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sexta-feira, 14 de outubro de 2011

64 Trabalhos do Grupo Ismael




64


SESSÃO DE 11 DE SETEMBRO DE 1940

Manifestação sonambúlica

            Primeira de um Espírito que declarou, de início, não ser padre e não se interessar pelo que respeite a sentimento religioso e a misticismo; ter sido sempre um livre pensador, cético, vagabundo sem destino e trazer a alma completamente vazia.


Médium: J. CELANI

            Estudara-se pelo Evangelho de João, o texto seguinte, do cap. 14, v. 10 a 12: ‘’ Não credes que estou em meu Pai e que meu Pai está em mim? Aquele que crê em mim fará as obras que eu faço e fará outras ainda maiores.”

            Espírito. - É engraçado isto! Não sei de alguém que se satisfaça em perder tempo. Reconheceis a inutilidade da vossa obra e persistis nela com afinco! Extraordinário! (Referência a palavras ditas pelo diretor dos trabalhos na prece que acabara de ser feita).

            (O diretor, em resumo, explica que reconhecemos a precariedade da obra em que nos empenhamos por termos consciência de que as nossas inúmeras imperfeições, fraquezas e misérias obstam a que façamos qual ela devera ser; mas, que perseveramos porque sabemos que desse modo adquiriremos maior capacidade para executa-la, porque aliciaremos a misericórdia do Pai, sem a qual nada é possível à criatura. Pondera que, para chegar a realizar a obra do Cristo, não tem o Espírito que contar tempo, etc.).

            E. - Antes de prosseguirmos em nossa conversa devo advertir que não sou padre. Não venho defender a Igreja, nem qualquer religião. Sempre fui e sou livre pensador, um vagabundo sem destino. Passava aqui quando fui atraído por uma coisa que me pareceu um hino sacro, coisa que conheci na minha meninice. Cético, profundamente cético, tudo quando cheira a sentimento religioso, a misticismo, a religiosidade, nenhum interesse desperta em mim.
            Acho, contudo, interessante a vossa obra. A perseverança é uma virtude, não há dúvida. Certamente, os que perseveram algum resultado hão de colher. E’ admirável.
            Diz-me uma coisa: que devo fazer, para substituir este vazio da alma que constitui o meu estado habitual?

            (O diretor lhe pondera que, se ele nenhuma crença tem, possui, no entanto, sentimento; que, descrendo embora de tudo, não duvida de si mesmo, da sua existência, como espírito não mais revestido de matéria grosseira. Porque não inquire de si próprio o que é o seu eu no conjunto do universo, o que represente a sua individualidade moral, espiritual? Vê, sente e não crê, mas deseja saber alguma coisa do que vê e sente. Aí está um ponto da partida, para a investigação que lhe cumpre realizar e que, se efetuada sem orgulho nem presunção descabidos, o levará necessariamente à percepção da causa primaria de tudo o que existe – Deus.  Foste infante, crescente, cultivaste a inteligência, adquiriste saber. E depois, sabes o que aconteceu?).

            E. - Sei. Fiquei indiferente a tudo. Muito outros hinos ecoaram aos meus ouvidos. Eu, porém, seguia indiferente ao meu caminho. Assim foi, até que algo se produziu ente vós e mim; vejo-vos, a uns mais nitidamente do que a outros, e vejo também a muitos que não são do vosso ambiente. A estes vi-os primeiro no meu trajeto. Olharam-me com simpatia, porém nada me disseram.
            Sou um descrente da obra do homem, da sua capacidade de produção, no sentido do progresso moral, como também não creio que a Terra possa deixar de ser um dia o monturo que é, purificada por obra do homem.
           
            D. - Nada obstante, é inegável que a humanidade tem progredido, mesmo no sentido moral, se bem que muitíssimo menos do que no sentido material.

            E. -  Falido progresso. Digo-te: na minha última existência, nasci num lar profundamente religioso. Desde terra idade, meu espírito se afez à vida independente. Nada me perturbava. As alegrias da família, como os seus pesares não modificavam a minha maneira de ser, não me abalavam, sequer ligeiramente, a individualidade.
            Eduquei-me no jesuitismo. Aí, minha alma armazenou venenos para toda existência. Aquelas práticas e atitudes sombrias me emparedaram o espírito, como que o subjugaram contra o surto de todas as aspirações.
            Estudei, preparei-me para a vida e, quando me atirei à luta para conquista da subsistência, a mesma indiferença, o mesmo vazio da alma, a mesma tortura que me acompanhava desde o berço. Parti da Terra e, no espaço, que escuridão, que indiferença! Nenhuma palavra amiga nenhum chamado de coração generoso! E percorro o infinito e sempre, por toda parte, a mesma treva, sempre o mesmo silêncio.

            D. - Acabas de aludir à tua última existência terrena. Ora, se te referes a uma última existência na Terra, é que sabes teres tido outras antes dessa, visto que não pode uma ser última, sem outras que a tenham precedido. Porque, então, não pedes a Deus, ou aquele que é o seu Verbo, o seu Cristo, que te ilumine o espírito, a fim de que vejas a jornada que antes fizeste e na qual provavelmente se te depararão as causas dessa escuridão em que mergulhastes? Hás de viver sempre assim? Não é possível porque não é da vontade de Deus, que pôs destino muito diverso a todas as criaturas.

            E. - E Deus pode modificar este meu estudo?

            D. - Deus tudo pode, dentro da lei que confunde com a sua sabedoria infinita, lei de justiça com misericórdia, lei de amor. És um ser racional, inteligente, livre. De que te servirá tudo, se não te utilizares dos dons que te outorgou Deus para que o sintas e ames? Pede e ele te iluminará.

            E. - Então, vocês são partidários da liberdade de consciência.?

            D. - De certo, pois que a lei de liberdade é fundamental no Cristianismo do Cristo, que aqui, estudando o seu Evangelho, procuramos assimilar, para lhe praticar os ensinos em espirito e verdade.

            E. - Olha, não sei se estás a par do que espera o Espírito que abusa dos dons da inteligência, do seu cabedal intelectual. Enquanto falavas sugeriram-me te fizesse esta pergunta. Segundo quem isso me sugeriu, ai é que está o ponto de partida para o resto que há de vir em meu beneficio.

            D. - Sendo a inteligência a luz que Deus outorga ao Espírito, a fim de que penetre no conhecimento das suas leis e, pela senda que lhe elas traçam e que é a da evolução, se encaminhe para Ele, até integrar-se n’ Ele, destino assinado a todos, aquele que abusa de tais dons, pondo a luz que eles são ao serviço do mal, que é a transgressão daquelas leis, há de colher por fruto desse abuso ver-se mergulhado em trevas, até que, despertando-se-lhe a consciência, procure conhecer a causa dessas trevas, se esforce por sair delas, sinceramente arrependendo das culpas que a geraram, granjeando para elas o perdão divino. Entretanto, muito melhor te explicarão esse ponto, como todos os outros sobre que precises ser esclarecido, os Espíritos amigos e bons que te rodeiam no plano em que te encontras.

            E. -  Mas se os desse plano não me respondem não se aproximam...

            D. - Se não fizeram até agora, é porque necessário se tornava que trouxesses o teu contingente aos nossos trabalhos.

            E. - Há entre vós uma criatura que não me é indiferente. O meu cérebro terreno, eu o tinha enriquecido de conhecimentos. Aqui, não sei porque, sinto dificuldades em ligar as ideias, em enunciá-los, para que me possais entender e orientar no caos em que me acho.
            Esse de quem há pouco falei me convida a acompanha-lo, dizendo-me  que aguarde outra oportunidade para receber maior beneficio. Parto, pois, com ele, agradecendo-vos a acolhida que me dispensastes e pedindo licença para voltar a confabular convosco.

            D.- Esse amigo te esclarecerá muito melhor do que nós. Vai na paz de N. S. Jesus Cristo.

            E. - Obrigado.

*

Comunicação final, sonambúlica


            Perspectiva de outros trabalhos mais edificantes. - A colaboração dos dois mundos na execução da tarefa espirita. - Perseverar, aguardando que o divino Mestre distribua o labor. - Coesão é afinidade de sentimentos. - Da fundação do templo de Ismael decorreu a de todos os Centros espalhados pelo nosso território. - A falta de coesão é o que faz que pouco se aproveite do trabalho na vasta seara.   - O que falta ao espírito iniciado, para imitar o Cristo. - A existência, no infinito, de um cofre transbordante de graças.


Médium: J. CELANI

            Paz, meus caros amigos. Louvado seja Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
            Todos estes trabalhos são preparatórios de outros mais edificantes que vos testemunhem não  ser de todo improdutivo o vosso labor que, como sabeis se desenvolve no dois planos, no plano material e no plano espiritual.
            A tarefa espirita pertence ao homem e ao espírito; resulta da colaboração de um e outro mundos. Que sabeis vós do que se passa na intimidade das criaturas que ouvem e recolhem as vossas palavras, faladas ou escritas? Nada sabeis, meus companheiros, e não podeis ser juízes em causa própria.
            Perseverar, sim, é o que vos cumpre e deixar que o Divino Mestre, por intermédio dos seus tarefeiros, vos distribua o labor, a fim de progredirdes, fazendo progredir o planeta que habitais.
            Nenhum de vós desconhece a necessidade imprescindível da afinidade de sentimentos entre os constituintes de toda agremiação espírita que se proponha ao intercâmbio com o mundo dos Espíritos.
            É a isso que nós chamamos coesão. A identidade relativa de compreensão de pontos doutrinários, a afinidade relativa de sentimentos sobre as questões doutrinárias, eis o que desejamos de vós. Entre isso e proibir a liberdade de pensar vai grande distância.
            O espírito que pertence às fileiras de Ismael não pode jamais adotar ou interpretar favoravelmente ensinos que contrariem a essência do ensino básico, que é o do Cristo. O que queremos de vós é um trabalho individual no sentido da afinidade coletiva do Grupo, em beneficio vosso, da Doutrina Espirita e da humanidade.
            Da fundação desse templo, por obra dos doze que para isso se reuniram, originam-se todos os centros que se espalham pelo imenso território desde país bem fadado. Vós mesmos recebeis os ecos desse labor, mas haveis de confessar, como nós o fazemos com tristeza, que é desordenado o trabalho a que a maioria deles se entrega. Que é o que aparece como digno de menção, em tão vasta seara? Muito pouco, em confronto com a sua extensão.
            Que significa isso? Falta de coesão. Falta de compreensão, falta do Espírito do Cristo em todos esses núcleos, para que a obra deles seja obra análoga às do Cristo, superiores às quais só o Pai pode realizar.
            Que falta ao Espírito iniciado para imitar o Cristo de Deus? É simples a resposta: faltam-lhe a humanidade e o sentimento moral do Mestre, para ser, como Ele o era, médium de Deus, com clarividência bastante a mergulhar nas almas o olhar e medir o tempo do resgate, a fim de aplicar as sansões da Justiça divina.
            Meus companheiros, perdoai aos vossos colaboradores, aos que partilham convosco desta tarefa sublime; mas atentai na necessidade da coesão em vosso meio da humildade se quiserdes estímulos que vos levantem as forças nesta hora sombria da humanidade.
            Não olvides que há no infinito um cofre infinitamente cheio de graças e que esse cofre é o seio da Virgem. Entendei as mãos súplices para essa Mãe excelsa e tereis sempre a fartar iluminação e forças para a continuação da  vossa tarefa, aqui e na sociedade, porque, devo dizer-vos, em havendo solução de continuidade no vosso proceder, aqui e fora daqui, não haverá coesão nos vossos trabalhos. Entendei bem o significado desta palavra. – Bittencourt.





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