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domingo, 30 de outubro de 2011

70 Trabalhos do Grupo Ismael





70


SESSÃO DE 20 DE NOVEMBRO DE 1940

Manifestação sonambúlica

            Segunda do mesmo ex sacerdote e alto dignatário da Igreja que se manifestara  na sessão anterior.- Sua conversão do Cristianismo do Cristo.


Médium: J. CELANI

            Espírito. - O livro!... Ruiu o castelo! Sim, o castelo edificado pelo orgulho! Com efeito, é a verdade sem véus sobreposta á mentira. E o Espírito, preso por séculos a ideias errôneas, a sistemas sem base, encontra-se, afinal, como nau desarvorada sobre ondas revoltas. Edifiquei na terra o meu castelo de ilusões e, daí chegando ao plano espiritual, nada vi que confirmasse os ensinos da minha Igreja,  nem a bem aventurança que eu esperava por ter sido um fiel sustentador de todos os dogmas e observador rígido de todas as fórmulas. Presunção... Mero orgulho... Abatido este, revoltei-me, exasperado, e me enchi de ódio, de desesperos e anseios de vingança contra tudo e contra todos.  Com isso, o sofrimento, a cegueira e uma ânsia insopitável cada vez mais me envolviam nos tentáculos de uma dor horrível, de todos instantes.

            De súbito, sem que eu soubesse por que nem como, fui atraído por uma voz suave e cariciosa ao vosso meio. Vim cheio de revolta e de maus intentos contra a humanidade em geral; mas, inesperadamente, me vi tolhido por força invisível e superior, durante os momentos em que aqui estive. Ouvi as vossas rezas e, depois delas, que efeito!... Transmudou-se como por encanto o  meu estado da alma. Sobreveio e entrou a dominar-me uma tristeza imensa. Fez-me em torno de mim o vácuo. Não me sinto nem lá, nem cá.

            Lá consideram-me traidor, desertor; cá, não me acodem, porque precários são os meus sentimentos. Que hei de fazer? A inação agrava o meu estado. Preciso fazer alguma coisa, agir, trabalhar...

            (Seguem-se alguns momentos de silencio, durante os quais o manifestante toma a atitude de quem está a ouvir o que alguém lhe diz).

            Ah! a alma que muito errou precisa ressarcir o tempo que perdeu na prática do mal: eis a sentença que me deram! Mas, em que empregarei o tempo?

            (Breve silencio).

            Converter-me, perdoar! Sim, bem vejo: todos são vítimas de si mesmos. O orgulho sempre o orgulho, sempre o amor próprio são a causa da perdição do Espírito. O sacerdote que vilipendia a sua missão sagrada entre os homens não se conforma com a situação de sofredor nos espaços infinitos. Daí a teimosia em conservar-se aferrado às suas ideias. Tudo ao seu derredor o contradiz.


            Judas? A que vem aqui o seu nome? Malsinado pela Igreja, ele então é hoje um luminar do Cristianismo? Só a consciência dos crimes cometidos, o arrependimento seguido de um trabalho ingente na senda do bem são capazes de produzir a cessação dos efeitos decorrentes das ações maléficas?... Sim tu és bom, és bom e és feliz, visto que a esmola que dás não traz o azinhavre do pecado, das intenções malévolas e criminosas!  És bom, porque sentes o Cristo. Eu pregava o Cristo e o advento do seu reinado, mas sem compreender, nem sentir.

            Que diferença: tu és simples! Com a tua simplicidade atraías os pobres e os humildes cujos corações confortavas nas horas dolorosas da expiação! Eu, o clérigo das catedrais pomposas, procurado pelos grandes da sociedade do meu tempo, mal me dignava de baixar os olhos para os da plebe que buscavam os templos, desejosos de confortar na oração suas almas doloridas.

            Que diferença! Tu concitavas as donzelas, as virgens à defesa de suas virtudes e lhe plantavas no íntimo dos corações  a pureza  da Maria! E eu? Eu as confessava. Ah! que horror! Desenvolvendo tenebrosa ação, maculava lhes as almas e lhes conspurcava os corações! Assim praticava, sem duvida, o maior dos crimes!

            É dessa diferença que se origina o meu estado de alma. Tu, alma simples e boa, depois do longo tempo transcorrido após a nossa convivência, vens retirar do negror da treva o miserável, para que se redima!...  Obrigado! Continua a ajuda-me, pois que dolorosíssima tem de ser a minha peregrinação expiatória, afim de pagar centil por centil os crimes que cometi.

            Obrigado também a vós outros, trabalhadores da nova cruzada. Que Deus, a quem tão mal servi, conforte os vossos corações. Rogai por mim Aquele a quem tanto ofendi, Nosso Senhor Jesus Cristo. Orai por este desgraçado. Não me irei sem a vossa oração.

            (É feita uma prece)


*


Comunicação final, sonambúlica


            Inúmeras almas aguardam uma palavra, um lampejo de sentimento para despertarem do letargo em que caíram. - Desperta-las é o labor das associações espíritas bem organizadas. - A propaganda não deve cingir-se aos encarnados; precisa estender-se à humanidade do infinito. - Como, porém, deve ser feita para dar resultado. - Grandiosidade da obra do Cristianismo em espírito e verdade. - O orgulho, causa única de todos males. - O que produz nas fileiras espíritas.- O remédio a esse mal. – As palestras levianas, antes da reunião para os trabalhos mediúnicos. - Os que se agrupam em torno dos que a esses  trabalhos se entregam. - A coesão e o sentimento da verdadeira caridade cristã.


Médium: J. CELANI


            Paz, meus caros companheiros.

            Quantas e quantas almas aguardam apenas uma palavra, um lampejo do sentimento, para despertarem do letargo em que se encontram, para compreenderem o erro do passado, a persistir no presente, que precisa ser modificado, para que elas possam caminhar em busca de um futuro radioso. Não é outro labor que compete às associações espíritas bem organizadas. A propaganda não deve restringir-se exclusivamente aos encarnados; precisa estender-se à humanidade do infinito à parte, pelo menos, dessa humanidade que apenas se diferencia dos seres terrenos pelo seu estado de desencarnação. Ela se compõe de Espíritos que, tendo à volta de si todas as claridades, nada veem; todos os compêndios da sabedoria divina e não os leem.

            Mas, para eu entre esses seres a propaganda produza efeito, é mister que as palavras sejam ungidas de sentimento cristão, porque só assim elas penetram nas almas, tocam os corações mais empedernidos, tornando certa a conversão, para estímulo de todos os que compõem os colégios cristãos.

            Obra admirável, meus companheiros, a do Cristianismo em espírito e verdade! Nascida no estábulo humilde, servida por humílimos pescadores, é hoje, na sua renovação, trabalhada principalmente pelos simples e humildes, sob o aspecto da condição social, e por alguns poucos intelectuais no verdadeiro sentido da expressão.

            Disse bem o espírito que acaba de manifestar-se.
            É o orgulho, sempre o orgulho a causa de todos os males. Não vedes o que se passa nas vossas fileiras? Donde nasce nelas as dissenções, as divergências em torno de coisas insignificantes?  Do orgulho, sempre do orgulho. Como remediar a esse mal e conduzir a barca do Evangelho por mares assim encapelados? Adquirindo humildade, procurando estudar o Cristo na sua obra, nos seus ensinos. No mais insignificantes conceitos do Evangelho, encontrará o estudante de boa vontade uma indicação, um roteiro para seu labor na Seara! Quantas vezes só uma palavra bem apreendida produz extraordinária modificação na criatura!

            Quantas vezes vós, aguardando aqui a hora de iniciardes os vossos trabalhos, entabolais desatentos uma palestra que por menos acorde com os motivos que aqui vos trazem causa efeitos que não podem avaliar! São delicados estes trabalhos, meus caros companheiros, mesmo delicadíssimos. Para eles toda atenção, toda vigilância se fazem necessárias, pois que deles sois vós os primeiros a recolher dos bons ou maus frutos.

            Em torno de vós estão, não há dúvida, os vossos amigos; mas, também estão, aqueles cuja presença é permitida para edificação. Eles não poderiam compreender o pensamento puramente espiritual, porque, como eu disse em começo, ainda se acham adstritos à materialidade terrena. Se se não sentires confortados e recebidos misericordiosamente, inútil se torna o nosso esforço. Não deve, pois, haver a menor quebra de afinidade entre vós, de indivíduo para indivíduo e do conjunto para conosco.

            Por isso é que se vos fala de coesão, coisa que ainda tanta estranheza vos causa. É imprescindível, porém, para a produtividade dos vossos trabalhos, que entre vós reine o sentimento da verdadeira caridade.

            Meus caros companheiros, convosco fiquem a paz e o amor da Virgem. Que Ela receba sempre as vossas súplicas e as leve, purificadas pelas suas virtudes, ao seio de Jesus, a fim de que Este as faça chegar ao Pai.

            Afervorai a vossa fé e aguardai os acréscimos prometidos pelo Mestre divino.

            Deus vos abençoe. – Richard

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