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terça-feira, 25 de outubro de 2011

Intelectualismo e Espiritismo



Intelectualismo
e Espiritismo

"O espírito é o que vivifica; a carne de nada serve;
as palavras que vos digo são espírito e vida." (João, 6; 64.)

"A letra mata, o espírito vivifica." (Paulo, II Cor., 3; 6.)

            João e Paulo, espargindo com entendimento os ensinamentos do. Cristo de Deus, primaram pelo compreender esclarecido, antecipando em séculos as verdades da Terceira Revelação. E para nós já é fato comprovado a presciência e o amadurecimento do verdadeiro seguidor do Evangelho, em espírito e em verdade.

            A Doutrina Espírita, Consolador Prometido, Terceira Revelação, complementou a Revelação Messiânica, obedecendo ao encadeamento lógico, já iniciado pelos profetas, em especial pela Lei Moisaica.

            Analisando o seguimento tranquilo estabelecido pelas Revelações, somos forçados, por uma lógica inegável, a convir na dualidade  de princípios que parecem formar o todo da evolução em todos os sentidos: INTELECTO E SENTIMENTO, duas parcelas que, somadas, originam a perfeição; multiplicadas, conduzem à perfeição sideral e, finalmente, divididas em partes iguais estabelecem o equilíbrio íntimo. O todo, na essência, em princípio, na fonte de origem, é de uma clareza meridiana, ofuscante e até mesmo incomodativa para os negadores de si mesmos.

            O verdadeiro espírita - e, portanto, o real cristão (conforme sempre dizem os amigos espirituais) - deve ser o construtor esclarecido, o anunciador de novos horizontes, o indivíduo interessado no burilamento de cada um; em resumo, o seguidor extremamente fiel do Cristo e de suas obras na Terra. Somente aquele que luta por reformar-se intimamente, muitas vezes despendendo enormes doses de energia, lançando-se depois à elucidação do companheiro menos aquinhoado, pode ser considerado como espírita, em espírito e em verdade.

            Por tudo o que vimos, encontramo-nos mais do que convencidos de que a Terceira Revelação é sentimento e raciocínio, é desejo e ordem, é fé raciocinada. Enquanto raciocinamos sem a balança segura do Evangelho, estamos mistificando a verdade da Doutrina; enquanto, por outro lado, estamos sentindo e procurando alcançar sem o freio do raciocínio, continuamos também a mistificar o âmago da Doutrina.

            Assim é que muitos companheiros lançam-se ao campo da difusão doutrinária plenamente esquecidos do Evangelho, confundindo efeito com causa, falando, como comumente se expressa o bom psiquiatra, por meio de uma linguagem esquizofásica, a já célebre "salada de palavras".

            Completamente obscurecidos pelo desejo (sentindo sem raciocinar) - de criar e de inovar, o que é altamente louvável, em princípio, lançam-se desarvoradamente ao trabalho, criando novos "Mr. Hydes" doutrinários, procedendo como crianças caprichosas, a qualquer custo exigindo o brinquedo de seus sonhos.
           
            Mas, precisamos compreender que não se deve brincar com uma Doutrina que é a do Cristo, por isso mesmo infinitamente superior a nós mesmos, aprendendo, senão as aceitarmos plenamente, ao menos a acatarmos as diretivas que nos são apresentadas de Mais Alto.

            Enquanto nos preocupamos em conhecer desatinadamente a Ciência Espírita, lançando mão de meios e métodos que não nos servem, milhares de companheiros sofrem as agruras das mais variadas privações, curtindo, acima de tudo, o abandono e o desprezo dos famigerados intelectualistas doutrinários, propagandistas de um culturalismo que se constitui em apenas uma faceta do ser humano.

            Não somos apologistas da ignorância ou da mediocridade, assim como não podemos endossar a invigilância e a megalomania culturais. Não pararemos nunca de repetir que a nossa profissão de fé foi a da síntese, motivo pelo qual estaremos sempre a chamar a atenção para os exageros. Talvez, ou melhor, com toda a certeza as experiências do passado nos libertaram o entendimento, razão pela qual o Evangelho é para nós o livro de tesouros inesgotáveis. Nele queremos estar sempre estribados, atentos para a letra que mata, dela retirando o espírito que vivifica.

            Agir com raciocínio, e não apenas movido pelo instinto ou, ainda mais, pelo sentimento, é obrigação de todo aquele que se diga verdadeiramente espírita, mas, como já tivemos oportunidade de afirmar, sentimento sem intelecto é sentimentalismo, assim como intelecto sem sentimento é culturalismo, ambas posições que talvez sirvam ao leigo, ao homem do mundo. Mas, o espírita precisa "estar no mundo, sem ser do mundo", vivendo pela sua elucidação maior, procurando abrandar suas penas, sem endossar seus procedimentos rudimentares. Do mesmo modo - como também já afirmamos -, não nos arrogamos a posição de palmatória do mundo; muito pelo contrário, somos simplesmente irmão no Cristo, filho do mesmo Pai de Misericórdia.

            Esforçamo-nos muito, e todas as vezes em que nos perguntamos se é o intelectualismo necessário à verdadeira compreensão da Doutrina, a resposta vem clara e brilhante à nossa frente: um belo e sereno NÃO.

            Em realidade, o conhecer, cada dia mais, é empreendimento dos mais nobilitantes, sempre que dirigido pelo Evangelho, com base nas assertivas crísticas e na lógica de que se acham impregnadas. Na verdade, podemos e precisamos conhecer, é uma necessidade mesmo de cada um de nós; mas, entre conhecer evangelicamente e não saber como empregar tal conhecimento patenteia-se distância incomensurável.

            No entanto, aqueles que assim ainda não procedem já começam a ser tocados pela asseveração crística, difundida por João e por Paulo: o que nos interessa é o espírito, pois a letra mata, em realidade; se ficarmos gravitando no terreno das aparências, poderemos considerar-nos como profundamente infelizes e também como pseudo sábios. Enquanto tivermos necessidade de impressionar pela nossa cultura, ou melhor, pelo nosso culturalismo inoperante, poderemos classificar-nos como genuínos espalhadores de brasas em terrenos que não se acham inclusos em nosso patrimônio e em relação aos quais, por isso mesmo, precisaríamos ter tido um pouco mais de cuidado na dedicação que Ihes devotamos. Em realidade, o que fizemos consistiu, simplesmente, em massacrá-los com nossa invigilância.

            Quando, então, facearmos o desvirtuamento em que mergulhamos, verificaremos que ninguém, a não ser nós mesmos, poderá saldar as dívidas contraídas. Virão, por esta época, mais palavras, ,mais lembranças, mais alusões ao Evangelho do Amigo Querido ... e aí talvez nos decidamos a aceitá-lo, finalmente. E a quanto montarão as dívidas ... ah! ... isto também será problema exclusivamente nosso! ...

            Por isso mesmo, estamos cada dia mais desejosos de seguir com Ismael. Só ele nos poderá levar ao Cristo, e só o Cristo levará o rebanho ao Pai

Gilberto Campista Guarino

inReformador(FEB) Março 1973.

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