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segunda-feira, 5 de agosto de 2019

Estela Livermore & Florence Cook


 Florence Cook

Estela Livermore & Florence Cook
por Ernesto Bozzano
in ‘Metapsíquica Humana’
pg. 151 e seguintes da 4ª Ed. FEB - 1992

            “Dos casos clássicos de materialização de fantasmas, o de Estela Livermore é, a meu ver, o que melhor pode suportar confronto com o de Katie King, embora um do outro enormemente diferindo pelas modalidades dentro das quais se realizam. Mas de qualquer maneira constituem eles os dois casos mais maravilhosos desta espécie e os mais dignos de atenção, principalmente pelo excepcional período de duração durante o qual se desenrolaram. Somente o caso de Estela Livermore, embora como o de Katie King familiar a todos os que se ocupam desses estudos, é relativamente muito menos conhecido nos detalhes de realização, porque todos os escritores, que dele se têm ocupado, vão beber informações na resumida exposição que dele fez Alexandre Aksakof, em "Animismo e Espiritismo".         

            Poucos investigadores tiveram o ensejo de consultar as atas originais, que foram, em sua maior parte, publicadas por Benjamim Coleman no seu livro "Le Spiritualisme en Amérique" e quase por inteiro na revista "The Spiritual Magazine" (1862-1869). Esta última revista inseriu os fac-símiles da letra medianímica de Estela em confronto com a de Estela viva (número de novembro 1862), tendo-se verificado a perfeita identidade das duas criaturas. Publicaram-se também copiosos resumos dessas sessões nos livros de Epes Sargent, "Planchette, the Despair of Science" (1874) e Dr. Robert Dale Owen:
"The Debatable Land" (1874).

            O capítulo em que este último trata do assunto adquire importância probante especial, visto Dale Owen, antes de dar-lhe publicidade, haver procurado o banqueiro Livermore, narrador protagonista dos fatos e submetido à sua revisão o capítulo que lhe dizia respeito, que depois foi ainda levado à apreciação de John F. Gray, outra testemunha ocular.
           
            Como o resumo aparecido no livro de Aksakof não permite se forme qualquer ideia aproximada do valor teórico dessa maravilhosa série de experiências, vou alongar-me um pouco, transcrevendo os originais de Livermore.

            Para aqueles que completamente ignoram o caso, direi que Charles F. Livermore era um banqueiro muito conhecido em Nova Iorque, que, em 1860, teve a infelicidade de perder a mulher. Um ano depois, céptico inveterado embora, deixou-se seduzir pelo desejo de comunicar-se, se possível, com o Espírito de sua mulher, dando início a uma série de sessões com a célebre médium Kate Fox.

            O processo de materialização do fantasma de Estela (nome este da morta) deu-se gradualmente, de modo que só na quadragésima terceira sessão estava ela em condições de se poder manifestar visivelmente.

            As sessões efetuaram-se em completa escuridão, mas o lugar destinado ao estudo era, em dado momento, iluminado por grandes globos luminosos, de origem supranormais, deles se ocupando outro fantasma materializado, que tinha por hábito acompanhar Estela com o fim de facilitar as materializações. Dizia-se o Espírito de Benjamin Franklin. Havia, com efeito, uma semelhança perfeita de traços e de porte entre o fantasma materializado e os retratos de Franklin.

            As materializações de Estela tornaram-se de mais em mais perfeitas, até atingir a forma materializada uma consistência suficiente para poder suportar a luz intensa
de uma lanterna furta-fogo. Só raramente conseguia exprimir-se de viva voz, comunicando-se, em geral, por escrito, mas não por intermédio da médium. Escrevia diretamente com a própria mão e na presença de Livermore, que para esse fim fornecia papel previamente por ele rubricado. Fazia-o comumente em francês, língua que, quando viva, falava com perfeição e que era de todo ignorada da médium. A letra guardava sempre impecável semelhança de talho e característicos com a da esposa falecida de Livermore.

            Este tomava nota minuciosa de todos os fenômenos ocorridos durante a sessão, de que lavrava uma ata. O maior número de sessões realizou-se na própria residência do banqueiro, que sistematicamente entre as suas guardava as mãos da médium durante o tempo das sessões, que, não raro, eram assistidas pelo irmão, pelo cunhado, M. Groute e pelo Dr. John F. Gray, que atestaram, por escrito, a autenticidade dessas manifestações prodigiosas, assim como a escrupulosa exatidão das atas.

            O número de sessões foi de 388, que se prolongaram por cinco anos consecutivos.

            Passo agora a narrar alguns episódios, começando pelos da sessão em que Estela, visivelmente, apareceu pela primeira vez.     

            15 de abril, 1861 - Livermore começa por uma descrição minuciosa das medidas de controle adota das para garantir-se contra qualquer possibilidade de fraude, e continua: Desde que a luz foi apagada, ouviram- se passos semelhantes aos de uma pessoa descalça e o frufru próprio da seda, ao mesmo tempo que por meio de pequenas pancadas me era comunicado: "Meu querido, estou presente em pessoa, não fale."

            Simultaneamente por detrás de mim, formava-se a pouco e pouco, uma luz globular, que a mim e à médium permitiu ver diante de nós um rosto encimado por um diadema e, em seguida, uma cabeça inteiramente envolvida de véus brancos, que se elevava lentamente. Desde que atingiu certa altura, os véus foram tirados e então pude ver diante de mim a cabeça e o rosto de minha mulher, envolvidos de uma auréola luminosa do diâmetro aproximado de 18 polegadas. A identificação da morta foi Imediata e completa; à semelhança dos traços juntava-se, de modo maravilhoso, a expressão característica da fisionomia. Pouco depois o globo luminoso elevou-se e uma mão de mulher apareceu-lhe pela frente. Estas duas manifestações se repetiram por diversas vezes, como se houvesse intuito de dissipar qualquer possível sombra de dúvida. O fantasma abaixou depois a cabeça sobre o globo luminoso, deixando cair sobre o mesmo uma basta madeixa, que apresentava analogia perfeita com a cabeleira de minha mulher, não só quanto à cor, como também pela abundância e comprimento. Repetidamente fizeram-na passar suavemente sobre o meu rosto e o da médium, deixando-nos a impressão de cabelos naturais. (Epes Sargent, pág. 57)

            18 de abril, 1861 - Subitamente a mesa se ergueu do solo; a porta foi violentamente sacudida; as cortinas se levantaram e se abaixaram diversas vezes; tudo no quarto se agitava. Respondiam às nossas perguntas por pancadas retumbantes na porta, na janela e no teto, traduzindo isto, ao que nos disseram, a intervenção de poderosos Espíritos cuja presença era indispensável à predisposição do ambiente para as manifestações de ordem mais elevada.

            Por detrás de nós começou a formar-se e a elevar-se uma substância luminosa semelhante à gaze, ouvindo-se ao mesmo tempo o frufru dos tecidos de seda, enquanto um barulho semelhante à crepitação elétrica se tornava de mais em mais intenso e vigoroso.

            Uma forma de mulher girou em torno à mesa, de mim se aproximou, tocando-me de leve... Por meio das pancadas convidaram-me a olhar para além da fonte luminosa; obedecendo, vi aparecer um olho humano. Logo depois, a fonte de luz se afastou, seguida da crepitação e, à proporção que se afastava, ia recuperando o esplendor que pouco a pouco havia perdido; volta em seguida ao lugar que antes ocupava, tornando visível uma mão de mulher, de aparência normal, ocupada em manejar a gaze, de forma já mudada, para tomar-lhe uma das pontas e suspendê-la.

            Com um estremecimento de alegria indescritível, sob o lado suspenso da gaze vi aparecer o rosto de minha mulher e mais precisamente a fronte e os olhos, cuja expressão era perfeita... Desaparecia e tornava a aparecer repetidas vezes, manifestando-se de cada vez de modo mais completo, tomando uma expressão de serena beatitude.

            Pedi-lhe que me beijasse e, com grande surpresa minha, tive o prazer de ver e de sentir que ela me enlaçava o pescoço com os braços, dando-me um beijo sonoro, palpável, material, não obstante a interposição de um tecido análogo à gaze. Aproximou depois a cabeça até encostá-la à minha, envolvendo-me com sua rica cabeleira e dando-me ainda novos beijos, cujo rumor podia ser claramente ouvido.

            Nesse momento, a fonte de luz foi afastada a meia distância entre mim e a parede, distante uns dez pés mais ou menos. A crepitação acentuou-se, dando maior intensidade à luz, de modo a bem clarear o canto do quarto e a desvendar em toda a plenitude a figura de minha mulher, virada para a parede, com o braço estendido, sustendo no côncavo da mão o globo de luz que agitava de momento em momento para avivar a luminosidade que, frequentemente, enfraquecia.

            Pronunciou murmurando, mas de modo muito distinto, o meu e o seu nome; aproximou-se do espelho de maneira a fazer ver a sua imagem, que nele refletia, constituindo isso, a meu ver, uma das maravilhosas provas da memorável sessão...
(Epes Sargent, pág. 59)

            A seguir foi soletrado, por pequenas pancadas: "Observa-me, vou levitar-me." E imediatamente, em plena luz, o fantasma elevou-se até o teto, onde permaneceu suspenso durante alguns instantes, para descer suavemente e então desaparecer...

            O cômodo estava iluminado de modo a se poder discernir facilmente os pequenos veios do mármore em que pousava o espelho... (Dale Owen, pág. 388)

            2 de Junho, 1861 - Pelo meio habitual ditaram: "Examine cuidadosamente todos os cantos do quarto, feche a porta e coloque a chave no bolso." Tudo fiz imediatamente.

            Com um estremecimento de alegria indescritível, sob o lado suspenso da gaze vi aparecer o rosto de minha mulher e mais precisamente a fronte e os olhos, cuja expressão era perfeita... , Desaparecia e tornava a aparecer repetidas vezes, manifestando-se de cada vez de modo mais completo, tomando uma expressão de serena beatitude.

            Pedi-lhe que me beijasse e, com grande surpresa minha, tive o prazer de ver e de sentir que ela me enlaçava o pescoço com os braços, dando-me um beijo sonoro, palpável, material, não obstante a interposição de um tecido análogo à gaze. Aproximou depois a cabeça até encostá-la à minha, envolvendo-me com sua rica cabeleira e dando-me ainda novos beijos, cujo rumor podia ser claramente ouvido.

            Nesse momento, a fonte de luz foi afastada a meia distância entre mim e a parede, distante uns dez pés mais ou menos. A crepitação acentuou-se, dando maior intensidade à luz, de modo a bem clarear o canto do quarto e a desvendar em toda a plenitude a figura de minha mulher, virada para a parede, com o braço estendido, sustendo no côncavo da mão o globo de luz que agitava de momento em momento para avivar a luminosidade que, frequentemente, enfraquecia.

            Pronunciou murmurando, mas de modo muito distinto, o meu e o seu nome; aproximou-se do espelho de maneira a fazer ver a sua imagem, que nele refletia, constituindo isso, a meu ver, uma das maravilhosas provas da memorável sessão... (Epes Sargent, pág, 59.)

            A seguir foi soletrado, por pequenas pancadas: "Observa-me, vou levitar-me." E imediatamente, em plena luz, o fantasma elevou-se até o teto, onde permaneceu suspenso durante alguns instantes, para descer suavemente e então desaparecer...

            O cômodo estava iluminado de modo a se poder discernir facilmente os pequenos veios do mármore em que pousava o espelho... (Dale Owen, pág. 388)

            2 de Junho, 1861 - Pelo meio habitual ditaram: "Examine cuidadosamente todos os cantos do quarto, feche a porta e coloque a chave no bolso." Tudo fiz imediatamente.
 
            Não havia ainda retomado o meu lugar, quando os móveis começaram a deslocar-se e a agitar-se, enquanto pancadas ressoavam em torno de nós; ruídos terríveis e prolongados, imitando roncos do trovão, sucediam-se sobre a mesa.

            Feito silêncio, ouviu-se ligeiro sussurro e uma forma materializada se veio colocar a meu lado; senti como a sua aura penetrando-me todas as fibras do organismo. Bateu no costado da cadeira, depois no meu ombro e, debruçando-se sobre mim, pôs-me a mão sobre a cabeça e deu-me um beijo na testa, enquanto que uma espécie de tecido muito tênue me roçava o rosto. Nesse mesmo tempo um globo de luz brilhante veio interpor-se entre nós, acompanhado de uma forte crepitação. Levantei os olhos e vi diante deles o rosto de Estela iluminado pelo globo, que brilhava intensamente. O rosto se mostrava espiritualmente tão belo como nunca me foi dado ver coisa alguma na Terra. Olhava-me com uma expressão de radiosa beatitude.

            Tirou-me das mãos uma folha de papel, que me entregou depois com uma mensagem escrita num francês de perfeita correção. Como já tive ensejo de dizer, a médium não conhecia uma só palavra de francês. (Dale Owen, pág. 390.)

            18 de agosto, 1861. (8 horas da noite) - Estou só com a médium. O ar está pesado e quente. Como de hábito, examinei cuidadosamente o quarto, fechei a porta com duas voltas à chave, que coloquei no meu bolso.

            Meia hora de espera tranquila e vimos surgir do solo uma grande luz esferoidal, completamente envolvida em véus, e que, depois de se erguer até à altura das nossas cabeças, se foi colocar sobre a mesa. E as pancadas ditaram: "Nota que desta vez intervimos sem provocar os ruídos habituais." Todo o aparecimento de luz, com efeito, era, em geral, precedido de uma série de crepitações, de estalidos, de pancadas violentas, seguidas de movimento e transporte de objetos; desta vez o fenômeno se desenrolou dentro da mais absoluta calma.

            Tive o pressentimento de que essa sessão se destinava a fins especiais, privando-me, por conseguinte, de qualquer manifestação da parte de minha mulher. Mal havia formulado esse pensamento e a luz se elevou, tomando-se brilhante e permitindo percebesse uma cabeça coberta de um boné branco envolto em bordados.

            Era uma cabeça sem traços, e perguntei que significava tal aparição. Responderam-me tiptologicamente: "Quando estava doente... " Imediatamente compreendi! O boné era a reprodução fiel de outro muito especial que minha mulher usara durante a sua última moléstia.

            Havia trazido comigo diversas folhas de papel, maiores que de costume, completamente diferentes das que habitualmente empregava, e marcadas de sinais especiais. Coloquei-as sobre a mesa, de onde foram retiradas para reaparecerem
perto do chão, a três ou quatro polegadas do tapete.

            Não podia fazer uma ideia do que se passava, porque não estava iluminada senão a superfície da folha de papel e mais umas três ou quatro polegadas de cada lado, todo o espaço iluminado não medindo mais que um pé de diâmetro.

            Inesperadamente veio pousar, sobre esta folha, mão imperfeitamente conformada, que tinha entre os dedos a minha pequena lapiseira de prata; começou a mão a mover-se lentamente sobre a folha, da esquerda para a direita, como quem escreve; quando chegava ao fim da linha, voltava a começar outra.

            Pediram-nos que não observássemos com demasiada insistência o fenômeno, mas por pouco tempo de cada vez, a fim de, com os nossos olhares, não perturbarmos a força em ação.

            Como o fenômeno, porém, se prolongou por quase uma hora, essa recomendação não impediu pudéssemos observa-lo de modo perfeito. A mão que escrevia não ficou normalmente conformada senão por algum tempo, reduziu-se depois a um amontoado de substância escura, de tamanho um pouco menor que a de uma mão normal; continuava, todavia, a dirigir o lápis e quando chegava ao extremo inferior da folha a virava, continuando a escrever no verso. Terminada a manifestação, as folhas que eu havia fornecido marcadas me foram devolvidas cobertas pelos dois lados de uma letra corrente e miúda.

            ...É claro que em tais circunstâncias não havia qualquer possibilidade de fraude; eu apertava entre as minhas as duas mãos da médium; a porta estava fechada e a chave no meu bolso, tendo eu tomado previamente todas as precauções possíveis. (Epes Sargent, pág. 62.)

            26 de agosto, 1861 - Logo que entramos no quarto, a forma de Estela apareceu. Imóvel, permaneceu no meio do aposento, enquanto uma luz espiritual girava rapidamente em seu torno e dela muito próxima, iluminando mais especialmente ora o rosto, ora o pescoço, ora a nuca, no intuito evidente de bem fazer-nos ver essas partes do corpo.
           
            Enquanto assim a contemplávamos, a onda dos seus cabelos lhe invadiu o rosto e ela a afastou com as mãos, por diversas vezes.

            Tinha os cabelos ornados de rosas e de violetas. Foi a mais perfeita das suas manifestações; aparecia nítida e natural qual quando viva...

            4 de outubro, 1861 - Pancadas de rara violência no assoalho, estremecendo a casa até os alicerces. Quando cessaram, vimos aparecerem os fantasmas materializados de minha mulher e de Franklin. Ambos a mim vieram; este, aplicando-me pancadinhas amigáveis no ombro; aquela, acariciando-me o rosto. Estávamos no escuro, mas as crepitações elétricas fizeram-se ouvir e imediatamente a luz brilhou de novo, permitindo-me ver em pé a figura de um homem alto e robusto.

            A meu pedido esse fantasma passeou pelo quarto, apresentando-se a meus olhos em posições diferentes e muito nitidamente.

            Seguiu-se a vez de minha mulher, que se manifestou em plena claridade e em toda a sua beleza. Planava, atravessando assim o quarto; passou pertinho da mesa, que roçou com as abas do seu vestido branco, fazendo mesmo cair por terra as folhas de papel, os lápis e outros pequenos objetos que sobre a mesma se achavam. Algumas vezes a vimos vendar o rosto com o tecido medianímico; outras, sacudindo-lhe para a frente as abas flutuantes.
           
            Fez-nos ver e apalpar o tecido, que me pareceu de natureza muito delicada; colocou-o depois sobre a mesa e por trás dele a fonte luminosa, de modo a bem podermos examinar o tecido, muito semelhante ao de uma teia de aranha; dir-se-ia que o sopro seria suficiente para desfazê-lo. Repetiu por diversas vezes a experiência e, finalmente, fez passar sobre meu rosto os bordos do vestido ondulante, que me pareceu consistente. Cada vez que o tecido medianímico de nós se aproximava, sentíamos emanações de um perfume muito puro, lembrando o "feno fresco" e a "violeta". (Sargent, pág. 65)

            10 de novembro, 1861 - Mal nos havíamos assentado, as pancadas ditaram: "Desta vez conseguiremos." Pouco depois, minha mulher apareceu.

            Dando-me de leve com a mão no ombro, informou-me de que estava ocupada em ajudar Franklin. Este apareceu imediatamente, deixando-se pela primeira vez ver-lhe o rosto.

            Um outro fantasma materializado, trazendo em uma das mãos a luz, mantinha-se ao meu lado e projetava-lhe a luz diretamente sobre o rosto. Toda a minha perplexidade, a respeito da identidade de Franklin, desapareceu como que por encanto. Onde quer que esta fisionomia se me apresentasse, tê-la-ia, sem sombra de hesitação, nela reconhecido a de Franklin, cujos traços tinha vivos na mente, por muito lhe haver visto o retrato original.

            Deverei mesmo acrescentar que a grandeza do seu caráter ressaltava muito mais da expressão viva do rosto do fantasma que daquele seu retrato, que evidentemente não a poderia traduzir. Trazia roupa parda talhada à antiga e gravata branca. A cabeça era vigorosa e alvos cachos lhe ornavam as têmporas. Sua figura deixava transparecer a bondade, a inteligência, a espiritualidade; tinha a aparência de um homem carregado de anos, de dignidade, de solicitude paternal, a quem qualquer pessoa se sentiria bem de recorrer para obter conselhos inspirados na sabedoria e na bondade... Apresentou-se por diversas vezes: duas delas aproximou-se de tal modo que permitia se visse até dentro dos próprios olhos.

            Minha mulher apareceu três vezes vestida de branco e cercada de flores; sua figura, verdadeiramente angélica, traduzia uma expressão de calma e felicidade celestiais. (Sargent, pág, 67.)

            12 de novembro, 1861 - Ouvimos a crepitação e a luz tornou-se logo brilhante, permitindo víssemos diante de nós, assentado à mesa, o fantasma materializado de Franklin, cuja sombra se projetava na parede, exatamente como a de uma pessoa viva. Guardava uma posição digna, o corpo ligeiramente enviesado sobre o espaldar da cadeira, braços descansando sobre a mesa. De tempos em tempos inclinava-se para nós, examinando-nos com seu olhar profundo e penetrante; os longos cachos brancos acompanhavam-lhe os movimentos.

            Pediu-nos fechássemos os olhos um instante. Quando de novo os abrimos, vimo-lo de pé sobre a cadeira de onde, qual uma estátua, nos dominava. Desceu em seguida, tomando o seu lugar anterior, enquanto ruídos de toda a sorte partiam de diversos pontos do quarto, o que aliás se dava a cada um dos seus movimentos.

            Informaram-me de parte de minha mulher que um fantasma iria entregar a Franklin um bilhete para mim. (Devo esclarecer que, no correr das manifestações que estou descrevendo, dois outros fantasmas, vestidos de tecido branco, concorriam, de modo visível, para a produção dos fenômenos; um deles era o que trazia a luz.) Vi, com efeito, um fantasma aproximar-se de Franklin, para ele estender a mão em que trazia a folha de papel, colocá-la sobre os seus joelhos, para tirá-la, em seguida, e entregar-lha diretamente.

            A força em ação era grande e tal permaneceu durante toda a noite, permitindo ao meu silencioso visitante permanecer materializado e assentado diante de mim durante uma hora e um quarto, seguidamente. (Sargent, pág, 67.)

            29 de novembro, 1861 - Além da médium e de mim, meu irmão assistiu à sessão. Condições desfavoráveis; uma tempestade com chuva e relâmpagos desencadeou-se no momento.

            Feita a escuridade, vimos surgir do chão uma grande luz espírita. Calcei-me de uma luva e meu irmão fez outro tanto. A luz então se veio colocar no côncavo da minha mão enluvada; foi-me assim dado constatar que uma mão de mulher nela se encontrava. Como viesse a mim diversas vezes, tive ensejo de segurar e apalpar atentamente essa mão espírita em todo o seu tamanho. Note-se que com a outra segurava as duas da médium.

            O filhinho falecido do meu irmão manifestou-se em seguida; chegou-lhe a vez de me apertar a mão, que foi segura pouco depois por uma outra de grande tamanho, verdadeira mão de homem, provavelmente a de Franklin, que apertou a minha e a sacudiu tão vigorosamente que todo o meu corpo foi abalado. Todas essas mãos apertaram também a do meu irmão. Não devemos deixar de notar que, no mesmo espaço de alguns minutos, três mãos, diferentes em forma e dimensão, vieram sucessivamente colocar-se nas nossas, de modo a nos permitir identifica-las; a primeira, de mulher; a segunda, de um menino; a terceira, de um homem adulto e robusto; cada qual, respectivamente, caracterizado pela delicadeza, pela fragilidade e pela força.

            A meu pedido, a porta de dois batentes se abriu completamente e se fechou por diversas vezes, com extraordinária violência. (Sargent, pág. 68.)

            30 de novembro, 1861 - Sessão em minha casa. Os mesmos cuidados de sempre. Condições favoráveis; tempo frio e lindo.

            Feito escuro, ouviram-se logo pancadas fortes sobre a mesa, seguidas da crepitação elétrica, mas nenhuma luz apareceu. "Esta noite conseguiremos", disseram-nos. Em dado momento, pediram-me fósforos e convidaram-nos a fechar os olhos. Tirei do meu bolso um fósforo de cera e, estendendo o braço, depositei-o sobre a mesa. Imediatamente uma mão o tomou e, riscando-o três vezes na mesa, conseguiu acendê-lo.

            Abrimos os olhos; o fósforo de cera iluminava perfeitamente O quarto; diante de nós estava Franklin, de joelhos, por detrás da mesa, que a sua cabeça suplantava, mais ou menos, de um pé. Nós o contemplamos enquanto o fósforo durou; o fantasma desapareceu de repente. Por pancadinhas na mesa, ditaram-nos, então: "Meus queridos filhos, depois desta última prova, será possível que o mundo ainda duvide? Para convencê-lo é que assim trabalhamos. - Benjamin Franklin."

            E imediatamente depois: - "Meu querido, como estou contente! - Estela."

            Entregaram-me em seguida uma folha de papel em que estava escrito: "Esta sessão, de todas, é a mais importante. O filhinho falecido do meu irmão manifestou-se em seguida; chegou-lhe a vez de me apertar a mão, que foi segura pouco depois por uma outra de grande tamanho, verdadeira mão de homem, provavelmente a de Franklin, que apertou a minha e a sacudiu tão vigorosamente que todo o meu corpo foi abalado. Todas essas mãos apertaram também a do meu irmão. Não devemos deixar de notar que, no mesmo espaço de alguns minutos, três mãos, diferentes em forma e dimensão, vieram sucessivamente colocar-se nas nossas, de modo a nos permitir identificá-las; a primeira, de mulher; a segunda, de um menino; a terceira, de um homem adulto e robusto; cada qual, respectivamente, caracterizado pela delicadeza, pela fragilidade e pela força.

            A meu pedido, a porta de dois batentes se abriu completamente e se fechou por diversas vezes, com extraordinária violência. (Sargent, pág. 68.)

            30 de novembro, 1861 - Sessão em minha casa. Os mesmos cuidados de sempre. Condições favoráveis; tempo frio e lindo.

            Feito escuro, ouviram-se logo pancadas fortes sobre a mesa, seguidas da crepitação elétrica, mas nenhuma luz apareceu. "Esta noite conseguiremos", disseram-nos. Em dado momento, pediram-me fósforos e convidaram-nos a fechar os olhos. Tirei do meu bolso um fósforo de cera e, estendendo o braço, depositei-o sobre a mesa. Imediatamente uma mão o tomou e, riscando-o três vezes na mesa, conseguiu acendê-lo.

            Abrimos os olhos; o fósforo de cera iluminava perfeitamente o quarto; diante de nós estava Franklin, de joelhos, por detrás da mesa, que a sua cabeça suplantava, mais ou menos, de um pé. Nós o contemplamos enquanto o fósforo durou; o fantasma desapareceu de repente. Por pancadinhas na mesa, ditaram-nos, então: "Meus queridos filhos, depois desta última prova, será possível que o mundo ainda duvide? Para convencê-lo é que assim trabalhamos. - Benjamin Franklin."

            E imediatamente depois: - "Meu querido, como estou contente! - Estela."

            Entregaram-me em seguida uma folha de papel em que estava escrito: "Esta sessão, de todas, é a mais importante.

            Experimentamos muitas vezes e tivemos de renovar constantemente os nossos esforços antes de conseguir o que acabais de ver; felizmente, foram eles coroados de êxito. Para demonstrar que sou uma criatura absolutamente como vós, bastou-me desta vez esfregar um fósforo; mas quantas tentativas antes de conseguir manifestar-me à luz terrestre! Enfim, as dificuldades foram vencidas! - B. Franklin." (Sargent, página 69)

            12 de dezembro, 1861 - Sessão em minha casa. Tinha-me prevenido de uma lanterna furta-fogo, na qual havia adaptado um obturador munido de regulador, de modo a poder projetar, à vontade, um círculo de luz no diâmetro aproximado de dois pés sobre a parede, numa distância de dez pés. Coloquei a lanterna acesa e aberta sobre a mesa e tomei, nas minhas, as mãos da médium. Imediatamente a lanterna foi suspensa, e nós convidados a segui-la. Era ela conduzida por um Espírito que nos precedia e do qual víamos nitidamente a forma inteira se desenhar, envolta em véus brancos cujos extremos arrastavam pelo chão. Depositou a lanterna sobre a escrivaninha; paramos também. Achávamo-nos em frente à janela existente entre a escrivaninha e o espelho. A lanterna elevou-se, de novo, erguendo-se, entre a escrivaninha e o espelho, a uma altura aproximada de cinco pés, de onde projetava toda a luz sobre a janela, permitindo víssemos a figura de Franklin, assentado na poltrona.

            Durante dez minutos e sem interrupção, o feixe de luz projetado pela lanterna iluminou lhe a fisionomia e o corpo inteiro, de tal maneira que pudemos examiná-lo à vontade.

            Seu semblante traduzia indizível contentamento e a maior naturalidade, bem como o cabelo e os olhos que brilhavam de vida. Não tardei, porém, a notar que o fantasma se ressentia grandemente da influência dissolvente da luz terrestre; os olhos perderam o brilho, e os traços a vivaz expressão que sempre tinham, quando os contemplava à luz espiritual.

            Por mais de uma vez pediram-me que acionasse o regulador da lanterna, de modo a deixar passar mais, ou menos, luz; fazendo-o, tive o ensejo de constatar que a lanterna estava suspensa no ar, sem qualquer ponto de apoio.

            Finda esta manifestação, encontramos sobre a mesa uma folha de papel onde estava escrito: "Isto ainda, meus filhos, é para o bem da Humanidade. Apenas com esse fim, esforço-me e trabalho. - B. Franklin." (Dale Owen, pág. 394.)

            23 de janeiro, 1862 - Em frente à porta apareceu minha mulher, toda vestida de branco e envolta de um véu transparente. Tinha na fronte uma coroa de flores. A luz espírita projetava o facho luminoso sobre todo o seu corpo, iluminando-o completamente; olhávamos para ele, com vivo interesse e prazer, quando de repente desapareceu, rápido como o pensamento, produzindo um ruído semelhante ao silvo do vento. Ditaram-nos: "Esta noite a saturação elétrica é grande. Aproveitei-a para mostrar-vos a celeridade com que podemos desmaterializar-nos." Um instante depois, reapareceu em seu aspecto natural e consistente como dantes. (Sargent, pág. 71)

            15 de fevereiro, 1862 - Atmosfera úmida e desfavorável. Além da médium, comigo assistia à sessão o meu cunhado, M. Groute, a quem a reunião havia de modo especial sido consagrada.

            Pedi demonstrações de força e sem demora recebemos a seguinte mensagem: "Atenção! Ouvi-o; ele chega rapidamente. Retirai da mesa as vossas mãos." E, imediatamente, ouvimos espantoso rumor metálico, fazendo estremecer a casa de lado a lado. Era como se um pesado monte de correntes fosse jogado do alto, com enorme violência sobre a mesa. O mesmo barulho por três vezes se repetiu, mas com força decrescente.

            Depois disto, uma grande mesa de mármore, muito pesada, começou a caracolar pelo quarto; uma grande caixa fez outro tanto. Um guarda-chuva, colocado sobre a mesa, pôs-se a dar voltas, como que voando pelo quarto, tocando ora num ora noutro, parando, finalmente, nas mãos do Sr. Groute.

            Tais manifestações tinham certamente por fim convencer o incrédulo, recém-vindo, da realidade da existência de um poder invisível. E o fim foi atingido, pois meu cunhado havia tomado todas as precauções para se prevenir contra um possível embuste; entre outras, a de selar a porta e a janela. (Sargent, pág. 73.)

            16 de fevereiro, 1862 - Pelo fim da sessão, o Espírito materializado de Benjamin Franklin escreveu o que se segue, em uma folha de papel: "Meus filhos, neste momento as nossas armas acabam de obter uma grande vitória." No dia seguinte, tivemos notícia de que, de fato, no correr da noite, o Exército federal havia enfim tomado de assalto o Forte Donaldson, sobre o rio Tennessee. (Sargent, pág. 75.)

            22 de fevereiro, 1862 - Atmosfera úmida; condições desfavoráveis.

            Depois de cerca de meia hora de espera, uma luz cilíndrica e muito brilhante, envolvida em véus, como de costume veio pousar sobre a mesa; perto dela apareceu uma haste com duas rosas abertas, um botão e folhas. Flores, botão, folhas e haste eram de rara perfeição. As rosas foram-nos dadas a cheirar; achei-as perfumadas como as rosas naturais são, ao ser colhidas; o perfume era mesmo mais suave e delicado. Foi-nos permitido tocá-las, aproveitando então eu para delas fazer minucioso exame. "Cuidado! Tenha a máxima precaução", disseram-me.

            Notei que a haste e as folhas estavam um tanto viscosas e, como perguntasse o motivo, disseram-me que era devido às condições de umidade e impureza da atmosfera. O galho era mantido sempre perto e às vezes por cima da luz, que parecia ter a propriedade de transmitir-lhe vitalidade e substância, como se o alimentasse; o mesmo poder parecia conferido à mão que o segurava.

            Já havia observado, aliás, que todas essas criações espíritas parecem formar-se e conservar-se à custa das reservas elétricas contidas no globo luminoso, pois ao menor indício de perda ou de enfraquecimento de consistência, levavam-nas para perto da fonte luminosa e, como que por encanto, recuperavam a seiva e a vitalidade perdidas.

            Pelo meio habitual, disseram-nos: "Vede como se vão dissolver rapidamente." E logo as flores começaram a murchar, dobraram-se sobre a haste e fundiram-se como cera que se chegasse ao fogo, assim desaparecendo tudo do mimoso galho, em menos de um minuto.

            Disseram-nos ainda: "Elas vão tornar a vir" e imediatamente apareceu diante do cilindro um filamento branco, que rapidamente se desenvolveu em forma de galho; as folhas reconstituíram-se, depois o botão e em seguida as rosas, tudo de uma maneira perfeita e em tempo igual àquele em que se deu a dissolução. O fenômeno repetiu-se algumas vezes, oferecendo um espetáculo maravilhoso. Prometeram reproduzi-lo à luz do gás, quando as condições atmosféricas permitissem. (Sargent, pág. 75)

            25 de fevereiro, 1862 - Além da médium, assistia comigo à sessão o Sr. Groute. O quarto em que se faziam as sessões era contíguo a outro muito menor, ao qual se chegava por uma portazinha de corrediça. A porta que conduzia aos dois aposentos bem como a janela foram cuidadosamente seladas pelo Sr. Groute... Feito isto e bem revistados os dois quartos, uma luz brilhante surgiu do chão, permitindo a mim e à médium víssemos a forma de um fantasma de homem, de pé, junto a nós. Não conseguimos, desde logo, identificá-lo, devido à grande quantidade de véus que lhe envolviam o rosto, mas pouco depois pudemos nitidamente discernir os traços bem conhecidos de Franklin. Groute não havia tido ainda permissão de se aproximar; mas como as condições de força começassem a melhorar, ou antes, como os efeitos inibitórios de sua presença houvessem sido suplantados em parte, disseram-lhe: "Caro amigo, agora pode vir ver." Groute aproximou-se então, achando-se assim, por sua vez, em presença do fantasma... Embora a luz não estivesse tão boa como habitualmente, ele pode ver bastante para verificar que os traços do fantasma correspondiam em tudo aos de Franklin, de acordo com o retrato original que conhecia também. Com efeito, mesmo nas condições de luz em que então nos achávamos, os olhos, os cabelos, os traços, a expressão fisionômica, ao mesmo, tempo que uma parte dos véus de que se vestia o fantasma, eram nitidamente discerníveis. O abaixamento repentino da luz, todavia, havia sido grande, devido à. presença contrariante de Groute; observação curiosa e instrutiva ao mesmo tempo. Quando Groute estava no quarto contíguo, a luz brilhava como de costume, mas enfraquecia à proporção que ele se aproximava, do mesmo moem que readquiria o brilho habitual se ele novamente se afastava. Este interessante fenômeno demonstra que a natureza de uma pessoa viva exerce influência direta sobre essas criações do mundo invisível, influência que age, às vezes, como elemento perturbador e neutralizante, sem que para tal seja necessária mais do que a sensação de surpresa, de receio ou de outra qualquer emoção decorrente de uma insuficiente familiaridade com os fenômenos medianímicos. (Sargent, pág. 77.)

            3 novembro, 1862 - Estela apareceu com o rosto velado pelos cabelos em desordem; para ver-lhe a fisionomia tive de afastá-los com as minhas mãos. Elevou-se depois lentamente até que os pés atingissem a altura da minha cabeça, sobre a qual tocou, enquanto as abas do vestido flutuante me roçavam pelo rosto e pela cabeça. (Owen, pág., 395.)

            21 de outubro, 1863 - Havia-me munido, esta noite, da lanterna furta-fogo, e, logo que a forma materializada de Estela apareceu, projetei sobre ela toda a luz. Estela estremeceu ligeiramente, mas quedou-se imóvel, deixando-me dirigir-lhe o facho luminoso sobre o rosto, sobre os olhos, peito, vestimenta, enfim, por toda parte. Depois de haver-me deixado convenientemente examiná-la, desapareceu subitamente, ditando-me, em seguida: "Só vencendo grandes dificuldades, consegui permanecer materializada durante esse tempo." (Owen, pág. 396.)

            Relativamente a Groute, eis como Dale Owen resume a ata de duas sessões a que assistiu, como testemunha:

            Presente à sessão de 28 de fevereiro de 1863 (número 346), o Sr. Groute segurava as mãos da médium. Fechado o gás, Livermore sentiu-se empurrado por uma mão de grande dimensão, para o divã; ergueu-se a luz do chão, deixando ver, por cima do divã, a figura de Franklin. Tão bem como os demais, Groute a pôde ver e logo se convenceu de que efetivamente se tratava -de uma forma humana viva; correu à porta para se certificar de ter sido ela ou não aberta. Voltou depois a contemplar a forma, cujas vestes pode apalpar.

            Seu cepticismo, porém, era exagerado e, uma semana mais tarde, manifestou desejo de assistir a outra sessão, a fim de tirar as coisas a limpo. Quis ele mesmo fechar as portas e as janelas e, ao fazê-lo, resmungava estar disposto a não mais se deixar embrulhar.

            Desta vez a forma de Franklin apareceu muito mais nítida ainda, segurando ele mesmo no côncavo da mão a luz com a qual se iluminava, como se quisesse mostrar, ao incrédulo "Tomé", que ele era o mais interessado em fornecer-lhe os meios de bem poder examiná-lo de um modo satisfatório.

            Groute, que desde o começo da sessão segurava com as suas as mãos da médium e as de Livermore, aproximou-se do fantasma, viu-o bem, tocou-o e, como o apóstolo Tomé, declarou-se finalmente convencido. (Owen, pág. 393.)

            O Dr. Gray relatou-me esta outra observação, muito interessante. Durante uma das últimas manifestações de Franklin, este apresentou-se, a princípio, com o rosto imperfeitamente formado, de modo que parecia ter apenas uma das vistas; em lugar da outra e de parte da face existia uma cavidade informe, que dava à fisionomia um aspecto horrível.

            Kate Fox, a médium, ficou tão impressionada que não se pode conter e deu um grito, o que provocou a extinção imediata da luz que iluminava o local.

            "Tolinha, exclamou o Dr. Gray, tomando lhe as mãos, não compreendes que assim atrapalhas a mais interessante das experiências, a da gradual materialização de um Espírito?"

            Essa interpretação filosófica do fenômeno teve a virtude de acalmar um pouco a moça, dissipando lhe o pavor supersticioso. Cinco minutos depois, a figura de Franklin de novo apareceu, mas desta vez perfeita e com tal expressão de calma, de dignidade e de bondade no olhar, que a médium foi a primeira a exclamar: "ó, como é belo!" (Dale Owen, pág. 407)

            Suspendo aqui, não sem verdadeiro pesar, as citações extraídas do relatório, teoricamente muito importante, do Sr. Livermore. Na seleção que fiz, julguei de certa
utilidade afastar-me um pouco do nosso tema a fim de apresentar um quadro generalizado dos fenômenos obtidos no correr dessas memoráveis experiências. 

            Nos trechos que acabo de transcrever, notam-se numerosos incidentes que bem reclamam uma confrontação com outros análogos, obtidos através da mediunidade de William Stainton Moses, da Sra. d'Espérance, de Eusápia Paladino, da Sra. Hollis, da Sra. Salmon, de Eva C. e de Linda Gazzera; mas isto me desviaria demasiado do tema especial deste trabalho.

            Limitar-me-ei, portanto, a abordar apenas as principais analogias, renunciando a citar exemplos.

            A primeira analogia deveras notável que me ocorre apresentar é a das luzes obtidas por Livermore, que também o foram por Stainton Moses; não só apresentavam a mesma forma e dimensões, como em ambos os casos vinham envolvidas em uma espécie de tecido semelhante à gaze. Os analistas das sessões de Stainton Moses falam também, como Livermore, de uma mão medianímica existente no interior das luzes que pela tal mão pareciam adimentadas.

            Relativamente à emanação de perfumes, há interessantes pontos de contato entre as duas séries de experiências, embora de modo muito mais variado nas curtas sessões com Moses, em que os perfumes de toda ordem ora transudavam da fronte do médium, ora se expandiam em profusão pela sala, a ponto de tornar o ar irrespirável, ora eram extraídos de flores frescas, previamente para esse fim trazidas. Poucas flores bastavam para produzir farta quantidade de perfumes; notando-se que as que eram submetidas a esse processo murchavam logo, secando imediatamente. 

            Outra analogia digna de nota e esta com a medianimidade de Eusápia Paladino, é a das formas materializadas não tomarem contato com as pessoas vivas sem a interposição de um tecido medianímico ou mesmo de um tecido ou tegumento natural. Vimos Livermore e seu irmão obrigados a tomarem luvas para receber no côncavo da mão a luz medianímica, e Estela, para beijar Livermore, interpor previamente uma substância semelhante à gaze.

            Particularidades idênticas se verificam nas sessões com Eusápia, no correr das quais as formas materializadas, em geral, não tocavam nem se deixavam tocar senão através de tecidos ou de cortinas, do mesmo modo que não deixavam traço na massa modeladora sem a interposição de um tecido medianímico.

            Outra analogia ainda. Nas sessões de Livermore, como nas com Eusápia Paladino, quando os fenômenos de certa importância se aprestavam ou estavam em via de realização, as personalidades medianímicas exortavam a que se não fixasse demasiado a vista sobre os mesmos, isto devido ao poder desintegrante que o olhar humano e a atenção concentrada exercem sobre as forças exteriorizadas. Assim, enquanto a mão materializada e iluminada escrevia na presença de Livermore, este era convidado "a não olhar com demasiada insistência o fenômeno, mas com pequenos intervalos, a fim de não perturbar, pela fixidez do olhar, a força em ação". Em outras circunstâncias, pediam aos experimentadores que fechassem, ainda que por um instante, os olhos: "Franklin nos convidou a fechar os olhos por um instante; logo que os abrimos, vimo-lo de pé sobre a cadeira, de onde nos dominava, como uma verdadeira estátua." E mais adiante: "Pediram-me fósforos e nos preveniram de fechar os olhos."



quinta-feira, 1 de agosto de 2019

Inspirações - 6



Inspirações – 6
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Julho 1923

EQUÍVOCO QUE DEVE TERMINAR

Em face da afirmação católica, que se apresenta com honras de dogma: “Fora da Igreja não há salvação”, o mestre, Sr. Allan Kardec, interpretando o pensamento dos Espíritos elevados, que colaboraram na codificação da doutrina espírita, instituiu este princípio: “Sem caridade não há salvação”, afirmação esta valorizada pelas mais excelsas entidades espirituais que se tem comunicado com o homem.

Não obstante ser assim, ser isso, para os espíritas de convicções inabaláveis, um postulado, certos inovadores, nos tempos modernos, entendem - com legítimo direito, forçoso é reconhece-lo - que devem fazer coro com os adeptos de outras escolas, que se supõem figurar na vanguarda do progresso, apesar de negarem a Causa Suprema e até a imortalidade da alma, negando capacidade regeneradora à Caridade; mais ainda: estigmatizando-a, como algo de funesto, de degradante, que se deve proscrever.

Destes, os que não militam nas fileiras espíritas estão no seu campo, têm certa razão dentro de sua lógica especial, baseada em suas ideias e erros, sustentados como verdades inconcussas; porém, não estão com a razão espirita os adeptos desta escola, sustentando ideias tão opostas ao princípio escrito com caracteres do ouro, como postulado que não admite discussão, no frontispício do edifício que a Nova Revelação está levantando e firmando sobre as ruínas do mundo velho.

Sei que os que condenam a Caridade e militam nas fileiras espíritas não pecam por falta de sentimentos caritativos, pois muitos deles cultivam o altruísmo com verdadeiro fervor, praticando-o com toda a amplitude que lhes permitem as circunstâncias. São os primeiros em tributar culto sagrado à Caridade, com suas obras, ao mesmo tempo que a condenam com suas palavras. Mas isso, que reconheço fazendo-lhes justiça, não os exime de certa responsabilidade, por não procurarem ir até ao fundo da ideia, para não deixar incompreendido tudo quanto ela permite saber. Eis porque me atrevo a chamar, para a sua inconsequência, a atenção dos espíritas que assim pensam e se conduzem. Porque, conseguido que retificassem o errôneo conceito que formam da Caridade a que, hoje, sem o pretenderem, rendem homenagem com suas obras e ainda com suas palavras e sua pena, em a maioria dos casos, o culto tributado a tão excelsa virtude o seria sem reservas, completo, substituídos a crítica acerba, a censura inconsciente, o anátema imprudente, pelo elogio sincero, pela apologia conscienciosa, pela recomendação eficaz à sua prática e a que seja venerada e adorada por todos os seres, com ânsias verdadeiras de progresso espiritual.

Erro de conceito é o que se verifica, a tal respeito, com esses queridos irmãos,
que em outros assuntos são apóstolos dedicados da verdade e do bem.

            Supõem que se pode prescindir da Caridade, limitando consideravelmente o alcance da ideia que ela abrange. Confundem-na quase exclusivamente com a dádiva com que se pretende beneficiar a indigência e que constitui o aspecto inferior da Caridade.

Sem embargo, não se pode condenar tampouco a caridade material, como não se pode condenar a esmola, por mais que protestem contra ela, pelo seu aspecto deprimente. Humilhação consideram o recebimento do óbolo que é depositado nas mãos de um mendigo, que a estende implorando uma esmola pelo amor de Deus. Porém, os espíritas que assim consideram o fato não raciocinam, atentos à sua doutrina, que o deprimente e humilhante foi a conduta que deu lugar à situação em que se encontra o mendicante. Quanto à sua condição atual, se ele a souber suportar com dignidade, ela o enobrece e eleva. Qual quereriam os espíritas, que condenam a esmola e a caridade material, fosse a sanção da lei de justiça, imanente em todas as coisas, tanto na ordem física, como na ordem moral, para os que a conculquem (pisem)? Para o que abusou do poder, dilapidou os bens próprios e os alheios, usurpou o patrimônio de outrem, que é o que mais logicamente convém do que renascer na condição oposta, para normalizar o que perturbou, para reparar os males que causou?

Que é o que faz o maltrapilho senão satisfazer à justiça que ele próprio, antes, escarneceu e menosprezou?

Humilhante a esmola! humilhante a caridade material! Não; enaltecem a quem, necessitando delas, as aceita e enaltece também a quem de todo o coração e por amor ao próximo as pratica.

Que os mendicantes podem cometer abusos; que, à sombra do costume estabelecido universalmente da esmola, podem fazer da mendicidade uma profissão, em prejuízo da probidade, do hábito do trabalho, da virtude de adquirir o pão com o suor do próprio esforço, é exato. Porém, pode-se remediar a isso? Se já estivesse garantida a existência de todos os leprosos de alma e de corpo que por aí pululam; se o viandante tivesse a certeza de que, a nenhum verdadeiro indigente ou necessitado de auxílio, faltava o necessário, ou a assistência que seu mal exige, poder-se-ia negar o óbolo ao que estende a mão e fazer ouvidos de mercador à queixa do que se mostra aflito. Mas, essa certeza não existe. Todos os que conhecem aa coisas do mundo sabem que faltam proteção e assistência ao necessitado e ao desvalido. 0ra, sendo assim, como pode uma alma nobre e generosa deixar de ouvir a voz do mendicante, quando lhe estende a mão trêmula solicitando uma esmola pelo amor de Deus, do Pai amoroso, que ordena a seus filhos que se amem como irmãos, se protejam em suas necessidades e considerem como feito a Ele próprio o bem que uns aos outros fizerem?

Poderá uma alma generosa e compassiva ouvir indiferente a súplica que um seu irmão lhe dirige, não tendo a certeza de que a esse irmão o auxílio que ele pede venha por outro conduto? Nem no primeiro caso, nem no segundo, uma alma, generosa e caritativa, conforme o conceito cristão, ou simplesmente altruísta, conforme a maneira moderna de considerar-se esta qualidade nobre, pode mostrar-se impassível, nem, por entender que a esmola e a caridade material humilham e deprimem, que é uma mancha para a sociedade a existência dos hospitais e asilos, deixar de dar a esmola e de praticar a caridade sob aquelas formas, de auxiliar e proteger, não só os que gemem, como as casas pias que albergam e auxiliam os que sofrem e os desvalidos.

É condição do atual período do progresso humano, como o foi de todos os anteriores períodos por que têm passado a humanidade, que haja pobres, desamparados e aflitos. Por conseguinte, necessário se tornam ainda hoje, como outrora, a esmola, o auxilio, em suas várias modalidades, a caridade material e a caridade moral.

Demais, as condições em que vivem ou nascem os necessitados e os desamparados são uma consequência do passado de seus respectivos espíritos. Portanto, essas condições precárias e mesmo miseráveis de vida e de sofrimento são necessárias ao progresso deles, como dos outros homens, que precisam ter continuamente ocasião de desenvolver em si os sentimentos generosos, o amor aos seus semelhantes. Tais ocasiões oferecem-nas os mendicantes e os que sofrem ao desamparo, ou sem meios suficientes para atender às suas enfermidades.

Desta maneira, o próprio mal é portador do bem. Um bem recebem os verdadeiros necessitados, desamparados e sofredores, quando alguém lhes vai em auxílio e um bem recebem, igualmente, os que se sentem inclinados a amenizar a desgraça do próximo e o fazem com sacrifício de seus haveres e de suas pessoas.

A gratidão que nasce no íntimo daquele que recebe é para ele um benefício, pois que lhe desenvolve na alma um sentimento nobre e o prepara para fazer o mesmo, quando inversa for no futuro sua posição. Aprende também, pelo seu mesmo estado de miséria e aflições, a amar a virtude e a aborrecer o vício, à vista dos exemplos que colhe, da experiência que adquire e das advertências que lhe vêm do interior, por misericórdia divina. E aquele que dá, além de enobrecer e elevar sua alma, se exercita na prática do amor ao próximo, necessário ao seu progresso espiritual e a que no mundo aumente o bem.

Tudo isto, em cumprimento das leis divinas, tanto das que regem os domínios da matéria, como das que regulam o domínio do sentimento moral e o domínio espiritual.

Pregar contra a prática da caridade, entre espíritas, é um erro enorme, bem como contra a esmola. A Caridade é, na ordem material, a esmola enobrecida, elevada à mais alta potência.

Não se pode condenar a esmola, porque é a porta por onde o sentimento caritativo penetra, Os prelúdios da caridade são a esmola. Os espíritos que começam a desenvolver os sentimentos generosos que devem desabrochar de suas almas, têm que começar pela esmola, do mesmo modo que o iletrado tem que começar a aprender a ler pelo alfabeto. Condenar a esmola é privar as almas atrasadas de se iniciarem no desenvolvimento dos nobres sentimentos que um dia hão de converte-las em espíritos excelsos.

Por outro lado, os desvalidos necessitam do abandono e da escassez de recursos em que se acham para resgatar os séculos que perderam no erro e na ociosidade, na violação da lei divina do bem. Fora priva-los do bem que lhes deve proporcionar a sua condição miserável e humilhante, o coloca-los numa condição que não lhes permitisse resgatar suas dívidas e humilhar-se, para depois se elevarem, por efeito da humilhação sofrida.

Conseguintemente, precisa cessar de vez, entre os espíritas, o equívoco, em que muitos permanecem, de condenarem a esmola e a caridade, mesmo sob seu aspecto material, porque uma e outra estão reguladas pelas leis morais, pelas necessidades dos espíritos, tanto indigentes como desamparados e sofredores, e não se pode emendar as leis de Deus.

Bom é prevenir para evitar, na medida do possível, que haja indigentes e desvalidos; porém, sem que por isso se anatematize o dadivoso, nem condene a esmola ou a caridade. Demais, a Caridade é a síntese de todas as virtudes; nela estão compreendidas a benevolência, a indulgência, a tolerância, a generosidade, o altruísmo, etc., etc., todas as boas qualidades que possam tornar amistosas as nossas relações com outros espíritos. Portanto, a própria fraternidade se contém da Caridade, do mesmo modo que a liberdade e a igualdade. A Caridade é a rainha das virtudes e condena-la, entre os espíritas, é uma inconcebível monstruosidade.

Tramas e insídia das trevas


Tramas e insídias da treva
Redação 
Reformador (FEB) Novembro 1925

            Para dominar os homens a treva desperta neles a latência das más paixões.

Esse o estado por excelência propício ao governo dos Espíritos que se rebelaram contra a luz e a quem apraz ver a humanidade afundar-se no mar das misérias morais.
             
            Surgem então a desconfiança e a dúvida entre os esposos, a insubmissão e o despeito dos filhos contra os pais, o rancor e as rixas entre irmãos, a deslealdade e a perfídia do amigo. O mal não se circunscreve, porém, aí, invade o seio da família, outrora unidas, e o despeito, a malquerença, a inveja e o ciúme as separam por muralhas espessas. Estende o polvo mais além os seus tentáculos e vamos escutar a desdenhosa palavra - racca – entre os companheiros que no próprio santuário da fé não estimam e se apartam do convívio salutar da comunidade, levando n’alma a cisão, a inimizade e a prevenção.

Onde existia a união, o amor fraterno, a dedicação, o carinho e a caridade, vê-se a desunião, a maledicência, a indiferença, a rispidez e a intriga. Onde se fruía  a paz, sofre-se a guerra; aí não mais os corações se alentam no ambiente das afeições nobres e delicadas, mas se embebem de fundas agonias.

            Tudo isso porque o homem trancou a portas da razão, da cordura, dos sentimentos cristãos e abriu os alçapões das negras paixões. Tudo porque não soube ser sóbrios e justo no pensar, no sentir e no obrar. Veio o sono da negligência e em seguida os pesadelos sombrios o agitam no seu leito de pecado. No auge do delírio, suas palavras imprudentes, frívolas e venenosas se mudam em farpas que ferem; os pensamentos se casam como a onda das emoções e em torno desse nectário as mortais vespas voam em bandos ávidos. E o coração do homem se transforma em colmeia da iniquidade!

            À medida que esses males crescem, os aborrecidos da luz encontram campo mais largo e aberto para combater a obra de Jesus Cisto, que é a salvação do espírito humano. E, porque a humanidade é constituída de Espíritos atrasados e impuros, levianos e indiferentes, maus e bons, onde o joio nasce ao lado do trigo, não é de admirar que a treva nela estabeleça morada e aí tenha aliados, instrumentos seus de perturbação e desordem.

             Assim sendo, não é de causar espanto o rendilhado das injustiças que o homem urde nos teares da cegueira moral. Contudo, não lhe atiremos pedras, porque não sabemos até quando permaneceremos no bom caminho. Se alguma coisa podemos fazer em seu proveito, sejam as obras de piedade, da paciência, da humildade e da perseverança nos bons propósitos, porque poderoso é Deus para converter as pedras em filhos de Abraão.

            Como fazer, porém, calar a celeuma dos ódios e apagar os rastilhos da discórdia? Como impelir a carreira veloz dos que aborrecem a paz e estraçalham o manto da fraternidade?

Como vencer o tresloucado que se arroja de encontro ao Bem que é obra de Deus?

Escutemos o Divino Mestre:

É impossível, diz Ele, que não venham escândalos, mas ai daquele por quem vêm os escândalos. A esse melhor fora lhe atassem uma mó de moinho ao pescoço e o lançassem ao mar, do que escandalizar a um desses pequeninos.
           
Se a vossa mão ou o vosso pé for motivo de escândalo, cortai-os e lançai-os longe de vós. Mais vale entrar na vida coxo ou estropiado, do que com as duas mãos e dois pés e ser lançado no fogo eterno. Se vosso olho for motivo de escândalo arrancai-o e atirai-o longe de vós: mais vale entreis na vida com um só olho do que com dois e ser lançado na geena do fogo. (1)  

(1)    Lucas e Mateus – cap. XVII e XVIII, v. 1 a 2 e 6 a 9.

            Compreenda-se o espírito deste ensinamento Jesus e apaziguados serão todos os ódios. Não mais a treva se insinuará no coração humano, apaziguados serão todos os ódios.

            Não mais a treva se insinuará no coração humano, porque este se terá despojado da impureza.

Que medite por um momento nas consequências terríveis dos maus atos e certamente o homem saberá evita-los.

            Aquele que escandaliza a uma crença, dizem os Espíritos reveladores, aquele que, pelas palavras exemplos, arrasta um dos seus irmãos, por mais ínfimo que o julgue, a praticar o mal, seja por atos, seja por pensamentos, se torna culpado perante Deus, não só da falta em que, assim procedendo, incorreu, mas também das em que tenha feito incorrer os outros e as expiará.

            Destruí em vós todas as raízes do pecado, isto é, tudo o que vos leve a infringir a lei divina; arrancai de vossos seres tudo o que vos possa, de qualquer maneira, induzir ao mal. Tratai de compreender bem o sentido figurado das palavras de Jesus: - destruí nas vossas almas todas as causas do mal, qualquer que seja o sofrimento humano que vos possas isso causar. Mais vale que sofrais durante alguns dias da vossa miserável existência, rompendo com os vícios, do que vos arriscardes a sofrer, por séculos, na vida errante do Espírito culpado. Considerai que o fogo, que devora, não se extingue e que o verme, que rói, não morre.

Imagens são estas de uma dor ardente, incessante, que consome o Espírito, sem jamais o reduzir a cinzas; de uma tortura de todos os instantes da sua vida na erraticidade, sem que lhe sorria a esperança de ver-lhe o fim. A esperança é gota d’água que cai nas terras áridas, é o maná que o faminto apanha no chão, é o bálsamo que se deita na chaga sangrenta. O culpado não a pode sentir até que o arrependimento lhe haja aberto o coração para animá-la.

Falemos nesta linguagem viva aos que ainda se comprazem no fomento dos escândalos e se aliaram aos espíritos infelizes. Ela de certo os esclarecerá. Mostremos em todas as suas cores reais, o que aguarda os escravos das más paixões na vida de além-túmulo, onde só o remorso os perseguirá para qualquer parte que voltem. Clamemos sem cessar, para que o homem destrua “as raízes do mal” que no seu coração se embebem, e que servem de nutrição copiosa aos Espíritos que se acotovelam e se enxameiam na humanidade, sempre prontos a propagarem o vírus das misérias morais e a firmarem aí seu império.

            Que os corações sejam os lugares estéreis por onde vagueiam os infelizes do espaço, à procura de pousada, sem poderem penetrar neles por encontra-los limpos de pecado e ornados de virtudes. 

1º de Agosto




1 Agosto

Aproveite bem o ensejo
Para aprender de uma vez
Que hoje em dia se recebe
Aquilo que ontem se fez.


 Toninho Bittencourt
por Gilberto Campista Guarino
in ‘Centelhas de Sabedoria’  (1ª Ed. FEB 1976)

O problema de N.C.S.




O problema de N.C.S.
Newton Boechat
Reformador (FEB) Janeiro 1951

O nosso amigo N. C. S. é uma criatura inteligente e boa, mas, de há muito queima os fosfatos para de um "modo positivo", achar o “x” do problema que o atormenta.

Perguntou-nos ele se encarávamos “u'a morte violenta”, ou melhor, uma catástrofe que vitimasse inúmeras pessoas, trazendo para as suas famílias o manto negro da dor, como “uma fatalidade”, “um destino”, ou, ainda, “uma predestinação". (1)

(1) As palavras e trechos entre aspas, foram transcritas da própria carta do inquiridor.

Se filiados à concepção religiosa de uma única existência no mundo em que respiramos, ou presos às filosofias materialistas do século atual, houvéramos, certamente, encontrado dificuldade em responder ao amigo do nosso coração, numa palavra: estaríamos na impossibilidade de resolver o problema que o intriga...

Entretanto, usando de benditos esclarecimentos que nos confortam a alma, menos difícil será, portanto, aventurar-nos à resposta.

O amigo N.C.S. é católico (direito que lhe assiste, por sinal) e se esquece de que os segredos guardados por muitos anos entre os iniciados das antiquíssimas doutrinas secretas, quer no Egito, na Pérsia, na Grécia, milenar e legendária ou,  mesmo, na época dos Druidas, foram exteriorizados numa doutrina - o Espiritismo - que Kardec (2) codificou, dando cumprimento assim à promessa de Jesus de que enviaria mais tarde o Consolador Prometido que “ficaria conosco eternamente" (3).

(2) Dr. Leon-Hippolyte Denizard Rivail, poliglota e médico francês, discípulo direto de H. Pestalozzi.
(3) João, 14:16-17; 14:26; 15:26 e 16:7-15.

Com a Excelsa Doutrina dos Espíritos dissipou-se a bruma de nossos olhos e melhormente pudemos ver e analisa os problemas do Ser, do Destino e da Dor.

Se a reencarnação foi a chave, a comunicabilidade dos Espíritos com os  humanos foi a porta que nos abriu o pórtico da Imortalidade, mostrando-nos,
qual estupendo e exuberante facho de policrômicas luzes, a sobrevivência da alma e a existência de Deus.

Usando das revelações do Senhor, temos uma resposta para o amigo N. C. S. - a melhor entre as as melhores - que encontramos na sublime obra mediúnica que é "Os Quatro Evangelhos” recebida pela médium Emillie Collignon, de Bordéus (França) e coordenada pelo advogado J. B. Rounstaing que, juntamente com Léon Denis, Gabriel Delanne e Camille Flammarion, fora designado, pela Espiritualidade Superior, para coadjuvar o Dr. Léon Hypolyte, no seu extraordinário esforço de síntese (4):

(4) Vide a obra "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", de autoria do Espírito de Humberto de Campos, ditada ao médium Francisco Cândido Xavier, capítulo 22.

Aquele que, ao encarnar, escolheu por provação a morte violenta, precedida das angústias e alternativas que cercam os últimos momentos do náufrago, sujeito a se debater entre a submissão ao Criador, a resignação, o remorso das faltas pessoais, a confiança da bondade divina e o pavor, a blasfêmia, a raiva insensata que se apodera de alguns nessa hora terrífica, será levado, pelo seu próprio espírito, a preferir um navio a outro, a se ver urgido por um negócio a embarcar em determinada ocasião, a contar mesmo com um acaso feliz, com a sorte, com a sua boa estrela. E partirá, porque, durante o desprendimento a que o sono dá lugar, o seu Espírito se torna consciente das sérias obrigações que contraiu e toma de novo a resolução de conduzir o corpo à situação em que, unidos, devem ambos terminar suas provas, voltando este à massa comum e libertando-se ele, o Espírito, da escravidão corporal e readquirindo a liberdade. A resolução assim retomada e da qual não resta lembrança no estado de vigília deixa no homem uma impressão vaga que vem a constituir o que ele chama a sua inspiração, a determinante de seus atos.”

Esclarece, mais, “Os Quatro Evangelhos", no seu tomo II, o seguinte:

“Assim como não pode prever o seu naufrágio, também o homem não prevê a hora em que as chamas de um incêndio lhe devorarão a casa em que será sepultado pelo desabamento da escavação, da mina, pedreira onde trabalhe e os que tem de perecer desse modo, perecem. Porquê? Porque semelhante ao naufrágio, escolheram, para terminação da vida terrena, a morte violenta, cercada das angústias e alternativas das daquele e precedida na mesma luta entre a submissão ao Criador, a resignação, o remorso, a confiança na bondade divina e o pavor, a blasfêmia, o desespero. Como o náufrago, foram levados, pelos seus próprios Espíritos, a preterir uma habitação a outra em certa ocasião, a preferir, para trabalhar, esta escavação à aquela.  

“Os que tenham de perecer de qualquer desses modos, por haver soado a hora final de suas provas terrenas e por serem de qualquer desses gêneros a provação e a expiação que escolheram, perece inevitavelmente.”

E finalizando, por agora:

“Os que devem escapar à morte, por não haver soado ainda aquela hora, escapam. Os meios de salvamento lhe são facultados pela influência e pela ação dos Espíritos prepostos.”

Posto isto, consideramos, em nossa vida diária as múltiplas circunstâncias:

Porque aquela nossa indisposição e cancelamento da viagem no avião sinistrado?

Qual foi a razão de havermos perdido o navio que fora afundado em alto mar?

Por que motivo não tomamos o noturno que descarrilara serra abaixo, vitimando os seus passageiros?

São situações qualificadas pelos incrédulos e indiferentes como “as meras coincidências”, “as sortes” e as “fatalidades cegas”, mas que para nós outros, esclarecidos pela Doutrina que abraçamos, nada mais representam do que o dedo da, Providência, supervisionando tudo e todos, na marcha da vida.