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segunda-feira, 10 de setembro de 2018

O Diabo melhorou muito



O Diabo melhorou muito
por Carlos Imabasahy
Reformador (FEB) Junho 1944

Há tempos, jocoso adversário da doutrina espírita, entre outras coisas muito engraçadas, disse que o Espírito dos espiritistas era um sujeito barbado, com ar de bode, um rabo e dois chifres.

A definição não é propriamente de Espirito, senão de falta de espírito. Mas vá lá.

O que ele queria dizer, na sua linguagem metafórica e hilariante, é que o Espírito que aparece em nossas sessões é o de Satã, é o demônio em pessoa, e, para disfarçar o ousio (ousadia) da afirmativa, misturou-a com um pouco de graça, visto que o diabo, hoje em dia, já não é levado muito a sério. Sem sal não vai.

Não há negar que ele anda um tanto ou quanto desmoralizado. A começar pela literatura, e esta é vasta. Basta lembrar o Fausto, de muito êxito nas letras e na música. Aí procura Mefisto perder almas e levá-las para seu nefando domínio. Fez
um pacto, que cumpriu - justiça se lhe faça. Deu ao velho Fausto mocidade, riquezas, mulheres...

Gastou com essa perdição precioso tempo e trabalho, mas quando veio buscar o gozador, quando chegou a vez de cumprirem os outros o que prometeram, fugiram à palavra empenhada: arranjaram uns pistolões divinos, muniram-se de cruzes e
outros petrechos salvadores e deixaram o pobre diabo de boca aberta.

Embaucado (enganado), não há dúvida nenhuma! Embrulhado, mistificado, gorado (que não deu certo), ele, o pai da mistificação!..

Veja-se o que se passa na hora da morte. Há um tratante que leva a vida inteira a fazer iniquidades, falcatruas, imoralidades de todo o gênero, senão crimes de toda a sorte. E o demônio, satisfeito, a esfregar as mãos de contente! Deve ser ele o causador de tudo aquilo, com suas tentações infernais. Que trabalheira lhe não custou fazer com que se perdesse aquela alma!

Nisto, chega a Parca (a morte) com a sua foice fatal.

É agora! O homem tem que render a alma ao demônio. Uma vida em pecado mortal, uma vida de crimes horrentes pede as moradas do fogo eterno. Mas o sujeito treme. Não é pra menos. Aos suores frios da morte juntam-se os suores gelados do
pavor. Medo, remorso, tudo se confunde. Mas... pede um rosário, pede um padre, confessa-se... E salva-se. Eis Satã mais uma vez ludibriado.

Entretanto, o pior, se há pior, é que o tal está ficando caduco. Caducíssimo! Como se lhe não bastasse tanto mal sobre a Terra, como se fosse pouca a desventura que pesa sobre nós.

"No mar tanta tormenta e tanto dano,
Tantas vezes a morte apercebida.
Na terra tanta guerra, tanto engano,
Tanta necessidade aborrecida."

Já dizia o Camões.

Como se tudo fora pouco, como se não sobrassem motivos para que vivêssemos em constante engodo, ainda ficou com a sobrecarga do Espiritismo! É de mais!

Não resta dúvida que ele tem costas largas, e sempre foi o causador de nossos contratempos, de nossas desgraças. Haja vista que, quando tem alguém uma contrariedade, logo diz: - Isto é o diabo!

Ele mete o nariz em tudo, entra onde não é chamado, conspurca as coisas mais santas, induz ao pecado, diverte-se com a divindade, a quem ludibria, desrespeita e desmoraliza; e não tendo mais que inventar, nem sabendo como contrariar ainda
mais o Eviterno (o eterno), deu para fingir, deu para bancar a alma do outro mundo. E olhem, aqui baixinho para que ninguém nos ouça, aqui à puridade (pureza) para que o escândalo não retumbe: - finge, mesmo, de santo. Aparece-nos a dar avisos salutares e mensagens na figura de Santo Agostinho, S. Francisco de Assis, S. Vicente de Paulo, S. Marcos, S. Lucas, S. Mateus, S. João ...
           
Uma velhacaria daquelas!

E sabem o método que emprega? Esta só lembrava ao diabo! Levar-nos ao mal pelo bem. Ele agora encaminha as almas ao Averno (inferno), obrigando os sujeitos à vida de virtudes, à uma existência exemplar. Seria inacreditável se não se tratasse do demônio.

Sabem o que é que ele faz para danar os seres? A apostar que não sabem. Pois já o digo: Prega a existência de Deus, a sua bondade, a sua onisciência, a sua onipotência, a sua onipresença, a sua eternidade. Proclama-o senhor e criador dos mundos. Manda que o amem acima de todas as coisas.

Prega o Evangelho e ordena que o levem a toda parte, a toda criatura.

Prega a imortalidade da alma e declara que os bons e os justos serão recompensados, enquanto os maus, os ímprobos, os pecadores sofrerão pelos seus pecados, por sua improbidade, por sua maldade.

Prega a paz universal, a fraternidade, a solidariedade, o amor do próximo. Afirma que só pelo amor e pelo bem se podem chegar a Deus.

Cura os doentes, consola os tristes, promete aos deserdados, expulsa os colegas, aconselha os transviados, encaminha as criaturas, e declara, e afirma,
e assegura que a salvação está na Caridade. "Fora da Caridade não há salvação" é este o seu lema.

O sofrimento de um lado, o altruísmo, do outro, eis as asas potentes da redenção.

Obriga, enfim, o homem à prática das boas ações. Leva-o pela mão dos carreiros do bem, desvia-o dos maus atos, das más palavras, dos maus pensamentos. Torna-o simples, bom, caritativo, honesto. Purifica-lhe a alma, adorna-o de virtude, regenera-o visceralmente, retoma-o à inocência primitiva.

E depois?.. E depois? ..

Depois manda-o para o inferno, está claro!

É com essa doutrina lógica que os nossos adversários nos acaçapam (humilham).


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