Pesquisar este blog

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

A Ofensiva do Anticristo


‘A Ofensiva do  Anticristo

            O desolador espetáculo que o mundo ora nos apresenta é fruto do trabalho tenaz do materialismo, que jamais descansou em sua obra de demolição do sentimento religioso, estimulado pelos erros e abusos cometidos pela Igreja, empolgada pelo poder temporal e desatenta, muitas vezes, ao poder espiritual. As restrições opostas pelos líderes católicos, em outros tempos, à ciência, à liberdade de pensamento e de expressão, a outras religiões desamparadas do prestígio oficial, etc., foram ampliando divergências que afetaram sua autoridade. No passado, as lutas com adversários aguerridos, o separatismo, as dissensões, enfim, tudo quanto poderia concorrer para reduzir a área de influência do Catolicismo no mundo, principalmente na Europa (1), alcançava rápido progresso, graças igualmente ao desenvolvimento simultâneo das conquistas científicas, que vinham provando, de maneira crescente e irretorquível, a falta de base de argumentos puramente sectários, sem razão e sem lógica. De 1303 a 1447, período em que se evidenciou o declínio do papada, à Reforma (1517-1648), a Igreja foi perdendo terreno sem cessar, embora parecesse a muitos que, em determinadas ocasiões, houvesse superado as dificuldades que a abalavam. A reação do Vaticano se fez presente, então, de maneira mais positiva, quando Leão XIII divulgou a encíclica «Libertas Protestantissimum», em 1883, e a encíclica «Rerum Novarum», em 1891, sobre a situação dos trabalhadores (1891). Ambas, principalmente a última, provocaram polêmicas calorosas. Eram, porém, sintomas das dificuldades que a Igreja já tentava afastar para restabelecer uma autoridade que, mais e mais, lhe fugia. Pio XI manifestou-se contra o fascismo (1931) e o comunismo (1937); Pio XII conclamou a união contra os males do mundo, na encíclica Summi Pontificatus (1939), e realizou um plano de paz em 1939, sem deixar de sentir mais forte a precariedade da posição do Vaticano em face dos acontecimentos políticos e sociais. Tanto assim que, em 1945, expôs suas opiniões a respeito do poder espiritual da Igreja e os conceitos modernos do Estado. Foi, porém, João XXIII quem, em Mater et Magistra, acentuou corajosamente o problema das relações entre as comunidades políticas em desenvolvimento econômico e as já desenvolvidas e com alto nível de vida. De um lado, o pauperismo, de outro a riqueza. A atividade de João XXIII granjeou-lhe a simpatia geral, depois da encíclica «Pacem in Terris», pois abriu caminho para o reajustamento que ora Paulo VI enfrenta, de certo modo preocupado com o desembaraço excessivo de numerosos elementos do clero, muito «prá frente», contra o qual o Vaticano luta, na tentativa de evitar consequências ainda mais desastrosas para o futuro da Igreja.

            Fizemos este ligeiríssimo retrospecto para deixar o leitor mais ou menos esclarecido quanto às tentativas que vêm sendo feitas para evitar maiores estragos à autoridade da Igreja. De Pio XII a João XXIII, todos os papas se aperceberam da tempestade que começava a desabar sobre ela, como resultado natural, não só dos desacertos do passado, como do desembaraço cada vez maior atingido pelas forças do materialismo, «cavalo de Tróia» de reivindicações perigosas.

            Quem quer que estude os problemas da causalidade, da chamada «lei de causa e efeito» ou «lei cármica», compreenderá, sem surpresa, que a Igreja entrou, efetivamente, na fase critica do resgate das faltas, erros e omissões cometidos, decorrentes da sua politização progressiva, em prejuízo do seu prestígio espiritual. Quando a sua autoridade interna não sofria nenhuma contestação, a disciplina lhe assegurava uma tranquilidade hoje quase totalmente desaparecida. A indisciplina, porém, eclodiu em vários pontos, bispos, padres e freiras têm dado públicas demonstrações de desrespeito a Jesus, apresentando-o até como vulgar agitador de massas, revolucionário político igual a tantos outros que por aí andam a perturbar o mundo.
           
            Outros pregam a violência como instrumento de ousadas reivindicações, relegando para plano inferior a doutrina de compreensão, cordura e paz dos Evangelhos, sem mais esconderem o propósito de provocar o desmoronamento, não apenas da Igreja Católica, mas da Religião. Daí o recurso do papa a um ecumenismo que mal oculta seu estado de desespero, para que se consolide a coalizão de todas as chamadas «grandes religiões», abrindo os braços de par em par para aqueles que outrora não a acompanharam, os Ortodoxos; para os que dela um dia se afastaram, os Protestantes, assim também para os
que não professam o pensamento cristão, como o Judaísmo. As religiões consideradas «pequenas» e «fracas», entretanto, não foram atraídas para esse ecumenismo de emergência, porque, sendo consideradas «pequenas» e «fracas», não poderão criar obstáculos à tentativa de restauração de uma autoridade em agonia.

            Hão de pensar, aqueles que não conhecem os espíritas cristãos, que nos rejubilamos com o que sucede à Igreja, por sabermos da sua posição anticristã contra o Espiritismo. Não, de modo algum. Não somos ingênuos e compreendemos bem que as forças da Treva querem reduzir os grandes redutos religiosos à impotência, para, depois, ocupar-se dos que consideram .pequenos, quanto ao número, embora não o sejam propriamente quanto à fé que os anima.

            Busca-se destruir a Religião, para que o materialismo reduza a Humanidade, inteira a uma escravidão sem exemplo na História da Terra. Querem banir definitivamente, da vida humana, o sentimento religioso.

            Reflitamos, nós, espíritas, sobre tão importante quão melindroso aspecto da vida atual e compreendamos a necessidade urgente e imperiosa de seguirmos uma linha de conduta ainda mais rigorosa, quanto ao respeito que todos devemos a Deus e a Jesus, exemplificando os Evangelhos e seguindo as instruções que nos enviam nobres Entidades do Alto, todas a serviço do Mestre!

            Prestigiemos cada vez mais, pelo exemplo, a Doutrina codificada por Allan Kardec, porque somente a exemplificação nos dará forças para resistir à onda de aniquilamento dos valores morais e espirituais da Humanidade, promovida pelos propugnadores do materialismo ateu, ostensivos ou embuçados. Recordemos o sacrifício dos antigos cristãos lançados às feras, e nos unamos, pelo exemplo e pela prece, para a defesa dos princípios evangélicos!

(1) Vide "Os conflitos entre a ciência e a religião" e "Desenvolvimento intelectual da Europa",
ambos de W. Draper; "A luta entre a ciência e a teologia", de White.
           
                                             Assina...
Túlio Tupinanbá
in Reformador’ (FEB)  Fevereiro 1970


Nenhum comentário:

Postar um comentário