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domingo, 27 de agosto de 2017

Homenagens


Homenagens
Orvile Derby A. Dutra
Reformador (FEB) Janeiro 1941

 Desde sempre, a humanidade, por demonstrar sua gratidão, presta homenagens às criaturas, vivas ou mortas, que ela considera heroicas, altruísticas, abnegadas, eminentes pelo saber ou pela virtude.
É uma tradição que, passando de geração em geração, chegou até nós, continuando tais homenagens a ser tributadas quase diariamente.
Não somos radicalmente contrários a que também nós, os espíritas, rendamos homenagem aos que se distinguiram como trabalhadores no campo do Espiritismo. Precisamos, porém, ter muito em vista o modo por que as prestemos. Esse ponto reclama o máximo cuidado.
Gozando da felicidade de conhecer e professar a Doutrina do Cristo, a quem procuramos seguir pela prática do Evangelho segundo o espírito que vivifica e não segundo a letra que mata, esforçando-nos por espiritualizar tudo o que esteja ao nossa alcance, para que em tudo o espírito exerça predomínio sobre a matéria, devemos evitar, no máximo possível, as homenagens de cunho puramente terreno e material.
Muitas vezes, conhecendo de perto o esforço, o devotamente, a abnegação, o altruísmo, a renúncia, mesmo o espírito de sacrifício com que um irmão nosso há trabalhado, ou trabalha em prol da doutrina e, quiçá, a bem de seu próximo, sentimo-nos impelidos a dar-lhe um testemunho do nosso reconhecimento à maneira por que se consagrou à realização do ideal que a mesma doutrina consubstancia, mediante a exemplificação dos ensinamentos do nosso divino Mestre Jesus.
É natural que isso aconteça e não há como fugir a esse impulso de nossa alma, por quanto o reconhecimento, a gratidão são virtudes que devemos cultivar e demonstrar, sempre que for oportuno. Cumpre, no entanto, o façamos de modo todo espiritual, elevado, pois que as homenagens que dediquemos a um Espírito que, por exemplo, foi bondoso, dócil, caridoso e puro, ele só as poderá acolher de boamente, como um tributo de gratidão, se, além de sincero, esse tributo for puro, o que só acontecerá se se revestir de pura espiritualidade, sem o que quer que lhe imprima cunho de mundanismo, ou de simples exterioridade, capaz de gerar a suspeita de corresponder apenas à vaidade dos respectivos promotores.
É ainda comum darem-se a agremiações espíritas e a instituições de caridade nomes de pessoas que se impuseram pelo seu proceder e pelas suas obras a essa distinção. Já devíamos estar mais adiantados; mas, até certo ponto, essa maneira de agir se justifica, porque, mediante a exaltação do nome, se defere justa honra aos merecimentos daquele que o usou entre nós. Em se tratando, porém, de pessoa ainda viva, nenhum cabimento tem semelhante prática, nem de nenhuma forma pode justificar-se.
Vamos mais longe. Não nos parece justificável, absolutamente, que, numa agremiação espírita ou instituição de caridade, haja, no salão onde os crentes se reúnem tão só para cuidar de coisas exclusivamente espirituais, para orar, para estudar e meditar o Evangelho, ou para explanar os ensinamentos do Espiritismo; onde, pois, o ambiente material deve exprimir a máxima singeleza, a maior humildade, haja mais do que aquilo que seja estritamente indispensável à sua finalidade, como mesa, cadeiras ou bancos, estantes com livros, por serem estes veículos de instrução, elementos, portanto, de evolução e progresso.
As paredes, essas devem apresentar-se nuas, limpas, despidas de quaisquer ornatos, bem como de quadros, retratos e dizeres. Uma vez que os que ali vão levam apenas o intuito de entrar no conhecimento da Verdade, não se pode prescindir dessa singeleza, por isso mesmo que a Verdade, quando o é, de fato, sempre se mostra balda de ornamentos quaisquer.
Pode-se, de algum modo, aquilatar do progresso espiritual dos dirigentes e componentes de um núcleo de crentes, até mesmo de uma religião, pelo aspecto do recinto onde celebram suas reuniões. Quanto mais enfeitado, cheio de retratos ou imagens, de estatuetas e adornos se mostre esse recinto, tanto, mais longe da verdade e do Evangelho se revelam os seus frequentadores, pois que só os que ainda não puderam penetrar-se do espírito dos ensinos evangélicos procuram suprir-lhe a falta com exterioridades e coisas materiais.

Cumpre-nos, portanto, a nós espiritistas, envidar de continuo os maiores esforços por nos espiritualizarmos, dado que somente quando nos acharmos espiritualizados em tudo é que nos demonstraremos aptos para a compreensão e a prática do Evangelho, em o qual nada há que não seja essencialmente espiritual. É só assim poderemos ter a consciência de estarmos a caminho da perfeição.

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