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quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Espiritismo e Espiritualismo



Espiritismo e Espiritualismo
Redação 
Reformador (FEB) Fevereiro 1958

            É comum aos homens usar e abusar das palavras, ora agrilhoando-as a definições e conceitos rígidos e dogmáticos, ora dando-lhes asas para se librarem (fundamentarem) em altos voos, em remígios (as penas mais compridas das asas) mirabolantes, até que aos nossos olhos elas perdem sua significação original.

            Procuraremos, aqui, não nos inclinarmos para esses extremos, prudentemente permanecendo no meio: in medio virtus.

            Kardec, em "O Livro dos Espíritos" (22ª ed. brasileira), pág. 11, declarou: “A Doutrina Espírita ou o Espiritismo tem por princípio as relações do mundo material com os Espíritos ou seres do mundo invisível. Seus adeptos serão os espíritas, ou, se quiserem, espiritistas."

            Portanto, por inelutável corolário, segundo o mesmo Autor, “Espírita é aquele que crê nas manifestações espíritas”. ("O Livro dos Médiuns" (49ª ed. brasileira, pág. 411). Em consequência mesmo dessa definição, Kardec chegou a escrever que o Espiritismo conta entre os seus aderentes homens de todas as crenças, católicos fervorosos, protestantes de todas as seitas, israelitas, muçulmanos, budistas e bramanistas, os quais não renunciaram às suas convicções (?). ("O que é o Espiritismo" (10ª ed. brasileira), pág. 85).

            A palavra “Espiritualismo”, que tinha e tem um sentido oposto ao de Materialismo, após os fenômenos de Hydesville, com as irmãs Fox, ganhou mais um sentido que os norte-americanos lhe deram; Acrescido do adjetivo "moderno" ou prefixado de "neo" (Espiritualismo moderno, ou Neo-espiritualismo), passou a designar as manifestações dos Espíritos com os vivos da Terra, e os crentes se denominaram, muito naturalmente, espiritualistas. Aceitaram tudo isto os ingleses, e até mesmo os franceses, antes de Kardec. Este, somente criou os termos Espiritismo e espírita para maior clareza de linguagem, para evitar confusão com o sentido originalmente aplicado a Espiritualismo e espiritualista. Todas estas coisas ele esclareceu na "Introdução" de "O Livro dos Espíritos" e em “O que é o Espiritismo".


            A doutrina dos Espíritos batizou-a, então, com o nome de Espiritismo. Nunca jamais lhe passou pela mente utilizar-se deste último termo para nomear uma "doutrina de Kardec".

            “Se adotei os termos espírita, espiritismo, é porque eles exprimem, sem equívoco, as ideias relativas aos Espíritos” - reafirmou Kardec para, de uma vez por todas, deixar bem claro a razão por que ele procedeu daquela maneira.

            Aos espiritualistas, principalmente ingleses e norte-americanos, desde o princípio, por motivos de todos conhecidos, repugnaram as ideias reencarnacionistas. 0s elevados guias espirituais, diante desse estado de coisas e para que as novas revelações não sofressem interrupções em sua disseminação, resolveram velar aos homens daqueles países o problema da reencarnação, certos de que no futuro apareceria ocasião mais propícia. Como não poderia deixar de acontecer, Kardec tratou também dessa questão em sua "Revue Spiríte", estudou-a com tino e clareza, explicando aos espíritas franceses o fato, que no fundo é natural e compreensível. Cheio de tolerância e fé, prenunciou para épocas vindouras a aceitação da reencarnação pelos espíritas de língua inglesa. Não nos consta que o mestre de Lyon apresentou, alguma vez, os espiritualistas das terras de Tio Sam e John Bull como não espíritas. Vejamos o que escreveu o Codificador em "Revue Spirite", 1862, pág. 109: “A reencarnação, diremos, não é necessária para que se creia nos Espíritos e suas manifestações, e a prova disto é que há crentes que não na admitem. Eis aí um fato confirmado. Também não diremos que não se possa ser um bom Espírita sem o conhecimento dela; não somos daqueles que atiram pedras contra os que divergem do nosso modo de pensar.”

            Desde há muito Espíritos Superiores e Espíritos familiares se têm manifestado em meios reencarnacionistas daqueles dois países, declarando que mais cedo ou mais tarde as vidas sucessivas, processadas aqui neste Planeta, não mais serão ponto duvidoso entre aqueles irmãos. Tudo tem o seu tempo, acrescentam, e, através dos noticiários internacionais que nos chegam às mãos, já temos a grata oportunidade de comprovar o que aqueles Espíritos vêm dizendo: lentamente as ideias reencarnacionistas vão penetrando ali e acolá.

            É natural que tudo isso se concretize lentamente, pois que o próprio Kardec, missionário chefe do Espiritismo, relutou em aceitar a teoria da reencarnação, segundo vemos no seguinte trecho por ele publicado em sua 'Revue Spiríte", de 1862, pág. 51: “Quando o dogma da reencarnação nos foi revelado, ficamos surpresos e o acolhemos com hesitação, com desconfiança, combatemo-lo mesmo, durante algum tempo, até que a sua evidência nos foi demonstrada. Assim, nós não inventamos este dogma mas o aceitamos, o que é bem diferente."

            Assim, incoerente é falar que os neo-espiritistas não são espíritas, só porque ainda não creem, em sua generalidade, na reencarnação, como incoerente será dizer, por exemplo, que os espíritas que admitem a revelação rustenista não são espíritas realmente dignos desse nome!

            Devemos convir que entre os próprios espiritistas há diferenças de compreensão e aceitação de diversos pontos doutrinários, e diferenças outras que para certos grupos são até mesmo capitais. A vista disso, poderiam surgir denominações várias que caracterizassem cada grupo, mas, no final das contas, todos não deixariam de ser espíritas, segundo a definição de Kardec.

            O 2º Congresso Espírita e Espiritualista Internacional, realizado na capital francesa, em 1889, aceitou, em suas conclusões, a reencarnação, ressalvando, entretanto, que "um grande número de espiritistas e espiritualistas constituem uma escola, que tem direito a todas as considerações dos irmãos, a qual nega a reencarnação, sem que Isto mude em coisa alguma a doutrina geral admitida pelos espiritistas.

            “É útil para todos - confirmou a comissão - adquirir conhecimento dos argumentos recíprocos apresentados pelas duas escolas."

            Espíritas respeitáveis foram os espiritualistas Russel Wallace, Edmonds, Olíver Lodge,Crookes, Arthur Findlay', William Barrett, Hyslop, Dale Owen, Sexton, William Stead, Conan Doyle, Haraldur Niellson, Bradley, Chambers, Stainton Moses, etc., etc.

            Todos eles são chamados constantemente na defesa do Espiritismo, e não há espírita propriamente dito (digamos assim) que numa simples conversa não traga à boca um nome daqueles ilustres homens, para apoio e afirmação da Doutrina. Espírita. Se a eles, e a muitos outros, nos arrimamos, porque negar-lhes a. condição de espíritas, unicamente por faltar-lhes o conhecimento da reencarnação?!

            Nos anos de 1898 e 1948, espiritualistas e espíritas do mundo inteiro, unidos pelo mesmo ideal, comemoram festivamente o cinquentenário de Hydesville, manifestações que originaram o Modern Spiritualism. Houve entre uns e outros fraternal intercâmbio de sentimentos e de ideias, demonstrando terem todos o mesmo objetivo: cristianização da. Humanidade.

            Não criemos, pois, barreiras de antagonismo motivado pelo uso ostentoso, privativo e separatista de tal ou tal vocábulo.

            As divergências que existem entre espíritas podem ser aplanadas pela tolerância recíproca. O tempo e os fatos desvelarão a Verdade, e todos terão um só entendimento quanto ao problema do Ser, do Destino e da Dor.

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