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domingo, 2 de outubro de 2011

02 / 02 Jean Baptiste Roustaing - Centenário da Desencarnação


Jean-Baptiste
Roustaing

Centenário de Desencarnação

1879 - 2 de Janeiro – 1979

in ‘Reformador’ (FEB), Jan 1979

Parte 2/2

2. O Evangelho Redivivo

            "Espíritas! amai-vos, este o primeiro ensinamento; instrui-vos, este o segundo. No Cristianismo encontram-se todas as verdades; são de origem humana os erros que nele se enraizaram." (O Espírito da Verdade, Paris, 1860, capítulo VI, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", Allan Kardec, 76ª edição, 1.250º milheiro, FEB, 1978.)

            Dissertando sobre a historicidade das letras evangélicas com a serenidade dos espíritos que conhecem os fatos, Emmanuel, na obra "A Caminho da Luz", de Francisco Cândido Xavier, págs. 124-5, diz-nos que "os mensageiros do Cristo presidem à redação dos textos definitivos, com vistas ao futuro, não somente junto aos Apóstolos e seus discípulos, mas igualmente junto aos núcleos das tradições". "A grandeza da doutrina (cristã) não reside na circunstância de o Evangelho ser de Marcos ou de Mateus, de Lucas ou de João; está na beleza imortal que se irradia de suas lições divinas, atravessando as idades e os corações." Depois de aduzir outras considerações, assim conclui o seu pensamento: "Portas a dentro do coração, só a essência deve prevalecer para as almas e, em se tratando das conquistas sublimadas da fé, a intuição tem de marchar à frente da razão, preludiando generosos e definitivos conhecimentos."

            Em trabalho anterior ("As Minhas Palavras não Passarão", "Reformador" de fevereiro de 1971) evidenciáramos a enérgica determinação de Paulo de Tarso quanto à redação do maior número possível de anotações sobre a Doutrina e a Obra de Jesus por quantos conhecessem situações e fatos não registrados  por Levi (Mateus), convicto de nisso insistir por inspiração do Alto. O seu esforço alcançou a superior finalidade programada, já que os textos definitivos, grafados sob as vistas dos Enviados do Senhor, relatando os ensinos e os fatos identificados em núcleos de tradições orientados de igual modo pelos Arautos do Céu, chegaram até nós para ficarem como eterna e confortadora Luz, clareando e suavizando os destinos humanos.

            Sabendo que os homens não podiam assimilar-lhe os ensinamentos numa só reencarnação, o Divino Mestre dosou-os de sorte a que o Consolador, no século propício do seu evolver, viesse tornar claras as palavras recolhidas pelos evangelistas, E o Consolador veio, no século XIX, quando o admirável apóstolo Allan Kardec, guiado pelo Espírito da Verdade, lançou na Terra a Codificação do Espiritismo - a Doutrina dos Espíritos, de que as obras "O Livro dos Espíritos", "O Livro dos Médiuns", "O Evangelho segundo o Espiritismo", "O Céu e o Inferno", "A Gênese", afora outras, constituem lhe a base e a estrutura, numa afirmação de perenidade da maior e mais firme edificação de todos os tempos.

            A Doutrina do Espírito da Verdade, restaurando e desenvolvendo o Cristianismo do Cristo, por ordem sua e sob sua misericordiosa direção, na conformidade de esquema vinculado à evolução dos Espíritos, desencarnados ou reencarnados, é por excelência aberta e vai-se ampliando e completando ao longo dos séculos, na busca incessante dos corações, onde quer que se encontrem, Como prolongamento ideal das linhas da cruz, no alto do Calvário, dirige-se horizontal e verticalmente ao Infinito, em demanda das muitas moradas do Espírito na Casa do Pai.

            E, em sendo ela de tal grandeza  e excelsitude,  jamais esteve ou estará na arbitrária dependência de um homem ou grupamento humano, consoante claro e oportuno ensinamento do próprio missionário de Lyon.

            O Espírito Humberto de Campos, no livro "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", à pág. 176 (médium Francisco Cândido Xavier, 11ª edição da FEB) nos informa que "segundo os planos de trabalho do mundo invisível, o grande missionário (AlIan Kardec), no seu maravilhoso esforço de síntese, contaria com a cooperação de uma plêiade de auxiliares da sua obra, designados particularmente par coadjuva-la, nas individualidades de João-Batista Roustaingque organizaria o trabalho da fé; (. .. )"

            Sendo ininterrupto o fluxo da Revelação, a codiIicação da Doutrina Espírita receberia, como recebeu, a valiosa contribuição de outros Espíritos reencarnados, capacitados e inspirados, na desincumbência  desenvolver com abundância de detalhes, analiticamente, cada um dos aspectos do Esplritismo, todos eles apreciados com sabedoria por Allan Kardec que, no entanto, não os detalhou, face à natureza específica de sua gigantesca missão.

            Coube a J.-B. Roustaing a penetração analítica no aspecto religioso do Espiritismo e, para bem desempenhar-se de tão sublime quão honrosa tarefa, buscou o conhecimento necessário ao intercâmbio com o Invisível nas obras de Allan Kardec.

            O Codificador, que legou ao mundo "O Evangelho segundo o Espiritismo", sob a orientação e com a colaboração dos Espíritos Superiores, não se pronunciou a respeito da totalidade dos textos evangélicos, detendo-se, como ele próprio o advertira, tão-só nos ensinos morais, incontroversos, fundamentais para a vivência do Cristianismo e a transformação moral dos homens. E através dos séculos será essa obra um bendito farol deitando claridades celestes no mar tempestuoso dos testemunhos humanos.

            O Cristo, todavia, cujas palavras não passariam, não nos legou a sua Doutrina para que grande parte dela ficasse indefinidamente encoberta sob o véu da letra, impermeável às incursões do pensamento sequioso das linfa pura da eterna Fonte da Vida. “Batei e abrir-se-vos-á”, disse-nos Ele.

             A "Revelação da Revelação", ou "Os Quatro Evangelhos". é a obra monumental que aborda, na sua inteireza, o aspecto religioso do Espiritismo, a organização do trabalho da fé iniciada por vontade soberana do Alto e que teve em Roustaing o instrumento humano qualificado, como a Codificação teve em Allan Kardec o instrumento preciso ao trabalho de síntese.

            Os textos integrais, definitivos, insuscetíveis de alterações, preservados e disponíveis na atualidade, segundo ordenação sábia e amorosa de eterna unidade e infinita universalidade, foram em minúcia explicados, interpretados, conciliados por aqueles mesmos Espíritos (que na Terra acompanharam o Divino Mestre, participando das pregações evangélicas - os Apóstolos; ou recolhendo em pergaminhos e peles os seus ensinos - os evangelistas; além de Moisés, que no Sinai obteve do Senhor as Tábuas da Lei, e que em reencarnações sucessivas foi Elias e João Batista, este último precursor e contemporâneo do Messias.

            Com a "Revelação da Revelação", o Evangelho segundo Mateus, Evangelho segundo Lucas e Evangelho segundo Marcos - denominados sinóticos ou concordantes -- e o Evangelho segundo João, passam a integrar, efetivamente, em espírito e verdade, o Evangelho Redivivo, que é um e único, o Evangelho de Nosso Senhor Jesus-Cristo, no qual não há substancialmente contradições, incorreções ou impropriedades, mas somente Luz que se irradia sem cessar em todas as direções conscienciais do evolutir dos Espíritos, por veicular o Cristianismo do Cristo restaurado em sua expressiva simplicidade e pureza pela Doutrina dos Espíritos.

            Ainda assim, porém, a obra empreendida por Roustaing- e é ele quem no-lo diz -   apenas um introito destinado a preparar a unidade de crença entre os homens', donde se infere que a "organização do trabalho da fé” referida pelo Espírito Humberto de Campos foi iniciada mas não foi concluída, sendo lícito  admitir-se a ideia de que o aspecto religioso do Espiritismo é suscetível de novas, contínuas e mais avançadas revelações, na exata medida em que os Espíritos forem evoluindo. Desencarnados ou reencarnados, todos têm, no nível do progresso espiritual alcançado pela coletividade, inclusive, por certo, no seio da coletividade espirita, como indivíduos, a sua própria "zona de compreensão", como diz Emmanuel, ou "zona lúcida", como a denominou Paul Gibier.

            A Federação Espírita Brasileira, virtualmente desde o início de suas atividades, em 1884, empreendeu o estudo e programou a divulgação da obra "Os Quatro Evangelhos", estudo que leva a efeito em razão do que se acha consubstanciado nos Estatutos. Em 1938, com a publicação do livro “Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", o Mundo Invisível, como houvera feito ao longo de toda a sua trajetória, referendou-lhe o programa, inclusive e explicitamente nesse ponto. Mas não ficou ai. Confirmou a responsabilidade do nosso Pais em relação a cristianização da Humanidade como Pátria do Evangelho. E mais: nos últimos cinquenta anos, confiou-nos obras doutrinárias em número que ascende a mais de uma centena, versando sobre o tríplice aspecto do Espiritismo codificado e muito especialmente com pertinência ao Evangelho, ao trabalho da fé cuja organização, com Roustaing, se iniciara e com outros obreiros, pelo profetismo ou via mediúnica, prossegue e prosseguirá sem solução de continuidade, realizando a lenta e progressiva unidade de crença entre os homens, oferecendo a cada um deles uma mensagem compatível com a "zona de
compreensão" individualmente alcançada.

* * *

            Eis como se pronuncia Emmanuel, no curso de demorada dissertação, sobre a matéria aqui examinada: “Os homens devem saber que o Missionário Divino não viveu a mesma lama de suas existências.” “Fora ridículo proibir-se a elucidação. O que será de evitar-se é a azedia da polêmica.” Os homens ainda não atingiram o estado de renúncia pessoal para lucrarem, espiritualmente, com as discussões acaloradas.” “Infenso, pois, a qualquer dissenção, nesse sentido, venho falar dele, no limiar deste livro, como os astrônomos que vão estudar no livro imenso da natureza celeste.” “Tentando aprofundar a questão da personalidade de Divino Mestre, sinto meus pobres olhos confundidos numa vaga imensa de relâmpagos ofuscadores” – do prefácio à “Vida de jesus”, de Antonio Lima, reedição em preparo (FEB).

            Os espíritas que aceitam o “amai-vos”, como o primeiro ensinamento do Espírito da Verdade, não contestarão a legitimidade do estudo e da divulgação da obra de Roustaing; e os que obedecem também ao segundo, “instrui-vos”, não lhe recusarão o mérito.
  

3.     Na igreja do Caminho  "As linhas da Cruz"

            "Ansiosamente rogamos a inspiração do Mestre. Com o auxílio de sua divina luz, chegamos a criteriosas conclusões. Seria justo lutar a videira ainda tenra com a figueira brava? Se fôssemos atender ao impulso pessoal de combater os inimigos da independência do Evangelho, esqueceríamos, fatalmente, a obra coletiva. Não é lícito que o timoneiro, por testemunhar a excelência de conhecimentos náuticos, atire o barco contra os rochedos, com prejuízo de vida para quantos confiaram no seu esforço." ( ... ) "Pois bem: consoante os ensinamentos do Mestre, caminharemos as milhas possíveis. E julgo mesmo que, se Jesus assim nos ensinou, é porque na marcha temos a oportunidade de ensinar alguma coisa e revelar quem somos." (Palavras de Simão Pedro a Saulo, pág. 290 da obra "Paulo e Estêvão", de F. C. Xavier, por Emmanuel, 14ª edição, FEB.)

            "Comparo o Evangelho a um campo infinito, que o Senhor nos deu a cultivar. Alguns trabalhadores devem ficar ao pé dos mananciais, velando-lhes a pureza, outros revolvem a terra em zonas determinadas; mas não há dispensar a cooperação dos que precisam empunhar instrumentos rudes, desfazer cipoais intensos, cortar espinheiros para ensolarar os caminhos." (Palavras de Saulo de Tarso a Barnabé, discípulo de Simão Pedro, pág. 328 da ob. cit.)

            "A cruz do Cristo parecia-lhe, agora, um símbolo de perfeito equilíbrio. Uma linha horizontal e uma linha vertical, justapostas, formavam figuras absolutamente retas." . ( ... ) "Era preciso ser justo, sem parcialidade ou falsa inclinação.” (...)

            “Devia amar a Tiago pelo seu cuidado generoso com os israelitas, bem como a Paulo de Tarso pela sua dedicação extraordinária a todos quanto não conheciam a ideia do Deus Justo.” (...) O apóstolo preferia o silêncio, de modo a não perturbar a fé ardente de quantos se arrebanhavam na igreja sob as luzes do Evangelho; mediu a extensão da sua responsabilidade naquele minuto inesquecível.”

            (...) “A polêmica ia cada vez mais ardida. Extremavam-se os partidos. A assembleia estava repleta de cochichos abafados. Era natural prever uma franca explosão.”

            (...) “A assistência estava assombrada com o desfecho imprevisto. Esperava-se que Simão Pedro fizesse um longo discurso em represália. Ninguém conseguia recobrar-se da surpresa.”

            (...) “A atitude ponderada de Simão Predo salvara a igreja nascente. Considerando os esforços de Paulo e de Tiago, no seu justo valor, evitara o escândalo e o tumulto no recinto do santuário. (...)” (Pág. 380-2 da ob. cit.)


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