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quarta-feira, 19 de setembro de 2018

Corações Vazios



Corações Vazios
por Misael Gomes
Reformador (FEB) Julho 1944
 
O Espiritismo encontra seus negadores, do mesmo modo que o encontrava o Cristianismo nascente, nas inteligências desenvolvidas, mas em sentimentos atrofiados. Quando o coração permanece vazio, o progresso da compreensão se degrada para o sofisma, para as negações.

Vemos grandes inteligências consagradas a profundos raciocínios negativos. Os mesmos fatos, que inspiram atos de sublime heroísmo a um bom coração, deixam indiferente e frio o coração seco do misantropo ou do pessimista.

Os mais profundos conhecedores da Lei de Moisés, não só ficaram indiferentes à pregação de Jesus, como até se enfureceram orgulhosamente, negando-lhe direitos a ensinar. Transformaram-se em perseguidores do mais sublime dos seres vindos à Terra. Eram corações vazios e tudo queriam resolver somente com o cérebro.

Ignoravam que inteligência sem amor é fogo fátuo, é luz externa e sem vida.

Um pouco mais tarde, tornado oficial o Cristianismo, essas mesmas inteligências de corações sem amor aceitaram exteriormente o Cristianismo para po-lo a serviço de seus interesses inferiores na política e na economia. Passaram a praticar, em nome do Cristo, tudo quanto faziam antes, tudo que o Mestre Divino proibia se fizesse.

A Terceira Revelação não poderia evitar a mesma sorte. Os fenômenos mais convincentes não acharam eco nos corações vazios. Houve a grande oposição, a negação furiosa. Depois, entraram a formular hipóteses negativas as mais extravagantes, desde que evitassem a doutrina de amor ensinada pelos Enviados de Jesus.

Ainda agora, se bem mais timidamente, aparecem essas hipóteses com o nome pomposo, de hipóteses metapsíquicas. Aceitam-se as explicações mais absurdas, desde que se evite a verdade cristã repetida pelos Espíritos, porque esta nos ensina acima de tudo o amor a todos os seres e isso repugna aos corações vazios. O mais triste, porém, é quando os corações vazios se proclamam espíritas e até se julgam espíritas e passam a atacar de dentro de nossos próprios arraiais. A nossa defesa torna-se quase impossível, porque a negação e a dúvida surgem em nome do Espiritismo mesmo e não em nome dos inimigos do Espiritismo. Se estivéssemos entregues unicamente às nossas forças, seríamos fatalmente vencidos e o Espiritismo teria que desaparecer diante de tais trabalhos de sapa que tentam minar nossas próprias bases.

Vemos pessoas que se proclamam espíritas e perdem anos e anos na inglória tarefa de negar de público o valor das grandes obras mediúnicas, como Os Quatro Evangelhos, de J. B. Roustaing, ou em fazer oposição sistemática às instituições que mais trabalham pela divulgação da doutrina.

São corações vazios que se deixam empolgar pela inveja, pelo ciúme, pela sede de exibição, e não hesitam em tudo sacrificar às suas paixões egoísticas, porque realmente não amam à doutrina, não amam aos homens, e nada podem compreender nem aprender fora de suas pessoas.

É penoso assistirmos a essa obra do espírito negativo; mas é instrutivo, porque todos nós somos imperfeitos e temos tendência de esquecer que o fundamento da vida é o amor incondicional. Tendemos a descurar o cultivo do sentimento em benefício somente da compreensão, Sem percebermos que a inteligência é apenas uma força e pode ser igualmente empregada para o bem ou para o mal, como todas as outras forças. O pensamento sem o controle rigoroso do sentimento, é talvez a mais perigosa de todas as forças da Natureza, porque é uma força indomável que está sempre criando ou sempre demolindo, sem nunca poder parar.

O Inferno ou o Céu são produtos inconscientes do pensamento criador do homem. Quando essa força é governada e dirigida pelo amor, ela é capaz de maravilhas divinas. Quando, porém, se envereda pelo abismo negro do ódio e
das negações cria monstruosidades diabólicas.

Por mercê de Deus, o Espiritismo não está entregue exclusivamente aos homens e não será possível aos corações vazios anulá-lo com seus sofismas. Temos prova disso na orientação superior que os Espíritos vão dando à nova literatura mediúnica. Em vez de obras sujeitas à crítica demolidora dos corações vazios, enveredam-se os nossos maiores pelos domínios da arte e nos dão, com aparência externa de obras de ficção, os mais sublimes ensinamentos em poemas, contos, novelas, romances, biografias. Tornam-se assim inacessíveis às ondas do pessimismo. Ninguém deixa de ler um belo romance, porque Fulano ou Sicrano ataca as obras mediúnicas e procura desmoralizar a mediunidade; não; não nos interessa saber a identidade do Espírito que escreveu "Renúncia"; podemos até atribuí-la ao médium, se quisermos, porque o nosso interesse está na obra mesma e não em seu autor. Assim também os outros romances, os poemas, os sonetos. Como vai ser bela a nova edição de "Parnaso do Além Túmulo"! Já lhe vimos as provas tipográficas e vamos revelar aqui ao estudioso um segredo.

O mais íntimo dos nossos amigos, um dos melhores espíritas que conhecemos e com o qual tivemos relações diárias durante mais de trinta anos, era um fervoroso amigo de "Parnaso do Além Túmulo". Poeta também, grande conhecedor da poesia do Brasil e de Portugal, aquela Academia de poetas mortos a conviverem com seu apaixonado coração através das páginas do "Parnaso", era sua grande alegria, sua prova palpável e viva da eternidade do ser. Nunca, porém, teria ele pensado, é evidente, que entraria também para aquela galeria de artistas, de almas irmãs da sua, como nunca pensou em apresentar-se candidato a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Pois bem, esse grande amigo do "Parnaso", na próxima edição, será o primeiro poeta que aparecerá, graças às primeiras letras de seu nome AB. Chama-se Abel Gomes e os nomes vêm em ordem alfabética.

Abel Gomes escreveu depois de morto algumas poesias despretensiosas, e dentre elas apareceu um soneto que agradou ao Editor do livro e foi Incluído na 4ª edição.

Pois bem, não há coração vazio com sua crítica negativa que nos prive de interesse pelas obras de arte como já é agora e mais será no futuro essa coleção de poemas reunidos com o título de "Parnaso do Além Túmulo".

E essas obras de arte irão preparando nosso sentimento para uma vida melhor na Terra ou no Espaço.  

Os corações hoje vazios, igualmente, um dia sentirão a ventura de amar e tornarem-se poetas, deixando no esquecimento seus sofismas negativos e passando a viver a vida real. Perderão o personalismo que os escraviza; romperão o círculo de ferro que os isola; perceberão que uma simples menina analfabeta, mas cheia de amor, é infinitamente maior do que Artur Schopenhauer, Frederico Nietzsche, Tomaz Torquemada, René Sudre e todos os outros negativos da História.

Não há corações eternamente vazios, porque Jesus não deixará perder-se nenhuma das ovelhas que o Pai lhe confiou. Mais cedo ou mais tarde, todos compreenderão a sublimidade do amor e começarão a viver de novo.





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