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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

Palmas



Palmas
Orvile Derby A. Dutra
Reformador (FEB) Novembro 1940

            Deve constituir preocupação de todo espírita o aperfeiçoamento constante de si mesmo, do meio em que vive e, quiçá, do seu próximo.

            Tudo, portanto, em que haja ocasião de estudo e aperfeiçoamento deve merecer-lhe carinho, dedicação e respeito.
           
            Assim, um assunto que reclama estudo acurado de nossos irmãos em crença é o de aplaudirem-se com palmas os oradores, nas reuniões espíritas.

            Num ambiente neutro ou profano, onde as coisas materiais mais ou menos predominam no espírito dos assistentes, é natural que se preste aos oradores homenagem de cunho também mais ou menos material.

            Dentro, porém, de um Centro espírita, de uma casa de caridade, onde a espiritualidade deve preponderar, onde os assistentes se reúnem em nome do Senhor, para expansão de sentimentos elevados, não vemos tenham cabimento demonstrações de natureza material, para aplausos e palmas que, ao demais, oferecem o risco de inutilizar o orador, pelo fato muito simples de que nem sempre ele está preparado para receber homenagens tão diretas e pessoais.

            Nessas ocasiões, se um irmão nosso, num ambiente espírita, embora possuído de muito boa vontade, sobe à tribuna para uma palestra ou dissertação doutrinárias e, ao terminar, recebe uma salva de palmas, não raro acontece que esses aplausos se transformam em degraus para a sua ascensão ao trono da vaidade, filha primogênita do orgulho, e a consequência é necessariamente funesta, triste, dolorosa.

            Se o mesmo orador, numa tribuna idêntica, por qualquer circunstância, não agrada à assistência e esta lhe dá mostra do seu desagrado, dispensando-lhe fracos aplausos, algumas palmas apenas, isoladas e esparsas, recebe ele a pública e amarga demonstração do seu fracasso e, ferido no íntimo, em seu amor próprio, desgosta-se e se afasta. É um trabalhador perdido.

            O mesmo já não acontece com uma assistência compenetrada da possibilidade desse mal. Se a peça oratória lhe agrada, em vez de dar palmas, ela, vibrando intimamente, dirige o pensamento ao Criador, agradecendo-lhe a magnífica dádiva, e o orador sente o benefício grande desses aplausos de outra espécie e mais sinceros, partidos que são do fundo de corações bem formados. Experimentando íntimo júbilo, dispõe-se a aprofundar seus estudos da Verdade divina, para mais e melhor ainda produzir.

            Se, entretanto, a sua oratória não agradou, a assistência, sempre compenetrada do seu dever, se porta como se o orador lhe houvesse agradado: vibra do sentimento de piedade para com este e, como no outro caso, dirige o pensamento a Jesus, numa súplica pelo irmão mal sucedido, exemplificando assim um dos grandes ensinamentos evangélicos: o da tolerância. Suplica forças para o trabalhador de boa vontade que, então, sentindo o influxo daquelas vibrações generosas, longe de desanimar, cuida de orar com mais fervor, de estudar e meditar com mais afinco, certo de que, na próxima ocasião, produzirá mais e melhor.

            Poderíamos citar muitas consequências desastrosas desse gênero, decepções amargas e ilusões nefastas, devidas às palmas e aplausos. Mas, não entramos nesse terreno, por ser o da crítica. Por satisfeitos nos teremos, se os nossos irmãos quiserem dar-se o trabalho de observar e analisar o que se passa nesse terreno. Se o fizerem, não se deixarão arrastar para sendas que não são as do aperfeiçoamento por que todos devemos esforçar-nos.

            Nota da Redação - Irrestritos "aplausos" deferimos ao que se acaba de ler. Subscrevemos in totum os conceitos acima externados, pelo corresponderem integralmente à nossa maneira de ver e de entender a questão ventilada, correspondendo às boas normas da Doutrina Espirita e a uma elevada compreensão do espírito de seus ensinamentos.   


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