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segunda-feira, 29 de junho de 2020

A Oração


A Oração
J. Severiano de Souza
Reformador (FEB) Julho 1919

            “Orai para que não entreis em tentação” (Lucas, XXII, 40) foram palavras de advertência lançadas por Jesus, no jardim de Getsêmani, aos seu discípulos.
            Se bem meditarmos, se bem auscultarmos a profundeza do nosso eu; se bem refletirmos, no íntimo da nossa consciência ouviremos ainda o eco profundo e mavioso da palavra de Jesus repetindo-nos a todo momento: “orai, para que não entreis em tentação”.
            De fato, a oração indubitavelmente, quando ditas com ardor sincero, com devoção perfeita, o lampejo sutil e reconfortante do espírito.
            Espanca d'alma qualquer resquício, de ódio, qualquer indício de tibieza. Quem ora, trabalha pela luz, trabalha pelo espírito, pela paz, pelo amor, pela remissão, pela caridade!
            Quando afastarmo-nos do labor quotidiano; quando as afanosas tribulações da vida divina quietarem-se com o distender do manto noturno, que formos ao leito em busca do sono para nos libertarmos por alguns instantes, abramos o espírito em confissão íntima ao Deus Eterno, descortinemos nossa consciência, façamos uma recapitulação dos atos praticados desde o albor até o declinar do dia, e, depois desta análise perfeita, desse julgamento dos atos praticados, abramos o espírito e em pensamento descortinemos a vastidão infinita do espaço, libreme-nos (equilibremo-nos) em espírito a esses páramos longínquos, além do ruído tristonho e lúgubre do mundo e oremos, oremos contritos, oremos ardentemente; invoquemos o Pai Celestial, peçamos seu auxílio bondoso, solicitemos a sua misericórdia que, a voz da nossa consciência no silêncio do nosso espírito, no recolhimento de nossa alma voará e ecoará além como gritos piedosos de quem pede socorro, de quem requer auxílio, de quem se debate em lutas desabridas e carece de amparo e proteção.
            Devemos orar como o Mestre nos ensinou no sermão da morte! Não usemos genuflexões hipócritas, não façamos dos lábios autômatos, do coração um cego.
            Orai para não cairdes em tentação”, disse-o Jesus. Devemos, pois, orar!
            A tentação do vício e do mal penetra na alma ociosa e despreocupada e todos nós, desde o mais elevado ao mais pequeno da esfera espiritual, temos responsabilidades enormes e não devemos, em nenhum momento, devotarmo-nos ao vício.
            Devemos orar, pois a oração é esse canto solene na sua simplicidade e magno nos seus efeitos, que nasce das profundezas d’alma assomando aos lábios num sussurro de respeito e súplicas edificantes.
            É esse canto profundo da alma, que no seu silêncio conduz as angústias da criatura ao Criador, e encerra nas suas emoções as alegrias dos salmos e as harmonias da música.
            É esse foco profundamente perene que irradia do nosso pensamento como a luz de um sol fecundo e imenso!
            É esse dedilho que a agonia entoa no suplício da dor, e em litânico (súplice) sussurro evola-se acima de nossas cabeças em busca de um asilo seguro de onde dimanarão os benefícios de sua primorosa essência.
            Orar é cantar em silêncio hinos de arrependimento, submissão da Natureza fecunda na sua seleta e magna manifestação!
            Orar é perfumar o espírito com os aromas da paz; é iluminar a alma com a luz do amor; é banhar o coração com os beijos da caridade; é distinguir-se, elevar-se, progredir!
            Orar é beber a verdade cristã contida no Evangelho de Jesus; é perfumar-se nos odores de seus ensinamentos; é refletir nos acordes sonoros do sermão da montanha, aquele sermão memorável que há vinte séculos foi pronunciado pelo Cristo sobre o monte e, ecoando nos âmbitos do mundo, vem trazendo a ideia de paz e liberdade, de amor e tolerância, de esperança, de redenção à humanidade inteira.
            Quem poderá repudiar a oração?
            Quem menoscabará (desprezará) esse assomo (sinal) intuitivo e profícuo do espírito quando busca o Criador por intermédio da prece?
            Só o coração empedernido, afogado nas gulas da concupiscência (sensualidade); só o coração dilacerado pelas explosões da descrença; só o coração perdido no abismo da indecisão que, como ser anulado se perde no caminho da vida, é que pode num assomo louco repudiar as blandiciosas (ternas) sobras da oração! 
            Mas ao coração grito ao seu Criador, ao coração respeitador e venerador de Deus, a oração é sempre harpejante (em som de harpa), profícua, necessária, mesmo essencial.
            Não devemos esquecer que o Espiritismo, na sua evangelização cristã, como guia seguro do homem, nos ensina a orar como Jesus ensinou no sermão do monte.
            Assim pois, não devemos olvidar jamais as palavras do Cristo quando disse no jardim de Getsêmani aos seus discípulos: “orai para que não entreis em tentação.”


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