírita, que esta é cristalina seiva que jorra dos planos maiores, inobstante nossas defecções. É, isto sim, uma parada para pensar o movimento espírita, que deveria refletir a doutrina. Calcado na série de artigos publicados pelo Luciano na revista Reformador, quando da administração do Dr. Armando de Assis, de tão saudosa lembrança, durante o ano de 1973.
     Passados tantos anos, não se pense que o tema perdeu sua validade. Pelo contrário. Continua oportuno, conquanto muito tenha evoluído o movimento espírita em geral. Mas tem cabida, como alerta, como proposta de análise, como ponto de referência.
     Permito-me lembrar, a propósito, que, certa feita, fui convocado para cobrir a falta de um orador, numa confraternização espírita, pois o escalado, por motivos imperiosos, não poderia comparecer.
     Como fui avisado às vésperas do acontecimento, ocorreu-me abordar a série de artigos do Luciano, publicados no Reformador, já que o tema central da confraternização era o estudo do movimento espírita, numa demonstração de que o assunto preocupa a todos.
     Fiz, dentro das minhas limitações, a abordagem do assunto, seguindo ipsis litteris o que estava contido nos artigos.
     Claro que não conseguimos suprir a ausência do orador previsto, mas, ao final, inúmeros foram os pedidos para que a palestra fosse repetida nas diversas cidades, como diversos foram os confrades que vieram dizer da oportunidade do tema. E, cabe acentuar, a maioria era jovem...
     O trabalho do Luciano, no presente livro, está baseado, principalmente, nos livros: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, Obras Póstumas, todos de Allan Kardec, bem como, nas obras Emmanuel, A Caminho da Luz e O Consolador, de Emmanuel e pela psicografia de Francisco Cândido Xavier. Vê-se logo, pois, que o embasamento é dos melhores, se não o melhor.
     O desdobramento dos assuntos é feito numa linguagem lógica, coloquial e pela qual o autor convida-nos a pensar, a discutir idéias, nunca fazendo doutrinação vazia, lavagem cerebral. Assuntos como: “Desfiguração do cristianismo pelo catolicismo”, “O espiritismo como resposta ao desafio das forças de negação e desesperança” (Kardec, na conclusão de O Livro dos Espíritos, afirma que o espiritismo é o mais terrível antagonista do materialismo), “Crises do mundo contemporâneo”, “Panorama religioso no Brasil” e, finalmente, um histórico do surgimento da Federação Espírita Brasileira, que se revela da mais lata importância para a compreensão do esforço da Casa de Ismael e onde avulta o trabalho de Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio e A. Luiz Sayão.
     Encerrando esta apresentação, chamamos sua atenção, leitor amigo, para os tópicos onde, ao final do livro, o Luciano analisa as diversas esquinas do Atalho, numa sinopse às vezes de fazer rir, não fosse trágica.
     A da “churrascada”, então, é de arrepiar o mais tolerante vegetariano.

Felipe Salomão
Franca (SP), inverno de 1989.


Introito

     Estávamos em fins de 1972. Dois anos antes, Armando de Oliveira Assis havia sido eleito presidente da Federação Espírita Brasileira. Desde então ele imprimira uma linha revolucionária à sua administração, com grandes repercussões em todo o país. Seu lema era “modernizar sem banalizar”. Chamou-me para seu assistente e, nessa qualidade, ser também o editor-chefe do Reformador. Órgão oficial da Casa-Máter. Como jornalista profissional, fiz uma reforma radical na revista, atualizando-a da melhor forma possível. Ao mesmo tempo, criei o novo logotipo da FEB e propus a contratação dum capista de nomeada para refazer as capas de todos os livros editados. Propus também a restauração da Biblioteca e a reestruturação da Livraria, com a confecção de novas e arejadas bancadas para a exposição pública das obras.
     Mas, naquele final de 1972, eu levava para o Armando outras idéias ainda mais arrojadas. Conversando com ele, certa noite, até alta hora da madrugada, expus-lhe minhas preocupações como os rumos que vinha seguindo, no Brasil principalmente, o espiritismo. Eu lhe disse, com toda a franqueza, que estava me sentindo “prisioneiro duma camisa de força”. Sentia que estavam querendo me retirar a liberdade de ser espírita, mediante a igrejificação do movimento e o desvirtuamento de todos os princípios básicos da doutrina. Armando de Oliveira Assis me ouvia atentamente, e eu lhe disse que estava inclinado a produzir um trabalho de alerta para os confrades. Ele concordou com meus pontos de vista, endossou-os e me autorizou a meter mãos à obra.
     Foi assim que nasceu O Atalho, então publicado no Reformador de 1973. As reações foram as mais díspares. Eu havia mexido numa casa de marimbondos; sacudira violentamente o movimento espírita. A questão de liberdade, então, era crucial. Na medida em que eu pleiteava a minha liberdade e a da Federação Espírita Brasileira, a fim de pensar e agir livremente, indicava que as federadas deveriam fazer o mesmo e, mais adiante, os centros espíritas também. Nada de hierarquização, nada de obediência, nada de domínio, nada de hegemonia. De ninguém sobre ninguém. O Brasil inteiro foi sacudido. Recebi correspondência dos mais longínquos lugares. Alguns me apoiavam; outros me combatiam acidamente. O Armando dava esclarecimentos, enviava respostas, procurava mostrar o acerto do trabalho. Havia os que entendiam de pronto; outros relutavam, e nós então lhes pedíamos que fizessem um grande esforço no sentido de se descondicionarem da brutal realidade que os atraía. Seria preciso uma reciclagem interior, uma nova postura mental. E era isso que nós pedíamos aos mais exagerados. No Conselho Federativo Nacional, as discussões eram acesas, divididas que estavam as representações estaduais quanto à validade de O Atalho. Mas, no Conselho Superior, havia unanimidade de aplausos. Tanto que, em 24.8.1974, saía a lume a 59ª edição (extra) de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que foi distribuída entre os membros daquele Conselho. No frontispício do meu exemplar, Armando de Oliveira Assis escreveu a seguinte dedicatória:
     “Luciano. Lembrança da reunião do Conselho Superior em que a linha de ação da diretoria foi especialmente salientada e ratificada, com aplausos. Rio, 24-agosto-1974. (a) A. Assis, Armando de Oliveira Assis, Paulo José de Carvalho, Getúlio S. Araújo, Lauro S. Thiago, José Borges Ferreira, Francisco Thiesen, Joaquim da Costa Vilaça, Abelardo Idalgo Magalhães e Arthur Nascimento.
     A dedicatória era, portanto, endossada, também, por todos os membros da diretoria, sem exceção. E o Reformador de dezembro de 1973 estampou um editorial de pleno apoio aos argumentos da série O Atalho. Diante disso, o Armando me falou que o Departamento Editorial da FEB imprimiria o trabalho em livro, ocasião em que o diretor daquele departamento, Francisco Thiesen, adentrando o gabinete do presidente e ouvindo-lhe o propósito, declarou enfaticamente:
     - Deve ser impresso em livro e aparecer com a assinatura de todos os diretores!
     Lamentavelmente, isso não chegou a concretizar-se. Uma série de acontecimentos adiou a empreitada, até que o Armando, em agosto de 1975, não quis mais candidatar-se à reeleição. O projeto não foi retomado pelo seu sucessor que, inclusive, quanto a muitos aspectos, reverteu à antiga linha operacional da Casa de Ismael.
     A idéia, entretanto, exposta em O Atalho, não se apagou. Muitas instituições espíritas deram novo norte às suas iniciativas, pautando-as nos postulados do revolucionário trabalho. Outras, a seu turno, por repudiarem-no, recrudesceram suas ações e atitudes, desviando-se ainda mais dos caminhos de retorno que lhes eram propostos. É uma pena, mas cada qual tem o direito de seguir o rumo que desejar. Por isso, em suma, muita coisa melhorou; mas muitas outras pioraram consideravelmente. Para o livro que seria impresso pela Federação Espírita Brasileira, o Armando preparara um pequeno proêmio, na qualidade de presidente da FEB, o qual transcrevo, agora, mais adiante. É uma homenagem que lhe rendo, pela sua lucidez, pelo seu tirocínio, pela sua extraordinária visão de espírita. Devido a isso, os cinco anos da sua administração à frente da Casa-Máter foram os mais profícuos da nossa contemporaneidade. A FEB era, realmente, como ele desejava e proclamava, “locomotiva do movimento espírita, e não vagão”. Seu nome ficará imorredouro nos fastos da Casa de Ismael. Deve-se a ele a modernização completa do Departamento Editorial (trocou as impressoras tipográficas por off-set), a restauração da Biblioteca (contratando uma bibliotecária profissional), a remodelação do prédio da avenida Passos (em especial, as instalações da Livraria,no térreo), a criação das Zonais (que tanto contribuíram para a unificação), a inauguração da Seção-Brasília e, principalmente, o fiel cumprimento dos estatutos da FEB, pregando (como fizeram Bezerra de Menezes e outros presidentes do passado) a linha doutrinária da instituição, consubstanciada no binômio Kardec e Roustaing. Foram minhas, é verdade, muitas idéias e providências, mas a palavra era sempre dele, como presidente da Casa de Ismael, e decorrente de sua brilhante inteligência e reconhecido bom senso.
     Todavia, isso tudo é passado histórico. Mas, para que a árvore plantada refloresça sempre, não faltaram hoje os que consideram que O Atalho precisa continuar a ser difundido. Daí a presente edição, que foi, naturalmente, revista em muitos pontos para que ficasse atualizada e também ressalvada a época em que diversas medidas tiveram a sua adoção e o seu período de duração, ainda que, do meu ponto de vista, jamais devessem ter sido revertidas quaisquer delas. Tanto mais que, para implantá-las e defendê-las, mantive-me sempre à sombra da própria doutrina espírita e da história secular da Federação Espírita Brasileira.
     Espero, sinceramente, que meu esforço valha a pena. O que desejo é um espiritismo sem vícios,um espiritismo distante da igrejificação, dos formalismos, da burocratização. Acima de tudo,um espiritismo tal qual foi codificado pelo mestre Allan Kardec, sem a peias da fé administrada, da organização conciliar. E, essencialmente, um espiritismo em que as criaturas sejam verdadeiramente livres, sem obediência a chefes ou decretos. Já dizia Armando de Oliveira Assis, em mais uma das suas preciosas tiradas filosóficas: - “Não é espírita quem quer, mas quem pode.”

Luciano dos Anjos
Rio de Janeiro, 25 de abril de 1989.

     


Proêmio
       A Federação Espírita Brasileira, dada a importância da série de artigos de autoria de Luciano dos Anjos publicados em Reformador sob o título “O Atalho”, e subtítulo “Análise crítica do movimento espírita”, resolveu enfeixá-los no presente opúsculo, visando facilitar ao leitor a consulta aos temas nele expostos.
            Seria desnecessário recordar, aqui, que tudo o que vem à luz através de Reformador reflete a opinião e a orientação seguida pela FEB, dado que essa revista é a tribuna escrita da Casa-Máter. Por imaginar, entretanto, que isso possa ser ignorado por muitos de seus leitores é que vimos aludir ao fato, a fim de que não pairem dúvidas a respeito.
            Razão maior, porém, a ditar a presente publicação é o fato de serem ventiladas nos mencionados artigos questões da mais alta transcendência e referentes ao manuseio da doutrina espírita pelos espíritos temporariamente mergulhados na carne, os quais, mercê da própria repetência nas fráguas das solicitações exteriores, propendem ainda, malsinadamente, para práticas incoercíveis que ameaçam reincidir nos velhos desvios que têm conduzido a obstinada humanidade a conspurcar e adulterar a singeleza e a pureza do Evangelho de N. S. Jesus - Cristo.
            É de advertir, entretanto, que a Federação não espera nem pretende que se vejam nessas manifestações palavras de ordem a serem cumpridas. É da essência da doutrina espírita que o adepto seja o árbitro no que tange à aceitação e à adoção do que ela lhe inculca. Que o leitor, pois, tome do que aqui se contém a porção que lhe baste ao paladar íntimo.
         Armando de Oliveira Assis     
      Presidente            Rio, 5-2-1974
                                                               

Luiz Sérgio e seus amigos - Falando de Amor


  
 Amor                              
                                            

            “ No interior da consciência, o homem deve descobrir uma lei que não é ele a dá-la a si mesmo, mas, à qual, ao invés, deve obedecer; é a voz que o chama sempre a amar, a fazer o bem e a fugir do mal, quando necessário. ”       Painel (Pg. 9)



           “ O Amor - Ninguém mais do que Jesus exemplificou este sentimento.” Ir. Valério (Pg.12)
  



            “ Os bons espíritos estão vindo à Terra para ensinar ao homem o Amor. Somente este sentimento mata em nós o inimigo da evolução - o amor próprio, que nos faz seres egoistas e avaros.”  
                                                                                               Ir. Lázaro (Pg. 44)

           
            “ ...todos nós, um dia, seremos bons, porque fomos criados com Amor e este sentimento é a escada da evolução.  ”      Painel (Pg. 63)


            “...precisamos amar-nos e instruir-nos. Se tivermos apenas a teoria, nosso coração será transformado em papel, pois a letra mata, só o espírito vivifica. ” Luiz Sérgio (Pg. 65)



            “...desejo a você todo o bem que venho recebendo de Deus. ” Luiz Sérgio (Pg.109)



            “ Amor - moeda dos dois planos - material e espiritual. ”  Luiz Sérgio (Pg. 151)






             “ Semear Amor para  o próximo fará de você a luz do mundo e o sal da Terra.”
                                                                        Luiz Sérgio (Pg. 172)



            “ Não se deve julgar quem chora e grita na despedida do túmulo - nem todos possuem o equilíbrio necessário para chorar em silêncio. ”   Luiz Sérgio (Pg. 200)


  
            “ Um bom espírito não condena nem obriga, apenas esclarece e, para esclarecer, tem de buscar a verdade e esta é uma só: Amor. ”    Ir. Lourenço (Pg. 220)



            “ Não é Deus quem castiga, somos nós que saímos do Seu caminho. ”
                                                          Ir. Olegário (Pg. 253)


            “ Quem ama não diz adeus e as lágrimas da saudade são colírios que nos dilatam a visão para melhor buscarmos as verdades. ”                 Luiz Sérgio (Pg. 316)



Fonte: "Dois Mundos tão Meus" (1ª Edição)



segunda-feira, 25 de julho de 2011

E eu, que nada tenho?


E eu, que nada tenho?

Eu lhes falo em parábolas para que vendo,
não vejam e ouvindo,
não ouçam nem compreendam.
(Jesus em Mateus 13:13)


           
            Nossa querida Joanna de Ângelis nos vem em auxílio para completo entendimento desse versículo, conforme lido em “O Evangelho Segundo o Espiritismo” de Allan Kardec, em seu Capítulo XVIII:

            Tira-se àquele que nada tem, ou tem pouco... - tomai isto como uma oposição figurada. Deus não retira às suas criaturas o bem que se dignou fazer-lhes. Homens cegos e surdos! Abri vossas inteligências e vossos corações; vede pelo vosso espírito; ouvi pela vossa alma e não interpreteis, de maneira tão grosseiramente injusta, as palavras daquele que fez resplandecer, aos vossos olhos, a justiça do Senhor.

            Não é Deus quem retira daquele que havia recebido pouco, é o próprio espírito, ele mesmo, que, pródigo e negligente, não sabe conservar o que tem, e aumentar, na fecundidade, o óbolo que lhe caiu no coração. 

            Aquele que não cultiva o campo que o trabalho de seu pai lhe ganhou e o qual ele herda, vê esse campo se cobrir de ervas parasitas. É seu pai quem lhe toma  colheitas que não quis preparar? Se deixou  as sementes destinadas a produzir nesse campo, mofar por falta de cuidado, deve acusar seu pai, se elas não produzem nada? Não, não; em lugar de acusar aquele que tinha tudo preparado para ele, de retomar seus dons, que acuse o verdadeiro autor das suas misérias e que, então, arrependido e ativo, se lance à obra com coragem; que rompa o solo ingrato com o esforço da sua vontade, que o lavre a fundo com a ajuda do arrependimento e da esperança, que nele jogue com confiança a semente que tiver escolhido como boa entre as más, que a regue com o seu amor e a sua caridade, e Deus, o Deus de amor e de caridade, dará àquele que já recebeu. Então, ele verá os seus esforços coroados de sucesso, e um grão produzir cem, e um outro mil.

            Coragem, lavradores; tomai as vossas grades e as vossas charruas; lavrai os vossos corações; arrancai dele o joio; semeai aí  a boa semente que o Senhor vos confia e o orvalho do amor a fará produzir os frutos da caridade. ”
           




13 Irmãos da Caminhada Terrestre


Que a luz do Senhor nos envolva a todos!

Companheiros da caminhada terrestre!

            No dia em que pudermos, espontaneamente, dar as mãos uns aos outros, no sentido da união fraterna, como se tornará engrandecida a vida no planeta Terra! Quando isso poderá acontecer? Somente nós poderemos precisar o tempo. Nossa renovação íntima, no sentido de se minorar os erros, os defeitos que, talvez inadvertidamente cultivemos, e que devem ser eliminados pela observação pessoal. Lembremo-nos que toda estrada começa por um primeiro passo. Aceitemos os ensinamentos do Mestre Jesus, tão belos, generosos e sábios. Leiamos a codificação feita por Kardec a fim de que tenhamos nossa compreensão, nossa lógica, facilitada por um trabalho de meritório saber. Nada fica sem resposta. Nossas incertezas e dúvidas dirimidas, em cada página de tão alto valor filosófico. Despertemos, pois, em nós, a curiosidade de se saber mais. O que somos. Por que vivemos, para onde iremos depois do decesso?  Faço uma advertência aos indecisos: Nosso Mestre Jesus estará sempre presente às nossas vidas, material ou espiritual, com sua ajuda, seu amor, sua luz ! É lembrar sempre de chamá-lo, como amigo. Salve a doutrina salvadora !

‘Rama’

por  Zilda de Carvalho   em 10/1994
C  E  Jacques  Chulam  -  RJ RJ.

Prefácio do livro 'O Cristo de Deus'


prefácio do livro “O Cristo de Deus” (3ª Ed FEB  1979)
de  Manuel Quintão

por     Indalício Mendes
    
         “Jesus “antes a si mesmo se esvaziou, assumindo a forma de servo, TORNANDO-SE EM SEMELHANÇA DE HOMENS, e RECONHECIDO EM FIGURA HUMANA.” (Epístola de Paulo aos Filipenses, Ca. II, v. 7). 
        
         “...Deus, enviando a Seu próprio Filho EM SEMELHANÇA DE CARNE DE PECADO e por causa do pecado, condenou o pecado na carne; para que a exigência juta La Lei se cumprisse em nós, que não andamos segundo a carne, mas segundo o Espírito. Os que são segundo a carne põem a sua mente nas coisas da carne, mas os que são segundo o Espírito põem a sua mente nas coisas do Espírito. A mente da carne é morte,mas a mente do Espírito é vida e paz” (Epístola de Paulo aos Romanos, cap. 8, vv 3-6).
  
        “Um cepticismo presunçoso, que rejeita os fatos sem examiná-los, é mais funesto do que a credulidade que os aceita.” – Alexander VON HUMBOLDT.
    
        O HOMEM – Conhecemos Manuel Justiniano de Freitas Quintão na antiga livraria a Federação Espírita Brasileira, se não nos trai a memória. Recordamos, porém, que ali era dele o lugar preferido, quando se dirigia ou se retirava da Federação Espírita Brasileira, na Avenida Passos. “Passar pela livraria” era, para ele, e para mim continua a sê-lo ainda hoje, como parte de um “rito” sentimental. Quintão chegava mansamente, humilde, a doçura refletida no olhar melancólico, a completar a bondade do semblante simpático. Saudava discretamente as pessoas presentes e, com desvelos paternais, passeava os olhos pelas estantes, como se cada vez fosse a primeira a avistar os livros disciplinadamente dispostos em cada lance. No entanto, eram-lhe tão familiares! A carinhosa visita cotidiana denunciava a ternura com que revia os volumes destinados à espiritização cristã do povo. Como amava os livros! Quase sempre dava presença na pequena e modesta tipografia que funcionava aos fundos da livraria, de lá regressando a passos lentos, a fisionomia tranqüila, para encostar-se a um dos balcões laterais, que semelhavam, para ele, o que a êxedras gregas para antigos filósofos. Sempre havia alguém desejoso de ouvi-lo.
    
       A simplicidade do porte atraía. Comunicativo, fazia da palavra cativante mensageira de conceitos que penetravam logo a mente e o coração do interlocutor, deixando convite certo à reflexão. Não se presumia mestre de nada, mas a sabedoria colhida na vida, polida pelo estudo continuado, ilustrava qualquer palestra de que participasse. Gostava de conversar, e sempre oferecia o ouro legítimo da sua linguagem castiça, sem afetação, no intercâmbio instrutivo de cada momento, pondo amor nas frases, recebendo em troca o verbo opulento ou simples, conforme o caso, de quem com ele dialogasse. Sentíamos por Manuel Quintão quase místico respeito e sempre ouvimos com religiosa atenção o que nos dissesse, quer sobre Espiritismo, quer sobre outro tema que aflorasse no curso da conversação. Jamais lhe esquecemos a fisionomia bondosa, aberta em paternal sorriso, quando chegávamos. Quanta saudade!
     Estamos falando de um homem que foi bom e útil. Sereno e compenetrado de suas responsabilidades doutrinárias, jamais deixou transparecer o peso dos problemas cármicos que corajosamente defrontou, solapada pelas durezas da existência terrena, pois dava a impressão de ser espiritualmente feliz, amparado pela fé que remove montanhas. Era didático por vocação e fraterno por índole. Sua experiência transvazava a acuidade mental que, coleante, envolvia as conversas que mantinha, livre e franca como a linfa pura que, procedente de distante fonte, se dá generosamente para fecundar a terra e aliviar os sedentos. Muito se aprendia com ele, que, solícito, não se negava a ninguém, não se fazia reticente, falso humilde, como os que com tudo concordam para parecerem indulgentes. Sabia dizer sim, mas não se intimidava de dizer não, quando necessário. Divergia sem ferir, desenvolvendo socrático raciocínio. Sem ser sistemático, mostrava-se exemplarmente fiel a seus pontos de vista lógicos e convincentes. A palavra tranqüila e cadenciada adquiria maior poder no estilo escorreito que a abrilhantava. Se o ardor do antigo polemista repontasse em qualquer diálogo, depressa a mansuetude evangélica o compelia a ausentar-se. Por isso, não transpunha os limites estabelecidos por sua educação, mesmo nos mais complexos debates de caráter teleológico ou disteleológico.    

            Quem o visse, de boa altura, com o busto em mui ligeira proclividade, não deduziria de pronto ali estivesse um homem de excelente cultura, que tanto falava bem, como bem escrevia. A idade, em vez de lhe quebrantar a lucidez, ativou-a, conservando-lhe a jovialidade comedida. Na tribuna espírita, sem os arroubos de orador de comício popular, mas pausado e reflexivo, Manuel Quintão foi autêntico semeador das verdades evangélicas e doutrinárias, disciplinado e sóbrio, sobretudo polido. Era assim, dentro da Federação Espírita Brasileira e fora dela, com agrado geral, até dos que, vez pó outra, o adversassem. Nunca visava aos homens, mas as idéias, aos argumentos que oferecessem.

             E, pois, com inaudita emoção que rememoramos a sua personalidade pacífica e simpática, humilde e forte. Aí está uma construção pleonástica, porque ser verdadeiramente humilde é  ser verdadeiramente forte. Hoje, ele, como tantos outros luminares do Espiritismo Cristão, que se entregaram a tenaz e árduo labor em prol da disseminação do Evangelho e da Doutrina Espírita, através das obras referendadas por Allan Kardec, Jean-Baptiste Roustaing, Léon Denis, Gabriel Delanne, e outros, mal são lembrados, o que, aliás, não é de surpreender, em face do que se passa em relação a Jesus, pois a Humanidade continua sendo absorvida pelo que mais de perto lhe acoroçoa os sentidos.

              Avesso ao personalismo, compreendeu Manuel Quintão que, antes dos nossos melindres pessoais, está a Doutrina, que deve merecer a dedicação inteira dos que se encontram na Seara, a fim de que as semeaduras sejam fartas e as colheitas, fecundas. E disto ele não olvidava. Ardoroso, mas não rancoroso, conservava-se calmo quando tinha de responder a algum furibundo inimigo do Espiritismo. Suas expressões não faziam sangrar: faziam pensar. Foi, por conseqüência, no bom sentido, um apóstolo da causa. Não poucos os que com ele contenderam vieram, depois, a confessar honestamente a grandeza de caráter desse homem modesto, pacato, pobre de pecúnia, porém rico de sentimentos elevados, cuja vida pôs, até ao fim, a serviço da Terceira Revelação, com Allan Kardec,  e a Revelação da Revelação, com Roustaing, sendo de se considerar que ambos não se opõem, antes se completam.

     Tanto assim que deixou aos pósteros este trecho lapidar, ao referir-se à importante questão do “corpo fluídico” de Jesus:

     “Caminho de todos os quadrantes, verdade de todos os tempos, vida de todas as inteligências, a afirmar-se no mundo, para o mundo e fora do mundo. É assim pensando e sentido que repetimos com Kardec, estudando Roustaing: “A chave está no espiritismo, isto, na revelação progressiva dos Espíritos e todos havemos de o reconhecer ao nosso tempo”.

     Manuel Quintão foi infalível? Não, evidentemente. Teve erros, como todos os humanos. Quem não os tem? Falível – e isto é condição característica dos seres terrenos -, Manuel Quintão possuía, entretanto, valioso acervo de virtudes, as quais suplantavam as suas naturais limitações humanas. Sabia ceder humildemente, quando convencido de não haver sido feliz em dados momentos. A caridade, o amor ao próximo, a tolerância esclarecida, o espírito de solidariedade, o devotamento aos deveres, eram qualidades integrantes do seu ser. Médium curador, nada fez com que negligenciasse suas obrigações. Sabia respeitar a crença alheia e não fazia discriminações, a não ser diferenciações de natureza doutrinária, assim mesmo se tal lhe parecesse imprescindível. Tinha compromissos com o Cristo, dizia. A humildade, que tanto rareia no mundo, mesmo nos escalões do Espiritismo, era força atuante nesse homem simples e bom, que seguia, iluminando-se, as luzes da trilogia – DEUS, CRISTO, CARIDADE. Autodidata, conquistara paulatinamente o saber, sem que seu caráter sofresse mutações negativas. Comportava-se exemplarmente na prática doutrinária, onde quer que estivesse. Semelhante prática lhe granjeou o respeito de amigos e sinceros admiradores, no curso da existência trabalhosa, que durou precisamente oitenta anos.

     Foi sócio da Federação Espírita Brasileira (onde entrou pela mão de Antonio Lima) (1) durante mais de quatro décadas. Por quatro vezes ocupou a Presidência da Casa de Ismael: em 1915, em 1918 e 1919, e em 1929. Filho de pai português, Antonio Gomes de Freitas Quintão, e mãe brasileira, Maria Amélia Justiniano Quintão, nasceu no lugar denominado Quirino, no antigo Estado do Rio de Janeiro. Na juventude, perambulou pelo materialismo, empolgado pelas idéias de Haeckel, Büchner, Renan, Voltaire, Zola e outros. E defendeu-as como jornalista, até que, certo dia, adoeceu gravemente. Foi quando encontrou a sua “estrada de Damasco”, conforme seu próprio testemunho:

            “...desenganado pela medicina oficial, depois de esgotar todos os recursos e a pique de cair na indigência, é que fui levado a tentar a terapêutica mediúnico-espírita. Este episódio, contei-o na conferência que, em 1921, pronunciei a propósito das materializações assistidas pouco antes, no Pará, publicada sob o título de “Fenômenos de Materialização” (2). A minha cura foi tão rápida quanto eficaz e maravilhosa, e o monista irredutível, já candidatado ao suicídio, tornou-se espiritista confesso e professo.”

     Prefaciando o magnífico livro, acima citado, o beletrista Almerindo Martins de Castro, autor de diversas obras de acentuado valor doutrinário, escreveu, referindo-se a Manuel Quintão:

    “...Poucos, bem raros, são aqueles que aprendem, nas lições do Espiritismo, a estudar a vida no próprio cenário onde se agitam, e a vislumbrar, nos fatos cotidianos, o ensinamento que nos mostra a evidência das reencarnações expiatórias ou missionárias, patenteando – nessa sucessão de existências – a continuidade imortal da vida cósmica, multidividida, embora, em formas que vão desde as estrelas inconcebivelmente grandes, até às proporções invisíveis dos micróbios potentíssimos. Só estes raros conseguem o verdadeiro fruto promanado da doutrina: corrigem, dominam, vencem os maus pendores da natureza humana, contingentes quase sempre de predileções havidas em existências anteriores, e marcham para as águas purificadoras da reparação do passado. Os demais acreditam no Espiritismo, mas não são espíritas, embora se apregoem tal, de boa ou má-fé.

    À luz deste sadio critério é que se pode encarar e compreender a personalidade de Manuel Quintão, ascensionando desde os pórticos do mistério ao zimbório da Verdade.

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    Ligando-se ao poderoso núcleo que, do Espaço, superintende os destinos da Federação Espírita Brasileira, teve logo a assistência do boníssimo e iluminado Bezerra de Menezes, que, pelo seu lápis, receita – diariamente – para dezenas de enfermos solicitantes da ciência clarividente dos desencarnados. Esse Espírito, já envolto na  luz imperecível do Céu, viu em Manuel Quintão o desejo de dar – de graça – aos outros, aquela mesma esmola que – de graça – recebera, quando, incrédulo e devorado pela doença do corpo, experimentara, sem fé, a realidade da fé alheia.

     E foi nessa escola de miséria e sofrimento que ele, o médium receitista, aprendeu a força do SENTIMENTO, o poder da FÉ, a extensão da misericórdia divina, a VERDADE contida nos ensinamentos dos Espíritos que, em todos os tempos, a anunciaram, até que o Cristo a esculpisse no Evangelho e a exemplificasse – há vinte séculos – epilogada no Calvário. E também por isso foi que recebeu a inapreciável assistência de Espíritos da mais elevada moral evangélica, que não só lhe abriram ao entendimento das mais altas visões doutrinárias, mas igualmente lhe proporcionaram definitivas e convincentes demonstrações  do poder das forças manejadas do Além – por eternos mensageiros dessa Verdade inacessível à Ciência da Terra.

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(1)   Antonio Lima – Espírita militante bastante conhecido durante mais de usas primeiras décadas deste século por sua atividade, inclusive junto à Federação Espírita Brasileira. Poeta e escritor. Entre os livros que escreveu, editados pela FEB, contam-se Vida de Jesus, Estrada de Damasco, Senda de Espinhos, A Caminho do Abismo. 
(2)   Reformador de janeiro de 1955, página 7, sintética autobiografia deixada por Manuel Quintão, datada de 16-5-1939.

     Possivelmente, já  influências benéficas agiam do Invisível para que, dentro das contingências iniciais da sua provação, o futuro doutrinador chegasse, sem solavancos desequilibrantes do Espírito, à época própria de encarar o Sol rútilo da Verdade. Ignorado de si mesmo, foi subindo e penetrando naturalmente nos pórticos escalonados das hierarquias humanas, antes de chegar às do Espírito. O caixeiro medrou em um dos mais hábeis guarda-livros do seu tempo; do ensaísta bisonho dos versos e produções provincianos, surgiu um dos maiores escritores espíritas contemporâneos. Apenas, a premura de tempo não lhe ensejou trabalhos de longo fôlego. E embora as colunas do “Reformador” guardem lições suas, em prosa e verso, suficientes para constituir mais de um milhar de páginas de erudição doutrinária e modelar poesia, Manuel Quintão sempre fugiu a escrever livros, sustentando que o melhor fruto é proporcionado pela síntese no ensinamento, pois mais arraigada e eficazmente se guarda – na Alma – um preceito eloqüente e verdadeiro, do que – na memória – extenso trecho de rebuscado estilo a imitar os clássicos.”

     Na verdade, muito se teria a dizer a respeito do médium e doutrinador Manuel Quintão, vítima também, como tantos outros, de julgamentos apressados, que censores pouco tolerantes ou sem o seu merecimento levianamente criticaram, esquecidos daquela memorável parábola em que o Mestre dos mestres, em vez de acusar Madalena, fazendo coro com os maledicentes que pretendiam dilapidá-la, deu uma de suas mais lindas, edificantes e imortais lições de compreensão, ternura e construtiva indulgência.

     Manuel Quintão começou a freqüentar a Federação Espírita Brasileira em 1903, da qual nunca se afastou, dedicando-lhe profunda e sólida veneração. No terceiro volume dessa prodigiosa coletânea de mensagens mediúnicas denominada Trabalhos do Grupo ISMAEL, em sessão de 5 de agosto de 1942, o bondoso e iluminado Espírito Bittencourt Sampaio, por intermédio do médium J. Celani, disse, a propósito de imerecidas censuras feitas à Federação Espírita Brasileira, por intransigentes e sistemáticos adversários de sua orientação:

    “Lembrai-vos e adverti aos que a hostilizam que a Casa de Ismael não é dos homens, mas de Jesus, instituída pelos seus grandes servos, para glória do seu nome,  na sustentação do seu Evangelho. Pode ser humanamente mal dirigida ou governada de modo falho e defeituoso, com relação à sua tarefa. Sempre, porém, será a Casa de Ismael.

     Fazei compreender isso, com a mesma brandura, a mesma doçura, a mesma fraternidade com que o Divino Mestre admoestava os discípulos  que, pelas interpelações que lhe dirigiam, demonstravam não haverem ainda assimilado o espírito da doutrina em que Ele os instruía.. Dessa forma vencereis, porquanto é loucura atirar pedras à Lua; ao caírem, elas atingirão a cabeça dos imprudentes, que as arremessaram.”

     Ao pé da página (152), esta nota, dirigida Guillon Ribeiro, então Presidente da Federação Espírita Brasileira:

            “Guillon, dize ao Quintão que estamos com ele e queremos vê-lo aqui ainda, no cumprimento do dever. Paz.”

     Quintão achava-se enfermo e tão simples e lacônico “recado” expressa bem a afeição que os Espíritos tinham por esse prestimoso trabalhador da seara. Esse amor que viceja na Casa de Ismael envolve quantos a conhecem interiormente e compreendem verdadeiramente a magnitude do trabalho que lá se realiza, sem discriminações, mas com a cooperação espontânea e viva, dedicada e amorosa de todos, pois sentem intimamente a alta finalidade da FEB e as suaves e fraternas vibrações do seu ambiente. É uma casa de paz, onde se verifica a aglutinação de sentimentos elevados, na qual o amai-vos uns aos outros é a senha dos que se fazem humildes de dentro para fora, livres do farisaísmo que macula a alma dos insinceros.

     Se não, vejamos o testemunho do grande escritor espírita e orador dos mais inspirados e fluentes, que foi Carlos Imbassahy, no texto do prefácio que escreveu para o livro Cinzas do meu cinzeiro, de Manuel Quintão:

     “Também militamos na Federação Espírita Brasileira.

.....................................................................

      Força é confessar que não achamos fora dali gente tão honesta, tão sincera, tão digna”.

     Evidentemente, não pretendeu Imbassahy dizer que a FEB mantivesse o monopólio dessas virtudes, mas, por certo, desejou enfatizar o bem-estar que sentia no espiritualizado ambiente da Casa de Ismael.

*

     Manuel Quintão foi homem de paz, honrado com os outros e consigo mesmo, reconhecendo suas limitações, como criatura humana, tanto que afirmava achar-se também na faina da reconstrução à base dos ensinos evangélicos, por não ser o Espiritismo campo adequado ao cultivo do personalismo narcisista em concubinagem com a egolatria. Ou o homem cumpre seus deveres com dedicação, humildade e constância, ou terá de amargar, um dia, porque isso é imperativo na Lei, as desilusões que o tardio arrependimento acarreta, mostrando a irreversibilidade do tempo perdido inutilmente. Nenhum de nós está no Espiritismo para servir-se a si mesmo, mas para servir a todos. A Terceira Revelação, não é um palco em que cada qual deva exibir suas habilidades e seus talentos, para gozo próprio. É escola sacrificial de renovação. É escola grátis, mas séria, para aprendermos a ser úteis a outrem, na medida da nossa fidelidade a Jesus. Todavia, sempre é muito caro o preço pago pela leviandade ou descaso no cumprimento dos deveres decorrentes do ingresso em suas fileiras. Por isso, Manuel Quintão era escrupuloso e, ao mesmo tempo, tolerante e paciente, pacífico e fraterno. Não cultivava ressentimentos nem permitia equívocos que pudessem resultar em mal-entendidos prejudiciais ao movimento espírita. Se fosse necessário usar de franqueza para eliminar dúvidas ou para restabelecer a verdade, desfigurada ou desfeita, não se omitia, não ficava indeciso: agia prontamente, em linguagem serena, mas clara e determinada. Possuía, realmente, uma educação cristã-espírita.

     Amante do vernáculo, esmerava-se na linguagem escrita e falada, escrevendo de maneira que qualquer pessoa entendesse, embora apreciasse o ornamento da frase perfeita e encantadora. Não tisnava o falar com vocábulos pernósticos nem chulos, de mau gosto ou inadequados. Conhecia o idioma e buscava respeitá-lo, exemplificando a arte de escrever bem. Sua prosa era leve e agradável, às vezes com um suave colorido de jovialidade. Já velho, cansado, o alforje da vida pejado de duras experiências, não se fazia triste nem lamuriento. Pelo contrário, gostava da alegria discreta, do dito álacre, da atitude simpática, porque, para ele, somente podemos recriar o ânimo que ameaça decair, reagindo com coragem e otimismo. O homem vale por sua força interior, pelo vigor de sua alma. Não disse Paulo – “Em tudo somos atribulados, porém não angustiados; perplexos, porém não desanimados; perseguidos, porém não desamparados; abatidos, porém não destruídos” (II. Cor.: 8-9)? Porque, ou temos fé ou não temos fé, não podendo haver situação intermediária. E Paulo se lembrava da pletora de ânimo de Jesus, em todos os momentos do seu inenarrável sacrifício. Manuel Quintão se reabastecia de fé no Evangelho, que lhe dava ânimo para suportar estoicamente os acicates da existência. A Doutrina era-lhe reconfortante estimulador em todos os instantes. Tinha fé e compreendia que nada acontece por acaso, pois para tudo uma razão há que muitas vezes desconhecemos. Parece haver-se familiarizado com esta advertência contida no Eclesiástico:

            “Meu filho, se entrares para o serviço de Deus, permanece firme na justiça e no temor, e prepara a tua alma para a provação; humilha teu coração, espera com paciência, dá ouvidos e acolhe as palavras de sabedoria; não te perturbes no tempo da infelicidade, sofre as demoras de Deus; dedica-te a Deus, espera com paciência, a fim de que no derradeiro momento tua vida se enriqueça. Aceita tudo o que te acontecer. Na dor, permanece firme, na humilhação, tem paciência. Pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata, e os homens agradáveis a Deus pelo cadinho do aviltamento. Põe tua confiança em Deus e ele te salvará, orienta bem o teu caminho e espera nele.Conserva o temor dele até na velhice.”
                                                         (Eclesiástico, cap II, vv. 1-6.)

     Sabia estar, como todos estamos, num mundo em lenta e espinhosa evolução, no qual as criaturas passam também pelo cadinho das mais duras provas, “pois é pelo fogo que se experimentam o ouro e a prata”. De nós dependerá o êxito ou o revés. O nosso mérito está em lutar dignamente para que, um dia, possamos, transpostos todos os obstáculos, sentir a alegria da alma redimida e pronta para receber o prêmio do nosso esforço e perseverança, tornando-nos cristão em Cristo!

     Em suma, era ele um homem generoso, com a alegria que nasce da consciência pacificada no amor de Deus.

     Ao recordar a sua personalidade simples e cativante, relembramos, por natural associação de idéias, de Pedro, ativo, humilde, conselheiral e afetivo, a derramar sobre os homens ainda preocupados com as seduções terrenas os eflúvios do seu coração bondoso, neles pondo o olhar referto de ternura, talvez repetindo mentalmente a recomendação do Nazareno, esplendente de luz:

                        - Amai-vos uns aos outros!

*

     Nesta pequena obra, Manuel Quintão, hábil e brilhante estilista, ao mesmo tempo que realça o valor da Revelação da Revelação, onde se encontra, com meridiana clareza, o tema superior do “corpo fluídico de Jesus”, refuta, com elegância e firmeza, os paralogismos de um autor empenhado em contestações pueris, muito distantes da grandeza com que os Espíritos comunicantes desempenharam tão importante papel na coordenação e disseminação dos Evangelhos do Cristo de Deus. A sua linguagem é serena, como a de todo aquele que descansa a alma na Verdade, mas vigorosa, sem ser ácida,, e bastante lúcida, para que se possa bem distinguir o trigo dourado que oferece, em contraposição ao joio baço imposto pelo crítico temerário. Repondo cada coisa em seu devido lugar, Manuel Quintão pulveriza sofismas e denuncia deturpações, restabelece, com distinto critério analítico, o raciocínio correto, demonstrando, e, nesse passo, repetindo Helvétius, que “a Verdade não pode ser nociva”.

     Todavia, sem esquecer o princípio da tolerância, que deve ser apanágio do legítimo 
espírita-cristão, dá a entender que muitos erros são cometidos pela falta de conhecimento suficiente do assunto que é discutido, reproduzindo, com oportunidade, esta nota elucidativa que se encontra em O Livro dos Espíritos, Parte II, cap. IV, nº 182:

      “Nós, Espíritos, só podemos responder de acordo com o grau de adiantamento em que vos achais. Quer dizer que não devemos revelar estas coisas a todos, porque nem todos estão em estado compreendê-las e semelhante revelação os perturbaria.”

     Nada tem de vexatória a situação de alguém que ainda não está capacitado a compreender o que é de fácil entendimento a outrem. O que se torna vexatório é persistir na ignorância ou se deixar conduzir por propósitos incompatíveis com a ética, sempre necessária nas relações dos homens entre si. Não se trata, às vezes, de menor ou maior inteligência, mas, sobretudo, de grau de acuidade espiritual. Daí a necessidade do esclarecimento ponderado, da tolerância vigilante, mesmo quando a crítica ou mesmo a agressão é utilizada como argumento adverso, na tentativa de empanar o brilho da Verdade e de destruir o indestrutível.

     Foi essa a orientação seguida por Manuel Quintão, em O Cristo de Deus: pacífico, mas positivo; indulgente, porém, franco, com o que recorda estas palavras do ilustre Codificador, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Introdução, p. 27, 66ª Ed. FEB, 1976.

    “Muitos pontos dos Evangelhos, da Bíblia e dos autores sacros em geral são ininteligíveis, parecendo alguns até disparatados, por falta da chave que faculte se lhes apreenda o verdadeiro sentido. Essa chave está completa no Espiritismo, como já o puderam reconhecer os que o têm estudado seriamente e como todos, mais tarde, ainda melhor o reconhecerão.”

     O problema está, talvez, na falta de seriedade no estudo do Espiritismo, e acrescentaremos: também do Evangelho, pois em ambos se encontram passagens que levam à compreensão nítida de que Jesus, pela sua hierarquia moral e espiritual, infinitamente superior à de todos nós, pobres terrícolas, somente poderia ter baixado a este planeta com um corpo fluídico, de aparência carnal.

     Tem-se insistido num sofisma, já desmantelado por Leopoldo do Cirne , Manuel Quintão, Guillon Ribeiro, Ismael Gomes Braga, Antonio Luiz Sayão, além de Bittencourt Sampaio, outro Espírito de nobre e elevada envergadura, com o fim de opor entraves à difusão de ‘Os Quatro Evangelhos’, mas o progressivo aumento de tiragem dessa notável obra mediúnica constitui prova evidente e cabal de que aumenta, também progressivamente, o número de seus estudiosos leitores.

     Sendo a Doutrina espírita de caráter essencialmente progressivo é cabível, aqui, a reprodução de mais este trecho de sua autoria, para se aceitar o fato de ser o lançamento de Os Quatro Evangelhos, por Jean-Baptiste Roustaing, como enorme passo à frente, um grande avanço no estudo do Espiritismo evangélico:

    “...não lhe cabe (à Doutrina) fechar a porta a nenhum progresso, sob pena de se suicidar. Assimilando ideias reconhecidamente justas. DE QUALQUER ORDEM QUE SEJAM, físicas ou metafísicas, ela jamais será ultrapassada, constituindo isso uma das principais garantias da sua perpetuidade.”

     Ora, ao contrário do que alguns insistem em asseverar, o que já foi dito e repetido é que Kardec, usando do seu direito de externar um ponto de vista apenas pessoal, considerou que ainda era cedo para dar à luz da publicidade assunto tão transcendente, mas reconhecendo na obra – Espiritismo Cristão ou Revelação da Revelação – OS QUATRO EVANGELHOS – Seguidos dos mandamentos explicados em espírito e verdade pelos Evangelistas assistidos pelos Apóstolos e Moisés – “O MÉRITO DE NÃO ESTAR EM CONTRADIÇÃO, POR QUALQUER DE SEUS PONTOS, COM A DOUTRINA ENSINADA EM O LIVRO DOS ESPÍRITOS E EM O LIVRO DOS MÉDIUNS.” Esclareceu que, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, se limitou às máximas morais que, com raras exceções, são geralmente claras” e, dessa forma,  “não poderiam ser interpretadas de maneiras diversas; por isso mesmo jamais fizeram objeto das controvérsias religiosas”. Pioneiro das ideias espíritas, numa época em que os ultramontanos ainda faziam tremendas pressões contra tudo quanto lhes parecesse conflitante com os pontos de vista católicos, é possível que a prudência de Kardec, tantas e tantas vezes louvada, lhe haja sugerido não julgar conveniente, em tal época, suscitar debates maiores em torno do problema espírita religioso. Tanto assim parece que ele, com a característica lealdade que possuía, apontou: “Essa a razão que nos levou a começar aí, a fim de sermos aceito sem contestação, aguardando, relativamente ao mais, que a opinião geral se encontrasse familiarizada com a idéia espírita.” Idêntico ponto de vista se encontra na Revue Spirite, de junho de 1867.

     Kardec não negou a veracidade das revelações divulgadas por J.-B. Roustaing. Apenas, conforme afirmou, não julgava oportuno “abordar” certas questões. Podemos até compreender, disso, que, se julgasse oportuno, por certo não deixaria de abordá-las. Só muitos anos depois foi que William Crookes, que ainda não aceitava sequer a idéia da materialização, veio a assistir a uma sessão desse gênero, em Londres, precisamente a 22 de outubro de 1873 (ver Fatos Espíritas, de William Crookes, editado pela FEB), em que a médium Florence Cook (morena) recebia o Espírito Katie King (ou Anne Morgan), sob o controle científico principal do sábio Alexander Aksakof. Mas formas as experiências de Crookes com Miss Cook que sacudiram a ciência oficial. Se tais experiências houvessem ocorrido durante a presença de Kardec na Terra, certamente o Codificador, que era “o bom senso encarnado”,  no dizer de Flammarion, estaria mais seguro para externar uma opinião decisiva sobre a questão do corpo fluídico de Jesus.

     Um assunto puxa outro, porque, afinal, há um co relacionamento de fatos, no Espiritismo, que o torna mais e mais interessante. O Livro dos Médiuns registra em suas páginas o caso dos fenômenos de bicorporeidade e bilocação  de Santo Antônio de Pádua. E ali está uma explicação muito oportuna do Espírito de Santo Afonso:

     “Quando um homem, POR SUAS VIRTUDES, chegou a desmaterializar-se completamente; quando conseguiu elevar sua alma para Deus, pode aparecer em dois lugares ao mesmo tempo.” (Os destaques são nossos).

     O Espírito do homem (Santo Antônio de Pádua) desmaterializa-se, o corpo físico fica no local onde acontece o fenômeno, enquanto o Espírito, liberto da prisão carnal, aparece noutro lugar, mesmo distante. Se isso é possível, pelas virtudes do homem, por que a materialização e desmaterialização de um Espírito como Jesus não pode ocorrer também, oferecendo ainda maiores exemplos de autonomia e determinação? Como será possível admitir que seja possível considerar limitados os poderes de um Espírito de elevada hierarquia, como Jesus, sábio e imaculado, que nunca faliu, que dispões do conhecimento integral de todos os mistérios da Espiritualidade, como o de todos os fluidos e do seu aproveitamento, que “a nossa vã filosofia” mal pode compreender? No caso de Santo Antônio de Pádua houve, além de bilocação, materialização e desmaterialização. Mas, cedamos a palavra a um dos espíritas mais estudiosos e experientes, Almerindo Martins de Castro, contidas em seu livro Antônio de Pádua, editado pela FEB: O pai de Antônio fora maliciosamente envolvido num caso de prestação de contas. Agira lisamente, mas não pedira recibos para comprovar os pagamentos feitos. Suspeitado, ficou aflito, pois negavam que houvesse feito os pagamentos. “E sob o império dessas penosas impressões estava, quando disso: - “Pobre de mim, que não tenho um filho, parente, nem amigo para valer-me nesta situação!...”  Nisto, à porta chamaram-no, e ele, julgando tratar-se de enviados da Justiça Régia, foi à Câmara da Cidade, onde devia dar as definitivas alegações aos oficiais del-Rei. Mas, ali chegando, antes que pronunciasse qualquer palavra, surgiu Antônio – que estava na Itália, em Milão – e relatou àqueles homens de má-fé todos os detalhes do que fizera o pai, minuciando o local, hora e espécie da moeda em que lhes havia sido feita a entrega das quantias devidas.”

     Surgindo Antônio, evidentemente em forma humana, materializado, tanto que fez o relato a que se refere a descrição, salvou o pai, deixando provada a lisura com que ele procedera.

     Mas, continua o livro: “Outro fato, verdadeiramente de MATERIALIZAÇÃO. Um amigo e vizinho do pai de Antônio matou, por inimizade, certo moço de importante família e escondeu o cadáver no quintal da casa de Martim de Bulhões. Feitas as pesquisas e achado o morto, foi o pai de Antônio envolvido no processo e condenado à morte, como sendo cúmplice, juntamente com os autores do crime. Antônio pregava em Pádua, quando foi mediunicamente ciente do ocorrido, isto é, de que o pai ia ser decapitado. Antônio cessou de falar. Seu corpo, arrimando-se no púlpito, imobilizou-se, dando a impressão de estar dormindo. E apareceu em Lisboa, no adro da Sé, onde tivera sepultura o assassinado, e aí deteve o cortejo da Justiça. E, chegando junto à cova do morto, MATERIALIZOU O ESPÍRITO DA VÍTIMA, fazendo-o narrar toda a verdade do crime, sem omitir uma peripécia. O espanto foi inenarrável, pois todos VIRAM o defunto erguer-se da tumba, e, finda a narrativa, cair “morto” outra vez!

     Mas, o extraordinário livramento do velho Martim de Bulhões não produziu só esses pasmos, porque, Antônio, quando continuou a prédica interrompida – em Pádua -, pediu desculpas pelo demorado intervalo, contando como fora e conseguira salvar o progenitor. E os que não acreditaram tiveram a confirmação do caso, quando chegaram as informações pedidas para Portugal” (págs. 48 a 50).

     Como se leu, o Espírito pode assemelhar-se, por sua vontade, desde que seja suficientemente virtuoso, ao corpo carnal de um ser vivo. Em O Livro dos Médiuns, lê-se: “Está admitido que o Espírito pode dar ao seu perispírito todas as aparências; que, mediante uma modificação na disposição molecular, pode dar-lhe a visibilidade, a tangibilidade e, conseguintemente, a opacidade” (também, obviamente, a materialização, acrescentamos), págs. 153 e 154. Kardec, entretanto,  fiel à prudência sempre manifestada, porque lhe faltavam provas, disse, tal como viria a dizer a respeito do corpo fluídico de Jesus: “Quanto ao fenômeno em si, não  afirmamos nem a sua possibilidade, nem a sua impossibilidade. Dado, entretanto, que ocorra, a circunstância de se lhe não oferecer uma solução satisfatória DE NENHUM MODO O INFIRMARIA.” E concluiu que  esta advertência, esquecida no caso do corpo fluídico de Jesus: IMPORTA SE NÃO ESQUEÇA QUE NOS ACHAMOS NOS PRIMÓRDIOS DA CIÊNCIA E QUE ELA ESTÁ LONGE DE HAVER DITO A ÚLTIMA PALAVRA SOBRE ESSE PONTO, COMO SOBRE MUITOS OUTROS” (o grifo e o versal são nossos, Ibidem, págs. 154 e 155).

     Aliás, não há nenhuma referência à materialização de espíritos em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns, e isso é assaz significativo. É, pois, compreensível que Kardec, voltamos a dizer, escrupuloso como era, extremasse sua cautela quanto aos fenômenos de materialização, porque não pudera conhecê-los “de visu”; e, porque cada conhecimento chega no tempo devido, evitasse, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XXVII, item 8, página 389, narrar o aparecimento do anjo Rafael, Espírito materializado, ao velho Tobias e seu filho, homônimo, limitando-se apenas a extrair do fato soberbo este comentário ligeiro:

     “Se o anjo que acompanhou a Tobias lhe houvera dito: “Sou enviado por Deus para te guiar na tua viagem e te preservar de todo perigo”, nenhum mérito teria tido Tobias. Fiando-se no seu companheiro, nem sequer de pensar precisava. Essa a razão por que o anjo só se deu a conhecer ao regressarem”.

     Voluntariamente, ou não, deixou o fundamental pelo acessório. O fundamental, o essencial, no episódio, é o fato de o anjo Rafael ter vindo em auxílio do velho Tobias, atendendo a preces por este feitas a Deus. Quando Tobias, o moço, e Rafael puseram-se a caminho, numa viagem longa, conviveram durante muito tempo, venceram obstáculos, até chegarem à casa de Raquel. Lá, conversaram, cearam, etc. Rafael assistiu às festas nupciais de Tobias e Sara, filha de Raquel. Depois, o anjo, acompanhado por quatro criados de Raquel e dois camelos, foi à cidade, ao encontro de Gabelo. De volta, participaram, Rafael e Gabelo, do banquete de boda. Tobias, o moço, vai a Nínive, em companhia de Rafael, e retornam à casa do velho Tobias (ver O Livro de Tobias, editado pela FEB). Durante tão largo tempo de convivência, o jovem Tobias não chegou jamais a perceber que Rafael (ou Azarias, nome que este usou) não era um homem comum, mas um anjo, um espírito evoluído, que, servindo a mandado de Deus, ali fora para ajudá-lo, como para curar seus pais, que haviam feito jus a essa ajuda, pelo muito que veneravam o Senhor. Em nenhum momento, Rafael deixou de se portar como um homem aparentemente igual a Tobias.

     Kardec, que conhecia o caso, tanto que o citou em O Evangelho Segundo o Espiritismo, não deixou, repetimos, nenhuma observação particular a esse respeito. Fora de dúvida, porém dele deve ter-se lembrado, quando se ocupou da obra lançada à publicidade por J.-B. Roustaing (A Revelação da Revelação ou Os Quatro  Evangelhos), e talvez não sentisse ainda o momento para definições, no que diz respeito à fluidez do corpo de Jesus, assunto que reputava melindroso, preferindo, por isto mesmo, guardar a mesma neutralidade que já demonstrara em outra oportunidade.

     Essa posição, no entanto, de modo algum infirma a obra “de” Roustaing, como não a infirmou, obra extraordinária, de eloquente e positiva interpretação dos fatos evangélicos à luz do Espiritismo Cristão. Tanto assim foi que, na Revue, Allan Kardec escreveu, relativamente a Os Quatro Evangelhos, que tal obra tinha “O MÉRITO DE NÃO ESTAR EM CONTRADIÇÃO, POR QUALQUER DE SEUS PONTOS, COM A DOUTRINA ENSINADA EM O LIVRO DOS ESPÍRITOS E EM O LIVRO DOS MÉDIUNS”.

*

     Não raro, a vaidade pessoal fomenta a insistência oposicionista, a má compreensão ou o espírito de sistema, da parte de adeptos, como já se disse, que “entraram no Espiritismo, mas nos quais o Espiritismo não entrou”... Mas essa oposição tem um aspecto favorável, que é trazer sempre, na “crista da onda”, a formidável obra mediúnica que Roustaing corajosamente divulgou.

     Vejamos a Revue Spirite, de junho de 1867, e destaquemos este trecho da autoria de Kardec:

     “Dissemos acima que o Livro do Sr. Roustaing não se afasta dos princípios exarados em O Livro dos Espíritos e em O Livro dos Médiuns; as nossas observações, por conseguinte, entendem com a aplicação desses mesmos princípios à interpretação de certos fatos. É assim, por exemplo, que aquele livro dá ao Cristo, em vez de um corpo carnal, um corpo fluídico concretizado, com as aparências da materialidade e dele faz um agênere. Aos olhos dos homens, que então não lhe teriam podido compreender a natureza espiritual, ele teve que passar, na aparência, palavra esta que incessantemente se repete no curso inteiro da obra, por todas a vicissitudes da humanidade. Desse modo se explicaria o mistério do seu nascimento: Maria não teria tido mais do que as aparências da gravidez. Este ponto, estabelecido como premissa e pedra angular, é a base em que o autor assenta a explicação de todos os fatos extraordinários ou milagrosos da vida de Jesus. NADA HÁ NISSO, SEM DÚVIDA, DE MATERIALMENTE IMPOSSÍVEL PARA QUEM CONHECE AS PROPRIEDADES DO ENVOLTÓRIO ESPIRITUAL” (o versal é nosso).

     Há, contudo, a apontar que, ao contrário do que se lê, na 16ª linha do trecho reproduzido, Roustaing não foi o autor da obra, ditada por Espíritos superiores à Srª Emilie Collignon, “médium absolutamente mecânica, dama da alta sociedade, e que, pessoalmente, não concordava com a teoria do corpo fluídico, enquanto os Espíritos a lançavam pelo seu lápis” (ver Elos Doutrinários, de Ismael Gomes Braga, 2ª edição da FEB, 1961, pág. 14). A respeito ainda da reputação da Srª Collignon, transcrevemos a palavra de Kardec, da página 288 da Revue Spirite de 1865, em noticiário por ele assinado:

     “Temos o prazer e o dever de chamar a atenção de nossos leitores para essa brochura “Palestras Familiares sobre o Espiritismo”, por Mme. Collignon, que inscrevemos com prazer entre os livros recomendáveis” (ibidem).

     A propósito do mistério da virgindade de Maria Santíssima, cujo nome declinamos com o mais profundo respeito, nada teve de milagroso. Tampouco pode ser,  hoje em dia, considerado mistério, tantos são os casos de “falsa gravidez” registrados nos anais da Medicina. Nós mesmos conhecemos um deles, ocorrido com pessoa de nossa amizade. É mais uma das numerosas “novidades” seculares. Em seu famoso livro Les vierges mères et lês naissances miraculeuses, do qual foi editada um síntese, traduzida para o português pelo Dr. Gastão Pereira da Silva (As Virgens Mães e os Nascimentos Miraculosos, livraria Império, Rio), diz Pierre Saintyves:

     “Justino parece ter sido o primeiro a argumentar, servindo-se das fábulas pagãs, para justificar o nascimento milagroso de Cristo. Mas esse antigo platoniano parece também querer passar de largo no que respeita à lenda que corria acerca do autor dos Diálogos”.

     - “Quando dizemos que o primeiro verbo, nascido de Deus, Jesus-Cristo, nosso Senhor, foi gerado sem operação carnal, que foi crucificado, que morreu, que ressuscitou e que subiu ao céu – damos curso a uma história tão estranha como a daqueles seres a quem chamais filhos de Zeus” (página 152).

     Na mesma página: “Orígenes é menos reservado. Este argumenta assim contra Celso:
     - “Que haverá, pois, de incrível em dizer que Deus, tendo resolvido enviar aos homens um mensageiro, em tudo divino e extraordinário, quisesse para seu filho um nascimento também extraordinário em tudo, em vez de nascer de um homem e uma mulher, do mesmo modo que os outros?”

     À página 153:

    “... S. Jerônimo, por seu lado, vai na mesma ordem de ideias:

     -“Pensavam que o príncipe dos Sábios – disse ele – não poderia ter nascido senão de uma virgem.

     “Mas também, quando trata de responder a Helvídio, que se servia dos irmãos e das irmãs do Cristo para argumentar contra a virgindade de Maria, o que encontrava ele para lhe retorquir? Nada menos do que estas palavras:

     -“Eu poderia, em rigor, dizer-te que José, a exemplo de Abraão e de Jacó, teve muitas esposas – e que os irmãos do Senhor são filhos dessas esposas. E, na verdade, dando-te esta resposta, não faria mais do que seguir o sentimento geral. Mas esse sentimento é temerário e fere a piedade. Tu pretendes que Maria não ficou virgem. Pois bem: eu afirmo que o próprio José era virgem e que o Cristo, virgem também, nasceu de um casamento de virgens.”

     “S. Jerônimo repele, pois, a opinião do seu adversário. E não fica aí: também proclama a virgindade do próprio José e contradiz por este meio a tradição da primitiva igreja, que fazia dos irmãos e das irmãs de Jesus os filhos de um primeiro casamento de José” (sic) (pág. 154).

     Relativamente aos chamados “irmãos de Jesus”, a FEB editou um livro muito interessante, de instrutiva conferência proferida por Kruger Mattos, o qual convidou Manuel Quintão para prefaciá-lo. Este, escusando-se em respeito a velho princípio de não prefaciar livros, escreveu-lhe uma carta, incluída, “À guisa de prefácio”, da qual reproduzimos as linhas finais:

     “Sem embargo, se você, meu caro Kruger, quiser um conselho, aqui lho dou com fidelidade de coração: dispense o prefácio. Seu trabalho não precisa de anteparos, vale pela só estrutura e o seu nome não requer credenciais. – Irmão e servo em Cristo – (a) MANUEL QUINTÃO.”

     Convém que os interessados leiam esse precioso livrinho, tanto mais que está recomendado por Manuel Quintão, cujo nome dispensa novos comentários jubilosos.

     Por conseguinte, não há motivo algum para espantos, nem para assomos de revolta, quando se diz que a gravidez de Maria Santíssima foi apenas aparente, tanto mais que não existe nenhuma referência ou a mais leve insinuação histórica quanto ao parto, propriamente, pois que a tradição cristã assim descreve o maior acontecimento humano de todos os tempos:

     “Ora, o nascimento de Jesus-Cristo foi desta maneira: Estando Maria, sua mãe, já desposada com José, antes que se ajuntassem, ela se achou grávida por virtude do Espírito Santo. José, seu marido, sendo reto e não a querendo infamar, resolveu deixá-la secretamente. Quando, porém, pensava nestas coisas, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonhos, dizendo: José, filho de David, não temas receber a Maria, tua mulher; pois o que nela foi gerado, é por virtude do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho, a quem chamarás JESUS, porque ele salvará seu povo dos pecados deles. Ora, tudo isso aconteceu, PARA QUE SE CUMPRISSE O QUE DISSERA O SENHOR PELO PROFETA: Eis que a virgem conceberá e dará à luz um filho, e ele será chamado Emmanuel, que quer dizer – Deus conosco. José, tendo despertado do sono, fez como o anjo do Senhor lhe ordenara, e recebeu sua mulher, e não a conheceu enquanto ela não deu à luz um filho, a quem pôs o nome de JESUS.” (Mateus, cap. I, vv. 18-25.)

     A reedição deste livro, com o constituir a satisfação de um imperativo do meio espírita, representa, simultaneamente, uma reverência ao correligionário exemplar, que fio Manuel Quintão, servidor de indubitável devotamento ao Cristo de Deus, a quem procurou dar tudo de si, pondo amor em seus atos e palavras, ao levar a luz do Evangelho e da Doutrina onde quer que a treva comprometesse o avanço dos que aspiram ir ao encontro do Pai bem-amado. As discussões, os debates, as controvérsias, quando sustentados com superioridade de vistas, trazem sempre benefício geral, principalmente quando versam sobre a personalidade do Cristo de Deus, a cuja soberania espiritual estão entregues os destinos da humanidade terrena.

     Quintão não impõe: expõe. Predicador convincente, pela sedução do verbo e a segurança dos argumentos, põe o coração na lide, sem se presumir sábio, pois acata o direito da livre opinião. Contudo, considerava dever de cada um, respeitando embora a liberdade de pensar e de dizer de todos, usar desse mesmíssimo direito em defesa de princípios sacratíssimos, em se tratando de Jesus, tal como o fizeram Bezerra de Menezes, Bittencourt Sampaio, Antônio Luiz Sayão, Pedro Richard, D. Romualdo Seixas, Leopoldo Cirne, Guillon Ribeiro, Wantuil de Freitas, Ismael Gomes Braga e outros,  cujos rastros são inapagáveis, no roteiro do Espiritismo Cristão.

     Sem polemizar, porém, orientando no esclarecimento oportuno, pois é de luz que o mundo precisa, fê-lo com a alma aberta, convicto de que o Evangelho é a alma do Espiritismo Cristão, tal como disse Bittencourt Sampaio:

     - “Não há por onde fugir: ou o Evangelho é assimilado, ou não há Espiritismo. Porque, para o Espiritismo cristão, um único código existe: o Evangelho de N. S. Jesus-Cristo. Fora daí só haverá diletantismo inócuo, incapaz de levar o homem à felicidade dos eleitos.”
     A leitura desse livro, feita com o coração livre de preconceitos e agravos, antes com a vontade de por ele receber o banho lustral do conhecimento em espírito e verdade, trará benefícios, porque, disse Paulo, “onde há o Espírito do Senhor, aí há liberdade”.

     Rio de Janeiro, 1° de novembro de 1975.

                                                           INDALÍCIO H. MENDES”